'Manda dinheiro, chefe'; PF aponta 'gestor' de contratos de esquema atribuído a Júnior Mano

Política
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A Operação Underhand, investigação da Polícia Federal que põe sob suspeita o deputado Júnior Mano (PSB-CE) em esquema de desvio de dinheiro de emendas para irrigar campanhas eleitorais em 51 municípios cearenses em 2024, indica que o grupo do parlamentar tinha um 'gestor' de contratos públicos destinados ao 'abastecimento financeiro da organização'.

Áudios interceptados pela PF mostram as relações próximas entre Lúcio Alves Barroso, prefeito de Baixio - cidade com cerca de 7 mil habitantes situada a 415 quilômetros de Fortaleza -, e 'Bebeto do Choró', prefeito da cidade de Choró que está foragido há sete meses.

Alvo de buscas da PF no último dia 9, por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o deputado nega ligação com atos ilícitos. Ele diz que tem 'compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública'.

O Estadão pediu manifestação do prefeito de Baixio, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço está aberto.

Dois relatórios da PF no âmbito da Operação Underhand revelam o 'papel de Lúcio como gestor de contratos públicos voltados ao abastecimento financeiro da organização'. Os investigadores destacam contratos de serviço de transporte escolar e locação de veículos em duas cidades.

O grampo da PF pegou diálogos de Lúcio com Bebeto. "Lúcio relata os pagamentos já realizados e informa que os valores restantes seriam entregues por intermediário Maurício. Tal conduta denota habitualidade e confiança no repasse de valores desviados", diz um trecho do documento.

Os investigadores avaliam que a resposta de Bebeto às informações transmitidas por Lúcio é 'reveladora'.

'Estou precisando'

'Faz a prestação de contas e manda dinheiro, chefe, que estou precisando."

Lúcio responde que 'vai pedir ao Maurício para entregar o dinheiro'.

Para os investigadores, 'a linguagem direta, sem subterfúgios, reforça a regularidade das operações ilícitas e indica que os recursos advinham de contratos superfaturados geridos pelo próprio investigado'.

O ministro Gilmar Mendes considerou que a resposta do prefeito de Baixio a Bebeto do Choró 'consolida o nexo de causalidade entre gestão pública e financiamento do grupo criminoso'.

O mapeamento da PF pegou outras conversas de Lúcio e Bebeto. Em uma ocasião, Lúcio 'tenta justificar-se' com Bebeto diante de uma suposta quebra de confiança com Júnior Mano. "Não Bebeto, era prá te dizer que eu levei pro Júnior...e também ele não atendeu...eu queria que você confiasse em mim."

Os investigadores consideram que esse áudio 'evidencia a existência de uma cadeia hierárquica interna, bem definida, e o temor de represálias diante de qualquer desconformidade nas remessas de valores'.

Para a PF, o envolvimento de Lúcio também se confirma pela informalidade da linguagem, pelo uso de operadores de intermediários e pela coordenação de pagamentos a partir de recursos públicos municipais.

Ao decretar buscas nos endereços de alvos da Operação Underhand, inclusive Júnior Mano e o prefeito Lúcio, o ministro argumentou que 'a habitualidade das ações, aliada à conduta evasiva comum a outros membros do grupo, reforça a urgência da medida cautelar para evitar a supressão de provas materiais'.

Para a PF, 'grande parte das tratativas delituosas se desenvolve por meio de mensagens trocadas por aplicativos de comunicação instantânea, especialmente o WhatsApp'.

'Sintonia'

Segundo os investigadores, 'em diversas oportunidades', Júnior Mano, seu 'assessor direto' Adriano almeida Bezerra e Lúcio Alves Barroso, e também outros investigados, 'operaram em sintonia' por meio de dispositivos móveis 'seja para intermediar o repasse de valores oriundos de contratos públicos, seja para articular pagamento a jornalistas, instruir operadores e adulterar documentos ou até mesmo compartilhar provas de superfaturamento, como notas fiscais simuladas e relatórios de execução forjados'.

A PF também espreita um outro investigado, Carlos Douglas Almeida Leandro, apontado como 'figura importante no núcleo empresarial da organização'.

Sócio de uma empresa de edificações, Douglas fez 'centenas de interações' com Bebeto do Choró 'a respeito de contratos com prefeituras cearenses', diz a investigação.

Prestação de contas

A PF assinala que 'em determinados diálogos' há referência expressa à 'prestação de contas informal' exigida por Bebeto de Choró a prefeitos como Lúcio Barroso, de Baixio, 'além da negociação direta de emendas parlamentares entre Carlos Douglas e assessores do deputado Júnior Mano'.

A investigação revelou até aqui 'um complexo esquema de desvio de recursos públicos municipais, estaduais e federais associado à prática de crimes eleitorais em diversos municípios do Ceará'.

A PF crava que a investigação descortina 'um complexo e articulado esquema de desvio de recursos públicos, com possível utilização indevida de emendas parlamentares federais, operado por organização criminosa estruturada e liderada por Carlos Alberto Queiroz, o 'Bebeto do Choró'.

Um conjunto de quatro relatórios denominados Informação de Polícia Judiciária acostados aos autos do inquérito da Operação Underhand 'sugere a atuação convergente de agentes públicos e privados na instrumentalização de emendas parlamentares para o financiamento irregular de campanhas eleitorais, cooptação de prefeitos e direcionamento de contratos públicos com a participação de parlamentares federais em distintos níveis de envolvimento'.

A PF vê Júnior Mano como um 'ator central na engrenagem delitiva com diversas comunicações que indicam sua proximidade e atuação conjunta com o núcleo operacional liderado por Bebeto do Choró.

'Pronto, arrocha'

O relatório que embasou a Operação Underhand destaca conversas de 26 de setembro de 2024. Adriano Almeida Bezerra, 'ligado ao gabinete de Júnior Mano', segundo a PF, responde afirmativamente a um questionamento de Bebeto do Choró sobre proposta de destinação de emenda de R$ 1,5 milhão - 'com cobrança de 12% de retorno ilícito' - para indicação no município de Choró, no sertão cearense.

'Pronto, arrocha', respondeu o 'braço direito' de Júnior Mano.

Para os investigadores, 'a naturalidade da resposta 'pronto', 'arrocha', evidencia a normalização de práticas de desvio institucionalizado no interior da equipe do deputado'.

A investigação aponta que 'esse padrão de comportamento é corroborado por registro de execução de contratos em municípios como Nova Russas, Quiterianópolis e Choró 'com possível viabilização por emendas parlamentares indicadas/negociadas por Júnior Mano e executados por empresas associadas ao grupo de Bebeto', diz a PF.

Nova Russas tem cerca de 30 mil habitantes e fica a 300 quilômetros de Fortaleza. A prefeita da cidade é Giordanna Mano, casada com o deputado.

O relatório da PF cita duas empresas, uma locadora de veículos e uma construtora pertencente a um vice-prefeito da região, 'aliado político de Júnior Mano', que teria sido contratada 'na gestão da prefeita de Nova Russas, esposa do deputado, em processo já questionado e noticiado por indícios de direcionamento e superfaturamento'.

COM A PALAVRA, O GABINETE DE JÚNIOR MANO

"O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.O parlamentar reafirma sua confiança nas instituições, em especial no Poder Judiciário e na Polícia Judiciária Federal, e reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública.Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta."

COM A PALAVRA, BEBETO DO CHORO

O Estadão tem buscado contato com o prefeito Bebeto do Choró, foragido da Justiça há mais de seis meses, o que não foi bem sucedido até a publicação deste texto. O espaço está aberto (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.).

COM A PALAVRA, O PREFEITO DE BAIXIO

Até a publicação teste texto, o Estadão havia pedido manifestação do prefeito Lúcio Alves Barbosa, mas sem sucesso. O espaço está aberto.

Na página da prefeitura de Baixio na internet, Lúcio diz que 'conduz sua gestão com foco na eficiência administrativa e no planejamento estratégico, comprometido com o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento das políticas públicas'. "Busca atender às demandas da população com responsabilidade e transparência."

COM A PALAVRA, A PREFEITA GIORDANNA MANO

Até a publicação deste texto, o Estadão havia pedido manifestação da prefeita de Nova Russas, mas sem sucesso. O espaço está aberto. (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.; Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)

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No momento em que a fome se agrava em Gaza, a França disse nesta quinta-feira, 24, que reconhecerá o Estado palestino na Assembleia-Geral da ONU, em setembro. O anúncio foi feito pelo presidente Emmanuel Macron. Ele declarou no X que é urgente "que a guerra cesse e se preste socorro à população civil". "Com essa medida, a França busca dar uma contribuição para a paz no Oriente Médio", disse Mácron.

A decisão enfureceu Israel. O premiê Binyamin Netanyahu disse que o reconhecimento "recompensa o terrorismo" e arrisca criar outro país aliado do Irã na região. "Um Estado palestino nessas condições seria uma plataforma para aniquilar Israel, não para viver em paz", disse Netanyahu. "Os palestinos não buscam um Estado ao lado de Israel; eles buscam um Estado no lugar de Israel."

Macron vinha anunciando há meses sua intenção de reconhecer a Palestina. O momento escolhido coincide com a pressão para que Israel encerre a guerra e permita a entrada de ajuda humanitária, diante do risco de agravar a crise de fome no território.

A escassez de água, alimentos e remédios aumentou os casos de desnutrição aguda e levou à morte 45 pessoas nos últimos quatro dias, segundo a ONU. As imagens de crianças esqueléticas estamparam as redes sociais e as capas dos principais jornais de vários países, ampliando a pressão por um cessar-fogo.

Tragédia

Segundo o Comitê Internacional de Resgate e o Programa Mundial de Alimentos, cerca de 500 mil palestinos, de uma população de 2 milhões, sofrem de insegurança alimentar e 100 mil estão em situação de inanição. Um terço da população passa vários dias sem comer.

Questionado sobre o problema, o porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou que não há fome causada por Israel. "Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", disse ele, que acusou o grupo de impedir a distribuição da ajuda e saquear parte dela. O Hamas nega as acusações.

Desde o início da guerra, Israel restringe a entrada de alimentos e combustível em Gaza. Mas, entre março e maio, proibiu completamente a distribuição de ajuda humanitária para pressionar o Hamas a se render, piorando a já severa privação no território.

Enquanto isso, no campo diplomático, uma trégua entrou em um limbo depois que Netanyahu convocou seus negociadores em Doha de volta para Israel. O enviado americano, Steve Witkoff, acusou o Hamas de não negociar de boa-fé. Autoridades de vários países afirmaram, no entanto, que a retirada dos dois países das negociações pode ter sido uma estratégia para obter concessões.

Pressão

A União Europeia endureceu sua posição e ameaçou Israel de sanções, caso o fluxo de ajuda não aumente. Alguns países exigiram "medidas concretas" do bloco diante da crise humanitária. Por isso, a decisão francesa foi significativa. Se Macron levar adiante, a França será o país mais influente a reconhecer a Palestina.

Até o momento, 147 dos 193 membros da ONU reconhecem o Estado palestino, incluindo vários membros da Otan. A notável exceção são os EUA, que influenciam a posição de aliados, como Canadá, Austrália e Reino Unido. Em Londres, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, vem sofrendo enorme pressão de seu gabinete para replicar o gesto de Macron.

Ontem, Starmer disse que pretende conversar hoje com o presidente francês e com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, para discutir como evitar mais mortes de palestinos. "O sofrimento e a fome em Gaza são indescritíveis e indefensáveis", afirmou o premiê britânico. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que a decisão do governo brasileiro de aderir a uma ação que acusa o país de cometer genocídio na Faixa de Gaza demonstra uma "profunda falha moral" do Brasil.

"A decisão do Brasil de se juntar à ofensiva jurídica contra Israel na CIJ (Corte Internacional de Justiça), ao mesmo tempo em que se retira da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto), é uma demonstração de uma profunda falha moral", afirmou o Ministério das Relações Exteriores de Israel em registro no X nesta quinta-feira, 25.

"Numa época em que Israel luta por sua própria existência, voltar-se contra o Estado judeu e abandonar o consenso global contra o antissemitismo é imprudente e vergonhoso", disse o comunicado.

O governo brasileiro anunciou, na quarta-feira, 23, que está em fase final para submissão de intervenção formal no processo em curso na Corte Internacional de Justiça, movido pela África do Sul com base na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.

"A decisão fundamenta-se no dever dos Estados de cumprir com suas obrigações de Direito Internacional e Direito Internacional Humanitário", informou o Ministério de Relações Exteriores.

"O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral", observou o ministério, citando os recorrentes episódios de violência contra a população civil no Estado da Palestina, que não se restringem à Faixa de Gaza, mas se estendem à Cisjordânia.

Soldados da Tailândia e do Camboja entraram em confronto em diversos pontos da fronteira disputada entre os dois países nesta quinta-feira, 24. Segundo informações de autoridades tailandesas, 11 civis e um soldado morreram durante o conflito.

Ambas as nações se acusaram de atacar primeiro. O Exército tailandês disse que o Camboja disparou foguetes contra áreas civis em quatro províncias tailandesas, levando a Tailândia a atacar com caças F-16 e drones contra alvos no Camboja e ordenar o deslocamento de civis das áreas de fronteira.

As autoridades do Camboja afirmaram que soldados tailandeses abriram fogo primeiro contra tropas do país do sudeste asiático no templo de Prasat Ta Muen Thom, local reivindicado por ambas as nações. As forças cambojanas revidaram cerca de 15 minutos depois.

Tensões

As tensões começaram no final de maio após a morte de um soldado cambojano em um confronto na fronteira entre tropas de ambos os lados. A disputa escalou na quarta-feira, 23, quando um soldado tailandês perdeu a perna em uma explosão de mina terrestre na fronteira.

O incidente fez com que a Tailândia expulsasse o embaixador do Camboja no país e retirasse o seu embaixador do país vizinho.

As autoridades tailandesas alegaram que as minas foram recentemente colocadas em locais que ambas as partes haviam concordado que deveriam ser seguros. Eles disseram que as minas eram de fabricação russa e não do tipo empregado pelo Exército da Tailândia.

O Camboja rejeitou a versão tailandesa como "acusações infundadas", apontando que muitas minas não detonadas e outras munições são um legado de guerras e distúrbios do século 20.

Conflito

Os vizinhos do Sudeste Asiático têm disputas de fronteira de longa data que periodicamente escalam ao longo de sua fronteira de 800 quilômetros e geralmente resultam em confrontos breves que envolvem trocas de tiros.

Em 2011, uma semana de confronto entre os dois países levou à morte de 15 pessoas, incluindo civis, e fez com que milhares de pessoas tivessem que ser deslocadas.

Segundo o porta-voz do ministério da Defesa da Tailândia, Surasant Kongsiri, os Exércitos dos dois países estavam em confronto em seis áreas ao longo da fronteira.

Crise política

O confronto com o Camboja mergulhou a Tailândia em uma crise política. No começo de julho, o Tribunal Constitucional da Tailândia suspendeu a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra em meio uma investigação ética de que ela teria sido excessivamente deferente a um oficial cambojano durante discussões sobre o conflito na fronteira.

A conversa telefônica foi vazada ao público e levou a insatisfação dos tailandeses com a maneira que a política estava lidando com a situação.

Depois dos incidentes desta quinta-feira, Paetongtarn Shinawatra, que permanece como líder do partido governante do país, condenou o que chamou de agressão cambojana. Ela disse nas redes sociais que forças do Camboja "iniciaram o uso de armas e atiraram em território tailandês - afetando tanto oficiais quanto civis inocentes."

Já o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, afirmou em um comunicado que seu país "não teve escolha a não ser responder com força armada contra essa invasão".

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O duro golpe do tarifaço de Trump para os países do Sudeste Asiático

Rata se aposenta no Camboja após 5 anos detectando minas terrestres

Como uma disputa na fronteira resultou no banimento de filmes e pode escalar para boicote a frutas

China

O confronto entre a Tailândia e o Camboja apresenta uma possível abertura diplomática para a China, que tem aumentado sua influência econômica e política em ambos os países em um momento em que governos no Sudeste Asiático estão se tornando cada vez mais cautelosos em relação aos Estados Unidos.

Pequim é o maior parceiro comercial de ambos os países e investiu pesadamente em infraestrutura em cada um. Na Tailândia, a China está ajudando o governo a construir uma ferrovia para conectar Bangcoc e o sudoeste da China. No Camboja, Pequim está construindo um enorme aeroporto e financiou a construção de prédios governamentais e a primeira via expressa do país.

Um porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse nesta quinta-feira que Pequim estava "profundamente preocupada" com os conflitos e vinha trabalhando para facilitar as conversas entre os dois lados. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)