'Capitã cloroquina' faz acusação falsa contra jornalista de hackear aplicativo

Política
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Em seu depoimento na CPI da Covid nesta terça-feira, 25, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "capitã cloroquina", acusou falsamente o jornalista Rodrigo Menegat de hackear o aplicativo TrateCov, mas voltou atrás minutos depois ao ser questionada pelo relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Em janeiro, após o lançamento da plataforma que promovia remédios ineficazes contra a covid-19, como a hidroxicloroquina, o jornalista apenas acessou o código público do site e fez simulações na área aberta da plataforma, identificando que esses remédios estavam sendo recomendados de forma indiscriminada até para bebês. Segundo o jornalista, porém, não houve invasão do sistema nem extração indevida de dados.

O aplicativo era aberto e qualquer pessoa podia fazer simulações. Bastava colocar dados do paciente, como idade, peso e sintomas, para receber a prescrição do chamado "tratamento precoce". A reportagem do Estadão chegou a fazer simulações também quando o site ainda estava no ar e verificou os mesmos resultados.

A plataforma foi lançada em janeiro de 2021 em Manaus, em evento com a participação de Mayra e do ex-ministro Eduardo Pazuello. O sistema também foi amplamente divulgado em nota à imprensa distribuída pela assessoria de comunicação da pasta no dia 13 de janeiro.

No texto, o órgão ressaltava que mais de 300 médicos de Manaus já estavam inscritos no aplicativo. A nota trazia declarações de Mayra: "Ele é um protocolo de fácil manuseio porque o profissional de saúde vai baixar no celular e atender o paciente, preenchendo uma série de critérios médicos. Após, será oferecido ao paciente o tratamento precoce com uso de medicações antivirais (sic)", disse a secretária na nota. A TV Brasil, comandada pelo governo, também fez reportagem sobre o aplicativo.

Depois de a imprensa noticiar, na época, que o aplicativo promovia de forma indiscriminada esses remédios, o ministério tirou o sistema do ar e passou a tentar emplacar uma versão de que ele era apenas um protótipo e não estava em funcionamento ainda, contrariando seus próprios materiais oficiais.

Na semana passada, o ex-ministro Eduardo Pazuello disse à CPI que o aplicativo foi copiado e divulgado indevidamente. Nesta terça, Mayra voltou a insistir nessa narrativa e, quando questionada sobre o nome do invasor, apontou Menegat. Ao ser questionada sobre quais modificações o "hacker" teria feito no programa, porém, a secretária voltou atrás.

"Ele não conseguiu hackear. O sistema é seguro. Hackear é quando você usa a senha de alguém, entra dentro de uma plataforma ou de um sistema. Foi uma extração indevida de dados. O termo que foi utilizado foi um termo de leigos. Hoje a gente tem um laudo pericial que classifica a operação feita de extração indevida de dados", afirmou ela, dizendo que o caso motivou um registro de boletim de ocorrência.

Tecnicamente, porém, não pode ter havido extração indevida de dados de um sistema aberto. O que o jornalista fez foi acessar o site e consultar o código-fonte da página, disponível a qualquer usuário por meio da ferramenta "inspecionar elemento" (presente no próprio navegador).

Esse código-fonte, que é aberto, foi publicado por Menegat na plataforma github, usada por programadores para hospedar códigos e arquivos. A hospedagem do código nessa plataforma costuma ter como finalidade facilitar a análise de outros programadores e o armazenamento do código caso o site seja retirado do ar pelo dono da página. Menegat não quis comentar a acusação de Mayra.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."