'Vamos partir pra guerra': golpistas pediam 'orientação' a general próximo de Bolsonaro

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Peça central na nova fase da investigação sobre golpe de Estado supostamente gestado no governo Jair Bolsonaro, o general de brigada Mário Fernandes, ex-secretário-executivo do Palácio do Planalto, atuava como orientador do 'pessoal do agro', caminhoneiros e bolsonaristas alojados no acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília após as eleições de 2022. A Polícia Federal identificou mensagens por WhatsApp que mostram Mário Fernandes orientando golpistas. Os investigadores rastrearam também solicitações dos radicais ao general.

 

No âmbito da Operação Contragolpe, que nesta terça, 19, prendeu o general, a PF quer investigar se suas orientações também chegaram aos golpistas que tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília na noite de 12 de dezembro de 2022.

 

Em relatório de 221 páginas que embasa a Operação Contragolpe, a PF cita três interlocutores de Mário - além dele, outros três militares e um policial federal foram presos sob suspeita de tramarem o Plano 'Punhal Verde e Amarelo' para eliminação do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.

 

Os interlocutores do general, segundo a PF, eram Rodrigo Yassuo Faria Ikezili, marido de Klio Damião Hirano, apontada como uma manifestante radical presa na Operação Nero por participação nos atos de 12 de dezembro; Lucas Rotilli Durlo, o 'Lucão', caminhoneiro que estava no QG do Exército, apontado como um dos líderes do movimento; e Hélio Osório de Coelho, que se dizia militar e cujo contato estava salvo no celular do general como 'comunidade evangélica'.

 

Mário Fernandes é tido como um dos militares mais radicais do governo Bolsonaro. A PF diz que há 'fortes indícios' de que ele 'promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, inclusive com registros de frequência' ao acampamento golpista e relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022.

 

Segundo a PF, o general participou de atos bolsonaristas depois que o então presidente foi derrotado por Lula no pleito de 2022. Na ocasião, ele ainda ocupava o cargo de chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência, e tinha 'estreita proximidade' com Bolsonaro.

 

Os investigadores encontraram mensagens de Mário com civis e militares. Com os colegas de farda, ele externava 'ideais golpistas', diz a PF. Já as mensagens trocadas com caminhoneiros e acampados levaram a PF a classificar o general como o 'ponto focal' do governo Bolsonaro com os manifestantes.

 

"Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG-Ex em Brasília, que teve papel fundamental na tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 8 de janeiro de 2023", afirma a PF, estabelecendo uma relação entre o general e golpistas e os atos que devastaram a praça dos Três Poderes na alvorada do governo Lula.

 

Orientação a marido de golpista presa por atos de 12 de dezembro

 

Rodrigo Yassuo Faria Ikezili, marido de Klio Damião Hirano, buscou a ajuda de Mário Fernandes entre 9 e 13 de dezembro de 2022, por meio de diversos áudios enviados ao general. Em um deles, ele pediu apoio do militar para viabilizar a entrada de uma tenda no acampamento montado em frente o QG do Exército.

 

Em outra mensagem, ele narrou que estava se deslocando para a Esplanada dos Ministérios, possivelmente para participação em alguma manifestação, e afirmou: "Bom dia, general. A gente tá indo lá pra Esplanada, pra manifestação da Esplanada, ok? É... E eu preciso falar urgente com o senhor, sobre aquela... Aquele churrasco. É... se conseguiu alguma orientação aí. Tá bom? Gratidão."

 

No dia 11 de dezembro, Rodrigo Ikezili enviou a Mário Fernandes uma mensagem pedindo informações sobre o dia seguinte, "possivelmente se referindo a algum ato que seria realizado no Palácio do Planalto", segundo a PF.

 

"General, consegue confirmar isso, se é verdade, se tem uma agenda assim, porque eu fico com medo por causa que amanhã aí é 12 e...é... amanhã no Palácio do Planalto, é a questão pra gente ter a segurança. Consegue ver pra mim, por favor? Brasil.", afirmou, às 22h do dia 11.

 

No dia 13 de dezembro, Rodrigo voltou a acionar o militar. "Boa noite, general. Rodrigo. O senhor está em Brasília? O senhor está acompanhando? Peço uma orientação, por favor, Brasil.", escreveu, às 18hs.

 

A mensagem chamou a atenção dos investigadores, que apontam 'fortes indícios' de que o pedido esteja relacionado aos eventos de 12 de dezembro - quando golpistas tentaram invadir a sede da PF em Brasília, depredaram patrimônio público e atearam fogo em ônibus.

 

O inquérito dá ênfase ao fato de Rodrigo ser o marido de Klio Hirano, apontada como uma radical ativa no acampamento do QG, com "perfil de forte engajamento em conceitos e ideários golpistas".

 

Segundo a Polícia Federal, o fato de um acampado como Rodrigo ter contato direto com Mário Fernandes "evidencia que o referido militar possuía influência sobre pessoas radicais acampadas no QG-Ex, inclusive com indicativos de que passava orientações de como proceder e, ainda fornecia suporte material e/ou financeiro para os turbadores antidemocráticos".

 

General pediu a Mauro Cid que mostrasse a Bolsonaro 'emoção' de caminhoneiro do QG do Exército

Ainda de acordo com a Operação Contragolpe, Mário Fernandes conversou com Lucas Rotilli Durlo, o 'Lucão', caminhoneiro que estava no QG. Ele é apontado como um dos líderes do movimento. No dia 6 de dezembro, 'Lucão' se mostrou frustrado com a "demora para a consumação do golpe de Estado".

 

Segundo a PF, o contato com o golpista mostra que Mário Fernandes tinha contato com manifestantes de acampamentos antidemocráticos em outros Estados, como São Paulo.

 

No dia 9 de dezembro, Mário enviou mensagem ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, comemorando que o então presidente 'aceitou nosso assessoramento'. No texto, o general pediu a Cid que transmitisse ao presidente uma mensagem de como seu pronunciamento 'reverberou entre os manifestantes', citando o exemplo de 'Lucão'.

 

"Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso prá ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí, porra, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!"

 

No entanto, no dia 15, a frustração bateu até em Mário Fernandes, que enviou áudios para o general Ramos, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, pedindo a ele que 'blindasse o presidente contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente'.

 

Segundo a PF, em fins de dezembro de 2022, Mário Fernandes estava 'frustrado com as Forças Armadas, que estariam aguardando uma decisão política para atuar'.

 

O general encaminhou um áudio a colegas. "Cara, porra, o presidente tem que decidir e assinar esta merda, porra". Ouviu de um deles: "Kid Preto, cinco não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente", lamentando o fato de a decisão do golpe por parte do Alto Comando depender de uma atuação colegiada unânime.

 

General insuflou militar da 'comunidade evangélica' que defendeu 'vale tudo' e disse que pastores estavam com Bolsonaro

 

Em um diálogo mais antigo identificado pela PF, Mário trocou mensagens com Hélio Osório de Coelho, cujo contato estava salvo no celular do general como 'comunidade evangélica', no dia 4 de novembro de 2022 - data em que o argentino Fernando Cerimedo, marqueteiro estrategista do presidente Javier Milei, "disseminou material falso vinculado aos resultados das eleições presidenciais no Brasil".

 

Na mensagem, Hélio diz que é "capaz de morrer pelo país, pelo meu presidente a ter que viver sob julgo de bandidos criminosos".

 

"Eu prefiro ir pra guerra. Eu prefiro ir pro campo de batalha, entendeu? Viver a pátria livre ou morrer pelo Brasil, entendeu? Aprendi isso na caserna. Honrar a minha bandeira. Honrar o meu presidente. Então, eu tô pedindo a Deus prá que o presidente tome uma ação enérgica e vamos sim pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso."

 

Hélio diz ainda que está indo para uma reunião com 'pastores, líderes da direita da cidade' - Itajaí (SC), no caso - para conversar sobre uma manifestação do presidente. "Então, a gente aqui não está parando não, general, a gente aqui, estamos 24 horas no ar, em apoio aí ao nosso presidente e à nossa nação. E nós vamos vencer, eu tenho certeza disso."

 

Mário insufla o suposto líder religioso. "Hélio, essa live dos argentinos, quem diria que o apoio, a solução do nosso problema viesse de los hermanos argentinos. Mas pô, essa live aí mostrou que é muito mais do que batom na cueca. Porra, é foda. Foi fraudado com certeza. Um abraço, meu amigo, uma boa reunião aí. Prossigamos essa batalha pelo Brasil acima de tudo. Força!"

 

Hélio respondeu que 'nosso capitão' arrebentou lá no Nordeste" e que a fraude (eleição de Lula) "está comprovada". "Então, o momento é esse, o momento é esse, a gente não pode deixar passar, temos que reagir e o presidente não pode entregar o poder na mão desses caras, não. Vamos partir pra guerra, vamos pro vale tudo, entendeu? Eu estou disposto, entendeu, a lutar pelo meu país. [...] Não consigo enxergar os meus amigos, seus filhos, meus parentes, sob o julgo desses comunistas, né? Nós, como militares, a gente não consegue enxergar isso. Então, estamos aí, o que o presidente decidir, o meu grupo aqui já falou, o meu grupo aqui de pastores, que são os líderes, já falou, o que o presidente decidir, a gente vai abraçar a causa, a gente vai abraçar. O presidente tem o nosso total e irrestrito apoio."

Em outra categoria

Estados Unidos, Reino Unido e 12 países europeus divulgaram nesta quinta, 31, um comunicado conjunto condenando o que classificaram como "crescentes ameaças estatais dos serviços de inteligência iranianos" em seus territórios. Segundo o texto, as ações envolvem tentativas de "matar, sequestrar e assediar pessoas na Europa e na América do Norte", o que configura uma "clara violação de nossa soberania".

Assinado por EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá, Espanha, Holanda, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Finlândia, Albânia, Áustria, e República Checa, o comunicado denuncia que os serviços iranianos têm atuado "em crescente colaboração com organizações criminosas internacionais" para atacar alvos como jornalistas, dissidentes, cidadãos judeus e autoridades atuais e precedentes.

Para os governos signatários, esse comportamento é "inaceitável". Eles declaram que "consideramos esse tipo de ataque, independentemente do alvo, uma violação de nossa soberania" e reforçam o compromisso de atuar em conjunto para evitar novas ocorrências. Por fim, o grupo também exige que Teerã "interrompa imediatamente tais atividades ilegais em nossos respectivos territórios".

O chanceler francês, Jean-Noël Barrot, disse nesta quarta-feira, 30, que 14 países ocidentais, incluindo Canadá e Austrália, decidiram se juntar ao presidente da França, Emmanuel Macron, e expressar o desejo de reconhecer um Estado palestino por meio de uma declaração conjunta. "Convidamos aqueles que ainda não se manifestaram a se juntarem a nós", escreveu Barrot no X.

O apelo de ontem veio ao final de uma conferência que terminou na terça-feira, 29, em Nova York, patrocinada por França e Arábia Saudita, que tentam manter viva a solução de dois Estados para resolver o conflito israelense-palestino, uma hipótese cada vez mais distante em razão da guerra em Gaza e da violência dos colonos judeus na Cisjordânia.

O movimento diplomático é diferente do realizado pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que na terça-feira ameaçou embarcar na canoa francesa e reconhecer a Palestina em setembro, a menos que Israel adote diversas "medidas substanciais" em Gaza, incluindo um acordo de cessar-fogo.

Entre os 15 países signatários do documento de ontem estão 10 que ainda não reconheceram um Estado palestino: além da França, estão Austrália, Canadá, Andorra, Finlândia, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Portugal e San Marino. Já Islândia, Irlanda, Malta, Eslovênia e Espanha, que também firmaram a declaração, haviam reconhecido a Palestina.

Carney

De todos os signatários, o Canadá foi quem assumiu uma posição mais firme. O premiê Mark Carney foi enfático ao declarar que seu governo reconhecerá a Palestina em setembro. "A medida se baseia no compromisso da Autoridade Palestina com reformas, incluindo eleições, medidas anticorrupção e um Estado palestino desmilitarizado", disse Carney, que falou após uma conversa por telefone com o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

A chancelaria de Israel criticou a decisão do Canadá. "A mudança na posição do governo canadense neste momento é uma recompensa para o Hamas e prejudica os esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza e um acordo para a libertação dos reféns", diz a nota do Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Reação

Ontem, o governo britânico respondeu às alegações de Israel. "Isso não é uma recompensa para o Hamas. O Hamas é uma organização terrorista desprezível, que cometeu atrocidades terríveis. O reconhecimento é sobre o povo palestino. Trata-se das crianças que vemos em Gaza morrendo de fome", disse a ministra britânica dos Transportes, Heidi Alexander, designada pelo governo para lidar com a questão, em entrevista à rádio LBC.

As manifestações de apoio ao Estado palestino obrigaram o governo americano a reiterar que o reconhecimento seria uma forma de "recompensar o Hamas". "Como o presidente (Donald Trump) afirmou, o Hamas não deveria ser recompensado. Portanto, ele não vai fazer isso. O foco agora é alimentar as pessoas", afirmou a Casa Branca, em comunicado.

Os comentários de Washington sobre a movimentação da França, no entanto, ficaram abaixo do tom esperado pelo governo de Israel, que acreditava em uma diplomacia mais dura para evitar que outros países replicassem o exemplo de Macron. Até agora, Trump disse apenas que os líderes (em referência a Macron e Starmer) têm o direito de tomar qualquer decisão.

Fator Macron

A onda de apoio começou na semana passada, quando Macron anunciou que reconheceria um Estado palestino durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, criando um efeito dominó. Dos 193 membros das Nações Unidas, 147 já reconheceram a Palestina, quase todos na América Latina, na África e na Ásia.

O movimento de Macron, no entanto, foi considerado crucial porque atraiu o apoio de países do G7, aliança de nações mais ricas do mundo. Se for levado adiante em setembro, a decisão da França pode provocar uma divisão dentro do grupo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um ataque russo com mísseis e drones atingiu Kiev durante a noite desta quinta-feira, 30. O incidente deixou seis mortos e mais de 50 feridos, de acordo com autoridades ucranianas. Uma grande parte de um edifício residencial de nove andares desabou após ser atingido. "Ataque de míssil. Diretamente em um edifício residencial. Pessoas estão sob os escombros. Todos os serviços estão no local", escreveu o presidente ucraniano Volodimir Zelenski em seu Telegram oficial. Fonte: Associated Press.