PF indicia mais 3 militares em inquérito que investiga golpe de Estado; saiba quem são

Política
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A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira, 11, mais três militares no âmbito do inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições presidenciais de 2022. Foram indiciados o tenente Aparecido Andrade Portela, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu e o tenente-coronel da ativa Rodrigo Bezerra de Azevedo.

No documento, os militares foram acusados pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa. Os indiciamentos integram o mesmo inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), que em novembro já havia indiciado o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 36 aliados pelos mesmos crimes.

Procurado pela reportagem, o advogado de Rodrigo Bezerra de Azevedo, Jeffrey Chiquini, afirmou desconhecer o indiciamento de seu cliente e informou que não houve intimação oficial até o momento.

Em nota, Tenente Portela afirmou que ficará provado que ele não participou dos atos que vêm sendo noticiados, tem uma vida pautada na "integridade e honestidade" e que "não coaduna a quaisquer práticas ilícitas e antidemocráticas". Ele disse ainda que está disposto a cooperar para o esclarecimento dos fatos, mas que foi orientado a ficar em silêncio até que lhe seja concedida a íntegra dos autos do processo. A reportagem tenta contato com a defesa de Reginaldo de Abreu.

Após os indiciamentos, cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir pela apresentação da denúncia. Na sequência, caberá ao Supremo decidir se aceita a denúncia e inicia o processo, tornando réus os indiciados, ou se arquiva o pedido.

Aparecido Portela

Aparecido Andrade Portela, militar da reserva e primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (MS), é apontado pela PF como intermediário entre o governo Bolsonaro e financiadores dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro no Mato Grosso do Sul. De acordo com as investigações, Portela esteve diversas vezes no Palácio da Alvorada no final de 2022, onde encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro pelo menos 13 vezes em dezembro.

A PF também identificou que Portela usava o codinome "churrasco" para se referir ao golpe de Estado em conversas via WhatsApp com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Nas mensagens, ele repassava informações sobre financiadores dos atos, utilizando o termo "colaboração da carne", e cobrava de Cid a concretização da ruptura institucional por parte de Bolsonaro.

Reginaldo de Abreu

Coronel do Exército, Reginaldo de Abreu era chefe de gabinete do general Mário Fernandes, secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência no governo Bolsonaro. Fernandes é apontado pela Polícia Federal como responsável pelo plano Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

De acordo com o indiciamento desta quarta-feira, 11, Reginaldo Abreu ajudou Fernandes a disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas e chegou a levar um hacker até a superintendência da Polícia Federal em Brasília em novembro de 2022 para prestar depoimento com objetivo de abrir uma investigação sobre as urnas.

O coronel também tentou, ainda segundo o documento, manipular o relatório das Forças Armadas sobre as eleições de 2022 para alinhar seu conteúdo aos dados falsos sobre o sistema de votação divulgados pelo argentino Fernando Cerimedo.

"Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser Petit comité, pô. Tem que ser a rataria, ele e a rataria. Com o comandante do exército, mas Petit comité, essa galera não pode estar aí, porra, aí tem que debater o que que vai ser feito", disse Abreu, em mensagens obtidas pelos policiais.

A investigação aponta ainda que foi o usuário vinculado a Reginaldo de Abreu em um computador do Palácio do Planalto que imprimiu o documento, criado por Mário Fernandes, que previa a criação de um gabinete de crise comandado pelo general Augusto Heleno após a consumação do golpe de Estado. Além disso, Abreu encaminhou a Fernandes uma foto do ministro do STF, Gilmar Mendes, embarcando em um aeroporto em Lisboa.

"Importante contextualizar que a foto foi enviada no mês de novembro de 2022, no período em que os investigados tinham elaborado a primeira versão da minuta de golpe de Estado que previa, dentre outras medidas de exceção, a prisão do ministro GILMAR MENDES, conforme depoimento prestado pelo colaborador MAURO CESAR CID", afirma a PF no indiciamento.

Rodrigo Bezerra de Azevedo

Rodrigo Bezerra de Azevedo, então major de Infantaria do Exército Brasileiro e integrante do Comando de Operações Especiais (COpEsp) em 2022, é acusado de envolvimento na ação clandestina "Copa 2022". De acordo com a investigação, o plano tinha como objetivo prender e executar o ministro do STF Alexandre de Moraes em 15 de dezembro daquele ano.

A PF apurou que os participantes do grupo utilizavam o aplicativo Signal para organizar o plano, adotando codinomes inspirados em países participantes da Copa do Mundo, como "Alemanha", "Argentina", "Áustria", "Brasil", "Gana" e "Japão". O Signal é conhecido por suas opções de privacidade, como criptografia de ponta a ponta e mensagens autodestrutivas, dificultando o rastreamento. Os investigadores identificaram que o codinome "Brasil" correspondia a Rodrigo Bezerra de Azevedo, que teria ajudado no rastreamento do ministro Alexandre de Moraes.

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.