Congresso repassou R$ 1,9 bi via 'emenda cheque em branco' e quer ampliar prática

Política
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Depois de o governo dividir verbas públicas entre aliados por meio do orçamento secreto, sem critérios mínimos de transparência, parlamentares de vários partidos têm utilizado outra modalidade controversa de repasses - também criada no governo de Jair Bolsonaro - para enviar dinheiro a prefeituras e governos estaduais. Trata-se de uma espécie de "cheque em branco", pelo qual deputados e senadores transferem recursos, desta vez de emendas individuais, sem que os beneficiários justifiquem ou apresentem projeto para mostrar onde o valor será aplicado.

Por esta modalidade, basta a prefeitos e governadores indicarem uma conta bancária para receber o dinheiro. Para analistas, esse tipo de emenda pode aumentar a corrupção e estimular o mau uso do dinheiro público.

Neste ano, 393 parlamentares utilizaram a chamada transferência especial para enviar R$ 1,9 bilhão em emendas a Estados e municípios, de um total de 513 deputados e 81 senadores. No orçamento de 2020, 137 deputados e senadores lançaram mão das transferências para repassar R$ 621 milhões, valor que mais que triplicou neste ano. Os dados foram compilados pelo Instituto Nacional de Orçamento Público (Inop) e repassados ao Estadão/Broadcast.

Apelidadas de "emenda cheque em branco" e de "Pix orçamentário", pela facilidade com que o dinheiro chega aos beneficiários, as transferências especiais foram criadas em 2019, com a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC). Esse tipo de repasse transfere recursos de emenda individual, a qual cada parlamentar tem direito, mas de forma "menos burocrática". A ideia era criar uma maneira mais rápida de fazer as verbas chegarem à ponta, para situações excepcionais. A exceção, no entanto, tem virado regra.

Neste tipo de emenda, o repasse do recurso é feito diretamente para o caixa de governos estaduais e municipais, pulando etapas necessárias para outros tipos de direcionamento de verbas pelos parlamentares, como a verificação técnica de contratos entre prefeitura e governo federal e a prestação de contas para órgãos como Tribunal de Contas da União (TCU) e Caixa Econômica Federal.

A fiscalização cabe a procuradores e tribunais de contas locais, mas há dúvidas sobre a efetividade do pente-fino, já que prefeito e governador não são obrigados a dizer onde gastará a verba. "A transferência especial não tem objeto definido para utilização. É um recurso que simplesmente é depositado na conta do beneficiário (município ou Estado). Não passa por nenhum crivo de análise técnica", disse o diretor do Inop, Renatho Melo.

A modalidade "cheque em branco" não foi a única criada no governo Bolsonaro que permitiu ao Congresso operar bilhões de reais do Orçamento sem transparência. Como revelou o Estadão, políticos passaram a utilizar outra emenda, chamada RP9, de autoria do relator do Orçamento, para direcionar dinheiro público para seus redutos sem que suas digitais aparecessem. Somente do Ministério do Desenvolvimento Regional foram R$ 3 bilhões liberados para um grupo de aliados do governo sem qualquer critério técnico ou transparência. TCU e Supremo Tribunal Federal foram instados a analisar a legalidade dessa operação.

No orçamento de 2021, cada senador e deputado tem cerca de R$ 16 milhões em emendas individuais, que podem ser transferidas para obras e outras ações em suas bases. Metade desse valor tem de ser repassado para a área da Saúde. O restante pode ser enviado por transferências com finalidade definida e, desde o ano passado, pelas transferências especiais (o "cheque em branco").

Etapas

Segundo Melo, a principal diferença é que as transferências tradicionais têm de seguir um processo mais transparente. Nas transferências com finalidade definida, o parlamentar indica o ministério e o programa para o qual o recurso será destinado - por exemplo, Ministério do Desenvolvimento Regional, programa de infraestrutura urbana. Em seguida, o beneficiário - Estado ou prefeitura - tem de apresentar documentos para receber o recurso, o que inclui o objeto do programa em que o dinheiro será utilizado, justificativa e plano de trabalho a ser seguido. "Tem toda uma etapa técnica", disse ele.

Já na transferência especial, o parlamentar indica a cidade ou unidade da Federação que receberá os valores e, então, o prefeito ou o governador apresenta a agência bancária onde será depositado o dinheiro. "O beneficiário não diz para que será aplicado o recurso", afirmou o diretor do Inop. Até agora, os parlamentares já indicaram a transferência de R$ 133,9 milhões para governos estaduais e R$ 1,7 milhão para prefeituras.

Com o atraso na aprovação do Orçamento neste ano, os valores ainda não foram pagos. Já foi empenhado R$ 1,034 bilhão, o que significa que o dinheiro já está "reservado" para a transferência. Os Estados que receberam mais recursos, considerando governos estaduais e municipais, foram Minas, Paraná, São Paulo, Bahia e Ceará. Com as indicações, 2.759 municípios do País serão contemplados com essa modalidade de transferência.

Parlamento quer R$ 12 bi de 'cheque em branco'

O modelo de "emenda cheque em branco" utilizado por deputados e senadores para enviar dinheiro para seus redutos eleitorais sem controle dos órgãos de fiscalização pode ser ampliado pelo Congresso. Atualmente, os políticos utilizam suas emendas individuais para fazer os repasses. Mas há um movimento para que o esquema também possa ser usado com as emendas de bancada.

Os congressistas têm anualmente o direito de indicar o que o governo deve fazer com um determinado valor do Orçamento da União. São as chamadas emendas parlamentares individuais. O dinheiro vai para construção de hospitais, creches, praças, estradas e outras finalidades. Da mesma forma, as bancadas de partidos também dispõe de valores para direcionar. É essa verba que os políticos querem usar no modelo "cheque em branco" também chamado de "Pix orçamentário" por envolver repasse direito para Estados e municípios sem a necessidade de definir para que o dinheiro será usado.

"Será que o preço de melhorar a agilidade e diminuir a burocracia nas transferências da União para Estados e municípios é abrir mão de transparência e controle? Tentar que a saída para a demora seja a criação do 'Pix orçamentário' pode nos custar caro", afirmou o assessor de Orçamento do Congresso Romero Arruda, para quem o modelo abre brecha para corrupção.

Na prática, ampliar o modelo para as bancadas aumentaria ainda mais os valores nos próximos anos. Se a mudança estivesse em vigor, por exemplo, o volume do "cheque em branco" saltaria de R$ 1,99 bilhão para R$ 12 bilhões neste ano.

Modelo 'menos burocrático'

1. Qual a diferença entre o orçamento secreto e o "cheque em branco"?

No orçamento secreto, parlamentares definem o destino de verbas federais por meio das emendas de um relator-geral. Esses pagamentos foram usados pelo governo Bolsonaro para negociar apoio político no Congresso. Já nas emendas "cheque em branco", os recursos repassados são de emendas individuais, aquelas indicadas por deputados e senadores. Neste caso, o dinheiro é livre para o prefeito ou o governador usar em qualquer área.

2. Quando as emendas do "cheque em branco" entraram em vigor?

No fim de 2019, foi aprovada uma PEC que criou as transferências especiais, uma modalidade pela qual deputados e senadores podem enviar recursos para prefeituras e governos estaduais.

3. O "cheque em branco" já foi usado pelo Congresso?

Levantamento aponta que 66% dos parlamentares já usaram o recurso da transferência especial.

4. Como essas transferências funcionavam antes?

Antes, era possível fazer transferência dos recursos das emendas individuais apenas com finalidade definida. Nestes casos, o parlamentar indica o ministério e o programa para o qual o recurso será utilizado. Além de apontar o beneficiário, tem de apresentar documentos para receber o recurso, como justificativa e plano de trabalho.

5. E como funciona com a transferência especial?

Com a nova regra em vigor, o parlamentar precisa indicar apenas a cidade ou unidade da Federação que receberá os valores. Basta o prefeito ou o governador apresentar a agência bancária onde será depositado o dinheiro, sem detalhar a destinação da verba.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Em mais um esforço de sua agenda de deportação em massa, o governo de Donald Trump vai oferecer um auxílio em dinheiro e pagar a viagem de volta para os imigrantes ilegais que deixarem os EUA voluntariamente.

A política, que oferece US$ 1 mil (R$ 5,6 mil) e uma passagem aérea de volta, faz parte da iniciativa do governo para persuadir imigrantes a se deportarem para ajudar o presidente a cumprir suas ambiciosas promessas de imigração.

Autoridades disseram que um imigrante de Honduras já aceitou a oferta e voou de Chicago para seu país de origem. Nas últimas semanas, o governo tem aconselhado cada vez mais imigrantes a deixarem o país antes de serem alvos das autoridades. Também adotou políticas para tornar a vida desconfortável para aqueles sem status legal, como impedir o acesso a serviços financeiros.

O dinheiro oferecido aos imigrantes que partem por conta própria será pago após a confirmação da viagem de volta por meio de um aplicativo lançado pelo governo, chamado CBP Home. Autoridades afirmam que o programa economizará recursos, evitando os gastos de prender, deter e transportar pessoas para fora do país em aviões fretados.

Promessa

"Se você está aqui ilegalmente, a deportação voluntária é a melhor, mais segura e mais econômica maneira de deixar os EUA e evitar ser preso", disse Kristi Noem, secretária de Segurança Interna, em comunicado.

O governo Trump anunciou na semana passada que havia deportado cerca de 140 mil imigrantes desde janeiro. Os números, até o momento, estão muito longe da promessa central de campanha : remover milhões de pessoas que estão ilegalmente nos EUA.

As deportações podem ser custosas e demoradas, visto que as autoridades americanas frequentemente precisam deter migrantes por um longo período, coordenar documentos de viagem e preparar voos fretados para diversos países.

Os retornos voluntários também não exigem negociações extensas entre governos para que um país aceite de volta seus cidadãos, o que pode ser um grande benefício. Há vários países que não aceitam de volta seus próprios cidadãos.

Mais barato

O custo médio para prender, deter e remover um imigrante é de US$ 17.121 (cerca de R$ 96,7 mil), segundo o Departamento de Segurança Interna dos EUA. A agência afirma que a "autodeportação" reduziria os encargos de uma deportação em cerca de 70%.

O governo retrata a deportação voluntária como uma forma de os migrantes preservarem sua capacidade de retornar aos EUA algum dia. No entanto, Aaron Reichlen-Melnick, membro do Conselho Americano de Imigração, que defende os imigrantes, disse que há muitos aspectos com os quais os estrangeiros devem ser cautelosos. Ele explicou que deixar o país sem defender o caso na Justiça significa desistir de pedidos de auxílio e até o de asilo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O gabinete de segurança de Israel aprovou nesta segunda-feira, 5, um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a conquista do território palestino e o deslocamento da população do norte para o sul dele. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que "chegou a hora de lançar as ações finais" contra o Hamas.

No domingo, 4, as forças armadas de Israel já haviam convocado dezenas de milhares de reservistas para ampliar a ofensiva. "A operação será intensificada para derrotar o Hamas e nos ajudar a resgatar os reféns. Não vamos desistir desse esforço, e não vamos abandonar ninguém", afirmou Netanyahu.

O plano de reocupação de Gaza foi aprovado por unanimidade no gabinete de segurança, uma estrutura que inclui Netanyahu e vários ministros. Uma fonte do governo israelense ouvida pela France-Presse confirmou que o plano inclui a ocupação do território palestino.

O plano prevê a ocupação contínua da Faixa de Gaza - até então os soldados de Israel realizavam operações militares e retornavam. Netanyahu não deu prazo para desocupar o território, o que deixa a porta aberta para uma ocupação permanente, um desejo da extrema direita israelense que sustenta a coalizão do primeiro-ministro.

Retomada

Israel vem intensificando os bombardeios aéreos e ampliando as operações terrestres na Faixa de Gaza desde que retomou a ofensiva, em 18 de março, após uma trégua que levou à troca de reféns israelenses por presos palestinos.

O governo aponta a campanha militar como o caminho para forçar o Hamas a libertar os reféns remanescentes, embora quase todos os resgatados com vida já tenham sido recuperados por meio de acordos políticos que provocaram divisão no gabinete.

Em comunicado, o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, organização que defende o retorno dos israelenses presos no cativeiro, afirmou que o anúncio do plano significa o "sacrifício" dos reféns". "O governo reconheceu que escolhe o território em vez dos reféns, ao contrário do desejado por mais de 70% da população", diz o texto.

Comemoração

A extrema direita israelense comemorou a decisão. O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, líder do partido Sionismo Religioso, afirmou que os israelenses deveriam aceitar a palavra "ocupação" de Gaza como algo positivo. "Finalmente vamos ocupar a Faixa de Gaza. Deixaremos de ter medo da palavra 'ocupação'", disse Smotrich ao Canal 12.

David Mencer, porta-voz do governo, descreveu o plano como um esforço para aumentar a pressão sobre o Hamas, libertar os reféns e destruir toda a infraestrutura do grupo. Ele afirmou que a campanha exige a manutenção do território por tempo indeterminado. A intenção, de acordo com ele, não é uma ocupação permanente, um cenário que provocaria protestos internacionais, nem a realocação forçada de palestinos para fora do território, o que poderia ser enquadrado como limpeza étnica.

Autoridades israelenses disseram que a ofensiva começaria lentamente, esperando algum resultado da viagem do presidente dos EUA, Donald Trump, ao Oriente Médio, na semana que vem. Mas, se um acordo não for alcançado, segundo membros do governo de Israel, a operação será intensificada.

Migração

Netanyahu continua apoiando a ideia de retirar a população palestina de Gaza, segundo fontes do governo de Israel, o mesmo plano anunciado por Trump no começou do ano - de transformar o território em uma "Riviera" no Oriente Médio e enviar os civis para países vizinhos, como Egito e Jordânia. Acusado de planejar uma limpeza étnica, o governo tem adotado o termo "migração voluntária".

O gabinete de segurança também determinou que haja distribuição de ajuda humanitária em Gaza, onde os relatos sobre fome generalizada ganham força desde o início do bloqueio israelense, em 2 de março. Apesar da previsão, o governo de Israel afirma que "há comida suficiente" no território, contrariando informações de organizações humanitárias e agências da ONU.

A retenção de ajuda humanitária também poderia ser enquadrada como punição coletiva, o que seria um crime de guerra previsto nas convenções de Genebra. Em caso de ocupação formal do território, o governo israelense poderia ser responsabilizado mais facilmente, por isso a relutância em adotar o termo "ocupação".

O general Eyal Zamir, chefe do Exército, vem resistindo à pressão para assumir a distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Ontem, Trump disse que Israel e os EUA estão prontos para distribuir comida e remédio no território palestino, mas que o Hamas tem tornado a tarefa impossível.

Alertas

Nenhum carregamento de ajuda humanitária entra em Gaza há mais de 60 dias. Mesmo insumos considerados essenciais, como água, comida, medicamentos e combustível foram vetados, sob argumento de que o Hamas desvia os carregamentos e os usa em benefício próprio.

À medida que o fornecimento de água, alimentos e medicamentos diminui, doenças evitáveis aumentam. Grupos de ajuda humanitária alertam que Gaza está "à beira do colapso total". Nos últimos dias, jornalistas e autoridades de saúde palestinas publicaram fotos e vídeos de crianças doentes e esqueléticas.

A ONU afirma que 91% da população já enfrenta "insegurança alimentar", com a maioria permanecendo em níveis de "emergência" ou "catastróficos". Israel garante que o relatório contém "falhas factuais e metodológicas", algumas delas graves. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O líder conservador Friedrich Merz não conseguiu ser eleito o 10º chanceler da Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial na primeira rodada de votação realizada no Parlamento alemão nesta terça-feira, 6. Merz, do partido União Democrata-Cristã (CDU, pela sigla em alemão), recebeu seis votos a menos que o mínimo necessário para se tornar o novo chanceler do país, frustrando expectativas de uma votação bem-sucedida.

Merz precisava de 316 de um total de 630 votos. Ele recebeu apenas 310 votos. Os partidos alemães deverão agora se reagrupar para discutir o próximo passo, mas ainda não há clareza de quanto tempo o processo poderá levar.

A câmara baixa do Parlamento, conhecida como Bundestag, tem 14 dias para eleger um candidato por maioria absoluta. Em caso de novo fracasso, a Constituição permite que o presidente alemão nomeie o candidato que obtiver mais votos para chanceler ou dissolva o Bundestag e convoque uma nova eleição nacional. Fonte: Associated Press.