Por que a aprovação ao governo Lula caiu? Veja nos resultados de 3 pesquisas

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Nesta semana, três institutos divulgaram pesquisas que apontaram queda na avaliação positiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quaest, Atlas/Intel e Ipec (antigo Ibope) indicam que mais entrevistados "desaprovam" a gestão do petista, enquanto os índices dos que avaliam o governo como "ruim" ou "péssimo" têm subido.

 

Cada instituto adota metodologias distintas e entrevista um universo diferente de entrevistados, mas a tendência geral é a mesma nos três levantamentos.

 

A pesquisa Ipec não apontou motivos possíveis para o crescimento da avaliação negativa, enquanto os levantamentos dos institutos Atlas/Intel e Quaest indicaram, entre os motivos para a queda, as declarações recentes do petista que abalaram sua imagem com o público.

 

Além disso, a percepção a respeito da Economia nacional e dos preço dos insumos do dia a dia piorou em comparação com levantamentos recentes. O governo também não consegue performar bem nos temas mais importantes para os entrevistados, como segurança pública e corrupção.

 

A polarização política, por fim, pesa como um "teto" que o petista ainda não conseguiu superar em suas avaliações.

 

Veja as principais razões para a queda na popularidade do governo Lula.

 

Fala que comparou Israel ao Holocausto

 

Em 18 de fevereiro, durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, Lula comparou a incursão de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. "O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o presidente.

 

O episódio se destaca como o evento de maior impacto na imagem do petista desde quando as últimas pesquisas de opinião haviam sido feitas e, por conta disso, institutos se debruçaram especificamente em relação ao tema.

 

Na pesquisa Quaest, constatou-se que a declaração foi percebida como um "exagero" e teve influência na avaliação de Lula. Para 60% dos entrevistados, o presidente "exagerou" na comparação. Entre os evangélicos, o índice chegou a 69%. E é justamente entre os evangélicos que a popularidade de Lula despencou mais nitidamente.

 

Segundo a Quaest, a avaliação negativa do governo subiu de 36% a 48% entre pessoas dessa denominação religiosa, enquanto no geral ela foi de 29% a 34%. Na pesquisa Atlas/Intel, 57% dos evangélicos avaliam o governo como "ruim/péssimo". No geral são 41%.

 

Já no levantamento do Ipec, a administração Lula é vista como ruim ou péssima por 41% dos entrevistados evangélicos e 32% no total da população.

 

Em janeiro, segundo o Atlas/Intel, a imagem do Lula, como presidente, era positiva para 51% e negativa para 45% dos entrevistados. Agora, o quadro se inverteu, com imagem negativa para 49% e positiva para 47%. Andrei Roman, CEO do instituto, aponta a fala dele sobre os ataques de Israel como um dos motivos para essa piora, junto da postura do presidente sobre as eleições venezuelanas.

 

Como mostrou o Estadão, Lula se disse feliz pelo ditador Nicolás Maduro marcar o pleito no País e sugeriu que oposição não questione a lisura do processo. No fim de janeiro, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela declarou María Corina Machado, principal nome da oposição, como impedida de disputar a eleição deste ano, entre outras decisões que barram opositores no País.

 

Percepção de aumento nos preços dos insumos

 

A pesquisa divulgada pela Quaest indica um aumento substancial na percepção de aumento de preços de insumos básicos. O índice diz respeito ao que o entrevistado sente no momento de realizar as compras e não corresponde, necessariamente, aos índices de inflação auferidos por institutos especializados em estatísticas econômicas.

 

Ainda assim, a percepção de preço é suficiente para influenciar a opinião pública em relação à atuação do governo na área econômica.

 

Em dezembro, data em que foi realizado o levantamento anterior da Quaest, 48% dos entrevistados disseram ao instituto que, para eles, os preços dos alimentos "subiram no último mês". Na pesquisa de fevereiro, o índice disparou para 73%. No mesmo sentido, na pesquisa anterior, 36% disseram que sentiram um aumento no preço dos combustíveis. Em fevereiro, a percepção subiu 15 pontos porcentuais, indo a 51%.

 

Economia

 

A Atlas/Intel apurou que a percepção geral dos entrevistados é de que a economia brasileira vai mal. Para 53%, a situação econômica do País é "ruim". É a primeira vez desde o início do terceiro mandato de Lula que o porcentual supera os 50%. Na pesquisa anterior, realizada em janeiro, 47% dos brasileiros afirmaram que a economia estava indo mal.

 

Em comparação, na análise da semana passada, 28% disseram que a economia está "boa" e 19% que está "normal".

 

Na pesquisa Quaest, 38% disseram que a economia do País piorou nos últimos 12 meses, frente a 26% que opinaram que ela melhorou. Em dezembro, na pesquisa anterior, a situação estava invertida: 34% avaliavam que a economia melhorou, enquanto quem viu ela piorando foram 31%.

 

Segurança pública e corrupção

 

A Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas e pediu para cada entrevistado elencar quais seriam os três principais problemas do País. As áreas mais citadas foram "Criminalidade e tráfico de drogas", com 59,9% mencionando a questão como um problema para o Brasil, e "Corrupção", com 58,8%.

 

Os temas destoam de forma disparada em relação aos demais: a terceira área mais citada foi "Pobreza, desemprego e desigualdade social", lembrada por 20,6% dos pesquisados. E, justamente nas áreas apontadas como mais importantes para a formação de opinião dos entrevistados, o governo Lula não tem apresentado bons índices de avaliação, como demonstra a Atlas/Intel.

 

Em janeiro de 2024, 52% haviam dito ao instituto que avaliavam o governo como "ruim" ou "péssimo" na área de segurança pública, porcentual que já representava, na ocasião, a área com avaliação mais problemática para o governo. Na pesquisa divulgada nesta semana, o índice foi a 66%.

 

No quesito "Justiça e combate à corrupção", a avaliação também piorou. Em janeiro, a opinião de que o governo era "ruim" ou "péssimo" nessa área era de 48%. No início de março, o índice foi a 55%.

 

Persistência da polarização Lula e Bolsonaro

 

Cada instituto possui uma metodologia de pesquisa distinta para auferir os índices de opinião, mas os três levantamentos são unânimes em indicar que, quase um ano e meio depois do segundo turno presidencial em 2022, a polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue viva na mente do entrevistado.

 

As pesquisas têm diferenciado as respostas em relação ao candidato escolhido na eleição passada. O Ipec, por exemplo, questionou os pesquisados sobre a aprovação ao governo de Lula e cruzou os dados em relação aos diferentes eleitorados. Entre eleitores de Lula, 84% aprovam a gestão federal. Entre os que votaram em Bolsonaro, a desaprovação é de 83%.

 

Os índices apontam que Lula não consegue influenciar a opinião de quem não votou nele em 2022, o que cria um teto estreito para o petista aumentar sua aprovação.

 

Saiba mais sobre as pesquisas de opinião

 

O Quaest fez 2.000 entrevistas presenciais entre os dias 25 e 27 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais e o índice de confiança é de 95%. A pesquisa Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas pela internet entre os dias 2 e 5 de março de 2024, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%. O levantamento do Ipec ouviu 2.000 pessoas presencialmente, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%.

Em outra categoria

O presidente Donald Trump comparecerá a uma sessão conjunta do Congresso na noite desta terça-feira, 4, para prestar contas de suas turbulentas primeiras semanas no cargo. A Casa Branca disse que o tema do discurso será a "renovação do sonho americano", e se espera que ele apresente suas conquistas desde seu retorno ao governo, além de apelar ao Congresso para fornecer mais dinheiro para financiar sua agressiva repressão à imigração.

"É uma oportunidade para o presidente Trump, como só ele pode, expor o último mês de conquistas e realizações recordes, sem precedentes", disse o conselheiro sênior Stephen Miller.

Até o momento, a Câmara e o Senado liderados pelos republicanos fizeram pouco para conter o presidente enquanto ele e seus aliados trabalham para reduzir o tamanho do governo federal e "refazer o lugar da América no mundo". Com um controle rígido sobre seu partido, Trump foi encorajado a tomar ações radicais após superar impeachments e processos criminais.

Os democratas, muitos dos quais ficaram longe da posse de Trump em janeiro, ignoraram amplamente os pedidos de boicote enquanto lutam para criar uma resposta eficaz ao presidente. Eles escolheram destacar o impacto das ações de Trump chamando funcionários federais demitidos como convidados, incluindo um veterano deficiente do Arizona, um profissional de saúde de Maryland e um funcionário florestal que trabalhou na prevenção de incêndios florestais na Califórnia. Eles também convidaram pessoas prejudicadas por cortes acentuados no orçamento federal para saúde e outros programas.

Alguns democratas, incluindo a senadora Patty Murray de Washington, se recusaram a comparecer. "A situação é que o presidente está cuspindo na cara da lei e deixando um bilionário não eleito demitir pesquisadores de câncer e destruir agências federais como a Administração da Previdência Social", disse Murray. "Em vez disso, estou me reunindo com eleitores que foram prejudicados pelas demissões imprudentes desta administração e seu congelamento ilegal e contínuo de financiamento em todo o governo."

Trump planejou usar seu discurso para abordar suas propostas para promover a paz na Ucrânia e no Oriente Médio, onde ele derrubou sem cerimônia as políticas do governo Biden em questão de apenas algumas semanas.

Na segunda-feira, Trump ordenou o congelamento da assistência militar dos EUA à Ucrânia, encerrando anos de firme apoio americano ao país para se defender da invasão da Rússia. Isso após sua explosiva reunião no Salão Oval na sexta-feira com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e enquanto tenta pressionar o antigo aliado americano a abraçar as negociações de paz com seu invasor.

Muitos legisladores democratas planejaram usar gravatas e cachecóis azuis e amarelos em uma demonstração de apoio à Ucrânia.

O pano de fundo do discurso de Trump também será uma nova incerteza econômica desencadeada depois que o presidente abriu o dia colocando tarifas rígidas sobre as importações dos vizinhos do país e parceiros comerciais mais próximos. Um imposto de 25% sobre produtos do Canadá e do México entrou em vigor hoje - para garantir maior cooperação para combater o tráfico ilícito de fentanil - desencadeando retaliação imediata e despertando temores de uma guerra comercial mais ampla. Trump também aumentou as tarifas sobre produtos da China para 20%.

Fora de Washington, protestos públicos contra Trump e sua administração também estão se desenrolando. Grupos vagamente coordenados planejam manifestações em todos os 50 estados e no Distrito de Columbia simultaneamente ao discurso.

O objetivo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao tarifar os produtos do Canadá é prejudicar a economia canadense, e a decisão demonstra que qualquer país pode se tornar alvo de uma guerra comercial promovida pela Casa Branca, afirmou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau nesta terça-feira, 4.

"Todo país está muito consciente de que, se o governo dos EUA está disposto a fazer isso com seus aliados mais próximos e vizinhos, todos estão vulneráveis a uma guerra comercial", disse Trudeau, referindo-se à decisão de Trump de aplicar tarifas de 25% sobre os produtos do Canadá e do México.

O primeiro-ministro canadense disse durante uma entrevista coletiva que a justificativa usada pela Casa Branca para tarifar o Canadá - a permissividade com o tráfico de fentanil na fronteira - é "completamente falsa", e que está ficando mais evidente que o objetivo final de Trump é enfraquecer a economia canadense.

"Temos que voltar ao que ele disse repetidamente, que ele quer ver um colapso total da economia do Canadá, porque isso facilitaria nos anexar. Primeiro, isso nunca vai acontecer. Mas ele pode danificar a economia e começou nesta manhã (de terça-feira). Mas descobrirá rapidamente, assim como as famílias americanas vão descobrir, que isso vai prejudicar as famílias dos dois lados da fronteira", afirmou.

"Estamos abertos a negociar, mas não podemos nos enganar sobre o que ele parece estar querendo. Eu tinha esperança de que essas tarifas fossem um plano de negociação para ter o impacto que vemos agora sem elas terem sido adotadas - como vimos nas últimas semanas, com os pedidos de clientes americanos secando para empresas canadenses, planos de expansão sendo suspensos. Mas agora que ele avançou com as tarifas, veremos o verdadeiro impacto de uma guerra comercial", acrescentou.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que a Ucrânia está disposta a negociar um acordo de paz com a Rússia e que ele está pronto para atuar "sob a forte liderança" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração, feita na rede social X, foi publicada menos de uma semana depois de Trump ter acusado Zelenski publicamente de "brincar com a terceira guerra mundial" e de demonstrar ingratidão em relação ao apoio dado pelos Estados Unidos ao país.

"Nenhum de nós quer uma guerra sem fim. A Ucrânia está pronta para ir à mesa de negociação assim que possível para trazer uma paz duradoura mais perto. Ninguém quer a paz mais do que os ucranianos. Minha equipe e eu estamos prontos para trabalhar sob a forte liderança do presidente Donald Trump para chegar a uma paz que dure", disse Zelenski.

Na publicação, ele afirma que está disposto a "trabalhar rápido" para encerrar a guerra com a Rússia, com as etapas iniciais para este processo sendo a libertação de prisioneiros de guerra e uma trégua nos céus e nos mares "se a Rússia fizer o mesmo", com proibição de ataques a míssil, com drones de longo alcance e bombardeios sobre infraestrutura de energia ou civil.

"Depois queremos nos mover rapidamente em todos os próximos estágios e trabalhar com os Estados Unidos para chegar a um acordo final forte. Nós realmente valorizamos o quanto a América fez para ajudar a Ucrânia a manter a soberania e independência. E nos lembramos do momento em que as coisas mudaram quando o presidente Trump forneceu Javelins à Ucrânia. Estamos gratos por isso", disse Zelenski, referindo-se a um míssil antitanque.

"Nossa reunião em Washington, na Casa Branca, na sexta-feira, não foi do jeito que deveria ter sido. É lamentável que tenha ocorrido desta forma. É hora de consertar as coisas. Gostaríamos que a cooperação e a comunicação futuras fossem construtivas", disse o presidente ucraniano, acrescentando que está disposto a assinar um acordo de exploração de minerais da Ucrânia com os Estados Unidos "a qualquer momento e em qualquer formato conveniente".