Flávio Bolsonaro e ex-sócio receberam R$ 1,4 mi de chocolataria antes de venderem o ponto

Política
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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e seu antigo sócio Alexandre Ferreira Dias Santini receberam R$ 1,49 milhão da chocolataria que possuíam juntos em um shopping na Barra da Tijuca (RJ) nos últimos seis meses antes de o ponto ser vendido. A empresa transferiu R$ 909 mil para o filho do ex-presidente e R$ 585 mil para o empresário entre os meses de outubro de 2020 e março de 2021.

Essas informações constam no processo que Santini propôs contra o senador. Ele diz que Flávio deveria lhe pagar R$ 1,47 milhão por dois motivos. Segundo o empresário, os lucros eram divididos de forma desigual e ele teria pagado do próprio bolso despesas da loja que não foram ressarcidas. O senador diz que seu ex-sócio tenta forçá-lo a pagar uma dívida que não existe.

Uma delas, por exemplo, se refere a pagamentos feitos à Nogueira Materiais de Construção, que totalizam R$ 65 mil. A empresa, que fica em São Gonçalo, a 65 quilômetros da capital fluminense, teria fornecido materiais para a reforma da chocolataria.

O senador nega a existência de qualquer dívida e diz que o ex-sócio está usando "subterfúgios paralelos" ao lhe expor publicamente, porque sabe "não ter direito algum". Flávio afirma que Santini geria o estabelecimento sozinho e tomava decisões sem o seu aval.

O filho do ex-presidente também disse que está ingressando com uma ação de prestação de contas contra o antigo sócio. Alexandre Santini também foi procurado pelo Estadão, mas não respondeu às mensagens nem retornou as ligações da reportagem.

Quando o Ministério Público do Rio investigou Flávio pela prática de "rachadinhas" no seu gabinete - prática na qual parte dos salários dos assessores volta ao parlamentar que os emprega -, a chocolataria foi apontada como um canal para lavagem de dinheiro. Na época, o MP chegou a suspeitar que R$ 2,1 milhões teriam sido lavados no estabelecimento.

Os holofotes recaíram sobre a chocolataria porque o grupo CRM, que administra as lojas da Kopenhagen, franquia à qual a loja do senador era filiada, descobriu que os produtos eram vendidos abaixo do preço tabelado (o que é proibido pelas normas da marca), mas as notas fiscais eram lançadas com o valor cheio.

Santini e Flávio foram investigados pelo MP do Rio por causa da loja de chocolates e pelo esquema de "rachadinhas". O empresário conseguiu se blindar. Em janeiro de 2020, ingressou com um habeas corpus que trancou o inquérito apenas em relação a ele.

O senador chegou a ser denunciado e ir para o banco dos réus. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou todas as provas do inquérito das "rachadinhas". Consequentemente, o processo criminal foi desmontado. O caso permanece em aberto e recebeu novas provas, vindas da investigação de fraude nos vacinações de Jair Bolsonaro (PL) e sua filha mais nova, Laura.

Abertura e fechamento da chocolataria

A chocolataria de Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini, que tinha como razão social o nome "Bolsotini", uma junção do sobrenome dos dois, foi encerrada no começo de 2021. Em fevereiro, eles venderam o fundo de comércio e, em março, deram baixa no CNPJ. Para isso, é preciso quitar todas as dívidas da empresa. As últimas transações que o empresário apresenta no processo contra Flávio são dessa época.

A empresa existiu por seis anos. No dia 7 de janeiro de 2015, quando Flávio ainda era deputado estadual pelo Rio, a chocolataria foi aberta com um aporte de R$ 800 mil - apesar de o capital social declarado ser um quarto disso, no valor de R$ 200 mil.

Santini diz que entrou com R$ 400 mil, enquanto a esposa de Flávio pôs R$ 350 mil na empresa. O filho do ex-presidente, inicialmente, contribuiu com R$ 50 mil. Na ação, o empresário afirma que, depois disso, Flávio colocou mais R$ 200 mil na loja, pagos em espécie. Os dois tinham, cada um, 50% das cotas sociais da chocolataria.

Leia a íntegra da nota do senador Flávio Bolsonaro

Procurado, o senador enviou a seguinte nota ao Estadão nesta sexta-feira, 10:

Me causa estranheza o caminho de usar a mídia para cobrar uma suposta dívida. Passa a impressão de que, sabendo não ter direito algum, precisa buscar subterfúgios paralelos, pressionando uma pessoa publicamente exposta para obter vantagens ilicitamente. Não fosse eu senador da República e filho do presidente Bolsonaro, isso não estaria sendo usado pelo meu ex-sócio, nem estaria despertando o interesse do leitor.

Sobre a extinta sociedade, em que eu era apenas cotista, não existe qualquer dívida com meu ex-sócio. Ele sempre foi o administrador da empresa, tomava decisões por conta própria e sem o meu consentimento. Não acredito que ele tenha cometido nenhuma irregularidade na gestão, contudo, eu mesmo tomei a cautela de ingressar com ação de prestação de contas para que ele tenha a oportunidade de comprovar o que está alegando e tudo fique mais transparente.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."