Sem aval de Lula, Lewandowski quer incluir 'SUS da Segurança Pública' na Constituição

Política
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, defendeu a inclusão de um Sistema Único de Segurança Pública na Constituição e a criação de um fundo nacional para bancar as ações do setor. Lewandowski participou, nesta segunda-feira, 20, de na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele, no entanto, ressaltou que conversou apenas "em linhas gerais" sobre o modelo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que não há previsão de quando o projeto será apresentado ao Congresso.

 

"Essa ideia ainda não foi apresentada de forma detalhada ao presidente da República. Houve uma primeira conversa apenas, e os órgãos técnicos estão trabalhando. Eu, pessoalmente, estou empenhado em apresentar, se for o caso, se o presidente decidir com relação a isso, uma proposta menos controvertida possível ao Congresso Nacional e que angarie o maior número de apoios", declarou o ministro.

 

"Não há prazo. Numa questão tão importante e relevante como essa, é preciso reunir o mínimo de consenso. O presidente da República decidirá sobre a conveniência e oportunidade dessa matéria", completou Lewandowski.

 

A proposta do ministro é inserir na Constituição estrutura semelhante ao Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir verba própria com emprego compulsório na área da segurança pública. O modelo ampliaria os poderes da União sobre o tema, ao possibilitar que sejam estabelecidas diretrizes gerais a serem seguidas pelos Estados, mantendo a competência concorrente para que eles legislem com base nas peculiaridades locais. Apesar disso, Lewandowski fez questão de dizer no evento que "não se trata de impor" nada aos governos locais.

 

O ministro diz que já está conversando com algumas lideranças do Congresso sobre o tema e com governadores. "Eles não perderão autonomia no que diz respeito à segurança pública. O que nós entendemos é que precisamos ter, por parte da União, algumas diretrizes gerais que possam ser atendidas pelos entes federados, incluídos os municípios, até para que as verbas federais possam ser alocadas para atingir um objetivo comum", disse. "Acho que, com relação a isso, não haverá nenhuma resistência dos governadores e dos prefeitos porque eles manterão o comando das suas polícias militares, civis e guardas municipais."

 

Sistema atual é limitado

 

O Sistema Único da Segurança Pública (SUSP) está previsto em uma lei ordinária, sancionada em 2018, durante o governo do ex-presidente Michel Temer, o anfitrião do evento na Fiesp. Apesar de a norma prever colaboração, estratégias integradas, operações conjuntas, compartilhamento de dados e de estruturas federais, estaduais e municipais, especialistas apontam limitações práticas no modelo atual, porque um plano comum não faz parte da rotina das elites decisórias e não houve uma centralização efetiva dos esforços.

 

Para Lewandowski, o encontro com representantes da indústria paulista é uma forma de "aferir a receptividade" da iniciativa. Na conversa, repetiu os argumentos levados a painel com empresários em São Paulo, há cerca de um mês, de que a legislação atual que trata do combate ao crime, sobretudo o crime organizado, está desatualizada. "Os grandes crimes, hoje, são cometidos pela internet: as grandes fraudes bancárias, o tráfico de armas, de pessoas e de drogas, os crimes cibernéticos, a pedofilia, tudo isso transita no mundo virtual."

 

O ministro citou a possibilidade de se criar uma Polícia Ferroviária, que está prevista na Constituição, mas nunca saiu do papel. Ele disse que seria "muito importante" o governo atuar de forma especializada nesse campo, em razão de mercadorias ilícitas estarem sendo transportadas em trens, e que isso poderia ser feito tanto criando uma nova corporação quanto ampliando as atribuições da Polícia Rodoviária Federal.

 

Indagado por um dos presentes, no entanto, Lewandowski se mostrou contrário a modificar as competências atuais das guardas municipais, alegando que elas poderiam acabar concorrendo com as outras forças. Ele também não quis entrar em detalhes sobre a controvérsia entre a Polícia Militar e Civil de São Paulo após plano do governo do Estado de aumentar o poder da primeira em detrimento da segunda. "Não compete, evidentemente, à União arbitrar qualquer controvérsia que exista entre as polícias locais. O que nós queremos é criar canais de comunicação mediante os quais as diversas forças de segurança possam ter uma interlocução."

 

Lewandowski mencionou ainda a necessidade de concluir o plano de intervenção no sistema prisional brasileiro, cujo prazo definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) encerra no dia 8 de julho. A criação de um fundo nacional de segurança pública, segundo ele, deve contemplar a modernização dos presídios para reverter o seu "estado inconstitucional de coisas" por fatores como a superlotação e a quantidade de detenções provisórias.

 

Apoio da indústria paulista

 

A proposta de Lewandowski, ao menos neste primeiro momento, foi bem recebida pelos presentes. A Fiesp destacou dados de um estudo próprio que estimou prejuízo anual superior a R$ 453 bilhões em todo o Brasil devido a atividades ilícitas como contrabando, pirataria, roubo, concorrência desleal por fraude fiscal, sonegação de impostos e furtos. Carlos Erane de Aguiar, diretor do departamento de segurança da entidade, afirmou que a criminalidade traz impactos na arredacação de impostos, afeta a demanda do mercado e deixa milhares de empregos pelo caminho.

 

Michel Temer, que é presidente do Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da Fiesp e recebeu afagos por ter sido o governo a implementar o modelo em lei ordinária, considerou a proposta como "fundamental" para avançar em um cenário em que há "vários esquemas de segurança pública" diferentes espalhados pelo País. "Constitucionalizar significa retirar do plano ordinário para o estrutural. Cada Estado tem as suas tarefas, mas a União, sem dúvidas, tem que coordenar esse trabalho", disse.

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A Suprema Corte dos EUA rejeitou nesta quarta-feira, 5, o pedido de Donald Trump para congelar US$ 2 bilhões em ajuda externa, parte dos esforços do governo para cortar gastos. Foi a primeira grande decisão do tribunal contra a Casa Branca desde a volta do presidente ao poder. Isso ocorreu apesar de Trump ter indicado três dos nove juízes, formando uma maioria conservadora de 6 a 3.

Ontem, o recurso de Trump foi negado por 5 votos a 4 - os conservadores John Roberts e Amy Coney Barrett se juntaram às três magistradas progressistas para manter a decisão de uma instância inferior exigindo que o governo fizesse pagamentos em contratos que já foram concluídos, invalidando o decreto assinado em 20 de janeiro, que suspendia a ajuda internacional por 90 dias.

Na decisão, a Suprema Corte determina que o juiz federal Amir Ali, que ordenou o restabelecimento dos pagamentos pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e pelo Departamento de Estado, esclareça "quais obrigações o governo deve cumprir".

"Um único juiz de um tribunal distrital, que provavelmente não tem jurisdição, tem o poder irrestrito de obrigar o governo dos EUA a pagar (e provavelmente perder para sempre) US$ 2 bilhões dos contribuintes?", argumentou o conservador Samuel Alito, na declaração dissidente, assinada pela minoria. "A resposta a essa pergunta deveria ser um enfático 'não', mas a maioria deste tribunal, aparentemente, pensa o contrário. Estou chocado."

Cortes de gastos

O governo suspendeu a ajuda externa no dia da posse de Trump. Beneficiários e ONGs entraram com duas ações judiciais contestando o congelamento dos fundos, alegando inconstitucionalidade - as dotações orçamentárias são um poder do Congresso e cabe ao Executivo apenas cumpri-las.

Os grupos que contestaram o governo argumentaram que os fundos congelados causariam uma série de crises, ameaçando cuidados médicos essenciais ao redor do mundo, deixando alimentos apodrecendo em armazéns, arruinando negócios, colocando em risco a propagação de doenças e causando instabilidade política.

"É devastador o impacto dessa conduta ilegal em empresas grandes e pequenas, forçadas a encerrar seus programas e demitir funcionários; em crianças famintas ao redor do mundo que ficarão sem nada; em populações ao redor do mundo enfrentando doenças mortais; e em nossa ordem constitucional", escreveram os advogados do Global Health Council, organização que representa grupos de saúde, em um dos processos.

O juiz Amir Ali, do Tribunal Distrital Federal em Washington, nomeado pelo presidente Joe Biden, emitiu uma ordem de restrição temporária, em 13 de fevereiro, proibindo funcionários do governo de suspender os pagamentos alocados antes de Trump assumir o cargo. Na decisão, ele disse que o governo não ofereceu nenhuma explicação para a suspensão total da ajuda que o Congresso havia determinado.

A Casa Branca alegou que tinha o direito de analisar caso a caso as doações e contratos de ajuda e interromper ou aprovar os gastos. Em uma decisão de 25 de fevereiro, o juiz Ali ordenou que o governo pagasse US$ 1,5 bilhão em trabalhos de ajuda já concluídos. Ele estabeleceu um prazo até meia-noite do dia seguinte. Em resposta, o Departamento de Justiça entrou com um recurso de emergência na Suprema Corte, alegando que o juiz havia excedido sua autoridade - argumento rejeitado ontem.

Campanha

O presidente está decidido a cortar gastos do governo federal com a ajuda do homem mais rico do mundo e maior doador de sua campanha, Elon Musk. Um dos seus objetivos é cortar a ajuda da Usaid, que tem programas de saúde e emergência em cerca de 120 países e é responsável por mais de 40% da ajuda humanitária mundial.

Em decreto assinado em 20 de janeiro, Trump suspendeu temporariamente milhares de programas para avaliar se eles estão "totalmente alinhados com a política externa do presidente dos EUA". No passado, ele já disse que a Usaid é "administrada por lunáticos radicais", enquanto Musk descreveu a agência como uma "organização criminosa". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta quarta-feira (6) que está trabalhando com o Partido Republicano da Câmara em uma resolução contínua para financiar o governo até setembro e dar o "tempo necessário" para trabalhar a agenda do governo.

"Os conservadores vão adorar esse projeto de lei, pois ele nos prepara para cortar impostos e gastos na conciliação, ao mesmo tempo em que efetivamente CONGELA os gastos neste ano e nos permite continuar nosso trabalho. Vamos aprovar esse projeto de lei!", escreveu Trump na rede Truth Social.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve assinar nesta quinta-feira, 6, um decreto com o objetivo de eliminar o Departamento de Educação. Um rascunho do documento, obtido pelo Wall Street Journal, ordena que a secretária de Educação, Linda McMahon, "tome todas as medidas necessárias para facilitar o fechamento do Departamento de Educação".

O fim do Departamento de Educação está em discussão desde a transição da gestão de Joe Biden para o governo Trump. Segundo especialistas, porém, a eliminação completa da pasta depende da aprovação do Congresso. Fonte: Dow Jones Newswires.