Lupion reage à minuta de Gilmar: marco temporal é condição indispensável para o Congresso

Política
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O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), afirmou ter recebido com estranheza a minuta apresentada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes à comissão especial que busca um acordo sobre a Lei do Marco Temporal (14.701/2023) sem o reconhecimento da tese.

"Nos surpreende que o marco temporal foi esquecido no texto. O marco temporal é condição sine qua non para qualquer negociação de nossa parte, de quem defende direito de propriedade e segurança jurídica. O marco foi motivo para o Congresso aprovar a lei por quase 400 votos, inclusive derrubando veto da Presidência", disse Lupion em audiência na mesa conciliatória nesta segunda-feira, 17, com representantes de comunidades indígenas, União, municípios e Estados.

A minuta apresentada pelo ministro Gilmar Mendes à mesa conciliatória como substitutivo a ser votado pelos integrantes da mesa, e posteriormente ser apresentado ao plenário da Suprema Corte e enviado ao Congresso afirma que o direito sobre as terras tradicionalmente ocupadas independe da existência de marco temporal. O texto será votado em audiência até o dia 24 e é objeto de discussão pela comissão nesta segunda-feira.

O marco temporal determina que serão passíveis de demarcação apenas terras ocupadas por povos indígenas na promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. A tese é refutada pelos povos indígenas que não querem prazo para reivindicação das áreas.

Lupion lembrou na Suprema Corte que tramita no Senado a Proposta de Emenda à Constituição 48, que prevê definir na Constituição um marco temporal para demarcação de terras indígenas. "A PEC 48 trata especificamente deste tema. A questão é constitucional. A PEC não tramitou por respeito da iniciativa do ministro Gilmar em estabelecer a comissão especial", observou.

Para a frente da agropecuária, segundo Lupion, o estabelecimento de um marco temporal é o cerne do debate. "Não existe impossibilidade de continuarmos vivendo nessa insegurança de saber até quando. Precisamos dar segurança jurídica e tentar resolver o problema", defendeu. "O marco temporal é o objetivo principal de estarmos reunidos nesta comissão. Não havendo condições de resolvermos isso aqui, vamos continuar com trabalho no Senado seja pela PEC 48, seja por lei complementar", argumentou. "A nossa preocupação é não deixar sem nenhum parâmetro sobre até quando os indígenas podem requerer as áreas", pontuou.

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Donald Trump afirmou nesta quinta, 20, que a Rússia "tem as cartas" para qualquer negociação sobre o fim da guerra na Ucrânia, voltando a sugerir que há pouco que a Casa Branca possa fazer. Pouco depois, o americano Keith Kellogg, enviado especial para a Ucrânia, cancelou uma entrevista coletiva com jornalistas, após se reunir com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, em Kiev.

"Os russos querem ver o fim da guerra. Eles tomaram muito território e têm as cartas", disse Trump, a bordo do avião presidencial. O comportamento do presidente, de seus assessores e diplomatas mostra um improvável alinhamento com a posição do Kremlin, preocupando a Europa e a Ucrânia, que temem que os EUA fechem um acordo apressado com a Rússia, à revelia dos interesses do Ocidente.

A crise de confiança entre Washington e Kiev se agravou na quarta-feira, quando Zelenski reagiu irritado à reunião entre uma equipe de negociadores americanos com membros do alto escalão do governo russo, em Riad, na Arábia Saudita. O ucraniano afirmou que Trump vivia em "uma bolha de desinformação" russa.

Acusações

O presidente americano respondeu com uma publicação furiosa na rede social Truth Social, na qual chamou Zelenski de "ditador", de responsável pelo início da guerra e acusando-o de evitar eleições para se manter no poder - na verdade, a Constituição da Ucrânia proíbe eleições durante vigência da lei marcial, que foi decretada após a invasão da Rússia.

Em entrevista ontem à Fox News, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, colocou ainda mais lenha na fogueira, afirmando que Zelenski precisa baixar o tom das críticas feitas ao presidente americano e assinar o acordo proposto por Trump, pelo qual a Ucrânia cederia US$ 500 bilhões em minerais raros, que seriam explorados por empresas americanas, como pagamento pelo apoio militar. "Por tudo que o governo fez no primeiro mandato e tudo que os EUA fizeram na Ucrânia, isso é simplesmente inaceitável", disse.

A proposta foi apresentada a Zelenski pelo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, na Conferência de Segurança de Munique, na semana passada. O presidente ucraniano rejeitou, alegando que a ideia era muito favorável a Washington e não dava garantias de segurança suficientes à Ucrânia.

"Eles (ucranianos) precisam diminuir o tom, analisar com cuidado e assinar esse acordo", insistiu Waltz. "Claro, há muita frustração aqui. O vice-presidente Vance ficou frustrado ao deixar a Conferência de Segurança de Munique. Nosso secretário do Tesouro, que viajou até Kiev, também está frustrado. Além do presidente, obviamente."

Reunião

Diante de tantos ataques americanos, Zelenski se reuniu ontem com Kellog, enviado de Trump à Ucrânia. A reunião tinha como objetivo discutir o fim da guerra e ajudar a aliviar as tensões entre Washington e Kiev. O resultado, no entanto, ficou no ar. Os americanos cancelaram a entrevista coletiva após o encontro, embora Zelenski e Kellogg tenham posado para fotos.

Os repórteres foram orientados a deixar o local. A Embaixada dos EUA em Kiev não comentou a reunião. "Foi um mau sinal", disse Solomiia Bobrovska, membro da Comissão de Defesa e Inteligência do Parlamento da Ucrânia, referindo-se à entrevista coletiva cancelada.

Mais tarde, Zelenski escreveu nas mídias sociais que teve uma "reunião produtiva" com Kellogg, na qual discutiram a situação no campo de batalha, o retorno de prisioneiros de guerra e garantias de segurança para a Ucrânia como parte de um acordo de paz. "Relações sólidas entre Ucrânia e EUA beneficiam o mundo inteiro", afirmou.

No entanto, ucranianos e europeus temem que Kellogg, um general aposentado e conselheiro de longa data de Trump em questões de segurança, tenha sido escanteado da equipe de negociação, já que ele não fazia parte da delegação dos EUA que se reuniu com autoridades russas em Riad.

Blitz

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê britânico, Keir Starmer, coordenaram uma blitz diplomática na semana que vem, para tentar entender a posição dos EUA. Macron visitará Washington na segunda-feira. Starmer chegará à capital americana no dia seguinte. Os dois têm reunião marcada com Trump. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar os países do Brics em discurso na conferência dos governadores do Partido Republicano, na noite da quinta-feira, 20. O bloco foi formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Trump disse que os países do Brics "estavam tentando destruir" o dólar e criticou o ex-presidente Joe Biden por não ter interferido na questão. "Quando cheguei, a primeira coisa que disse foi: qualquer nação dos Brics que sequer mencione a destruição do dólar terá de pagar uma tarifa de 150%. E não queremos seus produtos."

Diversas vezes ao longo do discurso, o presidente americano exaltou a estratégia de ameaçar outros países com tarifas de importação. Trump disse que "tarifa" é sua palavra favorita do dicionário, após "Deus", "amor" e "religião".

Trump afirmou também que o futuro dos republicanos está associado ao seu sucesso na Casa Branca e pediu união do partido para as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos. "Vamos lutar muito, pois quanto melhor eu for, melhor vocês serão", disse. "É hora de todos nós seguirmos adiante, pensar grande, sermos ousados. Como uma só equipe, podemos tornar nossas fronteiras mais fortes, nossas comunidades mais seguras, nossas escolas melhores, nossas famílias mais felizes, nossos cidadãos mais ricos e nosso país mais livres."

O presidente americano também voltou a criticar os investimentos da Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID) em países estrangeiros e a presença de imigrantes nos EUA. Trump também lembrou que pretende "tomar de volta" o controle do Canal do Panamá.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quinta-feira, dia 20, que a remoção completa dos palestinos da Faixa de Gaza, proposta por Donald Trump, é um "desdobramento aterrador" da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Vieira criticou indiretamente a pretensão do presidente dos Estados Unidos, sem mencioná-lo, na abertura da reunião de chanceleres do G20, em Johannesburgo, na África do Sul.

"A ideia proposta recentemente de se expulsar toda a população de Gaza, em desrespeito aos princípios mais fundamentais do direito internacional, é um desdobramento aterrador", afirmou o chanceler de Luiz Inácio Lula da Silva.

Elogiada pelo governo do premiê Binyamin Netanyahu, ao lado de quem a Trump apresentou sua proposta, a possível remoção forçada dos palestinos recebeu repúdio amplo na comunidade internacional.

Durante discurso na reunião do G20, o ministro de Lula voltou a defender a criação do Estado Palestino, algo endossado pelo ex-presidente americano Joe Biden, e citou uma frase literal do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres: "É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica".

O ministro celebrou o acordos de cessar-fogo entre Hamas e Israel e no Líbano, mas apelou para que seja rigorosamente implementado e que dele resulte a retirada completa das forças israelenses de Gaza, a libertação de todos os reféns israelenses nas mãos do grupo terrorista, e o acesso irrestrito de ajuda humanitária à faixa.

"A guerra em Gaza revela quem paga o preço quando a diplomacia falha. Após 15 meses de combates, mais de 47.000 palestinos e 1.200 israelenses perderam suas vidas, incluindo muitas mulheres e crianças entre as vítimas. A Faixa de Gaza está devastada, e a maior parte de sua infraestrutura civil, destruída", disse o ministro.

Em outro contraponto à diplomacia de Trump, Vieira defendeu a posição de Lula em favor de que a Rússia e a Ucrânia devem estar representadas nas negociações para solucionar a guerra entre os países.

Na véspera, o próprio Lula afirmou que era um erro Trump decidir liderar negociações sozinho, à revelia do governo ucraniano e de representantes da União Europeia.

No próximo dia 24, segunda-feira, a invasão do território ucraniano pelas forças russas completa três anos. O ministro destacou que, desde então, houve "uma escalada na crise humanitária e na corrida armamentista".

Vieira disse que o Brasil sempre defendeu que fossem consideradas "preocupações de segurança" de todas as partes. "O Brasil também reconhece a necessidade de reiterar que qualquer solução viável para essa guerra deve surgir de um processo de paz que inclua ambos os lados do conflito na mesa de negociações - algo que nosso país e muitos outros vêm enfatizando desde o início das hostilidades", afirmou o ministro.

"O Brasil e a China lançaram uma iniciativa conjunta para apoiar futuros esforços de paz. Em setembro passado, sediamos, em Nova York, a Reunião de Alto Nível de Países do Sul Global sobre o Conflito na Ucrânia. Como resultado, foi criado 'o Grupo de Amigos da Paz', que agora inclui 17 países."

Boicote

Trump decidiu boicotar as primeiras reuniões do G20, presidido neste ano pela África do Sul. O secretário de Estado, Marco Rubio, não compareceu ao primeiro encontro de chanceleres alegando que não iria "mimar o antiamericanismo". O secretário do Tesouro, Scott Bessent, também deve faltar na semana que vem, segundo o jornal New York Times.

O governo Trump está em rota de colisão com o presidente Cyril Ramaphosa, por causa de uma lei que permite desapropriação de terras, em alguns casos sem compensação, em território sul-africano.

Trump interrompeu assistência financeira ao país, potencialmente impactando 17% dos fundos do programa de combate ao HIV local, sob argumento de que Ramaphosa autorizara suposto "confisco de terras" para punir fazendeiros brancos. O presidente sul-africano negou. A disputa fundiária e a concentração de terras nas mãos da minoria branca remonta ao período do Apartheid.

De origem sul-africana, o empresário bilionário Elon Musk, aliado de Trump e responsável pelo Departamento de Eficiência Governamental nos EUA, é um crítico contumaz do que chama de leis de propriedade racistas e genocídio de brancos no país. Os Estados Unidos também se queixaram da ação movida na Corte Internacional de Justiça pela África do Sul contra Israel, acusado de promover genocídio na Faixa de Gaza.