Ajuste de gastos tem de prever aumento de receitas, dizem economistas

Política
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Com um orçamento federal que subestima despesas obrigatórias em favor de emendas parlamentares, o Brasil precisa realizar um ajuste fiscal que contemple não só a contenção das despesas, mas também formas de elevar as receitas. Essa foi uma das constatações dos participantes do painel "Reforma Fiscal", realizado nesta quarta, 14, na Brazil Conference at Harvard & MIT 2021. O evento é organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão.

O painel teve participação do ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida, hoje economista-chefe do BTG Pactual, dos economistas Elena Landau e Ricardo Paes de Barros e da jornalista Flávia Oliveira, com moderação da também jornalista Monica Waldvogel.

Mansueto, que abriu o debate, procurou dar uma ideia do tamanho do ajuste, citando dados que ele já havia apresentado quando estava no governo: o País precisa de um ajuste de R$ 200 bilhões nos próximos cinco anos, até 2026, prazo de vigência do atual teto de gastos. "A regra (do teto) será suficiente para entregar o ajuste que o País precisa fazer", disse.

O economista ponderou que, mesmo que o País não queira discutir mudanças em sua carga tributária, o ajuste terá de rever a concessão de benefícios fiscais para uma série de setores - inclusive para aposentado - para conseguir ser cumprido.

Elena Landau concordou com Mansueto dando mais exemplos. Para ela, a busca por mais receita deve mirar a "pejotização" do mercado de trabalho, a isenção de dividendos e os benefícios vigentes na Zona Franca de Manaus. Entretanto, Elena destacou que o cenário atual é decorrente do que ela considera "falta de rumo" do País, resultado de mau planejamento econômico. "Está faltando adulto na sala."

Ricardo Paes de Barros seguiu em linha parecida. Ele disse não ver problemas, em tese, para um problema de excesso de gastos, desde que esses gastos tivessem um objetivo claro e trouxesse benefícios, como acabar com a pobreza e a desigualdade. "O grande problema nosso é a gente gastar muito sem ter um claro projeto." O economista citou o dado de que a política social brasileira gasta cerca de R$ 1,5 trilhão por ano, sem atacar a fundo essas questões. "Gasta-se muito com idosos, mas não se gasta com os mais jovens", exemplificou.

Flávia Oliveira, por sua vez, observou que o debate do ajuste fiscal não é uma questão presente nas preocupações da população. "Esse debate não está posto na sociedade brasileira de forma nenhuma. É um debate entre economistas e, até entre eles, é um debate interditado", afirmou. Mais do que isso, disse, até as discussões anuais para elaboração do Orçamento passam longe do interesse do público. "Muitas parcelas da sociedade brasileira não têm conseguido se apresentar no debate orçamentário. Quem o Orçamento representa? A quem ele atende?", questionou.

Investimento

Mais cedo, a Brazil Conference apresentou o painel "Infraestrutura e Saneamento", que discutiu as oportunidades advindas com o novo marco regulatório do saneamento básico, aprovado no ano passado, e que traz metas de universalização desta área, uma das piores do País, até 2031.

De acordo com a chefe da Assessoria Internacional do Ministério do Desenvolvimento Regional, Carla Barroso Carneiro, uma das preocupações atuais do governo é capacitar as empresas nacionais na busca de recursos para o saneamento por meio de fundos internacionais ESG (sigla em inglês para Governança Ambiental, Social e Corporativa).

"São ações de recuperação ambiental, cidadania e geração de renda", declarou Fábio Abrahão, diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público-Privadas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Abrahão disse estar confiante de que o País atingirá as metas.

O terceiro palestrante do debate foi o presidente da organização G10 Favelas, que agrupa lideranças comunitárias de favelas do País, Gilson Rodrigues. Líder comunitário de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, ele destacou a importância do tema. "Neste momento de pandemia, falta água nas favelas para as pessoas lavarem as mãos." Porém, ele defendeu que quaisquer projetos de saneamento devem passar por discussão com as comunidades.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta terça-feira, 4, um plano de 800 bilhões de euros, nomeado "REARM Europe", para fortalecer as defesas das nações da União Europeia (UE), visando diminuir o impacto de um possível "desengajamento" dos Estados Unidos e fornecer à Ucrânia força militar para negociar com a Rússia, após a pausa da ajuda americana aos ucranianos.

O pacote ainda será apresentado aos 27 líderes da união. Na quinta-feira, 6, os representantes europeus realizarão uma reunião de emergência em Bruxelas para tratar sobre o assunto. "Não preciso descrever a grave natureza das ameaças que enfrentamos", disse von der Leyen. Fonte: Associated Press.

O Ministério das Relações Exteriores, em nota divulgada nesta segunda-feira (3), lamentou a suspensão da entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza por Israel. "O governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor", diz o texto do Itamaraty.

Israel interrompeu a entrada de todos os bens e suprimentos na Faixa de Gaza no domingo (2) e advertiu sobre "consequências adicionais" caso o Hamas não aceite uma nova proposta para estender o cessar-fogo.

O Itamaraty diz que o Brasil pede a "imediata reversão da medida", recordando que "Israel tem obrigação - conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 - de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos". A nota afirma ainda que a obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário.

O governo brasileiro defende que as partes promovam o estrito cumprimento dos termos do acordo de cessar-fogo e o engajamento nas negociações "a fim de garantir cessação permanente das hostilidades, retirada das forças israelenses de Gaza, libertação de todos os reféns e estabelecimento de mecanismos robustos para ingresso de assistência humanitária desimpedida, previsível e na necessária escala."

A discussão entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na última sexta-feira (28) na Casa Branca levou as relações entre os dois países a um conflito. Ele também causou sério dano a uma aliança no coração da ordem estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial: a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Trump adotou uma posição que muitos aliados europeus viam como se ele estivesse do lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ignorar as preocupações de segurança de um país amigo que precisa de ajuda do Ocidente. Ele disse que o presidente ucraniano estava perdendo a guerra e "não tinha cartas".

A Otan é baseada na ideia de que os EUA podem usar seu poderio militar, incluindo o arsenal de armas nucleares, para defender qualquer aliado que for atacado. Esta premissa fundamental agora está sendo questionada.

"Eu estou preocupado que estamos nos últimos dias da Otan", disse o almirante aposentado James Stavridis, ex-comandante aliado supremo da Otan. Ele destacou que a aliança "pode não entrar prestes a entrar em colapso, mas eu posso certamente ouvir o ranger mais alto do que em outros tempos em minha longa carreira militar."

No último domingo, 2, Trump publicou uma mensagem na sua plataforma Truth Social: "Devemos dedicar menos tempo nos preocupando com Putin e mais tempo nos preocupando sobre as gangues de imigrantes que cometem estupros, traficantes, assassinos e pessoas que vieram de instituições (de saúde) mental entrando em nosso país - Para que não acabemos como a Europa." A Casa Branca não fez comentários sobre a política do governo dos EUA sobre a Otan.

A força do apoio de Trump à Otan, que foi criticada no passado, continua incerta. Na Casa Branca na última sexta-feira, ele disse "estamos comprometidos com a Otan" e elogiou um país membro, a Polônia, que faz muitos gastos com defesa.

No sábado, dia 1º, Elon Musk, um assessor de Trump que lidera o departamento de eficiência do governo, endossou uma mensagem na plataforma X que defendia a retirada dos EUA da Otan e das Nações Unidas.

Líderes europeus, que confiam na Otan para a segurança de seus países, têm evitado falar publicamente sobre as ameaças à aliança, mas alguns começam a comentar planos alternativos. "Queremos preservar a parceria transatlântica e a nossa força conjunta", comentou no sábado a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. "Mas ontem vimos uma vez mais que os europeus não devem ser ingênuos", disse, referindo-se aos eventos ocorridos na Casa Branca na sexta-feira: "Temos que assumir a responsabilidade pelos nossos próprios interesses, nossos próprios valores e nossa própria segurança, pelo bem do nosso povo na Europa."