'Talvez Trump não saiba que, no Brasil, o judiciário é independente', diz Lula ao 'NYT'

Política
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista ao The New York Times, que uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não está em negociação. No início deste mês, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criticou a Justiça brasileira ao dizer Bolsonaro é alvo de uma "caça às bruxas". "Talvez ele (Trump) não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente", declarou Lula.

 

A entrevista do petista - a primeira ao NYT em 13 anos - foi concedida nesta terça, 29, um dia antes de o presidente americano assinar o decreto que impõe tarifas aos produtos brasileiros e de o governo Trump anunciar a punição do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes com a Lei Magnistky.

 

"Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno diante de um país grande", disse Lula. "Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos; reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos; reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos assusta. Isso nos preocupa."

 

De acordo com o presidente brasileiro, Trump ignorou as ofertas de seu governo para conversar. "Tenha certeza de que estamos tratando isso (a imposição de tarifas) com a maior seriedade. Mas seriedade não requer subserviência", disse Lula. "Eu trato todos com grande respeito. Mas quero ser tratado com respeito."

 

Críticas

 

Ao anunciar que pretendia impor um tarifaço ao Brasil, Trump mencionou a situação de Bolsonaro, que é réu no Supremo sob acusação de tentativa de golpe de Estado, e também decisões da Corte que atingiram big techs. O americano falou em "perseguição" ao ex-presidente e criticou Moraes por, segundo ele, promover censura e abusos.

 

Na entrevista ao NYT, Lula afirmou que Trump está infringindo a soberania do Brasil. "O estado democrático de direito, para nós, é uma coisa sagrada", disse o brasileiro. "Porque já vivemos sob ditaduras, e não queremos mais", prosseguiu. "O supremo tribunal de um país tem que ser respeitado não apenas por seu próprio país, mas tem que ser respeitado pelo mundo."

 

Ao defender Bolsonaro, Trump disse ver sua própria batalha jurídica no julgamento criminal do ex-presidente brasileiro. "Aconteceu comigo, vezes dez", declarou. Os dois perderam a reeleição, mas o americano, quatro anos depois, voltou ao poder, enquanto o brasileiro enfrenta o risco de prisão. Este mês, Moraes determinou uma série de medidas restritivas a Bolsonaro, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, a proibição de uso de redes sociais e o recolhimento domiciliar diário em horários predeterminados pela Justiça. A Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou a "possibilidade concreta de fuga".

 

'Ultimato'

 

Lula disse considerar "vergonhoso" o fato de Trump emitir ameaças por meio de sua própria rede social, a Truth Social. "O comportamento do presidente Trump se desviou de todos os padrões de negociações e diplomacia", declarou o petista. "Quando você tem um desacordo comercial, um desacordo político, você pega o telefone, você agenda uma reunião, você conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato."

 

Ainda de acordo com o presidente brasileiro, os esforços de Trump para ajudar Bolsonaro vão ser pagos pelos americanos, que enfrentarão preços mais altos de produtos fornecidos pelo Brasil. "Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso", disse Lula. "Vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde (...) Espero que a civilidade retorne ao relacionamento Brasil-Estados Unidos. O tom da carta dele é definitivamente de alguém que não quer conversar."

 

Ao NYT, Lula afirmou que Trump é o único presidente dos Estados Unidos, desde Bill Clinton, com quem ele não teve bom relacionamento, mas que estava pronto para abrir o diálogo, diferentemente do americano. "O que está impedindo é que ninguém quer conversar. Todo mundo sabe que pedi para fazer contato." Em 11 de julho, Trump disse a repórteres, referindo-se a Lula: "Talvez, em algum momento, eu fale com ele. Agora, não vou".

 

'Política'

 

Questionado sobre qual seria sua mensagem para Trump, Lula declarou: Quero dizer a Trump que brasileiros e americanos não merecem ser vítimas da política, se a razão pela qual o presidente Trump está impondo este imposto sobre o Brasil é por causa do caso contra o ex-presidente Bolsonaro. O Brasil tem uma Constituição, e o ex-presidente está sendo julgado com pleno direito a defesa".

 

Para o presidente brasileiro, há motivos para preocupação. "Estou preocupado, obviamente, porque temos interesses econômicos, interesses políticos, interesses tecnológicos. Mas, em nenhum momento, o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil negociará como um país soberano", declarou Lula.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Um forte terremoto atingiu o norte do Japão na noite de domingo, seguido por vários tremores secundários, segundo a Agência Meteorológica do Japão. Um alerta de tsunami chegou a ser emitido.

O terremoto, com magnitude revisada para 6,9 e profundidade de 16 quilômetros, ocorreu na costa da província de Iwate às 17h03, no horário local.

Não houve relatos imediatos de feridos ou danos, nem de anormalidades nas duas usinas nucleares da região.

Tsunami

A agência havia emitido um alerta para tsunami de até 1 metro ao longo da região costeira do norte e, em seguida, informou que a água poderia atingir até 3 metros em alguns pontos.

Um tsunami de cerca de 10 centímetros foi detectado nas cidades de Ofunato, na província de Iwate, e nos portos de Ominato, Miyako e Kamaishi, chegando depois a 20 centímetros na área costeira de Kuji. O tsunami que se seguiu em Ofunato também atingiu 20 centímetros, segundo a agência.

Ondas de tsunami que seguem terremotos podem continuar por algumas horas, atingindo repetidamente a costa e, às vezes, aumentando de intensidade com o tempo.

Enquanto o alerta estava em vigor, as autoridades pediram que a população se mantivesse afastada do mar e das áreas costeiras, e alertaram para a possibilidade de novos tremores na região.

O alerta de tsunami foi suspenso cerca de três horas após o tremor inicial, mas a agência meteorológica informou que a área continua em risco de terremotos fortes por cerca de uma semana - especialmente nos próximos dois ou três dias.

Efeitos

Novos tremores foram registrados na província de Iwate, e a principal ilha mais ao norte, Hokkaido, também foi atingida pela sequência de abalos.

O nordeste do Japão é propenso a terremotos, incluindo o triplo desastre - terremoto, tsunami e colapso nuclear em Fukushima - ocorrido em março de 2011, ao sul de Iwate, que matou quase 20 mil pessoas, em sua maioria vítimas do tsunami, e causou sérios danos à usina nuclear de Fukushima Daiichi.

Mais de uma década depois, ainda há pessoas deslocadas da zona de exclusão. Manifestações continuam a ser realizadas periodicamente - a mais recente no sábado - para protestar contra o que é visto como falta de reconhecimento, por parte das autoridades, dos graves riscos da energia nuclear.

Um funcionário da agência, em entrevista coletiva no fim da noite de domingo, disse que não há indícios de que o terremoto mais recente esteja diretamente relacionado ao de 2011, embora a região seja geralmente suscetível a grandes tremores, como outro registrado em 1992.

Os trens-bala da região foram temporariamente interrompidos, segundo a operadora ferroviária JR East. O Japão, situado no "anel de fogo" do Pacífico, é um dos países mais propensos a terremotos no mundo.

O presidente dos EUA Donald Trump anunciou neste domingo, 09, que o advogado John Coale está sendo nomeado como enviado especial dos Estados Unidos para Belarus.

"Ele já negociou, com sucesso, a libertação de 100 reféns e está buscando a libertação de mais 50. Gostaria de agradecer, antecipadamente, ao altamente respeitado presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, por sua consideração na libertação dessas pessoas adicionais", afirmou em publicação na rede social Truth.

O republicano disse ainda que Coale teve como seus êxitos "a primeira grande vitória em um caso de tabaco", mas não detalhou.

Na mesma rede social, o mandatário dos EUA voltou a comentar as tarifas. Mais cedo, ele disse serem tolas as pessoas contrárias à medida. Depois, voltou os questionamentos à Suprema Corte do país, na qual a legalidade do tema está em discussão.

"O presidente dos Estados Unidos tem permissão (e é totalmente aprovado pelo Congresso!) para interromper todo o comércio com um país estrangeiro (o que é muito mais oneroso do que uma tarifa!), e licenciar um país estrangeiro, mas não tem permissão para impor uma simples tarifa a um país estrangeiro, mesmo para fins de segurança nacional. Isso não é o que nossos grandes fundadores tinham em mente! A coisa toda é ridícula!", escreveu.

O republicano alegou ainda que empresas estão indo para os EUA exclusivamente por conta das tarifas, e questionou se a Suprema Corte do país está ciente disso.

Países europeus, da América Latina e do Caribe se reúnem neste domingo, 09, na Colômbia em uma tentativa de estreitar laços, justamente quando se dividem as opiniões sobre as ações militares dos Estados Unidos.

Na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e da União Europeia, a Colômbia já antecipou que buscará a assinatura da declaração de Santa Marta - cidade onde ocorre o encontro - sobre energias renováveis, segurança alimentar, financiamento e cooperação tecnológica, que se encerrará na segunda-feira, 10.

Parte da conversa que precedeu a cúpula teve a ver com as ausências de chefes de Estado e figuras de alto nível como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chanceler alemão, Friedrich Merz. O Ministério das Relações Exteriores colombiano afirmou que houve problemas de agenda, dado que a iniciativa coincide com a COP30, que se realiza no Brasil, e destacou a presença de outros presidentes como o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o espanhol Pedro Sánchez.

O diretor de Política Internacional do Centro de Pesquisa em Economia e Política (CEPR, na sigla em inglês), Alexander Main, disse ser improvável que haja "resultados concretos significativos" dada a ausência de muitos chefes de Estado. No entanto, Main considera que a presença de líderes bastante alinhados politicamente pode dar espaço para debates sobre temas que, de outra forma, poderiam ser considerados demasiado divisivos.

"O desdobramento militar sem precedentes dos Estados Unidos no Caribe e os ataques navais letais serão um tema de debate, apesar de muitos líderes europeus preferirem ignorá-lo para evitar acirrar as tensões com os Estados Unidos", disse à Associated Press. "É evidente que é uma prioridade para vários líderes regionais" como Lula e o presidente Gustavo Petro, completou.

Main destacou que com o adiamento da Cúpula das Américas deste ano, a CELAC-UE será a única cúpula multilateral de alto nível que se realizará na região no restante do ano, o que poderia facilitar para os governos abordarem com franqueza o tema principal do desdobramento militar, dado que os Estados Unidos não participam.

O professor e pesquisador de Relações Internacionais da Universidade Externado da Colômbia David Castrillón Kerrigan, afirmou, por outro lado, "trazer à mesa temas sensíveis relacionados aos Estados Unidos faria com que a cúpula fracasse" e que a Colômbia "tem a responsabilidade com a CELAC e a região de fazer deste um evento bem-sucedido".

O evento ocorre em meio à tensão aberta entre o país e o governo de Donald Trump, após várias divergências sobre a política antimigratória e de drogas, a última delas por sanções impostas ao presidente Gustavo Pedro e sua família pelo Departamento do Tesouro dos EUA ao acusá-lo, sem provas, de supostos vínculos com o narcotráfico. A isso se somam críticas de Petro aos ataques letais a pequenas embarcações que os Estados Unidos acusaram de transportar carregamentos de droga e seus tripulantes de narcotraficantes. Petro considerou desproporcional e classificou como "assassinatos" e "execuções extrajudiciais".