PF indicia mais de 100 da 'Máfia das Creches' e pede inquérito para investigar Ricardo Nunes

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A Polícia Federal indiciou 117 investigados da Máfia das Creches - suposto desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de crianças de zero a três anos no município de São Paulo - e pediu à Justiça Federal autorização para abrir um inquérito específico sobre a relação do prefeito Ricardo Nunes (MDB) com uma empresa noteira do esquema que movimentou R$ 162.965.770,02. O envolvimento de Nunes teria ocorrido quando exercia o mandato de vereador paulistano, em 2018.

 

Em nota, a assessoria de Nunes declarou. "O prefeito prestou todos os esclarecimentos no processo e, reitera-se, não resultou em qualquer acusação. Foram serviços prestados sem quaisquer irregularidades."

 

"É suspeita essa relação do então vereador Ricardo Luis Reis Nunes, atual Prefeito de São Paulo, com uma das principais empresas atuante do esquema criminoso de desvio de verba pública do município de São Paulo, Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli, que movimentou a quantia de R$ 162.965.770,02 no período do afastamento bancário, como também a Organização Social Associação Amiga da Criança e do Adolescente", afirma o delegado Adalto Ismael Rodrigues Machado, da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários em relatório levado à Justiça nesta terça, 30.

 

A Polícia Federal quer aprofundar uma suposta ligação de Nunes com a Máfia das Creches, um "complexo esquema de desvio de valores públicos, inclusive verbas federais, que estaria sendo realizado por Organizações Sociais e Mantenedoras de Centros de Educação Infantil e creches que prestam serviços para a Prefeitura de São Paulo".

 

O desvio contava com a participação de escritórios de contabilidade para fraudar Guias da Previdência Social em nome das organizações sociais. Além disso, o esquema envolvia empresas de fornecimento de serviços e materiais que atuavam como 'noteiras', "com a finalidade de conferir uma falsa licitude ao dinheiro desviado", afirma o Ministério Público Federal. As noteiras emitem notas fiscais frias.

 

A noteira que, segundo a PF teria "ligação" com Nunes, era titularizada por uma das indiciadas na Máfia das Creches, Francisca Jacqueline. A PF atribui a ela supostos crimes de peculato, falsificação de documentos públicos e particulares e organização criminosa.

 

Os investigadores dão ênfase à transferência de R$ 11.590,16 da empresa Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli para Ricardo Nunes, com a compensação de dois cheques de R$ 5.795,08 em 27 de fevereiro de 2018. Na mesma data, a companhia transferiu R$ 20 mil para a Nikkey - empresa encerrada em 2021 - que era coordenada por Nunes e tinha em seu quadro societário sua mulher, Regina Nunes, e sua filha, Mayara Nunes.

 

Nunes depôs à PF

 

O prefeito foi ouvido na investigação e alegou à Polícia Federal que os valores sob suspeita correspondem a serviços prestados pela empresa Nikkey. Nunes disse que, na contabilidade da companhia, encontrou o lançamento de duas notas fiscais para Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli. No entanto, alegou que "não foi possível localizar os documentos dos serviços prestados".

 

O prefeito "não soube explicar a diferença de valores que recebeu e do lançamento contábil", diz a PF. Sobre o recebimento em sua conta pessoal, ele disse "acreditar que possa ter sido algum pagamento que fez para a empresa e a Nikkey deu os cheques para que fossem descontados".

 

Ainda de acordo com a PF, Nunes apresentou documentos de 2019, sendo que as transferências investigadas são de 2018. Segundo a Polícia, o prefeito alegou que, na contabilidade da Nikkey Serviços, "existem registros que apontam a movimentação de entrada das importâncias e emissão de notas fiscais por prestação de serviços, porém esse documento não foi localizado".

 

O delegado Adalto Ismael Rodrigues Machado recomendou que a "continuidade das investigações em relação aos fatos envolvendo a Organização Social Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria) e o então vereador Ricardo Nunes".

 

A Acria, organização social citada pelo delegado, recebeu repasses de R$ 49.891.499,83 da Prefeitura de São Paulo. A OS fez transações com a empresa noteira Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli, diz a Polícia Federal. Os investigadores ainda identificaram que a presidente da Acria tinha registro como funcionária da empresa Nikkey.

 

O relatório da PF aponta ainda que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) "recebeu informações de movimentações atípicas nas contas de Ricardo Nunes e das empresas relacionadas, consideradas incompatíveis com a capacidade financeira do cliente".

 

Competência

 

Durante a tramitação do inquérito, Nunes tentou deslocar a investigação da PF para o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), que detém competência sobre o julgamento de prefeitos, em razão do foro privilegiado. A Corte, no entanto, negou o pedido do emedebista e manteve o caso sob a alçada da 8ª Vara Federal Criminal de São Paulo.

 

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE RICARDO NUNES

 

O inquérito da Polícia Federal de 2019 foi concluído ontem, a dois meses da eleição. Foram indiciadas 111 pessoas, em um processo de quase 20 mil páginas. O prefeito Ricardo Nunes não foi indiciado. No procedimento, nunca houve nenhuma acusação contra Ricardo Nunes e a empresa Nikkey. Reforçamos: nenhuma acusação, nenhuma irregularidade.

 

Na conclusão do inquérito e apenas em razão de análise incorreta dos múltiplos documentos que foram juntados pela defesa, o delegado sugere que deveriam ser verificados os pagamentos que foram feitos à empresa Nikkey por serviços prestados, cujas notas foram contabilizadas e com os impostos recolhidos.

 

O prefeito prestou todos os esclarecimentos no processo e, reitera-se, não resultou em qualquer acusação. Foram serviços prestados sem quaisquer irregularidades.

 

Sobre o vídeo gravado pela senhora Rosângela Crepaldi dos Santos (reforça-se: a dois meses das eleições), ele jamais constou do inquérito e será alvo de medidas criminais pelo prefeito Ricardo Nunes, por calúnia e outras infrações penais, e para identificar quem encomendou esse "depoimento" e a auxiliou.

 

O prefeito nunca negociou absolutamente nada com esta senhora Rosângela, e ela responderá pelas acusações levianas na Justiça.

 

Ricardo Nunes é, sempre foi e sempre será o maior interessado no esclarecimento desses fatos.

 

As certidões anexas, emitidas na data de hoje, atestam a correção e honestidade do Prefeito Ricardo Nunes.

 

É perversa e muito suspeita essa manobra rasteira às vésperas de uma eleição em tentativa de prejudicar a reputação do líder das pesquisas de intenção de voto à reeleição.

 

COM A PALAVRA, OS INDICIADOS

 

Até a publicação desta reportagem, o Estadão buscou contato com os indiciados, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

Em outra categoria

Em resposta ao anúncio de um cessar-fogo de três dias feito pela Rússia para marcar o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou nesta segunda-feira, 28, o Kremlin de manipulação e exigiu um fim imediato e duradouro à guerra Rússia-Ucrânia.

"Agora, mais uma vez, vemos uma nova tentativa de manipulação: por alguma razão, todos deveriam esperar até 8 de maio e apenas então cessar o fogo, para garantir silêncio para Putin durante o desfile de comemoração do fim da Segunda Guerra", afirmou Zelensky. "Nós valorizamos a vida das pessoas, não desfiles."

O líder ucraniano destacou que qualquer trégua deve ser incondicional e prolongada, não apenas simbólica. "O fogo deve ser interrompido não por alguns dias, para depois voltar a matar, mas sim de forma imediata, completa e incondicional. E por no mínimo 30 dias, para que seja garantido e confiável. Só assim será possível criar uma base para uma diplomacia real", disse.

Zelensky também denunciou novos ataques russos contra civis, mesmo diante dos apelos internacionais pelo fim da guerra. "Mais uma vez, a Rússia atacou um alvo que não tem relação com a guerra, mas com as pessoas. E isso aconteceu em meio às exigências do mundo para que a Rússia encerre esta guerra", afirmou. "Cada novo dia é uma nova e clara prova de que é necessário aumentar a pressão sobre a Rússia, pressionar de forma significativa, para que, em Moscou, sejam obrigados a pôr fim a esta guerra, uma guerra que apenas a própria Rússia quer."

O presidente ucraniano reiterou a disposição do país em buscar a paz, mas acusou a Rússia de sabotar os esforços diplomáticos. "Sempre deixamos claro que estamos prontos para trabalhar o mais rapidamente possível com todos os parceiros que possam ajudar a estabelecer a paz e garantir a segurança. A Rússia rejeita constantemente essas iniciativas, manipula o mundo e tenta enganar os Estados Unidos", afirmou.

O Kremlin afirmou nesta segunda-feira, 28, que as relações com a Coreia do Norte continuarão a se desenvolver "dinamicamente em todas as áreas", após a participação de tropas norte-coreanas no combate a uma incursão ucraniana na região russa de Kursk. Em comunicado oficial, o governo russo destacou que suas Forças Armadas "derrotaram completamente" os grupos ucranianos que invadiram o território, encerrando o que classificou como uma "provocação criminosa" de Kiev.

A Rússia expressou confiança de que os laços entre Moscou e Pyongyang, "aprofundados no campo de batalha", seguirão se fortalecendo. "Estamos certos de que a amizade, a boa vizinhança e a cooperação entre nossas nações se desenvolverão com sucesso e dinamismo em todas as direções", afirmou o texto.

Segundo o Kremlin, unidades do exército da Coreia do Norte participaram ativamente da operação, em conformidade com o "Tratado de Parceria Estratégica Abrangente" assinado entre os dois países em junho de 2024. O comunicado citou o artigo 4 do acordo, que prevê "assistência militar imediata em caso de ataque armado" a uma das partes.

"Os amigos coreanos agiram com base em um senso de solidariedade, justiça e verdadeira camaradagem", destacou o Kremlin, acrescentando que a Rússia está "profundamente grata" ao líder Kim Jong Un, ao governo e ao povo norte-coreano. Moscou também elogiou o "heroísmo, treinamento e dedicação" dos soldados da Coreia do Norte, que lutaram "ombro a ombro" com as tropas russas.

"O povo russo nunca esquecerá o feito dos combatentes de elite coreanos. Honraremos eternamente seus heróis, que deram suas vidas pela Rússia e por nossa liberdade comum, assim como nossos irmãos de armas", concluiu o comunicado.

O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, afirmou neste domingo, 27, que Pequim está acompanhando de perto o desenvolvimento da situação entre a Índia e o Paquistão, reiterando que a China entende as preocupações e apoia a segurança paquistanesa, mas que o conflito não atende aos interesses fundamentais dos países e nem é propício à paz e estabilidade regional.

Wang teve uma conversa telefônica com o vice-primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Ishaq Dar. "Esperamos que ambos os lados consigam exercer moderação, chegar a um acordo e trabalhar para acalmar a situação", disse ele em comunicado.

O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif, declarou hoje que uma incursão militar da Índia é iminente após um ataque mortal a turistas na Caxemira na semana passada, que resultou na morte de 26 pessoas.

Nesta segunda-feira, 28, pelo menos mais sete pessoas foram mortas e 16 ficaram feridas depois que uma bomba potente explodiu do lado de fora do escritório de um comitê de paz pró-governo em um antigo reduto do Talibã paquistanês, informou a polícia.