Desembargadora do 'vale-peru' enterra investigação sobre colega acusado de crime

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A desembargadora Clarice Claudino da Silva, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, arquivou uma reclamação disciplinar que atribuía a um colega dela, o desembargador Sebastião de Moraes Filho, 'participação em negociação criminosa'. Em seu despacho, Clarice diz que Moraes Filho foi alvo de "meras ilações e denúncias infundadas".

Moraes Filho está afastado das funções desde o início de agosto do ano passado, por ordem do Conselho Nacional de Justiça em meio a denúncias que o ligam a suposto esquema de venda de sentenças na Corte estadual.

A investigação que mira o magistrado está sob tutela do ministro Cristiano Zanin Martins, do Supremo Tribunal Federal, porque o mesmo procedimento aponta para assessores de ministros do Superior Tribunal de Justiça e também advogados e lobistas sob suspeita de compra de sentenças.

A acusação ao desembargador foi feita pelo advogado Carlos Naves de Resende, de Rondonópolis, interior do Estado. Como mostrou o Estadão, Naves chegou a pedir proteção à polícia, à OAB e ao Supremo Tribunal Federal após receber ameaças de morte e uma proposta de suborno em meio a uma disputa judicial sobre 224 hectares de terras, divididos em duas glebas.

Clarice Claudino deixou a presidência do Tribunal na virada do ano. Sua passagem pela cadeira número 1 da Corte deixou polêmicas. A principal delas sobre o 'vale-peru', auxílio alimentação de R$ 10 mil que concedeu a todos os magistrados em dezembro e de R$ 8 mil aos servidores - benefício cancelado por ordem do Conselho Nacional de Justiça, mas que acabou sendo pago.

Detentora de um holerite alentado - R$ 130 mil líquidos mensais, em média - Clarice enterrou o pedido de investigação sobre o colega em despacho da última quarta-feira, 15. Ela não viu na denúncia do advogado detalhes que indiquem violação de deveres funcionais por parte de Moraes Filho.

"Não é razoável sequer admitir a instauração de sindicância ou qualquer outro procedimento administrativo disciplinar sem que se verifique um único elemento probatório, nem mesmo indiciário, que possa caracterizar como falta funcional ou ilícito penal, tudo não passando de meras ilações e denúncias infundadas", sentenciou a desembargadora.

Carlos Naves de Resende atribuiu a Luciano Polimeno, parte interessada na ação das terras, as ameaças que alega ter sofrido. Polimeno teria dito a Naves que havia 'comprado' o desembargador Sebastião de Moraes Filho para obter uma decisão favorável a seus interesses no litígio. "Marca comigo o lugar para nós trocar tiro", ouviu Naves no celular.

O advogado gravou as conversas com Polimeno e preservou a transcrição por meio de atas formalizadas no Serviço Registral e Notarial do Distrito de Cristo Rei, em Várzea Grande, nos arredores de Cuiabá. Depois, levou os documentos ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso na denúncia que imputa ao desembargador 'participação em negociação criminosa'.

Em sua defesa, o desembargador alegou que não há provas que o vinculem à versão do advogado. Disse não ver infração disciplinar e defendeu que Naves busca anular uma decisão judicial por meio de um processo administrativo.

Moraes Filho também contestou uma gravação que Naves fez de uma conversa entre os dois. O magistrado afirma que o áudio é ilícito e não pode ser utilizado como prova.

Na gravação o advogado confrontou Moraes Filho sobre suposto recebimento de propinas em processo referente à disputa das terras. "Eu sou magistrado, não faço acordo, mas que filha da puta", reagiu o magistrado, na ocasião em que foi gravado.

Ao analisar o caso, a desembargadora Clarice Claudino da Silva afirma não ter encontrado "qualquer indício autorizador da instauração de sindicância ou processo administrativo disciplinar". Ela descartou os áudios e atas juntados à apuração por se tratarem, segundo sua avaliação, de "fatos e atos relacionados à enredo existente entre pessoas totalmente alheias" ao desembargador citado na denúncia do advogado.

Para a magistrada, "não é possível verificar indício" de que o colega tenha agido de forma parcial ou ilícita. Clarice apontou que Moraes Filho "tão somente exerceu a jurisdição" no caso das terras sob disputa.

Em sua decisão, a desembargadora enfatizou as alegações de Luciano Polimeno, via seu advogado constituído no caso. Ele alegou que não conhece Sebastião de Moraes Filho, "nunca o viu pessoalmente, nunca houve contato e jamais ocorreu qualquer tipo de oferecimento de vantagem indevida". A defesa sustenta que o cliente sofre de "transtornos psiquiátricos".

"Não restou demonstrada qualquer atuação dolosa, desidiosa ou irregularidade na prestação jurisdicional capaz de macular a conduta funcional do desembargador", afirma Clarice.

A decisão da desembargadora foi encaminhada à Corregedoria Nacional de Justiça que, no início de agosto do ano passado, afastou Moraes Filho das funções no âmbito de suposto envolvimento com um esquema de venda de sentenças descoberto a partir do conteúdo do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em dezembro de 2023 em frente ao seu escritório em Cuiabá.

Zampieri era conhecido como o 'lobista dos tribunais', por tráfico de influência em gabinetes de magistrados estaduais e de ministros do STJ. Em seu celular, a Polícia de Mato Grosso resgatou diálogos que indicam, segundo o CNJ, "amizade íntima" entre Zampieri e o desembargador Moraes Filho.

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Um grupo de moradores de rua da Groenlândia compareceu a um almoço oferecido por Donald Trump Jr., filho do presidente eleito dos Estados Unidos, atraídos pela ideia de receber almoço gratuito. Eles usavam bonés do Make America Great Again, o movimento de Trump, mas não eram apoiadores fiéis do republicano, disse o dono do hotel onde o evento aconteceu ao jornal britânico The Guardian.

Trump Jr. visitou a capital da Groenlândia, Nuuk, na semana passada, logo após Trump declarar as intenções de tomar o território, que hoje pertence à Dinamarca. No Hotel Hans Egede, um grupo de pessoas utilizando chapéus do MAGA se reuniu para almoçar, enquanto Trump Jr. ligou para o pai para colocá-lo no viva-voz. "Vamos tratar vocês bem", disse o presidente eleito.

Entretanto, segundo afirmou ao Guardian o presidente-executivo do hotel, Jørgen Bay-Kastrup, muitas das pessoas não eram apoiadoras de Trump. Na verdade, se tratavam de moradores em situação de rua que a equipe de Trump Jr. conheceu na rua e que só então descobriram quem era ele.

"Trump Jr. tinha acabado de conhecê-los na rua e os convidou para almoçar, ou sua equipe fez assim. Mas não acho que eles sabiam quem estavam convidando", disse Bay-Kastrup, citado pelo jornal britânico.

"Isso, é claro, foi um pouco estranho para nós, porque vimos hóspedes que nunca tínhamos visto em nosso hotel antes - e provavelmente nunca mais veremos, porque está fora de suas possibilidades econômicas."

O grupo de cerca de 15 pessoas comeu um almoço tradicional da Groenlândia, incluindo peixe e caribu. Eles não eram, acrescentou Bay-Kastrup, apoiadores de Trump. "Eles estavam apenas, 'ei, alguém nos convidou para almoçar, vamos nos juntar a ele'. Acho que descobriram depois quem era."

Um porta-voz de Trump Jr. negou as alegações ao The Guardian e disse que elas passavam do ridículo. "Você acha que Donald Trump Jr. estava vagando pela Groenlândia convidando moradores de rua para almoçar, ou você percebe que a sugestão soa tão absurda que você deveria se sentir estúpido até mesmo ao fazer a pergunta?", teria dito ao jornal Arthur Schwartz, porta-voz do filho do presidente eleito.

O presidente-executivo do hotel alega ter testemunhado o almoço de seu escritório. Ele disse que a maioria das pessoas parecia achar o evento divertido, mas que ele viu uma delas pegar um boné e pisar nele.

O jornal ainda acrescentou que, desde a visita de Trump Jr. ao território, há relatos de pessoas vestidas com bonés MAGA e bandeiras americanas distribuindo notas de US$ 100 e realizando filmagens.

O jornal groenlandês Sermitsiaq, por exemplo, entrevistou um homem chamado Jacob Nordstrøm que teria dito que seu filho de 11 anos tinha chegado em casa com uma nota de US$ 100, recebido de um adulto que ele não conhecia. Ele desconfia que se trata de uma tentativa de influenciar a opinião pública dos moradores locais.

Entenda a disputa pela Groenlândia

Os republicanos na Câmara dos Representantes publicaram um projeto de lei chamado Make Greenland Great Again Act, que permitiria ao governo Trump, que toma posse na segunda-feira, 20, manter negociações para tentar comprar o território.

A Groenlândia e a Dinamarca têm dito repetidamente que a ilha, não está à venda. O primeiro-ministro da Groenlândia, no entanto, disse que seu governo está interessado em aprofundar a colaboração com os EUA e tem suas "portas abertas em termos de mineração".

Acredita-se que o interesse de Trump esteja ligado a isso. As vastas camadas de gelo e geleiras da Groenlândia estão recuando rapidamente conforme a Terra se aquece por meio da aceleração das mudanças climáticas. Esse derretimento do gelo pode permitir a perfuração de petróleo e a extração de minerais como cobre, lítio, níquel e cobalto. Esses recursos minerais são essenciais para indústrias em rápido crescimento que fabricam turbinas eólicas, linhas de transmissão, baterias e veículos elétricos.

Em 2023, o governo dinamarquês publicou um relatório que detalhou o potencial da Groenlândia como um rico depósito de minerais valiosos. A ilha do Ártico tem "condições favoráveis para a formação de depósitos de minério, incluindo muitos dos minerais brutos críticos para indústrias de ponta".

O ministro da Defesa da França, Sébastien Lecornu, afirmou nesta sexta-feira, 17, que um avião francês de patrulha marítima foi alvo de intimidação pela Rússia na noite de quarta para a quinta-feira, 16.

"O avião patrulhava o espaço aéreo internacional sobre o mar Báltico, parte de uma operação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e foi iluminado pelo radar de controle de tiro de um sistema de defesa terra/ar", escreveu Lecornu em uma publicação no X.

O ministro classificou a ação russa como "agressiva" e reforçou que as forças armadas francesas "continuarão a agir para defender a liberdade de navegação nos espaços aéreos e marítimos internacionais".

Os palestinos na Faixa de Gaza estão ansiosos para deixar os acampamentos e retornar para suas casas se um acordo de cessar-fogo há muito aguardado interromper a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, mas muitos descobrirão que não há mais nada e nenhuma maneira de reconstruir.

Os bombardeios israelenses e as operações terrestres transformaram bairros inteiros em várias cidades em terrenos baldios cobertos de entulho, com cascas enegrecidas de edifícios e montes de detritos se estendendo em todas as direções. As principais estradas foram danificadas. A infraestrutura crítica de água e eletricidade está em ruínas. A maioria dos hospitais não funciona mais. E não está claro quando - ou mesmo se - muito será reconstruído.

O acordo para um cessar-fogo e a libertação de reféns mantidos por terroristas do Hamas não diz quem governará Gaza após a guerra, ou se Israel e Egito levantarão um bloqueio que limita o movimento de pessoas e bens que eles impuseram quando o Hamas tomou o poder em 2007.

De acordo com estimativas da ONU, a reconstrução total pode levar mais de 350 anos se o bloqueio permanecer.

Infraestrutura destruída

A extensão total dos danos só será conhecida quando os combates terminarem e os inspetores tiverem acesso total ao território. A parte mais destruída de Gaza, no norte, foi isolada e amplamente despovoada pelas forças israelenses em uma operação que começou no início de outubro.

Usando dados de satélite, a ONU estimou no mês passado que 69% das estruturas em Gaza foram danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245 mil casas. O Banco Mundial estimou US$ 18,5 bilhões em danos - quase a produção econômica combinada da Cisjordânia e Gaza em 2022 - apenas nos primeiros quatro meses da guerra.

Israel culpa o Hamas pela destruição, por conta do seu ataque ao sul de Israel no dia 7 de outubro de 2023, quando os terroristas mataram 1,2 mil pessoas e sequestraram 250. Este foi o maior ataque terrorista da história de Israel e o maior contra judeus desde o Holocausto. O ofensiva israelense na Faixa de Gaza após os ataques deixou mais de 46 mil mortos, segundo o ministério da Saúde de Gaza, que não diferencia civis de terroristas.

Segundo dados do Exército de Israel, mais de 17 mil terroristas foram mortos. Os militares divulgaram fotos e vídeos mostrando que o Hamas construiu túneis e lançadores de foguetes em áreas residenciais e frequentemente operava dentro e ao redor de casas, escolas e mesquitas.

Entulho

Antes que qualquer coisa possa ser reconstruída, os escombros devem ser removidos - uma tarefa impressionante por si só.

A ONU estima que a guerra tenha espalhado em Gaza mais de 50 milhões de toneladas de entulho. Com mais de 100 caminhões trabalhando em tempo integral, levaria mais de 15 anos para remover os escombros, e há pouco espaço aberto no estreito território costeiro que abriga cerca de 2,3 milhões de palestinos.

O transporte dos escombros também será complicado pelo fato de que eles contêm enormes quantidades de munições não detonadas e outros materiais nocivos, bem como restos humanos. O ministério da Saúde de Gaza afirma que milhares de pessoas mortas em ataques aéreos ainda estão enterradas sob os escombros.

Nenhum plano para o dia seguinte

A remoção dos escombros e a eventual reconstrução de casas exigirão bilhões de dólares e a capacidade de trazer materiais de construção e equipamentos pesados para o território - nenhum dos quais está garantido.

O acordo de cessar-fogo prevê um projeto de reconstrução de três a cinco anos para começar em sua fase final, depois que todos os 100 reféns restantes forem libertados e as tropas israelenses se retirarem do território.

Mas chegar a esse ponto exigirá um acordo sobre a segunda e mais difícil fase do acordo, que ainda precisa ser negociada.

Mesmo assim, a capacidade de reconstrução dependerá do bloqueio, que os críticos há muito condenam como uma forma de punição coletiva. Israel diz que é necessário para impedir que o Hamas reconstrua suas capacidades militares, observando que tubos de cimento e metal também podem ser usados para túneis e foguetes.

Israel pode estar mais inclinado a suspender o bloqueio se o Hamas não estiver mais no poder, mas não há planos para um governo alternativo.

Os Estados Unidos e grande parte da comunidade internacional querem uma Autoridade Palestina revitalizada para governar a Cisjordânia e Gaza com o apoio dos países árabes antes de uma eventual criação de um Estado palestino. Mas isso é um ponto de partida para o governo de Israel, que se opõe a um Estado palestino e descartou qualquer papel em Gaza para a autoridade apoiada pelo Ocidente.

É improvável que doadores internacionais invistam em um território sem governo que viu cinco guerras em menos de duas décadas, o que significa que os extensos acampamentos de tendas ao longo da costa podem se tornar uma característica permanente da vida em Gaza. (Com informações da Associated Press).