PF prende lobista e afasta desembargadores de MT em operação contra venda de sentenças

Política
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A Polícia Federal abriu nesta terça, 26, a Operação Sisamnes para investigar um suposto esquema de venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso envolvendo advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados. Há ordens de afastamento contra servidores e dois desembargadores: Sebastião Moraes e João Ferreira Filho. Os dois já estavam fora de suas funções na Corte estadual por ordem do Conselho Nacional de Justiça.

A PF prendeu preventivamente o alvo principal da operação: o empresário Andreson de Oliveira Gonçalves, considerado um lobista de sentenças que teria "influência" no Superior Tribunal de Justiça. No mês passado, Andreson foi alvo de buscas na Operação Ultima Ratio - investigação sobre a venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Ele é considerado peça central nas apurações da PF e do Conselho Nacional de Justiça, justamente por ser o elo entre as suspeitas que recaem sobre os tribunais estaduais e atingem ainda o STJ.

O Estadão busca contato com a Corte estadual e os magistrados afastados. O espaço está aberto para manifestações. Em manifestações ao CNJ, Sebastião negou com veemência o suposto envolvimento com corrupção.

Agentes cumpriram 23 ordens de busca e apreensão em Mato Grosso, Pernambuco e no Distrito Federal. As ordens foram expedidas pelo ministro Cristiano Zanin, Supremo Tribunal Federal, que ainda impôs o uso de tornozeleira eletrônica a alguns dos alvos e bloqueou bens de investigados.

Segundo a PF, as investigações apontam que os magistrados sob suspeita "pediam valores para beneficiar partes em processos judiciais, por meio de decisões favoráveis aos seus interesses". Também são investigadas negociações relacionadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais, indica ainda a PF.

A corporação aponta que o nome da operação faz referência a um episódio da mitologia persa, durante o reinado de Cambises II da Pérsia, que narra a história do juiz Sisamnes. "Ele teria aceitado um suborno para proferir uma sentença injusta", diz a Polícia Federal.

A ofensiva apura supostos crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e violação de sigilo funcional.

Trata-se da primeira fase ostensiva da PF em uma investigação que já era conhecida no Judiciário. A suposta venda de sentenças no TJMT era objeto de investigação do Conselho Nacional de Justiça quando a Polícia Federal encontrou elos entre o esquema e aquele desbaratado na Operação Última Ratio, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

Os nomes que ligam os esquemas são dois: o advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023, apontado como "lobista dos tribunais" com "amizade íntima" com desembargadores da Corte estadual; e o empresário Andreson de Oliveira Gonçalves, considerado um lobista de sentenças que teria "influência" no Superior Tribunal de Justiça.

Foi justamente a citação a ministros da Corte 'Cidadã' que alçou o caso ao Supremo Tribunal Federal. O procurador-geral da República Paulo Gonet pediu que a investigação ficasse na Corte máxima, pelo menos por hora, para verificar se há ou não o envolvimento de algum ministro do STJ com o caso. A ideia é a de que quaisquer suspeitas sejam dirimidas já no Supremo, inclusive para evitar eventuais argumentos de nulidade dos inquéritos.

A ofensiva aberta nesta terça, 26, está ligada justamente a esses personagens chave - Zampieri e Andreson. O advogado se referia ao empresário como o "cara lá de Brasília" e chegou a pedir que sua mulher, advogada, escrevesse uma minuta de decisão para um desembargador "amigo" assinar.

Nas apurações sobre o esquema em Mato Grosso, o CNJ já havia afastado os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho e o juiz Ivan Lúcio Amarante. Segundo a apuração do órgão de correição da Justiça, os magistrados recebiam presentes e propinas em vez de se declararem impedidos para julgar os processos. Há suspeitas de venda de decisões judiciais com pagamentos via Pix e até em barra de ouro.

Quanto determinou o afastamento dos magistrados sob suspeita, o então corregedor nacional de Justiça Luís Felipe Salomão viu um cenário de graves faltas funcionais e indícios de recebimento de vantagens indevidas, "esquema organizado de venda de deciso~es", com até nepotismo. Ele destacou "muito possivelmente, prática de crimes no exercício da jurisdição".

Como mostrou o Estadão, as apurações sobre venda de sentenças em MT e em MS estão inseridas dentro de uma tempestade que preocupa o Judiciário desde o meio do ano. As investigações abertas sobre o tema já levaram ao afastamento de 16 desembargadores, sete juízes em seis tribunais de três regiões do País.

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O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, voltou a defender nesta terça-feira, 26, a colonização da Faixa de Gaza após a guerra. Em um evento organizado por colonos na Cisjordânia ocupada, Smotrich afirmou que Israel deveria "conquistar" Gaza e reduzir pela metade a população palestina.

"Podemos e devemos conquistar a Faixa de Gaza, não devemos ter medo desta palavra", declarou o ministro, que é colono na Cisjordânia. Ele participava do simpósio do Conselho Yesha, que representa o movimento colonialista de Israel.

Segundo Smotrich, Israel tem a "oportunidade única" de avançar com esse plano por causa da vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos. "Existe, na minha opinião, uma oportunidade única que se abre com o novo governo (Trump)", disse.

Podemos criar uma situação em que, dentro de dois anos, a população de Gaza será reduzida pela metade", acrescentou.

Quando o retorno do republicano à Casa Branca foi confirmado, no dia 6, Smotrich também falou abertamente sobre planos de colonização. Ele é líder do Partido Sionista Religioso, que dá sustentação ao governo de Netanyahu. O partido é de extrema direita.

As declarações acontecem enquanto o norte da Faixa de Gaza está cada vez mais isolado pelas forças militares israelenses, que retornaram à região em outubro com a justificativa de acabar com células do grupo terrorista Hamas. O isolamento praticamente pôs fim à ajuda humanitária e organizações em defesa dos direitos humanos denunciam o aumento da fome.

As operações de Israel na região são acompanhadas de ordens de retiradas dos civis, que não têm para onde ir depois de um ano de guerra que destruiu todas as regiões de Gaza. No centro e no sul, apesar da situação de fome ser menor, algumas famílias palestinas relatam comer apenas uma vez por dia.

Segundo os jornais israelenses, autoridades de Israel consideram planos de assumir a distribuição de ajuda humanitária ou contratar empresas privadas depois de cortar laços com organizações que atuam na Faixa de Gaza, mais notadamente a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa). Questionado sobre isso no dia 20, o porta-voz do governo David Mercer disse que "Israel está buscando muitas soluções criativas para garantir um futuro melhor para Gaza."

O ex-ministro da defesa Yoav Gallant, demitido este mês, disse no seu perfil do X que entregar a ajuda humanitária a empresas privadas ou aos militares seria "eufemismo para o início do regime militar" na Faixa de Gaza.

Hoje, a ONU estima que há 2,3 milhões de habitantes na Faixa de Gaza. Cerca de 44 mil foram mortos em 415 dias de guerra, 104 foram feridas e 11 mil estão desaparecidas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Israel continua com os ataques na região e um bombardeio contra uma escola na Cidade de Gaza nesta terça-feira matou 11 pessoas e deixou outras 30 feridas.

As negociações para um cessar-fogo para libertação de reféns do Hamas e fim dos conflitos na Faixa de Gaza seguem suspensas. Na outra frente de guerra, Israel discute uma possibilidade de trégua no Líbano. /COM AFP E AP

Os presidentes de Estados Unidos, Joe Biden, e França, Emmanuel Macron, afirmaram que os dois países trabalharão conjuntamente para assegurar o cumprimento do acordo de cessar-fogo firmado entre Israel e o Líbano.

"O anúncio de hoje irá cessar os combates no Líbano e proteger Israel da ameaça do Hezbollah e de outras organizações terroristas que operam a partir do Líbano", afirmam, em comunicado conjunto divulgado nesta terça, 26.

Biden e Macron se disseram empenhados em evitar que o conflito se converta em um novo ciclo de violência na região. "Os Estados Unidos e a França também se comprometem a liderar e apoiar os esforços internacionais para o reforço da capacidade das Forças Armadas Libanesas, bem como o desenvolvimento econômico em todo o Líbano, para promover a estabilidade e a prosperidade na região", ressaltam.

A Agência Meteorológica do Japão informou que um terremoto de magnitude 6,4 atingiu a costa oeste da Península de Noto a uma profundidade de 10 quilômetros, mas que não há perigo de tsunami. O USGS colocou a magnitude em 6,1.

A televisão pública NHK disse que nenhuma anormalidade foi relatada nesta terça-feira em uma usina nuclear na ponta norte da Península de Noto.

Dois reatores ociosos na usina nuclear de Shika sofreram danos menores, embora não tenha havido vazamento de radiação - reacendendo a preocupação sobre a segurança nuclear e a resposta de emergência na região.

Não houve relatos imediatos de feridos ou danos.

A região de Noto ainda se recupera de um terremoto mortal no início deste ano, que matou mais de 370 pessoas e danificou estradas e outras infraestruturas. Fonte: Associated Press