'Laços' da Abin com CNJ e Conselhão do MP ameaçam garantias constitucionais

Política
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Advogados consideram que a aproximação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a setores estratégicos do Ministério Público e do Judiciário, como o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deve ser vista com cautela. Em audiência pública na Câmara dos Deputados no último dia 7, o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, comentou sobre tal movimento.

"O Ministério Público tem se aproximado muito de nós, em instância de Ministério Público Estadual principalmente e ainda o CNMP. O Judiciário tem se aproximado muito por resoluções do CNJ que desencadeiam a necessidade de núcleos de inteligência nos tribunais. Principalmente o que nós desejamos é trazer ao Congresso Nacional, conjunturas, trabalhos, customização, do que a inteligência pode fazer e proporcionar aos atos negociais de nossa vida cotidiana profissional que sempre demandam atuação e conhecimento geral e interdisciplinar", afirmou Ramagem, aliado da família Bolsonaro, na ocasião.

O advogado Saulo Stefanone Ale, especialista em Direito Constitucional e Internacional do Peixoto & Cury Advogados, critica esse tipo de estreitamento de laços. Em sua avaliação, o papel da Abin é obter e analisar dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o presidente da República, avaliar ameaças internas e externas à ordem constitucional e, ainda, proteger conhecimentos sensíveis relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade.

"A Abin não é um órgão investido de funções de polícia judiciária ou encarregado constitucionalmente de apurar infrações penais. A atuação da Abin em funções típicas da polícia judiciária, ainda que a pretexto de cooperar tecnicamente, precisa ser avaliada com cautela e aprofundada discussão. Se por um lado esse arranjo pode colaborar para a eficiência dos processos investigatórios, por outro pode conduzir ao fortalecimento de um Estado policialesco, colocando em risco garantias e liberdades constitucionais", analisa.

Na mesma linha, Cecilia Mello, sócia do Cecilia Mello Advogados e que atuou por 14 anos como juíza federal no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, entende que apesar de a atuação da Abin junto ao Ministério Público e ao Poder Judiciário estar, em tese, respaldada pela legislação, 'o momento não é oportuno para esse intercâmbio de conhecimento e atividades'.

Segundo a advogada, é certo que os serviços de inteligência institucionalizados e legítimos são essenciais para a garantia da segurança e promoção do interesse, mas pode haver, nesse contexto de acesso a informações intercambiadas, interesses 'bastante conflitantes'.

"A partir do momento que a Abin passa a ter acesso a informações sigilosas, de natureza investigativa e de competência privativa do Ministério Público, ou mesmo de informações privadas do Poder Judiciário ou de seus membros, alicerces essenciais dos direitos e garantias constitucionais podem estar sendo colocados em risco, especialmente porque as instituições democráticas passaram a ser frequente e publicamente vulnerabilizadas", avalia.

De acordo com Cecília, um confronto de interesses e direitos pode vir a permear essas relações, ainda que repletas de bons objetivos, dificultando o controle democrático no âmbito do Estado. "Um cenário que corre o risco de mesclar informações privativas de instituições e Poderes distintos pode desaguar em séria insegurança informacional, contaminando processos investigativos, decisórios e ações governamentais", ressalta.

Já o criminalista Daniel Bialski, mestre em Processo Penal pela PUC-SP e membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCrim, sócio de Bialski Advogados, considera que 'não há irregularidade ou ilicitude em eventual compartilhamento de inteligência e na estratégia de investigações ou ações que envolvam a Polícia, o Ministério Público e até a Agência de Segurança Nacional'.

"Dentro desta perspectiva, havendo uma regulamentação que permita este tipo de cooperação, não existe eventual contaminação da prova da participação de terceiras pessoas que não as que, constitucionalmente, estariam diretamente ligadas à apuração dos fatos. Isso é um sintoma da modernidade. É também um sintoma dos tempos que estamos vivendo, já que de todas as formas a integração entre os diversos organismos é necessária, principalmente, para que se apure o que está acontecendo e que não se cometam injustiças ou arbitrariedades", registra.

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A Suprema Corte de Wisconsin suspendeu, nesta terça-feira, 29, a juíza de Milwaukee, que chegou a ser detida pelo FBI, acusada de obstruir os esforços para a prisão de um imigrante mexicano.

A Corte proibiu Hannah Dugan de exercer suas funções e poderes judiciais temporariamente. Nenhum dos integrantes da Suprema Corte do Estado - onde os progressistas têm maioria de 4 a 3 - manifestou discordância.

A decisão não assinada de duas páginas afirma que o tribunal agiu "para manter a confiança do público no Judiciário do Estado". A ordem permanecerá em vigor até que a Corte se pronuncie novamente.

Em nota, a defesa de Hannah Dugan disse estar decepcionada com a suspensão unilateral. "Continuamos a afirmar a inocência da juíza Dugan e aguardamos sua absolvição em tribunal", disseram os advogados.

A juíza foi detida pelo FBI na sexta-feira e acusada pelo Departamento de Justiça de obstruir a operação para prisão de um imigrante venezuelano. Ela teria orientado Eduardo Flores Ruiz, que estava em sua sala de audiências, a sair pela porta lateral após saber que agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA (ICE) estavam no tribunal e buscavam prendê-lo.

O imigrante foi detido logo em seguida.

A acusação apresentada pelo Departamento de Justiça contra Hannah Dugan indica que os agentes do ICE não apresentaram mandado de prisão para Eduardo Flores Ruiz. Ela então recomendou que procurassem o chefe do tribunal e, nesse meio tempo, dispensou o imigrante procurado.

O diretor do FBI, Kash Patel, acusou Hannah de "intencionalmente desviar" agentes federais que chegaram ao tribunal para prender o imigrante. Ela foi liberada logo após a acusação do Departamento de Justiça e responde em liberdade.

O processo contra Hannah Dugan ocorre no momento em que o governo Donald Trump pressiona os promotores a investigar e, potencialmente, indiciar as autoridades que impeçam ações para reprimir a imigração.

A Casa Branca entrou em embate com juízes que bloquearam seus esforços e desafiou decisões contrárias aos planos de deportação. No discurso em que celebrou os 100 dias de governo, Donald Trump se voltou contra juízes, que chamou de "comunistas" e "radicais de esquerda".

"Os juízes estão tentando tirar o poder dado ao presidente para manter o nosso país seguro", disse Trump a apoiadores no Michigan nesta terça-feira (29). Com agências internacionais.

O presidente dos EUA, Donald Trump, marcou nesta terça-feira, 29, os primeiros 100 dias de seu governo com um comício em Warren, no Estado de Michigan. O roteiro do discurso incluiu os melhores hits da campanha: ataques a juízes e oponentes, defesa dos poderes presidenciais e dos cortes de funcionários federais, eliminando o que ele chama de "burocratas incompetentes e desnecessários do estado profundo", além de se colocar como vítima da esquerda radical.

Durante mais de duas horas, Trump retomou uma linguagem incendiária para atacar os juízes federais que bloquearam seus decretos, considerando-os ilegais ou inconstitucionais. Após chamá-los de "comunistas", ele reclamou que os magistrados "estão tentando tirar os poderes presidenciais".

Outra coisa que não faltou na noite de ontem foram as distorções e desinformações. Trump disse que o preço dos ovos havia caído 87% e os da gasolina estavam abaixo de US$ 2 por galão em três Estados. Nenhuma das afirmações é verdadeira. Segundo o New York Times, o preço médio dos ovos no atacado caiu cerca de 50% desde a posse, mas o preço dos ovos no varejo subiu de US$ 4,95, em janeiro, para US$ 6,23 em março. Em nenhum Estado americano o preço médio da gasolina por galão está abaixo de US$ 2, de acordo com a AAA, que monitora o setor.

Imigração

O presidente americano aproveitou também para pintar os migrantes como "monstros" e criminosos violentos, exibindo vídeos que mostravam com orgulho a repressão à imigração. "Assinei a Lei Laken Riley (que facilita a deportação de imigrantes sem julgamento). Nas últimas semanas, os agentes prenderam milhares de estupradores, assassinos, sequestradores, traficantes de drogas e ladrões", disse.

Trump destacou ainda o acordo com o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, que possibilitou o envio de imigrantes para uma prisão de segurança máxima em El Salvador. E exibiu o vídeo que mostra um suposto integrante de gangue sendo deportado para o país da América Central, sob gritos e aplausos da multidão de apoiadores. "O Partido Democrata radical está correndo em defesa de alguns dos selvagens mais violentos da face da Terra", disse.

Ele aproveitou o discurso para reforçar o apoio ao secretário da Defesa americano, Pete Hegseth, pressionado a deixar o cargo após divulgar planos militares em grupos no aplicativo de mensagem Signal. Um deles incluiu por engano o editor-chefe da revista The Atlantic. O outro tinha sua mulher, seu irmão e o advogado pessoal do chefe do Pentágono.

"Tenho confiança nele. As notícias falsas o perseguem, mas ele é durão. Eles não sabem o quanto ele é duro", disse Trump, que tem se recusado a demitir o ex-apresentador da Fox e atribuído o escândalo a delatores insatisfeitos com as mudanças no Pentágono.

Decretos

O jornal Washington Post publicou ontem reportagem afirmando que funcionários do Departamento de Justiça estão discutindo maneiras de remover acampamentos de moradores de rua e aumentar hospitalizações involuntárias de pessoas com doenças mentais.

Membros do alto escalão do Departamento de Justiça enviaram a funcionários do Escritório de Programas de Justiça um e-mail com oito perguntas sobre o tema. "O que o Departamento de Justiça pode fazer para transferir com mais eficiência os moradores de rua do espaço público para um lugar mais concentrado, para que a ordem possa ser restaurada e os recursos e serviços possam ser implantados de forma mais eficaz?", dizia uma das perguntas.

Trump tem criticado moradores de rua e doentes mentais que vivem em vias públicas. O governo começou a desmontar políticas que priorizam a colocação de pessoas em moradias antes de tentar encaminhá-las para serviços de saúde mental ou tratamentos de dependência química. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Dois dos dissidentes cubanos soltos em liberdade condicional em janeiro, sob um benefício concedido a mais de 500 prisioneiros como um gesto ao papa Francisco, foram presos novamente nesta terça, 29. Um comunicado do Supremo Tribunal Popular anunciou que as liberdades de Félix Navarro Rodríguez, de 72 anos, e José Daniel Ferrer, de 54, um histórico líder opositor, foram revogadas sob a alegação de que ambos não cumpriram as condições impostas.

Eles estavam em liberdade condicional desde janeiro, como parte de um acordo entre Cuba e o Vaticano, após a decisão do então presidente dos EUA, Joe Biden, de retirar a ilha da lista de países patrocinadores do terrorismo. Ao retornar à Casa Branca, Donald Trump voltou a incluir Cuba na lista.

Ao reagir ontem à revogação da liberdade condicional de ambos, o Departamento de Estado dos EUA condenou o "tratamento brutal e a detenção injusta de patriotas cubanos". "Pedimos a libertação imediata das centenas de presos políticos e de consciência detidos injustamente", disse a porta-voz Tammy Bruce.

Navarro foi condenado a 9 anos de prisão, em 2021, por desordem pública, desacato e agressão, e foi libertado em 18 de janeiro. Segundo o tribunal da cidade de Perico, na Província de Matanzas - a 200 quilômetros da capital -, ele saiu do município sete vezes sem autorização do juiz.

No caso de Ferrer, sua fiança foi revogada por ele não comparecer ao tribunal em diversas datas em que foi intimado. Ferrer cumpria uma pena de 4 anos e 6 meses, determinada em 2020, por agressão a outra pessoa. A sentença inicialmente não envolvia confinamento prisional, mas um tribunal ordenou sua reintegração em 2021.

Em 16 de janeiro, ele foi libertado pelo tribunal municipal de Santiago de Cuba - a cerca de 800 quilômetros de Havana -, mas não compareceu perante o juiz, conforme as instruções, diz o comunicado.

Manifestações

Tanto Navarro quanto Ferrer têm uma longa história de oposição política. As tentativas da agência Associated Press de contatá-los não tiveram sucesso. O Conselho para a Transição Democrática, um grupo de várias organizações de oposição, afirmou que uma "operação violenta" ocorreu ontem na sede da União Patriótica de Cuba, liderada por Ferrer, que o dissidente foi preso com outras três pessoas. O conselho também confirmou a prisão de Navarro em sua casa na cidade de Perico.

No início de janeiro, o próprio presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, divulgou uma carta ao papa Francisco na qual relatou a libertação gradual de 553 cidadãos por razões humanitárias, como um gesto para o ano jubilar - um momento de reconciliação na tradição católica.

A maioria dos 200 presos políticos registrados pelas ONGs está ligada às manifestações de julho de 2021, quando milhares foram às ruas para protestar contra as más condições de vida e a escassez de suprimentos, algumas exigindo mudanças no governo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.