'Quem se f..? Quem perdeu tudo? Fui eu', teria dito Mauro Cid em áudios atribuídos a ele

Política
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A situação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Jair Bolsonaro (PL), voltou a se complicar nesta terça-feira, 17, com a divulgação de mensagens supostamente enviadas por ele por meio de um perfil no Instagram em nome de "Gabriela" (@gabrielar702).

Nos diálogos atribuídos ao tenente-coronel, ele faz críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao delegado Fábio Shor, que conduz investigações sensíveis contra Bolsonaro, incluindo o inquérito do golpe, e insinua que as informações prestadas em seu acordo de colaboração premiada estavam sendo distorcidas.

A defesa de Mauro Cid informou ao Estadão que não analisou os diálogos e não confirmou a autenticidade das mensagens. Em depoimento à Polícia Federal na semana passada, o ex-ajudante de ordens negou ter usado o perfil no Instagram.

As conversas foram tornadas públicas pelo advogado criminalista Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro. Os diálogos são de janeiro de 2024. O criminalista afirma que decidiu torná-las públicas agora por "estratégia". Com base nos diálogos, Kuntz pediu a anulação da delação de Mauro Cid.

Parte dos diálogos havia sido divulgada pela revista Veja, mas agora o STF disponibilizou todas as gravações.

Leia os principais trechos das conversas:

'Narrativas'

O tenente-coronel afirma nas mensagens que seus depoimentos estavam sendo direcionados. "Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca", narrou.

O objetivo seria, segundo ele, associar Bolsonaro e seus aliados ao plano de golpe. "Eles já têm o final da história. Agora têm que construir o caminho."

Mauro Cid também afirma que o delegado Fábio Shor "recebeu um objetivo" e só estava "preenchendo lacunas" e "criando narrativas".

O tenente-coronel escreve ainda que o ministro Alexandre de Moraes já devia ter a sentença do caso pronta. "Os advogados podem fazer a melhor das petições.... Ele nem vai ler."

'Desabafo'

Em diferentes momentos, o tenente-coronel se queixa de ter sido abandonado pelos bolsonaristas.

"O Braga Netto, quatro estrelas, chegou ao topo… reserva. General Heleno, chegou ao topo… reserva. Presidente, ganhou milhões aí em Pix, chegou ao topo. Tudo bem, todo mundo no mesmo barco. E quem que se f...? Quem perdeu tudo? Fui eu", afirmou.

"Quantos deputados vieram me visitar? Quantas vezes publicaram algo nas redes sociais para eu ser solto? Nikolas? Bia Kicis? Gayer? Zambelli?", escreve o ex-ajudante de ordens.

"Estão querendo botar na minha conta uma coisa que eu não comecei. Eu duvido que alguém tenha sido mais devastado que eu", acrescenta em outra mensagem.

Mauro Cid foi retirado da lista de postulantes à promoção de coronel pelo Exército, em meio às investigações. Em uma das mensagens, o militar se queixa de ter perdido a carreira e a "vida financeira".

"Talvez nem promovido eu serei... em abril... mesmo não estando nem denunciado e sendo o primeiro da turma. Ninguém vai subir uma #cidpromovido nas redes sociais. Nenhum político vai interceder por mim junto ao Cmdo do EB.... Eu sou um leproso agora."

O ex-ajudante de ordens confidencia ainda que todos os dias acorda às 5h "esperando a PF".

"O mais foda é sentir que eu estou ferrando todo mundo... Fruto de uma perseguição que eu não tive maldade que iria acontecer."

Golpe

Mauro Cid nega que Bolsonaro e seus aliados tenham articulado um plano de golpe. Segundo o ex-assessor, o ex-presidente queria "encontrar uma fraude nas urnas, de forma oficial pelo partido".

"As conversas dos CMT F (comandantes das Forças Armadas) viraram conversas golpistas. E eu falei q eram conversas sobre o q estava acontecendo no país. Que o FG (general Freire Gomes, ex-comandante do Exército) estava preocupado... E eu falava que o Pr não iria fazer nada."

O tenente-coronel também afirma que, se os militares das Forças Especiais do Exército, os chamados kids pretos, quisessem ter dado um golpe, "teria acontecido".

"Teria uma linha de quebradeiras. Teria uma linha armada. Outra teria tomado a CNN... E as principais rádios. Teria um manifesto.... Simultaneamente vários ministros seriam presos.... Alguém teria que tomar a liderança e se proclamar algo. As polícias militares estariam todas cooptadas.... As principais rodovias seriam fechadas."

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A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo neste domingo, 9. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. A fala distorcida de Trump foi exibida no programa Panorama de 3 de novembro de 2024, a uma semana das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Em sua rede social, a Truth Social, Donald Trump celebrou a demissão de quem chamou de "jornalistas corruptos". "Essas são pessoas muito desonestas que tentaram manipular as eleições presidenciais. Para piorar, vêm de um país estrangeiro, um que muitos consideram nosso principal aliado. Que terrível para a democracia!", postou.

A ministra britânica da Cultura, Lisa Nandy, havia classificado horas antes como "extremamente grave" a acusação contra a BBC por apresentar declarações de Trump de maneira enganosa.

"É um dia triste para a BBC. Tim foi um excelente diretor-geral durante os últimos cinco anos", afirmou o presidente da Corporação Britânica de Radiodifusão, Samir Shah, em comunicado. Ele acrescentou que Davie enfrentava "pressão constante (...) que o levou a tomar a decisão" de renunciar.

Colagem de trechos separados levou a versão distorcida do discurso

O caso, revelado na terça-feira, 4, baseia-se em um documentário exibido uma semana antes das eleições presidenciais dos EUA de 2024. A BBC é acusada de ter montado trechos separados de um discurso de Trump de 6 de janeiro de 2021 de forma que parece indicar que ele teria dito a seus apoiadores que marchariam com ele até o Capitólio para "lutar como demônios".

Na versão completa, o então presidente republicano - já derrotado nas urnas pelo democrata Joe Biden - diz: "Vamos marchar até o Capitólio e vamos incentivar nossos valentes senadores e representantes no Congresso."

A expressão "lutar como demônios" corresponde, na verdade, a outro momento do discurso.

Em carta enviada ao conselho da BBC e publicada no site, a CEO de notícias disse que a polêmica em torno do programa Panorama sobre o presidente Trump chegou a um ponto em que está prejudicando a BBC - uma instituição que ela adora.

Já Tim Davie, diretor-geral, disse que abdicou ao cargo após intensas exigências pessoais e profissionais de gerir o posto ao longo de muitos anos nestes "tempos turbulentos".

Um dia antes do início oficial da COP30 em Belém, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou em sua rede social, a Truth Social, nesta domingo, 9, uma mensagem dizendo que a Amazônia foi destruída para a construção de uma estrada.

"Eles destruíram a floresta amazônica no Brasil para a construção de uma rodovia de quatro faixas para que ambientalistas pudessem viajar", escreveu Trump na mensagem, ressaltando que o caso "se tornou um grande escândalo".

Junto com a mensagem, Trump postou um vídeo de quatro minutos da Fox News, com uma reportagem do enviado da emissora a Belém para cobrir a COP30.

Na reportagem, o editor Marc Morano diz, com uma imagem de Belém ao fundo, que mais de 100 mil árvores foram cortadas na Amazônia para construir a estrada e mostrar como o "governo brasileiro está cuidando da floresta tropical".

Ainda na reportagem postada por Trump, o jornalista destaca que pela primeira vez não há uma delegação oficial dos Estados Unidos em uma conferência das Nações Unidas sobre o clima desde 1992. Mesmo países europeus estão deixando esses compromissos de lado, ressalta o jornalista.

A reportagem fala ainda da queda das vendas de carros elétricos e de demissões em fábricas nos Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse há pouco que a BBC alterou seu discurso de 6 de janeiro de 2021, dia da invasão ao Capitólio, e celebrou a demissão de "pessoas muito desonestas que tentaram influenciar uma eleição presidencial".

"As principais pessoas da BBC, incluindo TIM DAVIE, o CHEFE, estão todas se demitindo/DEMITIDAS, porque foram pegas 'alterando' meu excelente (PERFEITO!) discurso de 6 de janeiro. Além de tudo, eles são de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso Aliado Número Um. Que coisa terrível para a Democracia!", escreveu o republicano na Truth Social.

A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, e o diretor-geral da emissora britânica, Tim Davie, renunciaram ao cargo nesta trade. A saída acontece após o jornal The Telegraph mostrar que a BBC havia editado enganosamente um discurso de Trump para dar a impressão de que ele havia incitado diretamente à violência nos atos de invasão ao Capitólio.