A líder opositora da Venezuela, María Corina Machado foi detida nesta quinta-feira, 9, após ser interceptada ao deixar o protesto em Caracas contra a posse de Nicolás Maduro. O Comando Nacional da Venezuela, que havia inicialmente anunciado a interceptação, afirmou que Corina Machado foi liberada após algumas horas. O regime chavista negou a denúncia.
A opositora, que reapareceu nos protestos desta quinta-feira após meses na clandestinidade, foi interceptada "violentamente" ao sair da concentração em Chacao, segundo uma mensagem inicialmente divulgada pelo Comando Nacional de Campanha da líder opositora e de González Urrutia no X. A mensagem afirmava que agentes "dispararam contra as motocicletas que a transportavam", sem fornecer mais detalhes.
Mais tarde, a coalizão afirmou que Corina Machado foi interceptada e derrubada da moto em que se deslocava e foi levada à força. "Estou bem, estou segura. Hoje, 9 de janeiro, saímos para uma concentração maravilhosa, me perseguiram. Deixei cair minha carteira, a carteirinha azul onde tinha meus pertences. Caiu na rua e estou viva e salva. A Venezuela será livre"
O ex-candidato González Urrutia também havia denunciado a detenção nas redes. "Como presidente eleito, exijo a liberação imediata de María Corina Machado. Às forças de segurança que a sequestraram, digo: não brinquem com fogo", escreveu González Urrutia na rede social.
Não ficou imediatamente claro quem a deteve, embora o evento estivesse lotado de forças de segurança do governo. Segundo o jornal La Patilla, a ativista venezuelana Magalli Meda confirmou a detenção por agentes de segurança do regime chavista. De acordo com jornal, pelo menos 17 motocicletas cercaram o local onde ela estava.
O regime negou as denúncias. "Uma invenção, uma mentira", disse o ministro do Interior e Justiça da Venezuela, Diosdado Cabello, o número dois do chavismo.
Nesta quinta-feira, véspera da cerimônia de posse que coroa Maduro ao terceiro mandato consecutivo, Corina Machado convocou manifestações em Caracas e nos principais centros populacionais dos 23 Estados do país, em apoio a Edmundo González, que é reconhecido como presidente por vários governos após apresentar provas credíveis de sua vitória nas eleições de 2024. A opositora não era vista em público há quase cinco meses.
"Tentaram nos enfrentar e a Venezuela se uniu hoje e não temos medo... Ouçam bem: isso acabou!", declarou a opositora enquanto participava do protesto no leste da capital. "Não temos medo", gritou a multidão em resposta.
Após seu discurso, o caminhão que a transportava começou a abrir caminho rapidamente para deixar o local, mas a multidão entusiasmada dificultou sua saída de Chacao, um bastião da oposição no leste de Caracas. Pouco depois, sua equipe denunciou sua detenção.
As ruas de Caracas amanheceram tomadas por forças de segurança fortemente armadas nesta quinta-feira. Dezenas de policiais e agentes de inteligência foram mobilizados em pontos de concentração da oposição, onde o chavismo também instalou palcos pomposos com música alta.
Durante a última semana, dezenas de detenções foram denunciadas na Venezuela. O regime anunciou na quarta-feira a captura de dois americanos. No mesmo dia, uma coalizão política de oposição denunciou a detenção de Enrique Márquez, candidato minoritário nas eleições de julho.
Condenação internacional
A Casa Branca condenou o regime por tentar intimidar a oposição democrática na Venezuela e cobrou respeito ao direito de María Corina Machado de se expressar livremente.
Em um comunicado, a presidência de Javier Milei descreveu a detenção como "ataque criminoso do regime chavista".
"O presidente Javier Milei pede aos demais governos da região que repudiem o atentado contra Corina Machado e exijam o fim do regime socialista que deixou milhões de venezuelanos na pobreza, exilados ou dependentes das esmolas da ditadura, criando um verdadeiro inferno na terra", diz a nota.
A Colômbia expressou preocupação com as violações de direitos humanos na Venezuela e as prisões de líderes da oposição. "O assédio sistemático aos líderes da oposição, incluindo María Corina Machado, levam o Governo colombiano a reiterar o apelo às autoridades venezuelanas para que respeitem plenamente os seus direitos", diz a nota do ministério das Relações Exteriores. O país tentou mediar com Brasil e México uma saída para a crise política venezuelana, mas a ditadura de Nicolás Maduro ignorou os apelos por transparência nas eleições e as tentativas de negociação se mostraram infrutíferas.
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, exigiu através do X sua libertação, o "respeito à sua integridade pessoal" e responsabilizou o "regime ditatorial" por sua vida. Mulino reconheceu González, que recebeu no dia anterior em seu país, como presidente eleito, enquanto mantém suspensas as relações com Caracas.
O Governo da Espanha manifestou sua "preocupação" e "condenação total" pela detenção. "Perante a informação sobre a detenção de María Corina Machado, expressamos a nossa total condenação e a nossa preocupação", denunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol num comunicado, exigindo que "a integridade" dos líderes da oposição seja "protegida e salvaguardada".