'Cancelar contas de plataformas é mais eficaz'

Política
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Cerca de seis em cada dez brasileiros usam o WhatsApp e oito em cada dez têm conta no Facebook. Num país com mais de 200 milhões de habitantes, controlar a enxurrada de conteúdo - e de desinformação - será um desafio para as eleições de 2022. Para a professora e pesquisadora Patrícia Rossini, do Departamento de Comunicação e Mídia da Universidade de Liverpool, apenas a checagem do que é publicado nas redes sociais como tática de combate à desinformação não é o suficiente. "Cancelar contas da plataforma, tirar do ar quem espalha desinformação, isso me parece - pelo menos foi nos EUA - bastante eficaz. Todas as pessoas que saíram das plataformas perderam muito o alcance", disse Patrícia, que acompanhou as duas últimas eleições presidenciais americanas e seu comportamento nas redes.

Existem particularidades do Brasil em relação ao consumo e difusão de notícias?

Uma tendência que a gente observa no Brasil é o crescente uso de WhatsApp como fonte de informação. Hoje, no Brasil, Facebook e WhatsApp são usados numa intensidade muito similar para o consumo de notícias, o que é algo bastante particular do Brasil. Eu me pergunto muito o que as pessoas consideram notícia.

Vimos publicações de Donald Trump serem censuradas. É possível uma reação parecida aqui?

Acho que é possível esperar uma reação mais enérgica durante o período eleitoral, em virtude de uma relação preexistente entre o Tribunal Superior Eleitoral e essas empresas. O custo para a democracia, para as instituições e para o próximo processo eleitoral é muito grande. E há o custo de não agir. O custo da inação, em termos de opinião pública, talvez seja mais alto. Ao mesmo tempo, isso não aconteceu ainda fora dos Estados Unidos, uma intervenção mais enérgica das plataformas.

Mas houve alguma mudança a partir da pandemia, não?

Sim. Porque qualquer coisa que você postar que tenha qualquer palavra que eles identifiquem como relacionada à covid, já há alguma informação que te manda o link de órgãos oficiais. Mas, em relação ao discurso político, a tendência dessas plataformas tem sido menos enérgica.

No Twitter, o perfil do deputado Osmar Terra (MDB-RS), por exemplo, divulga desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus e a plataforma faz muito pouco para conter.

De maneira geral, as plataformas são muito pouco eficazes no combate à desinformação, e até mesmo na aplicação das próprias regras de moderação fora da língua inglesa. Não há escala nas plataformas para lidar com o volume de desinformação que circula fora da língua inglesa. O Twitter já entendeu que é melhor você tentar coibir o alcance. Tirar recursos como RT (retuíte), reply (resposta dada a um tuíte), eles já entenderam que isso é possível. Não entendo como isso não é feito de forma mais enérgica com usuários com muitos seguidores. Tenho alguma crença de que o que aconteceu nos EUA serviu como um alerta de que é preciso agir mais rápido e, talvez, de forma preventiva. Mas não sei se isso se transferiria para um pleito eleitoral fora dos EUA.

Isso parece preocupante, se pensarmos no volume de usuários do Facebook e do WhatsApp no Brasil.

Se alguém for atuar de forma mais rígida na eleição, imagino que seja o Facebook. O WhatsApp, sei que eles tentam trabalhar de forma próxima a governos e a órgãos de controle, como TSE, e há uma tentativa de identificar mau uso (da plataforma). A questão do WhatsApp acho que é mais complexa. Enquanto o Facebook poderia, preventivamente, dar informação correta sobre as eleições, mandar para o site do TSE, o WhatsApp não tem acesso a esse conteúdo.

Qual a importância desse posicionamento para as eleições no Brasil?

A gente gostaria de acreditar que é importante que você tenha plataformas com combate à desinformação, direcionando pessoas para fontes de informação que são críveis, relevantes e confiáveis. O problema é: é confiável para quem? Porque você pode mandar para o site do TSE, mas a pessoa precisa confiar no TSE. E se ela não confia?

Como lidar com isso?

Se houver um combate um pouco mais contundente, talvez seja possível. Cancelar contas da plataforma, tirar do ar quem espalha desinformação. Porque isso me parece - pelo menos foi nos EUA - ser bastante eficaz. Todas as pessoas que saíram das plataformas perderam muito o alcance. Tanto é que Trump teve uma tentativa de criar o próprio blog e desistiu porque tinha um alcance muito pequeno. No Brasil, é bastante clara a divisão entre quem confia no governo, no presidente e em seus seguidores, que, de propósito, estão seguindo a cartilha de Trump, colocando questionamento sobre a validade das eleições. Se Osmar Terra sair do Twitter, é possível, sim, que isso tenha um efeito maior. Porque essas pessoas caem no esquecimento se elas saem das plataformas.

Por que apenas a checagem de notícias pode não ser suficiente?

É um assunto problemático. As evidências científicas que nós temos mostram que o que a gente tem sobre eficácia de correção, seja correção por algoritmo, filtro, fact checking, são evidências mistas. Porque elas podem funcionar, mas funcionam para algumas pessoas, não para outras. Tem uma pesquisa que a indiana Sumitra Badrinathan fez, tentando mostrar como identificar desinformação no WhatsApp. Um mês depois, ela foi ver se as pessoas tinham aprendido, se eram capazes de identificar, e nada. Não adiantou absolutamente nada ter passado uma hora com uma série de participantes explicando para eles. O que ela encontrou é que, para a população em geral, os resultados não são nem melhores, nem piores. Mas, para as pessoas pró-governo, piorou. Ao longo do tempo, eles se tornaram menos capazes, após a intervenção, de identificar desinformação. É isso, são remédios que funcionam, mas não funcionam para todo mundo.

Tivemos, recentemente, a suspensão da conta do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), mas a decisão foi revista pelo próprio Facebook, que disse ter havido um "equívoco". Falta transparência nas decisões por parte das plataformas?

Sem dúvida. Elas parecem, na maior parte do tempo, arbitrárias. Todas essas empresas, Facebook, Twitter, tendem a ser muito resistentes a agir contra conteúdo político de desinformação. Porque elas não querem ser acusadas de ser enviesadas. Eles sabem que, ao suspender ou banir Eduardo, vai dar muito problema.

Qual o seu maior receio para 2022?

O que me preocupa mais, no caso brasileiro, é para onde os usuários vão. Twitter, Facebook e WhatsApp estão sob escrutínio há algum tempo e, portanto, estão um pouco mais preparadas para lidar com demandas da Justiça Eleitoral. E nisso há a migração para o Telegram. No Telegram, vale tudo. São grupos de até 200 mil pessoas, um número absurdo. Preocupam essas outras plataformas, que poderiam se tornar perigosas nas eleições.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."