Aliados de Bolsonaro veem post de Flávio como 'isca' para prisão e ação de Trump contra Moraes

Política
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Aliados de Jair Bolsonaro e membros da cúpula do Partido Liberal (PL) veem a publicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) que motivou a decretação da prisão domiciliar de seu pai, nesta segunda-feira, 4, como uma "isca" para a decisão e para chamar a atenção da Casa Branca.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes considerou que Bolsonaro descumpriu determinação judicial ao participar por videochamada de atos em sua defesa no domingo, 3, ocorridos em diversas cidades, e aparecer em publicação feita por Flávio nas redes sociais.

"Boa tarde Copacabana, boa tarde meu Brasil, um abraço a todos. É pela nossa liberdade, estamos juntos. Obrigado a todos, é pela nossa liberdade, pelo nosso futuro, pelo nosso Brasil. Sempre estaremos juntos. Valeu", disse Bolsonaro na publicação que horas depois Flávio apagou.

Moraes havia imposto, no mês passado, medidas cautelares contra Bolsonaro, o que incluía a proibição de usar redes sociais e de fazer transmissões em contas de terceiros, de falar com seu filho Eduardo Bolsonaro e de deixar Brasília, além de ser obrigado a se recolher das 19h às 6h em sua casa.

A defesa de Bolsonaro alega que Moraes tinha escrito, em sua última decisão, que "em momento algum Jair Messias Bolsonaro foi proibido de conceder entrevistas ou proferir discursos em eventos públicos". E diz que o ex-presidente seguiu "rigorosamente essa determinação".

Alguns aliados viram na atitude de Flávio um movimento calculado para fazer Moraes "esticar a corda mais ainda" e provocar a ira da Casa Branca, que já vinha se manifestando contra as decisões do STF que encurralavam Bolsonaro. Ainda que venha a ser condenado e preso no julgamento no qual é réu por tentativa de golpe de Estado na Corte, o ex-presidente aposta na interferência de Trump para mudar os rumos de seu processo.

Após a repercussão da prisão domiciliar, o Departamento de Estado dos Estados Unidos, órgão equivalente ao Itamaraty brasileiro, condenou a decisão e prometeu punições a quem auxiliar ou incentivar o ministro a continuar nessa direção. Em nota publicada nas redes sociais, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental se referiu a Moraes como "violador de direitos humanos" e disse que ele coloca restrições à capacidade de Bolsonaro se defender em público.

"O juiz Moraes, agora um violador de direitos humanos sancionado pelos EUA, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia. Impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender em público não é um serviço público. Deixem Bolsonaro falar", diz a nota.

A participação remota de Bolsonaro destoa do comportamento do ex-presidente nos últimos dias, desde que ele foi repreendido por Moraes por descumprir a cautelar pela primeira vez. Bolsonaro vinha se recusando a falar com a imprensa, ciente de que poderia ser prejudicado diante da Justiça.

Na chegada e na saída do diretório do PL em Brasília, por exemplo, ele se limitava a acenar e trocar poucas palavras com jornalistas que insistiam em perguntas. Já em sua aparição no evento de motociclistas Capital Moto Week, ele ficou parado por cerca de três minutos no estande administrado por Flávio antes de ir embora, cercado por uma multidão de apoiadores. No carro de som que liderou a motociata pela cidade, ele tampouco fez discurso.

A prisão domiciliar provocou rebuliço no PL. O senador e secretário-geral Rogério Marinho (PL-RN), que chegava a Brasília naquele momento, correu para se reunir com outros líderes e a cúpula do partido. O encontro durou até perto das 22h. Os participantes decidiram que vão peticionar um pedido no STF para visitar Bolsonaro em sua casa e marcaram uma coletiva de imprensa para a manhã da terça-feira no Congresso Nacional.

A comunicação do partido levou tempo até se alinhar. Uma publicação feita nas redes sociais do PL minutos antes, assinada pelo presidente Valdemar Costa Neto, irritou alguns bolsonaristas. "Estou inconformado!!!!! O que mais posso dizer?", limitava-se a dizer a nota oficial. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) chamou a nota de "imbecil" e questionou sua publicação.

Comentários do deputado Eduardo Bolsonaro, licenciado do mandato para viver desde março nos Estados Unidos, onde diz trabalhar para impor sanções a Moraes, e do comunicador Paulo Figueiredo, seu braço direito na empreitada, endossam as suspeitas de outros bolsonaristas de que o post de Flávio possa ter sido estratégico.

"Para qualquer um que acompanha minimamente o meu trabalho com Eduardo sabe que a prisão do Jair Bolsonaro é triste, mas totalmente esperada. Era uma questão de quando e não de se. Aliás, um dos pressupostos que sempre apontei aqui foi o de que Alexandre sempre dobraria a aposta. Só há um problema: as fichas dele, agora, acabaram. As nossas, não. É claro que haverá resposta", escreveu em uma rede social.

Os parlamentares bolsonaristas querem decidir em reunião na terça-feira qual será a reação à prisão domiciliar ao ex-presidente.

A ideia inicial é pressionar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao máximo para que ele paute a anistia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para colocar em discussão o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira, em publicação na Truth Social, que uma eventual decisão desfavorável da Suprema Corte sobre as tarifas de importação poderia gerar um impacto superior a US$ 3 trilhões.

Segundo Trump, o valor inclui investimentos já realizados, previstos e devoluções de recursos. "A Suprema Corte recebeu números errados. O 'desmonte', em caso de decisão negativa sobre as tarifas, seria superior a US$ 3 trilhões."

O presidente acrescentou que o país não teria como compensar uma perda dessa magnitude, classificando o cenário como um "evento de segurança nacional intransponível" e "devastador para o futuro" dos Estados Unidos.

Passageiros aéreos nos Estados Unidos devem enfrentar mais cancelamentos e atrasos nesta semana, mesmo que a paralisação do governo termine, segundo a Administração Federal de Aviação (FAA). A agência está ampliando os cortes de voos em 40 dos principais aeroportos do país, em meio à escassez de controladores de tráfego aéreo não remunerados há mais de um mês.

O planejamento do órgão regulador é de aumentar a redução para 6% nesta terça; 11,% na quinta, 13; e, atingir os 10% na próxima sexta, 14. Na segunda-feira, 10, as companhias aéreas cancelaram mais de 2,3 mil voos, e outros mil previstos para hoje já estavam suspensos.

O presidente norte-americano Donald Trump usou as redes sociais para pressionar os controladores a "voltarem ao trabalho agora", prometendo um bônus de US$ 10 mil aos que permaneceram em serviço e sugerindo cortar o pagamento dos que faltaram. As declarações foram criticadas por parlamentares democratas, que afirmaram que os profissionais merecem apoio, e não ameaças. O sindicato da categoria acusou o governo de usar os controladores como "peões políticos" na disputa orçamentária.

Embora o Senado tenha aprovado uma proposta para reabrir o governo, a medida ainda precisa ser votada pela Câmara. O secretário de Transportes, Sean Duffy, afirmou que os cortes de voos continuarão até que os níveis de pessoal se estabilizem. (Com informações da Associated Press)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu não saber de onde virão os recursos para bancar os bônus de US$ 10 mil prometidos a controladores de voo que permaneceram trabalhando durante a paralisação do governo federal. A declaração foi feita nesta segunda-feira, 10.

No mesmo dia, o Senado dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei para encerrar a paralisação governamental mais longa da história do país, que chegou a 41 dias. "Não sei. Vou conseguir de algum lugar. Sempre consigo dinheiro de algum lugar. Não importa", afirmou Trump em entrevista à apresentadora Laura Ingraham, da Fox News.

Mais cedo, o presidente havia proposto o pagamento dos bônus como forma de reconhecer os profissionais que não faltaram ao trabalho, mesmo sem receber salários há mais de um mês. A paralisação levou a Administração Federal de Aviação (FAA) a reduzir o tráfego aéreo em 40 dos principais mercados do país.

Trump já havia redirecionado recursos de pesquisa e desenvolvimento do Pentágono para garantir o pagamento de salários de militares durante a paralisação. (Com informações da Associated Press)