Quem é a deputada federal que usou verba do fundo eleitoral para bancar harmonização facial

Política
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A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) teve seu mandato de parlamentar cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP) por usar verba pública da campanha eleitoral para harmonizar o rosto durante as eleições de 2022. Apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a parlamentar foi eleita para seu primeiro mandato político nas últimas eleições, quando conseguiu 5.435 votos e foi a deputada federal menos votada do Brasil.

Por meio de sua a assessoria, Silvia informou que soube da decisão pela imprensa e que as contas de sua campanha já haviam sido aprovadas pelo TRE-AP. Caberá recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Natural de Macapá, no Amapá, a parlamentar de 48 anos já atuou em outras áreas antes da política, como no atletismo e nas artes cênicas, além de ter estudado fisioterapia.

Eleita empunhando a bandeira dos povos indígenas durante a campanha, a deputada causou polêmica ao votar a favor da tese do marco temporal para demarcação de terras indígenas, aprovada em setembro do ano passado no Congresso Nacional.

Na Câmara, ela é autora ou coautora de 128 propostas legislativas. A mais recente, em que assina com outros deputados, apresentada quarta-feira,19, dispõe sobre a obrigatoriedade de hospitais, clínicas e unidades básicas de saúde notificarem a polícia sobre abortos decorrente de estupro realizados nesses locais.

Além da recente carreira na política, Silvia também prestou serviço militar durante 15 anos, sendo a primeira indígena a entrar para o Exército Brasileiro, onde chegou a posição de tenente.

Em julho do ano passado, durante o depoimento de Mauro Cid, a deputada prestou continência ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, investigado por um esquema de fraudes de documentos de vacinação de familiares do ex-presidente e por ter o roteiro de uma tentativa de golpe de Estado armazenado no telefone celular.

Em 2018, Silvia participou do governo de transição de Bolsonaro. Durante o governo dele, em 2019, ela foi nomeada para ser secretária de Saúde Indígena, pasta vinculada ao Ministério da Saúde, nomeação que sofreu resistência de organizações de povos indígenas, que chegaram a pedir a exoneração da secretária. Em 2021, ela foi nomeada Conselheira Nacional de Promoção da Igualdade Racial, cargo vinculado ao Ministério da Mulher, dirigido por Damares Alves.

Entenda o caso

De acordo com a ação que cassou seu mandato, Silvia teria determinado que uma assessora de campanha repassasse R$ 9 mil para um cirurgião-dentista após receber verba oriunda do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). A própria assessora teria levado o caso para o MP.

Durante sessão desta quarta-feira, 19, os desembargadores do Tribunal eleitoral acompanharam trecho do depoimento prestado pelo cirurgião-dentista, que confirmou ter recebido pagamento pelo procedimento estético da então assessora eleitoral da parlamentar.

Além da cassação do mandato, Silvia também passou a ser investigada pela Justiça por suposto envolvimento nos ataques de 8 de Janeiro. A deputada teria postado vídeos endossando os ataques, conduta que virou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

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O presidente da Bolívia, que foi alvo de uma tentativa de golpe na tarde de quarta-feira, 26, é um esquerdista de 60 anos que muitos enxergam como um oponente das políticas neoliberais e de livre mercado apoiadas por Washington.

Luis Arce, que estudou economia em Londres, foi ministro da economia do presidente Evo Morales, cujo mandato de 2006 a 2019 o tornou um ícone da esquerda latino-americana.

Depois que Evo deixou o cargo, Arce tornou-se presidente em novembro de 2020, após o curto período de Jeanine Añez no cargo.

A televisão boliviana mostrou Arce confrontando o aparente líder da rebelião - o comandante geral do Exército - no corredor do palácio do governo na noite de quarta-feira. "Eu sou seu capitão e ordeno que retire seus soldados e não permitirei essa insubordinação", disse Arce.

A carreira de Arce refletiu a trajetória econômica da Bolívia, do auge à falência. Ele trabalhou no Banco Central de 1987 a 2006 e trabalhou para Evo administrando uma bonança nos preços dos metais e hidrocarbonetos que ficou conhecida como o "Milagre Boliviano".

Mas, na época em que Arce assumiu o cargo, a Bolívia foi duramente atingida pela pandemia da covid-19 e pelas tensões sociais desencadeadas pela saída de Evo em 2019, após protestos de rua e extrema pressão dos militares.

As reformas neoliberais na década de 1990 ajudaram a Bolívia a se tornar um importante produtor de energia, e o país passou de uma nação de baixa renda para uma de renda média, de acordo com o Banco Mundial. A porcentagem de pessoas em extrema pobreza caiu para 15%, o Estado construiu rodovias e teleféricos, e as cidades cresceram.

Mas a renda começou a cair em 2014.

Ao assumir a presidência, Arce descreveu a recessão de seu país como a pior dos últimos 40 anos. Recentemente, ele disse que a produção de gasolina e diesel não cobria mais o consumo nacional e que o país precisava importar 86% de seu diesel e 56% de sua gasolina devido à falta de exploração e produção.

As famílias também foram forçadas a lidar com os altos preços dos alimentos.

Enquanto isso, as tensões entre Evo e seu partido continuaram aumentando. Em novembro, Arce criticou seus oponentes e disse que eles "sonhavam com novos golpes de Estado".

O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou novos chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea. As mudanças incluíram a posição do ex-comandante geral do Exército, Juan José Zúñiga, que parece estar liderando a rebelião.

O novo chefe do Exército, José Wilson Sánchez, ordenou que todas as tropas mobilizadas regressem aos seus quartéis. "Ninguém quer as imagens que vemos nas ruas", disse ele.

Arce disse que aqueles que se levantaram contra o presidente estavam "manchando o uniforme". Ele prometeu que a democracia será respeitada.

A polícia com equipamento de choque colocou cercas ao redor do palácio do governo e da praça externa. Vídeos das ruas mostraram veículos blindados saindo do palácio, seguidos por soldados e jornalistas.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou a tentativa de golpe de Estado na Bolívia nesta quarta-feira, 26. A gestão federal manifestou, em nota, apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce e ao governo boliviano.

"O Governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país", divulgou o Palácio Itamaraty em nota. "O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos."

O Ministério das Relações Exteriores afirmou que o governo federal estará em "interlocução permanente" com as "autoridades legítimas bolivianas" e com os governos dos demais países da América do Sul. O diálogo, segundo a gestão brasileira, será "no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região".

"Esses fatos são incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o MERCOSUL, sob a égide do Protocolo de Ushuaia", acrescentou o Itamaraty.

Nesta tarde, Lula convocou uma reunião de emergência com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, para tratar sobre a tentativa de golpe no país vizinho, informaram fontes ao Broadcast Político. A reunião já teve início e ocorre no Palácio do Planalto.

Há pouco, o chefe do Executivo brasileiro se manifestou no X, antigo Twitter. "A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina", escreveu. "Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão presidido por Luis Alberto Arce."