Primavera sob alerta: aumento de tempestades-relâmpago e ventanias preocupa autoridades e especialistas

Meio Ambiente
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A primavera brasileira, tradicionalmente marcada por temperaturas amenas e chuvas mais regulares, vem apresentando nos últimos anos um novo perfil climático: mais imprevisível, intenso e perigoso. Fenômenos como tempestades-relâmpago, rajadas de vento fortes e frentes frias abruptas estão se tornando cada vez mais frequentes em várias regiões do país, especialmente no Sudeste e no Sul, gerando alertas meteorológicos sucessivos e colocando à prova a infraestrutura urbana e os sistemas de prevenção de desastres.

Meteorologistas apontam que a combinação entre o aquecimento global e padrões atmosféricos típicos da transição entre o inverno e o verão cria condições ideais para a formação rápida de nuvens carregadas. Em questão de minutos, um céu limpo pode dar lugar a temporais intensos com ventanias, descargas elétricas e, em alguns casos, granizo. Essas chamadas “tempestades-relâmpago” são caracterizadas justamente pela velocidade com que se formam e se dissipam, muitas vezes antes que a população tenha tempo de se proteger adequadamente. Nas capitais, esse tipo de fenômeno tem causado alagamentos repentinos, queda de árvores e danos a redes elétricas, além de transtornos no trânsito e em aeroportos.

A intensificação desses eventos não é um episódio isolado, mas parte de uma tendência observada nos últimos anos por centros de monitoramento meteorológico. Segundo dados recentes do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e de universidades federais, a frequência de alertas para tempestades severas durante a primavera aumentou de forma significativa em estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. Em algumas localidades, o número de episódios com rajadas de vento acima de 70 km/h praticamente dobrou em uma década, trazendo prejuízos econômicos consideráveis para setores como agricultura, transporte e energia. Redes de distribuição elétrica têm sofrido com quedas de postes e rompimento de cabos, enquanto lavouras são afetadas por chuvas intensas fora de época e ventos fortes que derrubam plantações.

Especialistas destacam que o aumento dessas ocorrências está diretamente relacionado às mudanças no regime de circulação atmosférica. Com o aquecimento global, massas de ar frio vindas do sul encontram com mais frequência bolsões de ar quente e úmido que predominam sobre o território brasileiro nessa época do ano. O choque entre essas duas massas acelera a formação de sistemas convectivos — estruturas atmosféricas capazes de gerar tempestades intensas em poucas horas. Além disso, o efeito das ilhas de calor urbanas intensifica localmente as tempestades: o calor acumulado nas cidades durante o dia cria correntes ascendentes de ar quente que alimentam nuvens carregadas no final da tarde, resultando em temporais de curta duração, porém de grande impacto.

Diante desse cenário, órgãos de defesa civil e prefeituras vêm sendo pressionados a adotar novas estratégias de prevenção. Sistemas de alerta via celular, como os disparados pela Defesa Civil Nacional, têm sido fundamentais para reduzir riscos, avisando moradores com antecedência sobre a chegada de tempestades. No entanto, especialistas ressaltam que apenas avisos não bastam. É necessário investir em infraestrutura urbana mais resiliente, com redes elétricas subterrâneas em áreas críticas, drenagem eficiente e planos de emergência comunitários bem definidos. A arborização urbana também é um ponto sensível: árvores mal podadas ou plantadas em locais inadequados são frequentemente responsáveis por quedas de energia e bloqueios de vias durante ventanias intensas.

A primavera de 2025 tem confirmado as previsões de um período mais turbulento. Em setembro, cidades do interior paulista registraram tempestades com ventos acima de 90 km/h, destelhando casas e derrubando torres de energia. No Sul do país, uma sequência de frentes frias provocou temporais sucessivos, com registros de granizo em áreas rurais e urbanas. Em capitais como Belo Horizonte e Curitiba, a Defesa Civil emitiu dezenas de alertas em um único mês, um número superior ao observado em primaveras passadas. A população, cada vez mais consciente, tem recorrido a aplicativos meteorológicos e canais oficiais para acompanhar atualizações em tempo real.

Para os especialistas, a tendência é que esses eventos se tornem ainda mais comuns nos próximos anos, exigindo uma adaptação urgente tanto das cidades quanto da população. A primavera, que antes simbolizava a estação do florescimento e de chuvas regulares, passa a representar também um período de atenção redobrada. A preparação para lidar com tempestades-relâmpago e ventanias não é mais opcional, mas parte fundamental de uma convivência responsável com um clima em transformação.