'Fugi para o mato com meus 6 filhos'

Política
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O agricultor Raimundo dos Santos Gouveia, de 66 anos, estava com a mulher e os seis filhos na marcha dos sem-terra para Marabá e viu os PMs chegarem na curva do S, no dia 17 de abril de 1996. Quase 1,5 mil pessoas bloqueavam a estrada quando os tiros começaram. Eram 16 horas. "Fugi para o mato com meus seis filhos e minha mulher e lá ficamos." Quando os tiros cessaram, 19 sem-terra estavam mortos e dezenas, feridos.

Do outro lado da estrada estava Maria Zelzuíta Oliveira de Araújo, de 56 anos. Ela havia deixado o filho pequeno na casa de uma comadre para participar da marcha. De repetente, viu-se em meio aos tiros e correu para o mato, resgatando duas crianças que ficaram para trás. Hoje, tanto ela quanto Gouveia fazem parte do grupo de 690 famílias que receberam terras e estavam na marcha que terminou no massacre. Dos 155 policiais que participaram da ação, só os dois comandantes foram condenados em 2012 - o coronel Mário Pantoja morreu em 2020 em prisão domiciliar, onde cumpria a pena de 228 anos de prisão.

Pantoja comandava a tropa enviada pela Secretaria da Segurança. O Pará era então governado por Almir Gabriel (PSDB). "O fato é que foi uma barbaridade que não pode ser esquecida. Foi um massacre, uma chacina. Almir me disse que não deu ordem nenhuma e foi surpreendido como todos", conta o tucano Arthur Virgílio, que era o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e fez parte do comitê de crise criado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

No primeiro volume de seus Diários da Presidência, o ex-presidente diz: "Foi o pior dia desde que cheguei ao governo. O massacre me preocupou. (...) O Almir me deu explicações, coitado. Ele é todo de esquerda, e sua polícia é que foi matar dessa maneira selvagem."

O caso trouxe o Movimento dos Sem Terra (MST) para o centro do noticiário. FHC, que estava em lua de mel com a opinião pública e começava a articular a reeleição, viu-se acuado e cobrado a ampliar os assentamentos. No auge da pressão, ele recebeu o líder do MST, João Pedro Stédile, em seu gabinete em uma reunião "tensa" que durou duas horas. "O Stédile pediu ao Fernando para estender a bandeira do MST na mesa dele antes de os fotógrafos entrarem para registrar o encontro, mas o presidente disse que na mesa dele só estendia a bandeira do Brasil", conta Raul Jungmann, que assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

"O massacre foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil; em especial no crescimento, fortalecimento e amadurecimento do MST, que era muito jovem na época. E fez com que o governo reorganizasse sua pauta fundiária e agrária", diz João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST. Todo ano, o movimento organiza um acampamento na curva do S para lembrar os mortos. Neste ano, o acampamento foi virtual. Em 2018, Jair Bolsonaro, pré-candidato ao Planalto, foi ao local da chacina. Queria defender os policiais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Rússia lançou um ataque devastador na Ucrânia no sábado, 8, matando 14 pessoas e ferindo dezenas, horas depois de Donald Trump defender Vladimir Putin e dizer que o líder do Kremlin estava "fazendo o que qualquer um faria".

No ataque, dois mísseis balísticos atingiram o centro de Dobropillia, na região de Donetsk. /AP

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O número de mortos em dois dias de confrontos entre as forças de segurança sírias e os apoiadores do presidente deposto Bashar Assad subiu para mais de mil, incluindo 745 civis, 125 membros das forças de segurança do governo e 148 militantes de grupos armados ligados a Assad, disse neste sábado, 8, o Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha. Os confrontos, que começaram na quinta-feira, marcaram uma escalada no desafio do novo governo de Damasco, três meses após insurgentes assumirem o controle do país.

A violência se intensificou na sexta-feira, quando atiradores sunitas leais ao governo iniciaram assassinatos de membros da minoria alauita, que tem sido um dos principais grupos de apoio ao regime de Assad.

Testemunhas relatam que homens alauitas foram mortos a tiros e casas saqueadas e incendiadas. Em algumas áreas, corpos de vítimas foram deixados nas ruas ou em telhados, enquanto residentes eram impedidos de removê-los pelos atiradores.

A violência foi interrompida na manhã deste sábado, mas o número de mortos continua subindo, com fontes locais relatando que até 600 pessoas já foram enterradas, enquanto outras vítimas foram encontradas em valas comuns. A violência gerou grandes deslocamentos, com muitos alauitas buscando refúgio nas montanhas e em outras áreas mais seguras.

A agência de notícias estatal da Síria citou um funcionário não identificado do Ministério da Defesa, dizendo que as forças do governo haviam retomado o controle de grande parte das áreas ocupadas pelos apoiadores de Assad. A agência acrescentou que as autoridades fecharam todas as estradas que levavam à região costeira "para evitar violações e restaurar gradualmente a estabilidade".

O governo sírio afirmou que as forças leais a Assad estavam respondendo a ataques de remanescentes do regime anterior, enquanto as autoridades sírias tentavam restaurar a ordem e recapturar áreas de controle.

Enquanto isso, o Ministério da Defesa sírio afirmou que as forças do governo haviam retomado grande parte dos territórios e estavam tentando restaurar a estabilidade, fechando as estradas que levam à região costeira afetada pelos conflitos. Fonte: Associated Press

O trânsito em volta do Palácio de Westminster, em Londres, ficou parado neste sábado, 8, enquanto os serviços de emergência tentavam chegar a um homem que subiu à torre do Big Ben segurando uma bandeira da Palestina. As fotos mostram o homem descalço, em uma espécie de protesto, de pé num parapeito, após subir vários metros da Torre Elizabeth, que abriga o Big Ben.

As autoridades disseram que as visitas às Casas do Parlamento foram canceladas devido ao ocorrido.

A ponte de Westminster e uma rua próxima foram fechadas durante grande parte do dia de sábado e vários veículos dos serviços de emergência estiveram no local enquanto a multidão assistia. A polícia também bloqueou todos os acessos de pedestres à Praça do Parlamento.

A Polícia Metropolitana disse anteriormente que os agentes receberam informações sobre o homem por volta das 7 horas da manhã do horário local e estavam "trabalhando para levar o incidente a uma conclusão segura", juntamente com os bombeiros e os serviços de ambulância.

Os negociadores subiram várias vezes numa plataforma de escada dos bombeiros para falar com o homem e convencê-lo a descer, mas o manifestante permaneceu no alto da torre no final do dia de sábado.

Um pequeno grupo de apoiadores gritou "Palestina Livre" por detrás de um cordão policial nas proximidades. /Associated Press

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.