Eduardo Pimentel e Cristina Graeml disputam capital político de Bolsonaro em Curitiba

Política
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A disputa pela Prefeitura de Curitiba (PR) no segundo turno se divide entre dois candidatos alinhados à direita e vinculados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Enquanto o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) propõe dar continuidade à gestão de Rafael Greca (PSD) e tem o PL de Bolsonaro em sua coligação, a jornalista Cristina Graeml (PMD) clama ser representante da "verdadeira direita" e recebeu apoio extraoficial do ex-presidente por meio de uma postagem nas redes sociais.

Os dois candidatos protagonizaram um bate-boca no debate da RIC TV deste sábado, 19. Pimentel focou sua artilharia em acusações e na inexperiência da rival, que nunca ocupou cargo público, enquanto Cristina apontou polêmicas que envolvem o adversário, disse que ele não fez nada em oito anos como vice-prefeito e reforçou que tem o apoio de Jair Bolsonaro (PL).

O ex-presidente tem capital político na cidade, que foi a terceira capital do Brasil com maior porcentual de votos em Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais, em 2022. Ao todo, ele teve 64,78% dos votos válidos em Curitiba, ante 35,22% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O candidato de Lula na disputa deste ano foi o deputado federal Luciano Ducci (PSB), que ficou em terceiro com 19% dos votos válidos na cidade, que foi o principal cenário da Operação Lava Jato, de 2014 a 2021.

Na última pesquisa da Quaest, encomendada pela RPC e divulgada no sábado, 19, Pimentel e Graeml estão tecnicamente empatados na margem de erro - o veterano sai na vantagem com 42% dos votos, seguido pela jornalista, com 39%. A pesquisa, divulgada no sábado, entrevistou 900 eleitores, entre 16 e 18 de outubro, e tem 95% de confiabilidade, com margem de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE sob o protocolo PR-08766/2024.

Pimentel é de uma família com longa tradição na política: seu avô foi Paulo Pimentel, governador do Paraná de 1966 a 1971. Eduardo é atual vice-prefeito da cidade, já ocupou cargos públicos no governo Beto Richa (PSDB) e tem como candidato a vice Paulo Martins, do PL de Bolsonaro. Pimentel disse publicamente que gostaria de ter o apoio do ex-presidente e, ao Estadão, já afirmou se considerar de centro-direita.

Já Cristina é novata na política e se autointitula uma mulher "conservadora, cristã e pró-família". Além de receber aprovação de Bolsonaro nas redes sociais, a candidata conta com um vídeo gravado junto ao ex-candidato à prefeitura de São Paulo (SP) Pablo Marçal (PRTB), figura emblemática ligada à extrema-direita que ficou em terceiro lugar no primeiro turno paulistano.

Nestas últimas semanas de campanha, Pimentel tem tentado reforçar que a rival tem uma postura "extremista". Ao Estadão, disse buscar diálogo. "Eu quero dialogar com todos os eleitores, com o eleitor da Cristina, que pode ter votado nela por desinformação, me sinto atacado por ela, mas também quero me aproximar dos eleitores do Luciano Ducci, Maria Victoria, Ney Leprevost e todos os demais candidatos", afirmou.

No debate, a candidata também disse querer "governar para toda a Curitiba", mas acusou mais uma vez Pimentel de ter apoio nas redes sociais de nomes da esquerda, como da presidente do PT, Gleisi Hoffmann e o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Não foram encontradas manifestações públicas dos políticos a favor do vice-prefeito e, em nota nas redes sociais, o PT de Curitiba declarou liberar o voto de seus filiados. "Os dois candidatos que disputam o segundo turno não nos representam. Por isso, desde já, nos declaremos oposição a qualquer um dos eleitos no próximo dia 27 de outubro".

Cristina também tem acusado Pimentel de fazer parte de uma "falsa direita" e chegou a usar o termo "esquerdista" pra se referir ao vice-prefeito, no debate anterior, da Band Paraná. "Claro que estou tentando também conversar com o eleitor de esquerda, já que praticamente todos os candidatos que concorreram no primeiro turno são de esquerda", disse ao Estadão.

Jornalista com passagens pela RPC, afiliada da Globo no Paraná, e pelo jornal Gazeta do Povo, Graeml é descrita por um colega profissional, que não quis se identificar, como uma pessoa respeitosa e, que a princípio, não tinha mostrado inclinação política.

Pimentel representa direita institucionalizada e Cristina a extrema-direita, diz pesquisador

Para o cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Cervi, o atual vice-prefeito vem de uma direita mais institucionalizada do que Cristina. "Ela é uma candidata da extrema-direita, da direita antipolítica e cresceu na migração de votos do PSB, que está atualmente prometendo a manutenção do governo".

Nas vésperas das eleições municipais, Cristina, que não tinha tempo de televisão e rádio, cresceu abruptamente nas pesquisas e acabou no segundo turno atrás de Pimentel, com uma diferença de 2.34% dos votos. De acordo com o pesquisador, esse resultado se deve, em partes, à migração dos votos indecisos frente à denúncia de que um servidor estaria coagindo outros funcionários públicos a fazerem doações para a campanha de Pimentel. A Prefeitura chegou a demitir o servidor supostamente envolvido no caso.

"Ela puxou também muito do eleitorado do Bolsonaro, que estava com Pimentel via coligação, mas que viu no perfil de Graeml uma figura ideológica mais expressiva", acrescenta o analista.

O perfil do eleitorado dos dois candidatos também os distingue. Segundo pesquisa da AtlasIntel, divulgada no dia 16 de outubro, Pimentel tem o apoio de 72,3% dos eleitores que ganham até dois salários mínimos. Já Cristina conta predominantemente a classe média. A pesquisa - registrada no TSE sob o número PR-03464/2024 - entrevistou 1.203 eleitores, entre 8 e 13 de outubro, e tem 95% de confiabilidade, com margem de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos. Para o instituto, os dois também estão tecnicamente empatados, Pimentel com 49% das intenções de votos e Graeml, com 44,9%.

A candidata, que pode se tornar a primeira prefeita mulher de Curitiba, tem 31,2% do eleitorado feminino, enquanto Pimentel tem 60,6%. A jornalista integra o Partido da Mulher Brasileira (PMB), que nestas eleições municipais de 2024, teve 80% de candidatos homens disputando as prefeituras.

Karolina Roeder, doutora em ciências políticas pela UFPR, atribui esse distanciamento feminino a preocupações mais palpáveis que atingem o gênero. "Essas mulheres estão provavelmente muito mais preocupadas com o fato de não ter creche, saúde acessível e outras questões mais materiais e objetivas da cidade do que se o político é de direita ou a favor do Bolsonaro".

A explicação do baixo apelo feminino pode também estar relacionada ao próprio eleitorado de Jair Bolsonaro, que é tradicionalmente formado por homens. A candidata, inclusive, pode atrair para as urnas 68,4% dos eleitores evangélicos, segundo a pesquisa AtlasIntel. "Esse discurso antissistema que nós vimos no Brasil em 2018 ainda está muito forte, inclusive aqui em Curitiba. E mostra também que há ainda um descontentamento da população, de pessoas que não são atendidas no serviço público do jeito que imaginavam, que tiveram suas vidas pioradas por conta da crise econômica", complementa a pesquisadora.

Para alavancar votos, a candidata adotou uma estratégia semelhante à de Marçal: as redes sociais e o boca a boca. No Instagram, acumula 667 mil seguidores, enquanto Pimentel tem 74,3 mil. "Desde o começo da campanha, víamos militantes do lado da Cristina Graeml espalhados pelas feiras na cidade. Um cabo eleitoral não pago acaba convencendo mais do que um cabo eleitoral pago, porque ele vai engajar a candidata", explica a cientista política.

Candidatos exploram controvérsias dos oponentes

Pimentel questiona uma proposta controversa apresentada por Cristina para o transporte público: transformar a tarifa fixa em um preço que varia de acordo com a distância percorrida. Com os valores hoje tabelados pela Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), o preço da passagem na capital pode prejudicar a parcela da população que vive na periferia e precisa se deslocar diariamente para o centro.

Questionada pelo Estadão, Greaml diz que o projeto foi tirado de contexto pelo rival. "Nunca falei que haveria aumento de passagens para quem atravessa vários bairros de ônibus. O curitibano já paga a maior tarifa de transporte coletivo do País, R$ 6, e essa vai continuar sendo a tarifa máxima. Mas acho justo que o usuário que percorre pequenos trajetos pague menos, como ocorre com o táxi ou Uber", explica.

Outro alvo é o candidato a vice-prefeito de Cristina. Jairo Ferreira Filho (PMB) foi condenado em primeira e segunda instância por estelionato e responde por pelo menos três processos de golpes financeiros. Após a última decisão, o candidato terá que devolver R$ 90 mil a uma mulher em Brasília, vítima de um rompimento de contrato.

Cristina, por sua vez, aponta que Eduardo Pimentel integrou a equipe do ex-governador Beto Richa (PSDB), absolvido pelo crime de corrupção passiva. Com o apadrinhamento político, Pimentel foi diretor da Fundação Cultural, das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) e subchefe da Casa Civil.

O vice-prefeito também tem parentesco com Nelson Luís Slaviero, empresário listado no relatório de trabalho análogo à escravidão, divulgado pela ONG Repórter Brasil, em 2017. Questionado pela rival sobre a ligação com Slaviero, Pimentel disse no debate da RIC TV que "parente a gente não escolhe".

Hoje, ambos os candidatos têm uma relação conflituosa com a imprensa local. A candidata do PMB entrou com um pedido para tirar de circulação uma matéria do jornal Plural que expunha os processos de Jairo Ferreira Filho. Já Eduardo Pimentel conseguiu uma liminar judicial temporária para tirar de circulação três reportagens e cinco posts do mesmo jornal que tratavam sobre as doações para o jantar da campanha. Os conteúdos já voltaram para o ar.

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O presidente russo, Vladimir Putin, presidiu nesta quinta-feira, 24, a sessão de encerramento da Cúpula do Brics de economias em desenvolvimento. Ele enalteceu o papel da Rússia como contrapeso dos EUA, e disse que todos os integrantes do bloco econômico "compartilham aspirações e valores semelhantes e uma visão de uma nova ordem global democrática".

A cúpula contou com a presença de 36 países, destacando o fracasso dos esforços liderados pelos EUA para isolar a Rússia. O Kremlin elogiou a cúpula como "o maior evento de política externa já realizado" pela Rússia.

O governo russo pressionou especificamente pela criação de um novo sistema de pagamento que ofereceria uma alternativa à rede global de mensagens bancárias SWIFT, e permitiria que Moscou driblasse as sanções ocidentais e negociasse com parceiros.

O presidente da China, Xi Jinping, enfatizou o papel do bloco em garantir a segurança global. Xi observou que a China e o Brasil apresentaram um plano de paz para a Ucrânia e buscaram reunir apoio internacional mais amplo. A Ucrânia rejeitou a proposta.

Putin, que realizou uma série de reuniões bilaterais à margem da cúpula, deve se reunir nesta quinta com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que está fazendo sua primeira visita à Rússia em mais de dois anos. A viagem de Guterres a Kazan não agradou as lideranças ucranianas. Fonte: Associated Press.

Inundações e deslizamentos de terra provocados por uma tempestade tropical no nordeste das Filipinas, nesta quinta-feira, 24, deixaram pelo menos 24 mortos. A situação levou as autoridades a correrem para conseguir barcos motorizados a fim de resgatar moradores presos, alguns em telhados.

O governo fechou escolas e escritórios - exceto aqueles urgentemente necessários para a reação ao desastre - pelo segundo dia em toda a ilha de Luzon, para proteger milhões de pessoas depois que a tempestade tropical Trami atingiu a província de Isabela, no nordeste do país.

Possibilidade de tufão

A tempestade começou a se afastar da costa da província de Ilocos Sur, no noroeste, em direção ao Mar da China Meridional na tarde de quinta-feira, com ventos de até 95 km/h e rajadas de até 115 km/h. A tempestade estava se movendo em direção ao sudoeste e poderia se intensificar em um tufão sobre o Mar da China Meridional, segundo previsões meteorológicas do governo.

O número de mortos deve aumentar à medida que vilarejos isolados por enchentes e estradas bloqueadas por deslizamentos de terra e árvores caídas conseguirem enviar relatórios, disseram policiais e autoridades provinciais.

A maioria das mortes foi relatada na região de Bicol, composta por seis províncias e situada ao sudeste de Manila, onde pelo menos 21 pessoas morreram, incluindo 8 residentes na cidade de Naga, que foi inundada por enchentes repentinas enquanto a tempestade Trami se aproximava na terça-feira, despejando mais de dois meses de chuva em apenas 24 horas, disseram o chefe regional da polícia, Andre Dizon, e outros oficiais.

Embora milhares de moradores, que ficaram presos nas enchentes, tenham sido resgatados pelas forças do governo, muitos mais precisavam ser salvos na quinta-feira na região de Bicol, incluindo alguns que estavam em telhados.

Cerca de 1.500 policiais foram mobilizados para trabalhos de mitigação de desastres, disse Dizon. "Não podemos resgatar todos de uma vez porque são muitos e precisamos de mais barcos motorizados", disse Dizon à Associated Press por telefone. "Estamos buscando maneiras de entregar comida e água para aqueles que estão presos, mas que não podem desocupar imediatamente."

As enchentes arrastaram e submergiram carros em algumas partes da cidade de Naga, enquanto fluxos de lama do vulcão Mayon, um dos 24 vulcões ativos do país, na província vizinha de Albay, engoliram vários veículos, disse Dizon. O tempo tempestuoso continuava na região, dificultando os esforços de socorro, disseram as autoridades.

A agência do governo de mitigação de desastres disse que mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pela tempestade, incluindo 75.400 moradores que foram deslocados de suas casas e estão abrigados em áreas seguras. Mais de 1.000 casas foram danificadas, principalmente na região de Bicol, e quase 300 estradas e pontes estavam intransitáveis devido a inundações, deslizamentos de terra ou árvores caídas, informou a agência.

A tempestade também provocou a suspensão dos serviços de balsa entre ilhas em mais de 120 portos, deixando quase 7.000 passageiros e trabalhadores de carga retidos, informou a guarda costeira das Filipinas.

Cerca de 20 tempestades e tufões atingem as Filipinas a cada ano. Em 2013, o tufão Haiyan, um dos ciclones tropicais mais fortes já registrados no mundo, deixou mais de 7.300 pessoas mortas ou desaparecidas e destruiu vilarejos inteiros. Fonte: Associated Press.

O ataque às instalações da empresa turca aeroespacial e de defesa Turkish Aerospace Industries (TUSAS) deixou quatro mortos e pelo menos 14 feridos nesta quarta-feira, 23.

"Temos quatro mártires. Temos 14 feridos. Condeno este hediondo ataque terrorista e desejo misericórdia aos nossos mártires", disse o presidente turco, Recep Erdogan, durante uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin nos bastidores do encontro do Brics em Kazan, Rússia. Putin manifestou condolências pelo ataque.

Agressores detonaram explosivos e abriram fogo nas instalações. O prefeito do distrito de Kahramankazan, Selim Cirpanoglu, disse que o ataque à empresa nos arredores da capital, Ancara, havia diminuído, mas não forneceu mais detalhes.

Não estava claro quem pode estar por trás dos ataques. Militantes curdos, o grupo Estado Islâmico e extremistas de esquerda realizaram ataques no país no passado.

Imagens de câmeras de segurança do ataque, exibidas na televisão, mostraram um homem à paisana carregando uma mochila e segurando um fuzil de assalto. Fonte: Associated Press.