Lira tira de sorteio e separa para aliados gabinetes tidos como melhores

Política
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Deputados recém-eleitos para a legislatura que começa na quarta-feira, 1.º, foram beneficiados com gabinetes reservados especialmente para eles pela gestão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), candidato a novo mandato à frente da Casa. Embora não tenha participado do sorteio feito pela Câmara para outros 116 deputados, em dezembro, um grupo de novatos foi premiado com espaços melhores, alguns com vista para a Esplanada dos Ministérios.

Lula da Fonte, eleito para seu primeiro mandato por Pernambuco, conseguiu o gabinete 626. Fica ao lado da sala ocupada por seu pai, Dudu da Fonte, o 628. Ao Estadão, o deputado disse ter participado do sorteio. A reportagem assistiu ao vídeo da distribuição dos gabinetes, que durou uma hora e meia, e o nome dele não foi mencionado. Questionado se havia tido sorte ao ficar ao lado do pai, Lula da Fonte respondeu: "É".

Quatro andares abaixo, o deputado Neto Carletto, da Bahia, vai se instalar no gabinete do tio, Ronaldo Carletto. Na porta, há um adesivo da campanha do sobrinho. Os quatro deputados citados integram o PP, partido de Lira.

Líder do Centrão, o presidente da Câmara tem distribuído benesses a seus pares desde o fim do ano passado. Como mostrou o Estadão, o objetivo de Lira é se tornar o candidato mais bem votado da história da Câmara para ter maior poder de barganha nas negociações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lira já aumentou os auxílios combustível e moradia, além de ter reajustado o salário dos deputados em mais de R$ 7 mil a partir de abril. O total de desembolso para os cofres públicos chega a R$ 70 milhões por ano.

Na quinta-feira passada, o deputado eleito Max Lemos (PROS-RJ), um dos premiados com o novo gabinete, anunciou apoio à candidatura de Lira. Em uma rede social, Lemos afirmou que o presidente da Câmara "sempre se mostrou um líder disposto a ouvir todos os parlamentares". Ex-deputado estadual no Rio, Lemos definiu Lira como "o presidente do Parlamento que trabalhou para unir a classe de políticos, sempre em defesa do crescimento do Brasil".

Na distribuição dos gabinetes, em dezembro, dez foram retirados do sorteio. Deste total, o Estadão identificou oito separados para aliados de Lira - sete dos quais com vista para os prédios do Congresso e da Esplanada. Dois ainda estão sob "reserva técnica". Todos ficam no Anexo 4, o prédio de dez andares, conhecido como Serra Pelada, que abriga 432 dos 513 gabinetes. Os espaços ali são melhores do que os do Anexo 3. Têm banheiros privativos, acesso direto à garagem e medem de 43 a 47,5 m². Os outros possuem 37,7 m² e não dispõem de banheiros.

Demissão

A justificativa para a retirada dos gabinetes do sorteio foi a de "problemas técnicos", com parecer do setor de engenharia da Câmara. A decisão causou problemas internos e levou à saída da diretora do Departamento de Apoio Parlamentar (Deap), Simone Sarkis. Ao não concordar com a manobra usada para remover os gabinetes do sorteio, Sarkis foi pressionada por superiores a pedir demissão.

O Boletim Administrativo da Câmara registrou que a analista legislativa foi dispensada "a pedido" em 19 de dezembro. O sorteio foi feito três dias depois, já com uma substituta no comando do departamento. Na ocasião, Fabiana Mircia Silva Amaral afirmou que havia 116 gabinetes livres, sem mencionar aqueles que haviam ficado de fora. O Estadão procurou Sarkis, mas não a localizou.

Além de Lula da Fonte, Neto Carletto e Max Lemos, não entraram no sorteio os deputados Guilherme Uchôa Júnior (PSB-PE), Dal Barreto (União Brasil-BA), Paulo Litro (PSD-PR), Diego Coronel (PSD-BA) e Rafael Prudente (MDB-DF). Diego é filho do senador Ângelo Coronel (PSD-BA) e Rafael, do ex-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal Leonardo Prudente, flagrado pela Operação Caixa de Pandora, em 2009, guardando maços de dinheiro nos bolsos e na meia.

Disputa

A distribuição dos gabinetes ocorre sempre antes da posse, com base em regras da própria Câmara, e é alvo de muita disputa. Deputados chegam a fazer permuta dos espaços para garantir os melhores ambientes, prática que é permitida.

Os escritórios parlamentares têm mobílias padronizadas pela Câmara, que podem ser alteradas com parecer técnico e autorização da Primeira-Secretaria da Casa. As reformas devem ser custeadas pelos próprios deputados, que precisam assinar um termo se comprometendo a devolver os espaços como foram recebidos. É comum deputados venderem móveis sob medida, como sofás, cadeiras e mesas, quando não conseguem se reeleger.

Quem não é reeleito precisa devolver o espaço e a credencial de estacionamento até 30 de janeiro. Os deputados que renovam o mandato podem permanecer em seus gabinetes, mesmo que ocupados por suplentes. O restante é dividido, primeiramente, por prioridade. Depois, por sorteio.

Sudorese

Na tentativa de justificar uma pretensa prioridade na escolha dos gabinetes, houve quem alegasse, recentemente, "doenças", como sudorese excessiva e problemas no joelho. A preferência, porém, começa com ex-presidentes da Casa e continua com deputados com dificuldades de locomoção ou necessidades especiais, com idade igual ou superior a 60 anos e mulheres. Depois, titulares ou suplentes eleitos que tiveram mandato na legislatura vigente por período igual ou superior a um ano. Na sequência vêm ex-congressistas que tenham exercido mandato como titulares.

Cônjuge, pai, filho ou irmão de titular não reeleito na legislatura vigente também estão nessa lista. Caso haja empate em cada critério, o deputado mais idoso tem a preferência. Os oito premiados não tiveram mandatos na última legislatura e, por isso, não entraram na ordem de prioridade.

Paulo Litro disse que não tinha informação sobre como havia conseguido seu gabinete nem sabe onde ele fica. "Eu sou novato aqui, não conheço muito como funciona", afirmou. "Na segunda-feira é que vou atrás disso, me informar certinho."

Guilherme Uchôa Júnior contou, por sua vez, que ficará no quarto andar, mas disse não ter decorado o número do gabinete. "Sei que fui sorteado, mas quem trata disso para mim é um funcionário. Ele disse para mim que foi feito um sorteio", declarou. "Eu tenho pouca relação ainda com Brasília."

Pedido

Rafael Prudente admitiu ter pedido o gabinete 260 à Mesa Diretora da Câmara. O local era ocupado por Celina Leão (PP-DF), atual governadora em exercício do Distrito Federal. "Eu mandei um ofício, perguntando sobre a possibilidade de permanecer com o gabinete dela, visto que eu estava na presidência da Câmara Legislativa", relatou Prudente. "Depois, recebi aquele documento oficial que saiu da Mesa Diretora, designando os gabinetes para os deputados. Acabou que me foi designado o 260."

Após a publicação da reportagem, a Câmara enviou uma nota na qual admite que "alguns imóveis não entraram no sorteio". Justificou o fato, porém, com o argumento de que "estavam em reforma ou necessitavam de inspeção técnica".

De acordo com o texto, "a Câmara dos Deputados estabelece procedimentos próprios e transparentes para a distribuição de gabinetes. Também é praxe que os deputados possam, em comum acordo, efetuar a troca, sem prejuízo ou privilégios". A nota nega, ainda, qualquer vinculação entre a distribuição dos gabinetes e a eleição para a presidência da Câmara.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Um morador de Memphis, no Tennessee (Estados Unidos), foi baleado por seu cachorro enquanto estava deitado na cama na última segunda-feira, 10. O disparo atingiu de raspão a coxa esquerda de Jerald Kirkwood, o tutor do animal. As informações são do jornal The Guardian e do canal WREG, uma emissora de TV de Memphis usada como uma das fontes do jornal britânico.

Segundo a polícia, o cão de um ano, um pitbull chamado Oreo, acionou acidentalmente a arma quando pulou na cama em que Kirkwood estava deitado com uma amiga. Após o episódio, a mulher saiu da casa levando a arma. Já o tutor foi socorrido e hospitalizado com ferimentos leves. Ele não corre risco de vida.

A polícia classificou o incidente como uma lesão acidental, sem ação necessária contra Oreo ou o seu tutor. A mulher foi localizada e, em entrevista à estação de notícias Fox 13, disse que Oreo é brincalhão e gosta de pular nas coisas, ainda segundo informações da reportagem do The Guardian.

Caso não foi o primeiro

Este não foi o primeiro caso de um animal de estimação que atira contra o seu tutor, ainda segundo o Guardian. Richard Remme, de Fort Dodge, Iowa (EUA), foi baleado na perna em 2018 enquanto brincava com seu cão, após a arma em sua cintura disparar.

Em 2019, Matt Branch, ex-jogador de futebol da Universidade Estadual da Louisiana, foi baleado na perna por uma espingarda que seu labrador pisou durante uma viagem de caça no Mississippi, resultando na amputação de sua perna. Branch passou 12 dias inconsciente, mas sobreviveu - e adaptou-se com uma perna protética de titânio.

O Kremlin rejeitou nesta quarta, 12, se comprometer com um cessar-fogo imediato de 30 dias na guerra com a Ucrânia, afirmando que Vladimir Putin deveria primeiro ser informado pelos EUA dos detalhes do acordo antes de decidir se a proposta é aceitável para a Rússia.

Steve Witkoff, enviado da Casa Branca, deve chegar à Rússia nos próximos dias. Donald Trump disse ontem que outros negociadores já estavam a caminho de Moscou. "Esperamos obter o cessar-fogo", afirmou o presidente americano, que prometeu telefonar para Putin ainda esta semana.

Em Moscou, porém, o clima é de cautela. Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, disse ontem que o Kremlin estava "estudando cuidadosamente" a proposta americana. Segundo ele, a Rússia aguarda nos próximos dias "os detalhes do acordo alcançado".

Pessimismo

Algumas autoridades russas mostraram pessimismo, dizendo que a Rússia não estaria disposta a interromper os combates, uma vez que suas forças vêm obtendo ganhos significativos nos últimos dias, recuperando parte da região russa de Kursk, onde a Ucrânia lançou uma incursão no ano passado.

"A Rússia está avançando no campo de batalha. Qualquer acordo deve ser feito em nossos termos, não nos termos americanos", escreveu o senador Konstantin Kosachev, no Telegram. O deputado Mikhail Sheremet disse à mídia estatal russa que o Kremlin não estava interessado em continuar a guerra, mas também não pode tolerar a pressão americana.

Alguns especialistas disseram que a Rússia, provavelmente, exigiria certas garantias antes de aceitar o cessar-fogo. Ontem, Fiodor Lukianov, analista de política externa que dirige um conselho que assessora o Kremlin, escreveu que um acordo de cessar-fogo "contradiz" a posição de Putin de que nenhuma trégua será declarada até que as bases de uma paz duradoura sejam determinadas. "Em outras palavras, lutaremos até que uma estrutura de acordo permanente seja elaborada", disse.

Putin rejeitou várias vezes a possibilidade de um cessar-fogo temporário, dizendo que uma trégua curta não resolveria o que ele chama de "causas fundamentais" do conflito. No início do ano, ele disse ao Conselho de Segurança da Rússia que só aceitaria um acordo de paz de longo prazo.

Desde então, o presidente russo estabeleceu uma lista de exigências cada vez maiores para pôr fim à invasão, incluindo uma garantia de que a Ucrânia não entrará na Otan, a desmilitarização parcial do Exército ucraniano e a anexação total das quatro regiões reivindicadas pela Rússia no leste do país.

Risco

No entanto, a rejeição do cessar-fogo também apresenta um risco para Putin. O maior deles é irritar Trump e minar o relacionamento caloroso entre os dois presidentes, o que levou o governo dos EUA a dar um cavalo de pau na sua diplomacia e adotar uma abordagem amistosa em relação a Moscou.

Por isso, a proposta americana de cessar-fogo coloca uma tensão entre dois objetivos de Putin: uma vitória total sobre a Ucrânia e estreitar laços com Trump. Para analistas, a oposição do Kremlin a um cessar-fogo temporário vem do simples cálculo de que, com suas forças avançando no campo de batalha, uma interrupção dos combates faria com que a Rússia abrisse mão de sua influência sem obter concessões.

Telefonema

Mas esse cálculo mudou após o telefonema com Trump, em fevereiro, e o realinhamento da Casa Branca com o Kremlin, que teriam tornado Putin mais tentado a cair nas graças do presidente americano. Segundo o analista Ilya Grashchenkov, a Rússia poderia até mesmo aceitar uma trégua "taticamente desfavorável, mas estrategicamente favorável", se for para Putin mostrar que está do lado de Trump.

"Certamente, não é impossível que os russos aceitem a trégua", disse Samuel Charap, analista da Rand Corporation. "Não porque eles queiram um cessar-fogo incondicional e temporário, mas porque agora eles têm interesse nas relações com Washington." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O governo do Reino Unido anunciou nesta quarta-feira, 12, a expulsão de um diplomata russo e de seu cônjuge, em represália à expulsão de dois funcionários da embaixada britânica em Moscou no início desta semana.

O Ministério das Relações Exteriores britânico convocou o embaixador russo no Reino Unido, Andrei Kelin, para comunicá-lo sobre as expulsões, após o que descreveu como uma "campanha crescente e coordenada de assédio contra diplomatas britânicos". Algo que, segundo Londres, visa forçar o fechamento da embaixada britânica em Moscou.

"Não toleraremos a campanha implacável e inaceitável de intimidação do Kremlin, nem suas tentativas repetidas de ameaçar a segurança do Reino Unido", afirmou o secretário de Relações Exteriores, David Lammy, na rede social X.

Ainda não foi informado um prazo para a saída dos diplomatas expulsos.

Na segunda-feira, 10, o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) afirmou que os dois diplomatas britânicos expulsos haviam fornecido dados pessoais falsos ao solicitar permissão para entrar no país e estavam envolvidos em atividades de inteligência e subversão que ameaçavam a segurança da Rússia. Não foram apresentadas evidências que comprovassem tais alegações.

"O alcance das ações da Rússia só pode ser enfrentado com força", disse o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido. "Este incidente está encerrado, e exigimos que a Rússia faça o mesmo. Qualquer ação adicional por parte da Rússia será considerada uma escalada, e responderemos de acordo."

As expulsões de diplomatas - tanto de enviados ocidentais trabalhando na Rússia quanto de russos no Ocidente - tornaram-se cada vez mais frequentes desde o início da invasão russa à Ucrânia, em 2022.

No entanto, as expulsões entre o Reino Unido e a Rússia são tensas há mais tempo. As relações entre os dois países pioraram drasticamente em março de 2018, quando o ex-agente de inteligência russo Sergei Skripal e sua filha foram envenenados na cidade inglesa de Salisbury, em uma tentativa de assassinato atribuída pelas autoridades britânicas à Moscou, uma acusação que o Kremlin descreveu como absurda.