Câmara registra resistência do bolsonarismo à PEC da Segurança, projeto crucial do governo Lula

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A bancada bolsonarista na Câmara dos Deputados começou a abrir a trincheira contra a proposta de emenda à Constituição chamada de PEC da Segurança Pública, elaborada pelo governo Lula e enviada ao Congresso nesta terça-feira, 8.

 

Apesar dos esforços do Executivo para aparar arestas do texto e ganhar apoio até da oposição, lideranças do Partido Liberal (PL) do ex-presidente Jair Bolsonaro passaram a centrar fogo na proposta tão logo ela chegou ao Legislativo.

 

A PEC amplia as atribuições da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Federal (PF) para fortalecer o combate a facções criminosas, inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e os fundos nacionais de financiamento do setor, fixa as atribuições das guardas municipais e prevê a criação de corregedorias e ouvidorias dotadas de autonomia funcional.

 

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que a Casa dará "total prioridade" à discussão da PEC e que há unanimidade entre os líderes partidários para apreciar o tema com urgência. Ele recebeu o texto nesta manhã das mãos dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

 

A oposição reagiu horas depois e deu o tom que pretende usar na resistência à proposição. A Comissão de Segurança Pública da Casa aprovou um requerimento, de autoria do líder da oposição, Luciano Zucco (PL-RS), convidando Lewandowski a se explicar sobre a PEC.

 

A iniciativa foi motivada por uma declaração recente do ministro, após ele ter declarado que a "polícia prende mal e o Judiciário é obrigado a soltar" e depois se corrigindo. Mas os bolsonaristas querem aproveitar a ocasião para pressioná-lo sobre a proposta.

 

Os bolsonaristas dizem que a PEC enfraquece a autonomia dos Estados na formulação de políticas de segurança, centraliza demais as decisões no Ministério da Justiça e pode culminar no "aparelhamento" das corporações.

 

"Essa PEC, da forma como está, é um retrocesso. Em vez de valorizar os profissionais da segurança, ela os engessa, concentra decisões em Brasília e abre margem para ingerências políticas inaceitáveis", declara Zucco em nota.

 

O presidente do colegiado, Paulo Bilynskyj (PL-SP), afirmou ao Estadão que o governo federal quer "intervir nos Estados" e que o ministro quer "transformar a PRF numa guarda bolivariana". Ele também critica o fortalecimento

 

"Ele impõe na Constituição Federal a existência de ouvidoria. Mas já está prevista na lei. Ouvidoria só serve para ouvir ladrão. Não serve em nada na segurança pública", declara Bilynskyj.

 

Ele diz que apenas o trecho referente à constitucionalização das guardas municipais. "É a única coisa que dá para salvar desse texto", afirma. "O resto não passa".

 

O deputado federal Alberto Fraga (PL-DF), coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, informalmente chamada de "bancada da bala", segue na mesma linha das críticas: a de que a PEC fere a autonomia dos Estados e não ajuda a combater a criminalidade.

 

A proposta ainda deve passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e por uma comissão especial. Os bolsonaristas, por sua vez, trabalham para desidratá-la.

 

A reação na sociedade civil especializada foi antagônica. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, por exemplo, defende a PEC, a que chama de "iniciativa inédita e essencial, sobretudo porque é a primeira vez desde a redemocratização que o governo federal sugere mudanças no modelo constitucional de funcionamento da segurança pública do País".

 

O fórum, composto de estudiosos do tema e integrantes de forças de segurança, destaca os seguintes pontos do texto: "maior independência às ouvidorias e corregedorias das forças de segurança; transformação da Polícia Rodoviária Federal em Polícia Viária Federal, com a inclusão do patrulhamento de hidrovias e ferrovias, que vai ampliar o policiamento a áreas que hoje não estão cobertas por sua presença; e a criação de protocolos e procedimentos comuns a todas as polícias, uma maneira de uniformizar a forma como o direito social à segurança é implementado entre diferentes agências, instituições e esferas de poder".

 

Os especialistas também dizer ser importante a inclusão de representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, "um passo importante para garantir a participação de diversos atores na formulação de políticas de segurança".

Em outra categoria

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.