Em país sério governo teria caído, diz presidente do Novo sobre Comando Vermelho em ministérios

Política
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O presidente nacional do partido Novo, Eduardo Ribeiro, manifestou nesta quarta-feira, 15, incredulidade com a permanência dos ministros da Justiça, Flávio Dino (PSB), e dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, em seus cargos, após o Estadão revelar que uma integrante do Comando Vermelho foi recebida no Palácio da Justiça, em Brasília, duas vezes neste ano. Ele ainda destacou que, "em qualquer país sério, o governo inteiro já teria caído". As críticas de Ribeiro somam-se a um movimento de parlamentares que pedem o impeachment de Dino. O governo tem respondido enfatizando que não tinha como saber da presença da 'dama do tráfico' nas reuniões e enfatizado que o ministro não participou dos encontros.

"Vimos as notícias sobre a recepção de uma líder do tráfico ser recebida de braços abertos pelo Ministério da Justiça. E como se não bastasse, ela mesma revelou ontem que o custeio de passagens foi pago pelo Ministério dos Direitos Humanos. Ou seja, estamos caminhando a passos largos para nos transformarmos em um narcoestado nesse governo do PT. É inaceitável que o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, ainda continue no cargo. Assim como é inaceitável que o ministro da Justiça, Flávio Dino, ainda continue no cargo", disse Ribeiro ao Estadão.

"Em qualquer país sério, o governo inteiro já teria caído, mas mesmo para os padrões brasileiros é inacreditável que eles ainda estejam no cargo. Se Flávio Dino e Silvio Almeida não caírem, será a prova cabal de que vivemos sob o regime de um narcoestado", completou. Já a líder da bancada do Novo na Câmara dos Deputados, Adriana Ventura (SP), classificou o episódio como "absurdo", destacando que parlamentares de esquerda, como os deputados Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Daiana Santos (PC do B-RS), pousaram para fotos ao lado de Luciane Barbosa Farias, conhecida como "dama do tráfico amazonense".

Conforme mostrou o Estadão, Luciane teve reuniões dentro do Ministério da Justiça com dois secretários e dois diretores da Pasta num período de três meses. Ela conversou com Elias Vaz, secretário de Assuntos Legislativos do ministério; Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen); Paula Cristina da Silva Godoy, da Ouvidoria Nacional de Serviços Penais (Onasp); e Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária. O nome de Luciane não consta nas agendas oficiais das autoridades.

Condenada a dez anos de prisão por lavagem de dinheiro, organização criminosa e associação para o tráfico, Luciane é acusada de ser o braço financeiro do Comando Vermelho em Manaus, responsável por lavar o dinheiro do tráfico. Ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, um dos líderes da facção no Estado. Luciane declarou em nota que não é "faccionada" com qualquer organização criminosa e que está sendo vítima de criminalização devido ao fato de ser esposa de um detento. Entretanto, para a desembargadora que assinou a condenação, Vânia Marques Marinho, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), não há dúvidas sobre a participação de Luciane no Comando Vermelho.

O Ministério da Justiça, por sua vez, reconhece que Luciane foi recebida por secretários do ministro Flávio Dino. No entanto, alega que ela fazia parte de uma comitiva e que era "impossível" para o setor de inteligência detectar antecipadamente a sua presença. Nesse contexto, o secretário Elias Vaz assumiu publicamente a responsabilidade pelo encontro realizado com a "dama do tráfico". "Se teve algum erro, esse erro foi de minha parte por não ter feito uma verificação mais profunda das pessoas que eu iria receber", disse Vaz nesta segunda-feira, 13, em coletiva na sede da Pasta.

Já Dino afirmou em publicação em rede social que nunca recebeu qualquer líder de facção criminosa, ou esposa, em seu gabinete. O ministro também alegou que não tinha conhecimento dos encontros entre Luciane e seus assessores. "De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que não se realizou", escreveu.

Desde abril de 2022, Luciane se apresenta como presidente da Associação Liberdade do Amazonas (ILA). Segundo o site da ONG, a entidade atua em favor dos direitos humanos e fundamentais de presos e de familiares de presos. Para a Polícia Civil do Amazonas, contudo, a organização é financiada pelo Comando Vermelho e trabalha para os interesses da facção.

O Estadão também revelou que o Ministério da Justiça avançou em solicitações da ONG discutidas durante uma reunião. Anteriormente, o ministério havia assegurado que não houve nenhum desenvolvimento adicional no assunto após o encontro entre o titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais, Rafael Velasco, e a "dama do tráfico amazonense".

Agora, a Senappen admite que a demanda da entidade "seguiu os trâmites habituais" e que, ao dar continuidade ao caso, consultou a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para responder a questionamentos levantados pela entidade amazonense que recebeu pagamento da facção, conforme revelado pelo Estadão com base em recibos obtidos pela Polícia Civil.

Lula ignora presença de Comando Vermelho no Ministério da Justiça

Nesta quarta-feira, 15, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu em defesa de Dino. O petista condenou as fake news que têm sido divulgadas para dizer o ministro recebeu a representante da facção criminosa. Conforme mostrou o Estadão, quem recebeu a integrante do Comando Vermelho não foi Dino, e sim quatro de seus assessores. Sobre a presença do Comando Vermelho no ministério, porém, Lula não fez sequer um comentário, limitando-se a defender as ações de Dino contra o "armamentismo selvagem" e "crime organizado".

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."