Genoino, que defendeu boicote contra 'empresas de judeus', teve pena extinta no mensalão

Política
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Defensor de um boicote a "empresas de judeus", o ex-deputado federal José Genoino é professor, foi presidente do PT durante o escândalo do mensalão (2003-2005) e também um dos condenados e presos no processo. Genoino é irmão do deputado federal José Guimarães (PT-CE), atual líder do Governo Lula na Câmara. O deputado estadual Guto Zacarias (MBL), apresentou uma notícia-crime ao MPF contra Genoino, acusando-o de racismo. Procurado para falar sobre a declaração, Genoino não se manifestou

Em uma live neste sábado, 20, Genoino declarou achar interessante "a ideia de boicote" a "determinadas empresas de judeus" e a "empresas vinculadas ao estado de Israel". O ex-parlamentar se pronunciou após outro participante da transmissão, Prof. Viaro, dizer que havia comentários nas redes sociais de pessoas que deixariam de comprar na Magazine Luiza. A empresária Luiza Trajano, dona da empresa, apoiou um abaixo-assinado que pedia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desistir de apoiar uma ação da África do Sul contra Israel por genocídio.

José Genoino nasceu na cidade de Quixeramobim (CE). A biografia do ex-deputado na Câmara registra que ele é professor, fez cursos de Filosofia e de Direito e exerceu sete mandatos como deputado federal em períodos entre 1983 e 2013 - quando renunciou ao mandato. Na Casa, atuou em diferentes funções como líder do PT e vice-líder do governo.

O ex-deputado é um nome histórico do PT. Embora não tenha cargos na cúpula do partido atualmente, é uma voz ouvida pela sigla e tem ascendência sobre a militância. O ex-deputado foi condenado a 4 anos e 8 meses de prisão, por corrupção ativa, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, em 2012 e, desde então, não disputou eleições e afastou-se da vida pública. O escândalo de compra de apoio parlamentar ocorreu no primeiro governo Lula.

Genoino sempre negou o crime. O ex-deputado foi preso em novembro de 2013 e cumpriu pouco mais de um ano da pena em regime fechado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Por razões de saúde e por progressão de regime, passou por prisão aberta e domiciliar até obter perdão judicial. Em 2015, a pena foi extinta pelo STF, após o indulto concedido pela então presidente Dilma Rousseff (PT).

Em maio deste ano, o ministro do Supremo Dias Toffoli disse ter votado pela condenação de Genoino no mensalão, mesmo sem acreditar que o ex-deputado fosse culpado. "Todos nós que conhecemos o José Genoino sabemos que ele não tinha ideia do que estava se passando. Completamente ingênuo e inocente em tudo o que aconteceu", afirmou Toffoli. "Todavia, ele havia assinado o contrato de financiamento (empréstimo no Banco de Minas Gerais - BMG). Portanto, acabei por optar em votar pela condenação."

Nos últimos anos, Genoino tem participado de transmissões ao vivo em canais ligados à esquerda, como entrevistado ou como comentarista. O ex-deputado já debateu assuntos do governo Lula, o papel das Forças Armadas e os 50 anos da Guerrilha do Araguaia, por exemplo.

O ex-presidente do PT é autor do livro Constituinte - Avanços, Heranças e Crises Institucionais, um resgate histórico da elaboração da Constituição brasileira. Em outubro do ano passado, Genoino foi um dos parlamentares constituintes convidados para o seminário "Os 35 anos da Constituição de 1988", na Câmara dos Deputados.

"Agora está fazendo 10 anos que é a primeira vez que eu uso um equipamento da Câmara dos Deputados. Eu saía daqui num ambiente cinzento, marcado pela intolerância, pela injustiça, com a criminalização da política", afirmou Genoino. "Eu volto hoje para lembrar a Constituição de 88."

Em dezembro, durante a Conferência Eleitoral do PT, em Brasília, Genoino cobrou uma plataforma clara dos projetos do Palácio do Planalto. Também criticou a aliança dos correligionários com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e saiu em defesa da polarização que marca o PT.

"Está faltando uma plataforma clara para dizermos 'Lula, estamos contigo, mas...', ou 'Lula, estamos contigo para tal e tal'. Tem que ser assim. Temos que criticar o governo. O governo é uma instância, o partido é outra. Não podem se misturar", avaliou o ex-dirigente partidário. Nessa dualidade, seu lado ficou claro: "Estou sem cargo e sem voto, e não quero nem voto nem cargo".

O que José Genoino disse sobre as 'empresas de judeus'

Genoino falava em live no canal DCM TV, no YouTube. Um comentarista afirmou estar decepcionado com Luiza Trajano. A empresária apoiou um abaixo-assinado que pedia que Lula reconsiderasse o apoio à África do Sul na acusação de genocídio contra Israel. Mais de 17 mil pessoas assinaram o manifesto, que chama a acusação sul-africana de infundada e pede uma abordagem "justa e equilibrada" do governo brasileiro.

Em seguida, outro participante da live, Prof. Viaro, diz que há comentários nas redes sociais de pessoas que deixariam de comprar na Magazine Luiza. Genoino, então, comenta que acha "interessante" a ideia de boicote a certas empresas.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou "veementemente" a fala, que classificou como antissemita. "O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto", afirmou a entidade. "A Conib mais uma vez apela às lideranças políticas brasileiras que atuem com moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio pois suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país".

A fala de Genoino pode ser vista na live compartilhada pelo perfil do DCM Online no X, antigo Twitter. O vídeo tem mais de três horas. O trecho em que o petista fala sobre boicote a "empresas de judeus" começa a partir de 1 hora, 34 minutos e 40 segundos.

"Acho interessante essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos que ferem interesses econômicos, é uma forma interessante. Inclusive tem esse boicote em relação a determinadas empresas de judeus", disse, e em seguida acrescentou: "Há, por exemplo, boicote a empresas vinculadas ao Estado de Israel. Inclusive, acho que o Brasil deveria cortar as relações comerciais, na área da segurança e na área militar com o Estado de Israel." Procurado pelo Estadão, José Genoino não quis se manifestar sobre a própria fala.

Em nota, a Conib repudiou "veementemente" a declaração do ex-deputado, a qual se referiu como "uma fala antissemita". "O antissemitismo é crime no Brasil. O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto", afirmou a Confederação Israelita.

"A Conib mais uma vez apela às lideranças políticas brasileiras que atuem com moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio pois suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país."

A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) também reagiu à declaração de Genoíno. Segundo a entidade, trata-se de uma fala "criminosa" e que "remete à filosofia de Adolf Hitler". "O boicote a judeus foi a primeira ação coordenada do regime nazista contra os judeus na Alemanha", apontou.

"Constantemente, figuras importantes do Partido dos Trabalhadores e que exercem influência no governo federal se utilizam dos mesmos discursos que flertam com o nazismo e o fascismo e que foram condenados pelo próprio PT há pouco tempo."

A entidade destacou que há cerca de 450 empresas nas relações comerciais entre Brasil e Israel, "com contratos de longo prazo, trabalhando, colaborando e ativamente investindo no setor de Tecnologia e Inovação, fundamentais para o desenvolvimento do Brasil". "Ao evidenciar a origem judaica de empresas e pedir seu boicote, Genoíno revela a sua covardia e o seu viés antissemita", afirmou a federação.

"O que nos preocupa ainda mais é o silêncio dos dirigentes do partido que o acolhe. Líderes que se dizem defensores da democracia não podem concordar com mais este ataque, que busca atingir pessoas apenas pelo fato de serem judeus ou judias. O antissemitismo merece total reprovação. Esperamos, mais uma vez, a retratação e principalmente o repúdio das pessoas de bem que defendem os valores da paz e da democracia."

Também em nota, a Câmara Brasil - Israel (Bril-Chamber) afirmou que a declaração de Genoíno é antissemita e "deve ser repudiada por todos". Segundo a Câmara, a fala "é também contrária aos interesses do Brasil e da população brasileira".

"Trata-se de dois países democráticos, independentes, com benefícios comerciais recíprocos. O comércio bilateral entre Brasil e Israel tem crescido de forma exponencial nos últimos anos, com claros benefícios aos dois países, tendo esta relação triplicada a balança comercial nos últimos 3 anos", apontou a entidade.

"Produtos e empresas israelenses têm papel fundamental em vários ramos da economia brasileira, como saúde, agricultura, irrigação, tecnologia, segurança, vinculando sim de forma positiva as respectivas empresas brasileiras e israelenses. Advogar pela interrupção dessa corrente comercial é defender o atraso tecnológico e comercial do Brasil em atividades essenciais de nossa economia e é também contra o bem estar de nossa população."

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O governo Donald Trump informou que a Universidade de Harvard não poderá receber novos subsídios federais para a pesquisa até cumprir com as exigências, que colocaram a universidade mais rica e prestigiada o país em rota de colisão com a Casa Branca.

O bloqueio foi comunicado em carta enviada pelo Departamento de Educação ao reitor da universidade e confirmado em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 5. O representante do departamento disse à imprensa que Harvard não receberá novos subsídios federais até que "demonstre uma gestão responsável da universidade" e atenda às exigências do governo.

A Casa Branca já havia congelado US$ 2,2 bilhões em subsídios federais destinados à universidade. Em outra frente, Trump pressiona para que Harvard perca o seu status de isenção fiscal enquanto tenta forçar a instituição de ensino a atender suas demandas.

A carta foi a primeira resposta significativa do governo desde que Harvard entrou com ação judicial na tentativa de impedir o corte bilionário de verbas. "Esta carta é para informá-lo de que Harvard não deve mais buscar subsídios do governo federal, pois nenhum será fornecido", escreveu a secretária da Educação Linda McMahon ao reitor Alan Garber.

O documento estipula que Harvard deve abordar preocupações relacionadas ao antissemitismo no campus; revisar políticas raciais; e responder a queixas de que teria abandonado a busca pela "excelência acadêmica" ao empregar relativamente poucos professores conservadores, segundo a visão do governo.

Representantes de Harvard não responderam imediatamente ao pedido de comentário.

A ameaça sugere que o governo pode estar alterando ou reforçando suas táticas contra as universidades. Inicialmente, a Casa Branca havia retirado subsídios existentes - medida drástica, mas que deixa margem para contestações na Justiça, como no caso de Harvard.

Representantes do setor em todo país tem expressado de forma reservada preocupações com uma campanha mais ordenada de pressão sobre as universidades, que seria mais difícil de reverter nos tribunais.

O embate com Harvard começou quando o governo Donald Trump enviou, no mês passado, um série de exigências à universidade. A lista incluía a obrigatoriedade de relatar ao governo federal quaisquer estudantes internacionais acusados de má conduta e a nomeação de um supervisor externo para garantir que os departamentos acadêmicos fossem "diversos em termos de pontos de vista".

A universidade se negou a cumprir as demandas da Casa Branca e denunciou uma tentativa de interferir na liberdade acadêmica. Na ação judicial, Harvard acusou o governo Donald Trump de tentar exercer um "controle inédito e indevido".

No ano fiscal de 2024, os recursos federais para pesquisa representaram cerca de 11% do orçamento de Harvard - aproximadamente US$ 687 milhões. Embora o fundo patrimonial da universidade ultrapasse os US$ 53 bilhões, grande parte desse valor é restrito, o que limita como a instituição pode utilizá-lo.

O congelamento duradouro dos novos subsídios poderia causar um caos financeiro para Harvard, que já está elaborando planos de contingência e buscando captar recursos no mercado de títulos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

A primeira-ministra da província canadense de Alberta, Danielle Smith, disse que realizará um referendo no próximo ano que poderá incluir uma votação sobre a separação do Canadá.

Smith afirmou que não apoia a separação no site do governo da província e em sua página no Facebook, mas acrescentou que, caso os cidadãos de Alberta reúnam as assinaturas necessárias, uma pergunta sobre a separação poderá fazer parte da votação de 2026. "Nosso governo respeitará o processo democrático", enfatizou ela.

Seus comentários são a mais recente investida da província produtora de petróleo e gás depois que os liberais federais conquistaram um quarto mandato na eleição de 28 de abril. Smith, os líderes empresariais e os cidadãos de Alberta estão profundamente frustrados com a política ambiental da última década, que, segundo eles, prejudicou as perspectivas econômicas da província. As medidas incluem a proibição de navios-tanque que transportam petróleo bruto para o noroeste da Colúmbia Britânica, um limite para as emissões de carbono do setor de energia e um processo de avaliação ambiental mais rigoroso.

Ela disse que teve uma conversa telefônica construtiva nos últimos dias com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, mas "até que eu veja provas tangíveis de mudanças reais, Alberta tomará medidas para se proteger melhor de Ottawa".

Uma porta-voz de Carney não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo, 4, que instruiu seu governo a reabrir e expandir a notória prisão de Alcatraz, que foi fechada em 1963 e se tornou um ponto turístico na Califórnia.

"Por muito tempo, os Estados Unidos foram atormentados por criminosos cruéis, violentos e reincidentes, a escória da sociedade, que nunca contribuirão com nada além de miséria e sofrimento. Quando éramos uma nação mais séria, no passado, não hesitávamos em prender os criminosos mais perigosos e mantê-los longe de qualquer pessoa que pudessem prejudicar. É assim que deve ser", disse Trump, em uma publicação na plataforma Truth Social.

"É por isso que, hoje, estou instruindo o Departamento de Prisões, juntamente com o Departamento de Justiça, o FBI e a Segurança Interna, a reabrir uma prisão de Alcatraz substancialmente ampliada e reconstruída, para abrigar os criminosos mais cruéis e violentos dos Estados Unidos", escreveu o presidente americano, acrescentando: "A reabertura de Alcatraz servirá como um símbolo de Lei, Ordem e justiça."

A ordem foi emitida em um momento em que Trump vem enfrentando conflitos com os tribunais ao tentar enviar membros de gangues acusados ??para uma prisão notória em El Salvador, sem o devido processo legal. Trump também já sinalizou que poderia enviar cidadãos americanos para El Salvador.

Trump também ordenou a abertura de um centro de detenção na Baía de Guantánamo, em Cuba, para abrigar até 30 mil detentos que ele rotulou como os "piores criminosos estrangeiros".

Prisão

Alcatraz, hoje uma atração turística, fechou em 1963 devido aos altos custos operacionais após apenas 29 anos de operação, de acordo com o Departamento de Prisões dos EUA, porque tudo, de combustível à comida, tinha que ser trazido de barco.

Localizada a dois quilômetros da costa de São Francisco e com apenas 336 prisioneiros, a prisão abrigou vários criminosos notórios, incluindo o chefe da máfia da época da Lei Seca, Al Capone, e foi palco de muitas tentativas de fuga incríveis dos presos.

36 homens tentaram 14 fugas diferentes da prisão, segundo o FBI. Quase todos foram capturados ou não sobreviveram à tentativa.

O local ficou conhecido pelo filme "Alcatraz: Fuga Impossível", longa de 1979 que é protagonizado por Clint Eastwood. O filme conta a história de três prisioneiros que conseguiram fugir de Alcatraz.

Um porta-voz do Departamento de Prisões dos EUA disse em um comunicado que a agência "cumprirá todas as ordens presidenciais".

Atualmente, o Departamento de Prisões tem 16 penitenciárias que desempenham as mesmas funções de alta segurança de Alcatraz, incluindo sua unidade de segurança máxima em Florence, no Colorado, e a penitenciária dos EUA em Terre Haute, em Indiana. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)