FGV: Violência contra indígenas reforça polarização e afeta imagem de Lula

Política
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Acusado de negligência e descaso em relação à crise humanitária na Terra Yanomami, nos Estados de Amazonas e Roraima, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca reverter a alta de mortes, a imagem negativa e a comparação com a inação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o tema no governo passado. O número de mortes em 2023, primeiro ano do mandato petista, superou os dados do último ano da gestão passada. A percepção sobre a responsabilidade pela crise nas redes sociais dá sinais de mudança, segundo um estudo da FGV Comunicação Rio. Antes do atual governo, Bolsonaro era apontado como o principal culpado. Já neste ano, Lula aparece no centro do debate sobre a desordem humanitária.

O Ministério da Saúde registrou 363 mortes de yanomamis no ano passado. O número é superior ao dado oficial de 2022, com 343 mortes. O levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou a repercussão das mortes indígenas no X, no Facebook e no Instagram, de janeiro de 2023 a janeiro de 2024, com ênfase na comparação entre o mês de janeiro dos dois anos, mostra que conteúdos sobre violência contra indígenas e garimpo ilegal pautam a discussão política nas redes.

A crise Yanomami do início de 2023 foi o maior destaque do período, concentrando críticas e responsabilizações à gestão Bolsonaro, sobretudo no campo progressista. Os grupos de direita culpavam gestões anteriores de Lula, mas em menor volume. Já em 2024, o debate é conduzido pela oposição ao atual governo petista, com acusações de que o presidente não tomou atitudes significativas para conter a crise humanitária.

Parlamentares e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acusam o atual chefe do Executivo de não tomar atitudes significativas em relação aos povos Yanomami. O aumento do número de desnutridos, dos casos de malária e das mortes de indígenas são os principais assuntos repercutidos por perfis conservadores, de acordo com o estudo da FGV, que faz parte do projeto Democracia Digital, apoiado pela Embaixada da Alemanha no Brasil. Já os perfis mais alinhados ao governo apontam para a redução do número de garimpeiros no território.

O garimpo é um tema que permaneceu em alta nos dois períodos analisados pelo levantamento. Em 2023, o foco eram as consequências da atividade mineradora na Terra Yanomami. Já no início deste ano, as iniciativas do governo Lula na luta contra o extrativismo dominam a discussão.

Parlamentares de esquerda e direita disputam a narrativa sobre os culpados pela crise humanitária nas redes sociais. Na oposição, o deputado federal Paulo Eduardo Martins (PL-PR), a senadora Damares Alves (PL-PR), e o deputado estadual em São Paulo Coronel Telhada (PP-SP) apontam um suposto descaso do atual governo com o povo Yanomami.

No fim de fevereiro deste ano, no dia 22, Damares usou o perfil no X para criticar o atual governo. De acordo com a senadora, as críticas dos aliados do presidente Lula à gestão Bolsonaro na área tinham conotação eleitoral.

"A verdade é que por trás dos discursos inflamados que a esquerda mundial (inclusive a imprensa) promoveram ano passado, não havia real vontade de ver os indígenas sendo salvos. Todo aquele alarde era eleitoral, era uma perseguição política e ao mesmo tempo era vazio", escreveu Damares.

A Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal apontou em janeiro do ano passado que a "grave situação" de saúde e segurança alimentar vivida pelo povo Yanomami é resultado da omissão do Estado em assegurar a proteção da terra indígena, tendo o governo Jair Bolsonaro adotado "providências limitadas" sobre o tema. Em nota pública, a Procuradoria alerta para "verdadeira tragédia humanitária" e possível caracterização de genocídio, inclusive com eventual responsabilização internacional do Estado.

Aliados do presidente defendem governo

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o perfil oficial do PT são os destaques na base governista na defesa dos avanços do atual governo em relação à população Yanomami, segundo a pesquisa. Sem citar a alta de mortes na terra indígena, Marina destaca nas redes sociais a redução da mineração ilegal na região.

"O trabalho emergencial iniciado em 2023 resultou na redução de 85% das áreas de mineração ilegal, quando comparado ao ano anterior. Mas muito ainda precisa ser feito para recuperar a autonomia Yanomami e a defesa dos direitos dos povos indígenas, como determinou o presidente Lula, durante a primeira reunião ministerial do ano", escreveu a ministra no dia 11 de janeiro deste ano no X.

De acordo com a FGV, políticos alinhados ao governo federal disputam a narrativa sobre as causas da crise humanitária e focam na redução do garimpo ilegal.

"Gleisi Hoffmann, Humberto Costa e Randolfe Rodrigues são os parlamentares governistas com mais interações. Ressaltando os planos da atual gestão Lula em unir várias frentes para uma atuação conjunta de reforço ao combate ao garimpo ilegal, a saúde pública e garantir a proteção dos povos yanomami, com o aporte de R$ 1,2 bilhão para a proteção da Terra Indígena Yanomami, eles reafirmam que a crise humanitária na região é importante para a atual gestão, além de redirecionarem a culpa para Bolsonaro e Damares. O caso da comunidade Pataxó Hã-hã-hãe (BA) é destacado pelo deputado Padre João (PT-MG)", diz o estudo da FGV.

Em contraponto, aliados de Bolsonaro como os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Hélio Lopes (PL-RJ), e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), do Rio de Janeiro, são os nomes que se destacam em audiência e engajamento na oposição ao atual governo, segundo o levantamento.

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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta terça-feira, 4, um plano de 800 bilhões de euros, nomeado "REARM Europe", para fortalecer as defesas das nações da União Europeia (UE), visando diminuir o impacto de um possível "desengajamento" dos Estados Unidos e fornecer à Ucrânia força militar para negociar com a Rússia, após a pausa da ajuda americana aos ucranianos.

O pacote ainda será apresentado aos 27 líderes da união. Na quinta-feira, 6, os representantes europeus realizarão uma reunião de emergência em Bruxelas para tratar sobre o assunto. "Não preciso descrever a grave natureza das ameaças que enfrentamos", disse von der Leyen. Fonte: Associated Press.

O Ministério das Relações Exteriores, em nota divulgada nesta segunda-feira (3), lamentou a suspensão da entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza por Israel. "O governo brasileiro deplora a decisão israelense de suspender a entrada de ajuda humanitária em Gaza, que exacerba a precária situação humanitária e fragiliza o cessar-fogo em vigor", diz o texto do Itamaraty.

Israel interrompeu a entrada de todos os bens e suprimentos na Faixa de Gaza no domingo (2) e advertiu sobre "consequências adicionais" caso o Hamas não aceite uma nova proposta para estender o cessar-fogo.

O Itamaraty diz que o Brasil pede a "imediata reversão da medida", recordando que "Israel tem obrigação - conforme reconhecido pela Corte Internacional de Justiça em suas medidas provisórias de 2024 - de garantir a prestação de serviços básicos essenciais e assistência humanitária à população de Gaza, sem impedimentos". A nota afirma ainda que a obstrução deliberada e o uso político da ajuda humanitária constituem grave violação do direito internacional humanitário.

O governo brasileiro defende que as partes promovam o estrito cumprimento dos termos do acordo de cessar-fogo e o engajamento nas negociações "a fim de garantir cessação permanente das hostilidades, retirada das forças israelenses de Gaza, libertação de todos os reféns e estabelecimento de mecanismos robustos para ingresso de assistência humanitária desimpedida, previsível e na necessária escala."

A discussão entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na última sexta-feira (28) na Casa Branca levou as relações entre os dois países a um conflito. Ele também causou sério dano a uma aliança no coração da ordem estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial: a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Trump adotou uma posição que muitos aliados europeus viam como se ele estivesse do lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ignorar as preocupações de segurança de um país amigo que precisa de ajuda do Ocidente. Ele disse que o presidente ucraniano estava perdendo a guerra e "não tinha cartas".

A Otan é baseada na ideia de que os EUA podem usar seu poderio militar, incluindo o arsenal de armas nucleares, para defender qualquer aliado que for atacado. Esta premissa fundamental agora está sendo questionada.

"Eu estou preocupado que estamos nos últimos dias da Otan", disse o almirante aposentado James Stavridis, ex-comandante aliado supremo da Otan. Ele destacou que a aliança "pode não entrar prestes a entrar em colapso, mas eu posso certamente ouvir o ranger mais alto do que em outros tempos em minha longa carreira militar."

No último domingo, 2, Trump publicou uma mensagem na sua plataforma Truth Social: "Devemos dedicar menos tempo nos preocupando com Putin e mais tempo nos preocupando sobre as gangues de imigrantes que cometem estupros, traficantes, assassinos e pessoas que vieram de instituições (de saúde) mental entrando em nosso país - Para que não acabemos como a Europa." A Casa Branca não fez comentários sobre a política do governo dos EUA sobre a Otan.

A força do apoio de Trump à Otan, que foi criticada no passado, continua incerta. Na Casa Branca na última sexta-feira, ele disse "estamos comprometidos com a Otan" e elogiou um país membro, a Polônia, que faz muitos gastos com defesa.

No sábado, dia 1º, Elon Musk, um assessor de Trump que lidera o departamento de eficiência do governo, endossou uma mensagem na plataforma X que defendia a retirada dos EUA da Otan e das Nações Unidas.

Líderes europeus, que confiam na Otan para a segurança de seus países, têm evitado falar publicamente sobre as ameaças à aliança, mas alguns começam a comentar planos alternativos. "Queremos preservar a parceria transatlântica e a nossa força conjunta", comentou no sábado a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. "Mas ontem vimos uma vez mais que os europeus não devem ser ingênuos", disse, referindo-se aos eventos ocorridos na Casa Branca na sexta-feira: "Temos que assumir a responsabilidade pelos nossos próprios interesses, nossos próprios valores e nossa própria segurança, pelo bem do nosso povo na Europa."