Gustavo Gayer chama Caiado de 'canalha' e Michelle responde: 'Jamais será Bolsonaro'

Política
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O deputado federal Gustavo Gayer (PL) publicou um vídeo neste domingo, 27, com ataques ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), a quem chamou de "canalha". O parlamentar afirmou que é "impossível apoiar esse governador, que não tem nada de direita".

Sem apresentar provas, ele acusou o chefe do Executivo estadual de ter envolvimento com a operação da Polícia Federal (PF) que o atingiu na última sexta-feira, 27, por suspeita de desvios de recursos de cota parlamentar.

Gayer insinuou o envolvimento de Caiado com o caso que o atinge porque dois dias antes do governador de Goiás havia se encontrado como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que relata a ação contra o deputado. Antes disso, o governador já havia atacado Gayer por ter sido alvo de busca e apreensão. "Com a PF batendo na porta, foi a primeira vez que Gayer acordou cedo na vida, pena que não foi pra trabalhar", disse Caiado em entrevista ao jornal O Globo.

"Eu não queria acreditar que o Caiado está por trás disso (operação). Por mais que eu tivesse suspeitas, eu optei por ficar em silêncio, calado, porque eu não conseguiria acreditar que ele seria capaz disso", afirmou. "Eu tentei de tudo para reatar e reaproximar o senhor do Bolsonaro para que a direita pudesse andar junta...Canalha! Eu tentei admirar o senhor, mas agora com esse comentário idiota, infantil. Que canalhice!", completou.

Gayer ainda escreveu no título do vídeo que Caiado zombou dele. "Nunca será presidente!! Nunca!!", afirmou.

O post recebeu diversos comentários de apoio de políticos e apoiadores da extrema-direita, inclusive da família Bolsonaro. A ex-primeira-dama e presidente do PL Mulher, Michelle Bolsonaro, escreveu em resposta a Gayer que "quem nasceu para ser Caiado, jamais será Bolsonaro". O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse, por sua vez, que o posicionamento de Caiado é 'mais do que lamentável...bizarro".

Os dois políticos de direita estão em lados opostos na eleição municipal de Goiânia. Gayer apoia o deputado estadual Fred Rodrigues (PL), nome escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para representá-lo na capital, enquanto Caiado aposta no ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil) para ter um aliado no comando da maior cidade do Estado.

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Os uruguaios voltam às urnas neste domingo, 24, no segundo turno da eleição presidencial. A escolha é entre a continuidade do governo de centro-direita de Luis Lacalle Pou ou uma guinada para a esquerda do ex-presidente José Mujica. Todas as pesquisas colocam à frente o candidato esquerdista Yamandú Orsi, da Frente Ampla, mas a vantagem sobre o conservador Álvaro Delgado, do Partido Nacional, fica dentro da margem de erro.

Orsi, de 57 anos, e Delgado, de 55, disputam o governo da democracia mais sólida da América Latina, com uma renda per capita comparativamente alta e baixos níveis de pobreza. Um deles substituirá em março o atual presidente, Lacalle Pou, que deixa o poder com um alto índice de aprovação - a reeleição é vetada pela Constituição uruguaia.

Orsi é a aposta da Frente Ampla para recuperar a presidência, perdida para Lacalle Pou em 2019, após 15 anos no poder - com dois mandatos de Tabaré Vázquez e um de Mujica. Silvia Martínez, doméstica de 60 anos, diz que votará em Orsi, já que, para ela, o Uruguai era melhor "em tudo" durante o período em que foi governado pela Frente Ampla.

"Nós, que estamos abaixo, somos os que mais sofrem", disse Silvia, após um comício de Mujica, que teve um papel importante na campanha de Orsi como "principal estrategista", de acordo com o cientista político Alejandro Guedes.

O ex-guerrilheiro de 89 anos, que luta contra um câncer no esôfago, saiu às ruas pedindo votos. Em comícios e entrevistas, ele exibiu seu estilo de vida austero, que no passado lhe rendeu o apelido de "presidente mais pobre do mundo", e criticou os políticos que "gostam de dinheiro".

DISPUTA

Orsi saiu das urnas à frente no primeiro turno, em 27 de outubro, com 43,9% dos votos, insuficiente para evitar uma nova votação contra Delgado, que obteve 26,8%. No entanto, o governista recebeu apoio de quase todos os outros candidatos, que somados representariam 47,7% dos votos do primeiro turno.

"Apoio Delgado, porque o considero a continuidade deste governo, que para mim foi positivo", disse Manuel Cigliuti, assistente administrativo de 24 anos que elogiou a gestão da economia, da segurança e da pandemia.

Apesar da leve vantagem de Orsi sobre Delgado, analistas alertam que os dois estão em empate técnico. "Embora Orsi tenha subido em todas as sondagens, a diferença sobre Delgado diminuiu. É um cenário muito competitivo", afirmou o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum. "O país está dividido e a eleição deve ser definida por menos de 50 mil votos" - a última, em 2019, foi decidida por 37 mil.

"Ainda que a vitória seja por margens estreitas, não se espera que o resultado seja contestado. Quem perder aceitará pacificamente e será aberta uma etapa necessária de negociação entre os dois blocos", disse Bottinelli. O diálogo parece inevitável, visto que nenhum dos dois tem maioria parlamentar. Em outubro, 16 das 30 cadeiras do Senado foram para a Frente Ampla, mas 49 dos 99 lugares da Câmara dos Deputados ficaram com a coalizão governista.

"Temos as condições para assumir o país", prometeu Orsi ao encerrar sua campanha, garantindo "uma atitude firme" para "levar adiante as reformas de que o país necessita". "Abriremos os braços para os acordos necessários", disse Delgado, confiando que "uma maioria silenciosa" lhe dará a vitória.

SEM RUPTURA

Os analistas não esperam mudanças significativas na economia, seja quem for o vencedor, embora possa haver diferenças na política comercial - Orsi prioriza o Mercosul, enquanto Delgado busca uma maior abertura para o mundo. Ambos querem impulsionar o crescimento, em recuperação após a desaceleração devido à pandemia e a uma seca histórica, e prometem reduzir o déficit fiscal.

No único debate da campanha, Orsi e Delgado se comprometeram em não aumentar a carga tributária e a combater a criminalidade. A segurança pública é a maior preocupação dos eleitores, segundo as pesquisas. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar das diferentes propostas de governo, as campanhas eleitorais para o 2º turno no Uruguai foram marcadas por uma rara tranquilidade, até para o país, em um contexto mundial em que a polarização e as ameaças democráticas se tornaram a regra. Para o ministro das Relações Exteriores uruguaio, Omar Paganini, o segredo está no forte sistema de partidos que não permite o surgimento de "outsiders".

Segundo ele, as lições da ditadura militar seguem vivas na sociedade, fazendo com que a democracia seja um pilar a se proteger. O chanceler conversou com o Estadão durante sua passagem pelo Rio para a cúpula de líderes do G-20 como representante do presidente, Luis Alberto Lacalle Pou.

Uruguai não caiu na polarização extrema. Por quê?

Graças a um atributo muito positivo que o Uruguai tem, de um diálogo político civilizado, como se pôde ver quando assumiu o presidente Lula. O presidente Lacalle Pou veio ao País com dois presidentes anteriores, um deles Mujica, da Frente Ampla, e o outro Sanguinetti, do Partido Colorado. Isso mostrou como o sistema uruguaio é maduro e tem um alto nível de diálogo. Em campanha, claro, as discussões são mais fortes. Há modelos diferentes entre os dois partidos, diferenças substanciais com relação aos temas. Há muito a ser discutido, mas se discute de maneira saudável.

E qual seria o segredo do Uruguai?

Acredito que são dois segredos. Um, o sistema de partidos fortes que o Uruguai tem, que permite processar o debate político pelas legendas, e não por "outsiders" ou esquemas de fragmentação. Em outros países da América Latina, vemos que os partidos políticos têm se fragmentado muito, o que dificulta o diálogo político. Mesmo em países que têm sistemas partidários fortes, como o Chile, também aconteceu. Mas esse é um dos segredos. O outro, o Uruguai aprendeu com a ditadura militar, entre 1973 e 1984, e todos no sistema de partidos valorizam muito a institucionalidade democrática. No fundo, a ninguém serve romper com o sistema, porque todos os partidos passaram pelo governo e todos têm a esperança de voltar, de modo que o sistema funciona de maneira que é bom para todos que continue funcionando assim.

Qual o peso do fator social da sociedade uruguaia?

A forma de ser do uruguaio é conhecida. Somos gente de diálogo. É uma sociedade menor. Falamos (antes) dos graus de separação. Toda a humanidade está conectada por seis graus de separação, mas no Uruguai são só dois, provavelmente. E isso também facilita o diálogo. Essa é uma receita que não é tão exportável.

Mas há como ensinar a outros países?

É muito difícil aplicar a mesma receita em outro país. Além disso, seria um pouco insolente da nossa parte sair tentando dar aulas sobre realidades tão diferentes e especiais. Em geral, nos países da América Latina, vemos que isso é muito valorizado pela sociedade, apesar das dificuldades da polarização. Infelizmente, alguns países têm deslizado na direção da ditadura. Eu me refiro a Venezuela e Nicarágua. É de interesse da região inteira que em todo o continente vigore a democracia. Isso nos dá estabilidade, paz e nos faz crescer. É muito importante que todos juntos pressionemos, façamos o que for preciso para que a Venezuela volte ao caminho democrático.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O príncipe e governante da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman (MBS), recebeu líderes de países islâmicos em Riad para discutir a guerra de Israel na Faixa de Gaza e no Líbano. Na abertura, chamou as operações israelenses de genocídio e pediu o fim dos ataques ao Irã. O tom adotado contrasta com a realidade que o Oriente Médio vivia há menos de dois anos, quando sauditas e iranianos eram arquirrivais.

Chamada de cúpula conjunta da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica, a reunião refletiu a mudança em andamento na região desde que Arábia Saudita e Irã restabeleceram laços diplomáticos, em março de 2023. Meses depois, Israel começou a bombardear Gaza, em resposta ao ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro. MBS já havia convocado o mundo muçulmano por causa da guerra, mas nunca havia classificado a campanha como genocídio.

Um ano depois, o reino saudita endurece as críticas a Israel e faz mais acenos ao Irã, à medida que aguarda o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA. No primeiro mandato do republicano, os americanos estreitaram os laços com a Arábia Saudita, que se aproximou de Israel e manteve uma posição agressiva contra Teerã. Mas, com as mudanças geopolíticas e o fracasso de Joe Biden na região, há muita incerteza sobre a direção dos americanos a partir de janeiro, dizem analistas.

Durante a campanha, Trump prometeu levar paz à região e demonstrou apoio incondicional às guerras de Israel. Há uma expectativa de que ele retome o plano de mediar o acordo de reconhecimento de Israel pela Arábia Saudita, para apresentá-lo como grande vitória da diplomacia americana.

Se Trump avançar com diálogos de paz, a Arábia Saudita pode ser peça-chave. O republicano possui boas relações com MBS, que pretende ser líder do mundo islâmico e sabe que para isso é necessário estabilidade. "O desejo de Trump de ver a Arábia Saudita reconhecer Israel pode dar a MBS a chance de ser intermediador de um acordo de paz e de se firmar como líder regional", disse o pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre o Oriente Médio (Gepom), Najad Khouri.

ESTABILIDADE

Desde que Riad estabeleceu seu plano de desenvolvimento para 2030, a busca por estabilidade no Oriente Médio ganhou força. Isso explica o restabelecimento de laços diplomáticos com o Irã, depois de sete anos. "Os dois lados perceberam que, ao estabelecer uma base para comunicação e cooperação, poderiam diminuir as tensões e impulsionar a economia", diz o relatório do centro de estudos International Crisis Group.

O Irã é visto pelos sauditas como inimigo e maior força desestabilizadora da região desde a Revolução Islâmica, em 1979. Os países possuem duas visões diferentes do Islã - os sauditas são sunitas, e os iranianos, xiitas - e estiveram em lados opostos muitas vezes, como na guerra civil do Iêmen, onde os sauditas lideram uma campanha militar contra os houthis, milícia apoiada por Teerã.

A mudança para uma estratégia menos bélica começou em 2019, depois de os houthis lançarem mísseis contra as instalações sauditas de petróleo. Dentro dessa lógica, MBS também melhorou os laços com Turquia e Iraque.

Analistas lembram que ele também ajudou resgatar a Síria, depois de o país ser expulso da Liga Árabe por causa da guerra civil. O próximo passo seria reconhecer os laços com Israel, mas a guerra em Gaza demoliu os planos de MBS.

GUERRAS

A invasão israelense no Líbano e os ataques contra o Irã pioraram as perspectivas de paz regional. Nesta semana, o jornal israelense Haaretz noticiou que MBS estaria frustrado com a indisposição de Israel em acabar a guerra.

Com temor de ser alvo do Irã no conflito, os sauditas deram um salto e buscaram se reaproximar de Teerã. "Os Estados do Golfo tentam alavancar melhores relações com o Irã para evitar serem pegos no meio de uma escalada Israel-Irã", disse a analista Anna Jacobs, do Crisis Group.

As divergências entre Arábia Saudita e Irã não desapareceram, mas a reaproximação atende interesses mútuos. A guerra é ruim para a economia saudita e proporciona aos iranianos uma chance de sair do isolamento, que vem destruindo as contas do país e aumentando a insatisfação interna com o regime dos aiatolás.

MUDANÇAS

A eleição do presidente Masoud Pezeshkian, em julho, lançou ares de moderação ao Irã. Pezeshkian prega a reconciliação com o Ocidente e com os sunitas do Golfo. Nos primeiros meses, o chanceler do Irã, Abbas Araqchi, se reuniu com os líderes de vários países da região, incluindo MBS.

O contato mais recente das autoridades do alto escalão saudita e iraniano aconteceu nesta semana em Teerã, poucos dias depois da eleição de Trump nos EUA. O principal oficial militar saudita, Fayyad al-Ruwaili, se reuniu com o general iraniano Mohammad Bagheri. Segundo a mídia estatal iraniana, Bagheri pediu aumento da cooperação militar e os convidou para exercícios navais conjuntos em 2025. No fim de outubro, as forças militares dos dois países participaram de uma manobra militar com outros países do Golfo no Mar Vermelho.

A reaproximação resultou em uma trégua na guerra civil do Iêmen e nas hostilidades dos houthis contra a Arábia Saudita. De acordo com Jacobs, os sauditas também não permitiram que israelenses e americanos utilizassem seu espaço aéreo para interceptarem os mísseis lançados pelo Irã contra Israel, em abril.

Para o Irã, estabelecer uma relação de confiança com a Arábia Saudita é ter mais garantias de que o retorno de Trump não transforme Riad em uma ameaça militar patrocinada pelos EUA. A Arábia Saudita, por sua vez, tenta se colocar como mediadora do diálogo entre Washington e Teerã. "O que MBS quer é autonomia diplomática", disse Khouri.

Apesar das alianças da Arábia Saudita para se consolidar como líder regional, há uma divergência fundamental com Israel. Depois do 7 de outubro, os sauditas passaram a exigir a solução de dois Estados na questão palestina, em troca da normalização diplomática. Mas a coalizão de Netanyahu mostra cada vez mais disposição de ocupar a Cisjordânia e Gaza.

Antes da guerra, Riad falava que o reconhecimento passaria por melhorias para os palestinos, mas a exigência de criar um Estado não estava sobre a mesa. O conflito, porém, mobilizou a sociedade saudita e fez com que Riad exigisse mais. "A questão palestina não afeta MBS pessoalmente. Mas ele precisa ter a confiança da opinião pública para não sofrer uma desestabilização interna", disse Khouri.

VOLTA

Se o retorno de Trump significar apoio irrestrito aos planos israelenses de anexar a Cisjordânia, como pede o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, MBS terá mais dificuldade em lidar com a questão. "Por isso, a Arábia Saudita pode aceitar reconhecer os laços com Israel desde que haja compromissos, mesmo que eles não se concretizem", afirmou Khouri.

Quanto ao Irã, as divergências com a Arábia Saudita também limitam sua influência. Teerã não reconhece Israel como Estado legítimo, mas assinou a resolução da cúpula de Riad que pede dois Estados como solução. O país também defendeu sanções contra os israelenses no encontro, mas a proposta não foi aprovada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.