Edmar Camata perde indicação para chefiar a PRF após posts em apoio à Lava Jato

Política
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O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou nesta quarta-feira, 21, que decidiu cancelar a indicação de Edmar Camata para a diretoria da Polícia Rodoviária Federal (PRF), após a repercussão de publicações feitas pelo policial em torno de seu apoio à Operação Lava Jato e a nomes como o do ex-procurador Deltan Dallagnol, ex-chefe da extinta força-tarefa, em Curitiba, e do ex-juiz Sérgio Moro. Dino fez referência à 'polêmica' observada nas últimas horas e afirmou que seu entendimento é o de que 'seria mais adequado proceder à substituição'.

Como mostrou o Estadão, em 2017 Camata publicou foto ao lado do ex-procurador Deltan Dallagnol. Além disso, quando se candidatou a deputado federal em 2018, afirmou que não se podia 'deixar a maior operação anticorrupção do País parar'.

Quem assumirá a chefia da PRF é Antonio Fernando Oliveira, que ingressou nos quadros da Polícia Rodoviária Federal em 1994. Segundo Dino, ele atuou na Bahia e no Maranhão - Estado que já foi chefiado pelo futuro ministro da Justiça. O policial rodoviário federal é pós-graduado em Direito Tributário e mestrando em ciências criminais.

Dino disse que tomou a decisão por si só e que a comunicou ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e ao vice Geraldo Alckmin. Ambos, segundo Dino, não tiveram nenhuma interferência na decisão.

O futuro ministro da Justiça disse que tinha conhecimento da 'posição política' de Edmar Camata, mas admitiu que, nos trabalhos de checagem que suas equipes fizeram, não chegaram a mencionar as postagens feitas por Camata nas redes sociais em 2017 e 2018 e que ontem vieram à tona.

"Nós fazemos pesquisas de todas as pessoas e levamos em conta, menos as visões pretéritas, e mais o presente e o futuro, porque somente os mortos não evoluem. Então, precisamos olhar o futuro e examinar se aquele líder ou aquela líder tem condições políticas de conduzir a sua atribuição. Não se trata de um julgamento sobre posições pretéritas, de quem quer que seja, mas sim de avaliação quanto à existência de condições políticas para liderar a equipe", comentou Dino.

Segundo o futuro ministro da Justiça, a mudança é decorrente de uma 'avaliação puramente política'. Frisou também que não há 'avaliação negativa quanto as condições morais' de Camata." Preciso de uma equipe que, além de unidade, tenha condições de levar seu trabalho adiante. E qualquer que seja o dirigente cercado de polêmicas é muito difícil, em uma área sensível, que ele consiga se dedicar com a largueza e profundidade necessária. Então, esta foi a razão da substituição", reforçou.

Questionado se sabia sobre as posições de Edmar Camata, Dino respondeu. "Sim, claro, sabia, mas volto a dizer que não é um critério, mas aí a questão é que houve uma postagem particular e outras que, enfim... realmente não é um julgamento sobre o que ele achava em 2017 ou 2018, porque realmente que não é um critério, a meu ver, determinante. Mas, em face da polêmica, é claro que ele, no futuro, não reuniria condições para se dedicar como nós gostaríamos."

As publicações de Camata em apoio à Lava Jato foram recuperadas após Dino anunciar, nesta terça-feira, 20, o nome do policial rodoviário federal como sucessor de Silvinei Vasques na chefia da corporação. Depois da repercussão, as postagens foram excluídas das redes sociais. No entanto, 'prints' dos posts seguiram circulando na internet.

Após anunciar a mudança, Flávio Dino chegou a afirmar que ainda reconhecia 'excelente currículo' de Camata e que 'não há nenhum julgamento de desvalor' sobre o policial rodoviário federal. Segundo o futuro ministro da Justiça, foi realizada uma conversa 'funcional' com o PRF, sobre a substituição. O diálogo girou em torno de que, 'em face da polêmica, seria melhor para ele e para nós todos' que houvesse a indicação de outro nome 'que não tivesse eventualmente esses questionamentos que surgiram nas ultimas horas'.

Camata ingressou na PRF em 2006. Tem graduação em Direito, é mestre em Políticas Anticorrupção (Universidade de Salamanca/Espanha) e tem especializações em Gestão Integrada em Segurança Pública e Ministério Público e Defesa da Ordem Jurídica, além de MBA em Gestão Pública. Atualmente, é secretário de Estado de Controle e Transparência no Governo do Espírito Santo.

Novas nomeações

Além da troca da PRF, Flávio Dino anunciou hoje mais nomes que completam as posições de comando de contato direto com o futuro ministro. Martha Rodrigues de Assis Machado assumirá a Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas. Ela é professora da FGV desde 2007 e coordenadora do Programa de Mestrado e Doutorado Acadêmico da escola desde 2019. É graduada em Direito pela USP e fundadora e co-cordenadora do Núcleo de Justiça Racial e Direito.

Tadeu Alencar será o secretário Nacional de Segurança Pública. Formado em Direito pela UFPE, tem especialização em Direito Tributário e formação em Administração Judicial pelo Programa Internacional de Treinamento da Universidade da Georgia (EUA).

O deputado Elias Vaz (PSB-GO) assumirá a posição de secretário Nacional de Assuntos Legislativos. Vaz é formado em Direito e também foi vereador em Goiânia por quatro mandatos.

O coronel Nivaldo César Restivo ficará à frente da Secretaria Nacional de Políticas Penais. Ele ingressou na Polícia Militar do Estado de São Paulo em 1982. Coronel desde 2013, foi comandante-geral de Polícia Militar e atualmente é Secretário de Estado da Administração Penitenciária.

Roseli Faria assume como diretora de Promoção de Direitos. Economista, é servidora pública federal e vice-presidente a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor).

Jonata Galvão será diretor de Acesso à Justiça e Mediação de Conflitos. Advogado pela Universidade Federal do Maranhão, é especialista em Processo Civil pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Entre 2010 e 2014 foi advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, com atuação na Rede Nacional de Proteção de Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte. De 2015 a 2022 atuou como Secretário- Adjunto de Direitos Humanos do Estado do Maranhão.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."