'Segurança nacional não pode ser volta ao passado'

Política
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A recusa a rezar uma missa pelo Sete de Setembro - "por vários motivos, entre os quais a não efetiva independência do povo", como escreveu o padre italiano Vito Miracapillo - gerou o processo que levou à expulsão do sacerdote do Brasil em 1980. Aos 33 anos, o religioso, que era vigário em Ribeirão (PE), foi considerado nocivo à segurança nacional, condição que possibilitou seu enquadramento no Estatuto dos Estrangeiros e acelerou o cumprimento da ordem do presidente João Figueiredo, o último da ditadura.

Quarenta e um anos depois, vivendo na Itália, d. Vito se mostra preocupado com "excessos" no uso da Lei de Segurança Nacional, ainda em vigor no País. "Espero que a segurança nacional não represente uma volta ao passado", disse ele ao Estadão.

Qual é a lembrança mais forte que o senhor guarda do seu processo de expulsão do Brasil?

(Lembro) a invasão, na igreja de Ribeirão, em 2 de outubro de 1980, por 30 fornecedores de cana armados, com ameaças contra mim, a agressão contra padres, jornalistas e pessoal da paróquia... (Lembro) a despedida do povo contrariado pela decisão do governo, quando fui levado preso, invadindo a pista do Aeroporto dos Guararapes, gritando: "padre Vito, o Brasil é teu!", "o Brasil está contigo!"

Como a Lei de Segurança Nacional foi usada contra o senhor?

Fui interrogado pela Polícia Federal na sede regional do Recife, em 25 de setembro de 1980, depois de denúncia feita contra mim pelo deputado Severino Cavalcanti na Assembleia Legislativa de Pernambuco. O pretexto foi a minha recusa a celebrar duas missas impostas pelo prefeito da cidade por ocasião da Semana da Pátria, no dia 7 de setembro, e no dia 11, emancipação do município, com a motivação que dei - "a não efetiva independência do povo, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos".

Como foi o comportamento das autoridades daquele tempo em relação ao senhor?

Estava sendo visado, mas havia respeito recíproco, estando a maioria do povo ao meu lado. Nos meses de processo, não houve por parte da polícia qualquer forma de violência física. A violência foi do processo em si, como teste de aplicação do novo Estatuto dos Estrangeiros contra a Igreja e os refugiados políticos.

O senhor chegou a ser preso, sofreu algum tipo de ameaça?

Não fiquei preso em cadeia, nem algemado. Fui privado de documentos, de dar entrevistas, de sair da cidade ou do endereço em mãos da polícia.

O senhor recorreu ao STF, mas não funcionou. Por quê?

Foram quatro advogados que pediram "habeas corpus" em meu favor e apelaram ao STF. Mas ninguém se iludia, pois não havia, como denunciou a OAB, separação de fato entre Judiciário e Executivo.

Como o senhor encara a volta do uso, pelo atual governo, da Lei de Segurança Nacional, contra críticos das autoridades?

Não estou a par de novidades quanto à Lei de Segurança Nacional, até porque no ano passado não fui ao Brasil por causa da pandemia. Espero que a segurança nacional não represente uma volta ao passado e seja interpretada como segurança do povo, para viver com dignidade e responsabilidade, tendo seus direitos respeitados na justiça, na paz, no acesso ao trabalho, junto a sempre melhores oportunidades.

Como o senhor compara o seu processo aos que são sofridos pelos brasileiros hoje?

Espero, pois não conheço a situação atual, que não existam e não se chegue ao que já foi. Seria triste para a imagem do Brasil no exterior e para o povo, que não merece e não precisa disso.

O senhor ora pelo Brasil?

Todo dia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Casa Branca confirmou nesta quarta-feira, 5, que autoridades dos Estados Unidos estão envolvidas em "conversas e discussões contínuas" com o Hamas, rompendo com uma política de longa data da diplomacia americana de não manter negociações diretas com grupos que consideram terroristas.

Questionada sobre as conversas, que foram reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, se recusou a fornecer detalhes sobre as negociações, mas disse que Donald Trump autorizou seus enviados a "falar com qualquer pessoa".

"Veja, dialogar e conversar com pessoas ao redor do mundo para fazer o que é do melhor interesse do povo americano é algo que o presidente... acredita ser um esforço de boa-fé para fazer o que é certo para o povo americano", disse.

De acordo com a porta-voz, Israel foi consultado sobre as tratativas. "Durante consultas com os Estados Unidos, Israel expressou sua opinião sobre negociações diretas com o Hamas ", disse o gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Autoridades do Hamas também confirmaram as reuniões.

De acordo com a Axios, o enviado especial dos EUA, Adam Boehler, se encontrou com membros do Hamas nas últimas semanas em Doha, no Catar, para discutir a libertação dos cinco reféns americanos ainda mantidos pelo grupo terrorista na Faixa de Gaza, quatro dos quais estão mortos.

As negociações também incluíram discussões sobre a libertação de todos os reféns que permaneceram em Gaza, bem como a possibilidade de um cessar-fogo permanente, acrescentou o Axios, citando duas fontes anônimas familiarizadas com as negociações.

A confirmação das negociações na capital do Catar acontece enquanto o cessar-fogo Israel-Hamas permanece em jogo. Este é o primeiro envolvimento direto conhecido entre os EUA e o Hamas desde que o Departamento de Estado designou o grupo como uma organização terrorista estrangeira em 1997.

Trump sinalizou que não tem intenções de afastar Netanyahu de um retorno ao combate se o Hamas não concordar com os termos de uma nova proposta de cessar-fogo, que os israelenses anunciaram como sendo elaborada pelo enviado dos EUA Steve Witkoff.

O novo plano exigiria que o Hamas libertasse metade dos reféns restantes - a principal moeda de troca do grupo terrorista - em troca de uma extensão do cessar-fogo e uma promessa de negociar uma trégua duradoura. Israel não fez menção de libertar mais prisioneiros palestinos, um componente-chave da primeira fase.

Trump ameaça Gaza

Trump ameaçou nesta quarta-feira a população de Gaza se os reféns restantes não forem libertados, e alertou os dirigentes do grupo terrorista para que deixem o território enquanto podem.

"Para a população de Gaza: um lindo futuro os espera, mas não se retiverem os reféns. Se o fizerem, estão MORTOS! Tomem uma decisão INTELIGENTE. LIBERTEM OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO A PAGAR DEPOIS!", escreveu o republicano em sua rede Truth Social.

Na mesma publicação, Trump exigiu ao Hamas que "devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que assassinou" durante o ataque desse grupo contra Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.

"Este é seu último aviso! Para os dirigentes [do Hamas], agora é a hora de sair de Gaza, enquanto ainda têm oportunidade", acrescentou. "Estou enviando a Israel tudo o que se necessita para terminar o trabalho, nem um único membro do Hamas estará a salvo." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Um caça sul-coreano lançou acidentalmente oito bombas em uma área civil durante um treinamento nesta quinta-feira, 6, ferindo sete pessoas. As bombas MK-82 lançadas "anormalmente" pelo caça KF-16 caíram fora do alcance de tiro, causando danos civis não especificados, disse a força aérea em comunicado.

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A Força Aérea pediu desculpas por causar danos civis e expressou esperanças por uma rápida recuperação dos feridos além de oferecer ativamente indenização e outras medidas necessárias para as vítimas.

O comunicado não detalhou onde o acidente aconteceu, mas a mídia sul-coreana relatou que as bombas foram lançadas em Pocheon, uma cidade perto da fronteira com a Coreia do Norte.

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