Para analistas, presidência de Hugo Motta será mais favorável à agenda de Lula e Haddad

Política
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A vitória do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) como presidente da Câmara dos Deputados por 444 votos - não superando o recorde de 464 votos de Arthur Lira (PP-AL) em 2023 - representa um biênio mais favorável à agenda econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo analistas ouvidos pelo Broadcast Político. O parlamentar de 35 anos eleito neste sábado, 1, é o mais novo já eleito para o cargo.

Para o líder do time de análise política da corretora Warren Rena, Erich Decat, a questão não é se Motta irá pautar os projetos favoráveis ao Governo Federal, e sim, se a Casa irá votar neles. "É verdade ele já se posicionou de forma contraria como deputado aos interesses do Palácio do Planalto. Mas no geral, podemos dizer que é pró-governo", diz.

Decat relembra algumas propostas de Haddad que receberam uma orientação favorável pelo presidente eleito enquanto líder do Republicanos na Câmara:

PL 519/18 (Cooperativas de Seguros)

PEC 45/19 (Reforma Tributária do Consumo)

PL 281/19 (Resolução das instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, pela Superintendência de Seguros Privados e pela CVM)

PLP 93/23 (Arcabouço Fiscal)

PL 2384/23 (Mudança de voto na qualidade do Carf)

PL 4173/23 (Taxação Offshores)

PL 6233/23 (Regime Legal de Juros)

PL 2/24 (Novo Marco de Falências)

PLP 68/24 (Regras gerais da Reforma Tributária)

PLP 108/24 (Comitê gestor do IBS)

PL 1026/24 (Novo Perse)

PL 1847/24 (Compensação da folha)

O cientista político e professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP) Eduardo Grin relembra que até outubro do ano passado o candidato de Lira era o Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que possui um estilo mais agressivo e truculento, vinculado ao chamado Centrão tradicional e ao clientelismo. "A própria ingerência de Lula na indicação para o cargo foi, em certo sentido, uma derrota para Lira e uma vitória para o governo", afirma.

Grin ressalta que o governo conseguiu criar ao menos um canal de diálogo com a eleição de Motta. Além disso, o parlamentar possui uma boa relação política com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação entre o governo e o Congresso.

"Isso não quer dizer que será um mar de rosas, longe disso. Seria uma ingenuidade de quem quer que pense assim. O Lula foi eleito com grandes compromissos de manter o esquema das emendas funcionando, e isso é fundamental para ele manter o apoio político na Câmara", explica. "Motta também não vai alterar a rota de maneira significativa. O esquema das emendas, a pressão sobre o governo, vai continuar sendo bastante forte."

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já embarcou de volta ao Brasil. A previsão é que Lula desembarque em Belém (PA) por volta das 19h30.

O presidente viajou a Santa Marta, na Colômbia, para participar da cúpula Celac-União Europeia neste domingo. O compromisso foi rápido. Lula chegou em Santa Marta por volta das 11h30, participou da reunião e já embarcou de volta a Belém.

Na segunda-feira, 10, ele participa da abertura oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém.

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou que as consequências econômicas da prolongada paralisação do governo federal estão se intensificando, dizendo que a situação está ficando "cada vez pior", à medida que as interrupções se espalham por setores-chave e pressionam as finanças públicas.

"Vimos um impacto na economia desde o primeiro dia, mas está ficando cada vez pior. Tivemos uma economia fantástica sob o presidente Trump nos últimos dois trimestres, e agora há estimativas de que o crescimento econômico para este trimestre poderia ser reduzido pela metade se a paralisação continuar", disse ele em entrevista à ABC neste domingo.

De forma semelhante, o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, pontuou hoje que o crescimento do quarto trimestre pode ser negativo se o shutdown se prolongar.

Hassett, falando ao programa "Face the Nation" da CBS, observou que a escassez de controladores de tráfego aéreo estava causando grandes atrasos nas viagens na preparação para o feriado de Ação de Graças. "Essa época é uma das mais movimentadas do ano para a economia... e se as pessoas não estiverem viajando nesse momento, então realmente poderíamos estar olhando para um trimestre negativo", acrescentou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.