Pelo menos 48 palestinos foram mortos e dezenas ficaram feridos na quarta-feira, 30, enquanto esperavam por comida em uma travessia na Faixa de Gaza, de acordo com um hospital que recebeu as vítimas. A nova onda de mortos e feridos ocorreu um dia antes da visita do enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Wittkoff, a Israel.
O Hospital Shifa, na Cidade de Gaza, informou que os mortos e feridos estavam entre as multidões reunidas no cruzamento de Zikim, o principal ponto de entrada para ajuda humanitária no norte de Gaza. Não ficou imediatamente claro quem abriu fogo, e não houve comentários imediatos do Exército de Israel, que controla a passagem. Filmagens da Associated Press mostraram pessoas feridas sendo transportadas dos postos de ajuda humanitária em carroças de madeira, bem como multidões de pessoas carregando sacos de farinha.
O Hospital de Campo Al-Saraya, onde casos críticos são estabilizados antes da transferência para hospitais principais, disse que recebeu mais de 100 mortos e feridos. Fares Awad, chefe do serviço de emergência do Ministério da Saúde de Gaza, afirmou que alguns corpos foram levados para outros hospitais, indicando que o número de vítimas pode aumentar.
Ataques aéreos e disparos israelenses anteriormente já haviam matado pelo menos 46 palestinos durante a noite e na quarta-feira, a maioria deles entre multidões em busca de comida, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo grupo terrorista Hamas. Outros sete palestinos, incluindo uma criança, morreram de causas relacionadas à desnutrição, de acordo com as autoridades de saúde.
Israel alivia bloqueio
No final de semana, Israel aliviou o seu bloqueio sobre o território palestino, com pausas estratégicas na luta contra o Hamas e um aumento no fluxo de ajuda humanitária, mas organizações internacionais acreditam que é preciso fazer mais. Lançamentos aéreos internacionais de ajuda também foram retomados, mas muitos dos pacotes caíram em áreas que os palestinos foram instruídos a se retirar.
A Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, ou IPC, a principal autoridade mundial sobre crises de fome, disse na terça-feira, 29, que a situação piorou dramaticamente e alertou sobre os riscos de "morte generalizada" de palestinos.
A COGAT, o órgão militar israelense que facilita a entrada de ajuda, disse que mais de 220 caminhões entraram em Gaza na terça-feira. O número está muito abaixo dos 600 caminhões por dia que as agências da ONU dizem ser necessários, e que entraram durante um cessar-fogo de seis semanas no início deste ano.
Mais de 1.000 palestinos foram mortos perto dos postos de coleta da Fundação Humanitária de Gaza enquanto buscavam ajuda desde maio, de acordo com testemunhas, autoridades de saúde locais e o escritório de direitos humanos da ONU. O Exército de Israel diz que apenas disparou tiros de advertência em pessoas que se aproximam de suas forças. Tel-Aviv alega também que a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) apenas usa spray de pimenta contra palestinos para evitar aglomerações perigosas.
Mortes por desnutrição
Segundo dados do ministério da Saúde de Gaza, um total de 89 crianças morreram de desnutrição desde o início da guerra em Gaza. 65 adultos palestinos também morreram de causas relacionadas à desnutrição em Gaza desde o final de junho, de acordo com dados das autoridades de saúde.
Israel nega que haja uma crise de fome em Gaza, rejeitando relatos de testemunhas, agências da ONU e grupos de ajuda, e diz que o foco nessas acusações prejudica as negociações para um cessar-fogo porque faz com que o grupo terrorista Hamas seja mais rígido em suas exigências.
O enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Wittkoff, que lidera os esforços do governo Trump para encerrar a guerra de quase 22 meses e libertar os 50 reféns que seguem em Gaza, deve chegar a Israel nesta quinta-feira, 31, para conversar sobre a situação de Gaza e o cessar-fogo. (Com informações da Associated Press)