Bolsonaristas estimulam motim após morte de PM na Bahia

Política
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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro usaram nesta segunda-feira, 29, a morte do soldado da PM da Bahia Wesley Soares Goes - abatido na véspera por colegas de corporação após um surto em frente ao Farol da Barra, em Salvador - para criticar medidas de isolamento social determinadas pelo governador Rui Costa (PT) e estimular um motim. Em cerca de quatro horas de negociação, Goes havia disparado diversas vezes para o alto enquanto gritava palavras de ordem e foi abatido após atirar contra policiais.

Nas redes sociais, as hashtags #Surtou e #RuiCostaGenocida estiveram entre os assuntos mais comentados do Twitter na manhã de ontem. O governo do Estado diz que a operação seguiu todos os protocolos.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, compartilhou um vídeo em que Wesley Góes aparece momentos antes de atirar para o alto - o trecho compartilhado pela parlamentar não mostra o disparo que o soldado fez na direção dos colegas.

"Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!", escreveu no Twitter. Após repercussão, Kicis apagou a postagem para "aguardar as investigações".

Policiais realizaram protestos ontem em Salvador contra a morte do soldado. O deputado estadual Soldado Prisco (PSC), que se forjou politicamente após liderar motins da polícia baiana, publicou nas redes sociais sua participação em um dos atos em que aparece sugerindo que a corporação deveria "parar". "Mataram um policial, mataram um trabalhador. Até quando vocês vão aceitar isso? Mataram o policial. A hora de parar é agora, eu convoco vocês", disse. Em outro vídeo, o parlamentar bolsonarista chamou grupos de apoio ao presidente dentro da PM para iniciar manifestações. O vídeo foi compartilhado pelo deputado federal Daniel Silveira (PSL), ex-PM do Rio, que está em prisão domiciliar por publicar vídeo.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou o mesmo vídeo e afirmou que "aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição", escreveu. "Esse sistema ditatorial vai mudar. Protestos pipocam pelo mundo e a imprensa já não consegue abafar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares do PM-BA".

O deputado José Medeiros (Podemos-MT) publicou nas redes sociais uma imagem do governador Rui Costa com as mãos sujas de sangue. "Quem imaginaria que um soldado da PM baiana iria dar o brado preso na garganta dos trabalhadores brasileiros e pagaria com a vida esse ato de coragem."

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também compartilhou o vídeo de Wesley. "Sinto muito a morte do PM-BA. É muito difícil aguentar tanta pressão." O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, engrossou o coro. "Soldado Wesley Soares Góes, um patriota da Bahia que não aceitou cumprir as ordens do petista Rui Costa, foi executado. Minha homenagem a esse guerreiro brasileiro."

Protocolo

Em nota, após lamentar o ocorrido e manifestar solidariedade à família do soldado morto e aos policiais envolvidos na operação, o governador Rui Costa afirmou que o final de semana foi "de ataque a mim e a governadores e prefeitos do Brasil inteiro, mas não iremos nos intimidar com mentiras e ameaças". "Reafirmo meu compromisso com o enfrentamento da pandemia e com a saúde e a vida dos baianos e baianas. Continuaremos lutando dia após dia por mais vacina."

Também em nota, a PM-BA "lamenta profundamente o episódio" e diz que a corporação "adotou protocolos de segurança e o policial militar ferido foi socorrido imediatamente pelo SAMU".

16 Estados denunciam 'desestabilização'

Dezesseis governadores assinaram ontem uma carta denunciando "uma onda crescente de agressões e difusão de fake news que visam a criar instabilidade institucional nos Estados e no País". A carta é uma reação à tentativa bolsonarista de insuflar um motim na PM baiana.

"Vivemos um período de emergência na saúde, e a vida de todos os brasileiros está em grave risco." Entre outros, assinam a carta os governadores da Bahia, Rui Costa (PT), de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

"Alguns agentes políticos espalham mentiras sobre dinheiro jamais repassado aos Estados, fomentam tentativas de cassação de mandatos, tentam manipular policiais contra a ordem democrática, entre outros atos absurdos."

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Oficiais militares de mais de 30 países participarão das negociações em Paris sobre a criação de uma força internacional de segurança para a Ucrânia, informou um oficial militar francês. O objetivo dessa força será dissuadir a Rússia de lançar uma nova ofensiva após a implementação de um cessar-fogo na Ucrânia.

A lista de participantes nas reuniões da terça-feira, 11, ainda deve contar com países da Ásia e da Oceania, que participarão remotamente. A diversidade internacional da reunião reflete o alcance com que a França e o Reino Unido, que estão colaborando nos planos para a força, estão buscando formar uma coalizão de nações "capazes e dispostas", como descreveu o oficial francês, para ajudar a proteger a Ucrânia em caso de um cessar-fogo.

A força proposta pelos dois países poderia incluir armamentos pesados e estoques de armas que poderiam ser enviados rapidamente, em questão de horas ou dias, para reforçar a defesa da Ucrânia caso um ataque russo quebre qualquer trégua, explicou o oficial. O plano franco-britânico será apresentado aos oficiais militares de mais de 30 países na primeira parte das discussões de amanhã, acrescentou.

A segunda parte das negociações será dedicada a discussões "mais precisas e concretas", nas quais os participantes serão convidados a explicar se e como suas forças militares poderiam contribuir. "Não é, 'isso é o que precisamos'. É mais, 'o que você pode trazer para a mesa?'", afirmou o oficial. Ele também destacou que a decisão final sobre a participação dos países na força será tomada em nível político, pelos líderes dos governos.

Croácia e Montenegro, que foram convidados, não responderam e estarão ausentes. Os Estados Unidos não foram convidados, pois as nações europeias desejam demonstrar que podem assumir a responsabilidade por grande parte da estrutura de segurança pós-cessar-fogo para a Ucrânia. Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul acompanharão as negociações remotamente.

Os Verdes da Alemanha, cujo apoio é essencial para os planos do próximo governo de flexibilizar as regras fiscais para gastos com defesa e criar um fundo de infraestrutura, anunciaram que não apoiarão o pacote nas condições atuais.

O líder da União Democrática Cristã (CDU) e provável próximo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, está tentando formar uma coalizão com os Social-Democratas de centro-esquerda, liderados pelo chanceler Olaf Scholz, que deixa o cargo. Na semana passada, as duas partes anunciaram a intenção de isentar alguns gastos com defesa das restritas regras fiscais do país, uma medida cada vez mais urgente devido às dúvidas sobre o compromisso dos EUA com seus aliados europeus.

Além disso, o governo planeja criar um fundo de 500 bilhões de euros, financiado por empréstimos, para investir na infraestrutura deteriorada da Alemanha nos próximos 10 anos e impulsionar o crescimento econômico.

Porém, como a "freio da dívida" da Alemanha está ancorada na constituição, os planos exigem uma maioria de dois terços no parlamento. O governo tenta aprovar os projetos no parlamento atual, antes da nova composição, pois partidos que são contra as propostas têm mais de um terço das cadeiras na nova Câmara.

Como a União de Merz e os Social-Democratas não têm votos suficientes, dependem do apoio dos Verdes. A co-líder dos Verdes, Katharina Dröge, afirmou que o grupo rejeitará a proposta, destacando que o partido busca uma reforma do "freio da dívida" para permitir mais investimentos na economia e no combate às mudanças climáticas, algo que Merz havia descartado antes da eleição.

Dröge também criticou o fundo de infraestrutura, dizendo que ele serviria mais como um "cofre do tesouro" para cortes de impostos do que para investimentos úteis.

Em resposta, Carsten Linnemann, secretário-geral da União Democrata Cristã, afirmou que conversas com os Verdes serão realizadas, e "então veremos até onde conseguimos chegar". Seu partido também conversará com os liberais do Partido Democrático Livre, que têm se oposto ao aumento do endividamento.

A Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) elegeu nesta segunda-feira, dia 10, por aclamação o chanceler do Suriname, Albert Ramdin, como próximo secretário-geral por cinco anos.

A delegação da Dominica sugeriu aclamação, pelo fato de existir apenas um candidato, e recebeu o apoio do Peru. Ramdin foi eleito imediatamente com uma salva de palmas.

Com isso, a OEA saiu da raia de um secretário-geral alinhado a Washington após dez anos. Ramdin vai substitui o uruguaio Luis Almagro.

Embora tenha sido chanceler do ex-presidente Pepe Mujica (Frente Ampla) e patrocinado por ele, Almagro passou ser visto pelos líderes de esquerda da região como um secretário enviesado e adversário de governos como Bolívia, Nicarágua e Venezuela e outros.

Os ditadores da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciaram nos últimos anos, respectivamente em 2022 e 2017 (durante a gestão de Almagro), que deixariam a OEA. Eles acusaram Almagro de interferência em assuntos internos após crises político-eleitorais.

A eleição ocorreu depois de um movimento em bloco de apoio a Ramdin, liderado pelo Brasil e países de governos de esquerda, que levou à renúncia do candidato trumpista, o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano.

Como mostrou o Estadão, a diplomacia brasileira anteviu o risco de que Trump pudesse instrumentalizar politicamente a OEA. A impressão era que o paraguaio havia se movimentado para receber o apoio formal dos Estados Unidos, com gestos pró-agenda Trump vindos de Assunção e fotos com o próprio Trump e o bilionário Elon Musk.

A ideia de que ele pudesse servir como uma correia de transmissão da agenda conservadora do republicano, além da política de tarifaço contra países aliados e vizinhos, como México e Canadá, e a deportação em massa de imigrantes azedaram o clima para Trump, fez com que se formasse uma espécie de cordão sanitário na OEA.

A eleição foi um primeiro embate hemisférico entre Trump e governos de esquerda da América Latina, que envolveu nos bastidores um jantar oferecido por Lula a presidentes de esquerda em um palácio da embaixada brasileira em Montevidéu e ainda telefonemas do presidente chileno Gabriel Boric para formar uma aliança.