Campanha de Ricardo Nunes teme que ato do feriado com Bolsonaro se torne vitrine para Marçal

Política
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O 7 de Setembro na Avenida Paulista virou uma dor de cabeça para a campanha de Ricardo Nunes (MDB), que teme que Pablo Marçal (PRTB) acabe faturando politicamente com o evento. Assessores do prefeito estão apreensivos com a possível presença em massa de apoiadores do ex-coach, que poderiam transformar o evento organizado por aliados de Jair Bolsonaro em um ato de desagravo a Ricardo Nunes.

A presença de Marçal no evento ainda é incerta. O influenciador chegou a El Salvador nesta quinta-feira, 5, para um possível encontro com o presidente do País, Nayib Bukele. Ele ainda tenta marcar conversas com o ex-presidente Donald Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani e o presidente argentino Javier Milei. No entanto, nenhuma das reuniões foi confirmada.

Se Marçal participar do ato no próximo sábado, será o primeiro encontro entre três peças de um "triângulo amoroso" que está se desenhando na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Nunes disputa o eleitorado de direita com Marçal e conta com o apoio formal do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Jair Bolsonaro (PL). O ex-presidente, no entanto, tem flertado com a candidatura do ex-coach - movimento que causou desconforto na campanha do atual prefeito que busca a reeleição.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta, 5, Marçal aparece empatado tecnicamente com Nunes e Guilherme Boulos (PSOL). O psolista aparece ligeiramente à frente, com 23% das intenções de voto. O influenciador e o emedebista aparecem com 22% cada. Entre os eleitores de Bolsonaro, Marçal se estabelece na frente, subindo 4 pontos percentuais - eram 44% há duas semanas, passando para 48% agora. Nunes oscilou 1 ponto: foi de 30% para 31% dos votos de quem tentou eleger o ex-presidente.

O principal receio da equipe de Nunes é que os apoiadores de Marçal compareçam em grande número ao evento, usando bonés e camisetas em apoio ao ex-coach, e que vaiem o prefeito quando seu nome for anunciado no microfone.

Conforme noticiou a Coluna do Estadão, Nunes vai adotar "vacinas" para ir ao protesto na Avenida Paulista sem ficar associado à direita radical. O prefeito deve vestir uma camisa amarela e deixar o local antes de discursos inflamados, assim como fez na última manifestação bolsonarista, de fevereiro deste ano.

Marçal mantém suspense sobre presença no ato

O ato bolsonarista, organizado pelo pastor Silas Malafaia, terá como mote o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O pano de fundo da reunião, entretanto, será a luta a favor da liberdade de expressão e da anistia dos presos nos ataques de 8 de Janeiro. Na ocasião, apoiadores de Bolsonaro destruíram os prédios dos Três Poderes em Brasília, capital federal.

Interlocutores de Marçal afirmam que sua presença no protesto pode ser uma "surpresa". Até o momento, ele não confirmou se comparecerá ao evento. Para sua equipe, não seria inesperado que o ex-coach tomasse essa decisão "de última hora" devido à sua conhecida "imprevisibilidade", embora a logística de voos também precise ser considerada uma vez que, na tarde de sexta-feira, Marçal ainda estava em El Salvador.

Ricardo Nunes já confirmou sua presença no ato. Em entrevista à Rádio Eldorado na última segunda, ele afirmou que não pedirá o afastamento de Moraes e classificou a manifestação como "em defesa do Estado democrático de direito". Um dos vereadores empenhados na campanha do emedebista, Rubinho Nunes (União), decidiu deixar o prefeito de lado e apoiar a candidatura do adversário Marçal. O vereador deve comparecer ao ato na Paulista. Integrantes de sua equipe confirmaram ao Estadão que o núcleo próximo do vereador pretende "ir de boné", aquele com o "M", usado pelo ex-coach, "e fazer campanha" para o empresário por lá.

Outros apoiadores de Pablo Marçal devem seguir a mesma linha. Na rede social X, antigo Twitter, e em grupos de Discord, eleitores do empresário defendem a participação de grupos favoráveis ao ex-coach no ato da Avenida Paulista. "Necessitamos estar presente na Paulista no dia 7 de Setembro para combater essa ditadura! Apoiando nosso prefeito (emoji do 'M') e o nosso Brasil. (Foram utilizados emojis da bandeira do País)."

Na avaliação de pessoas próximas a Marçal, comparecer ao 7 de Setembro ao lado de Bolsonaro e Nunes pode render bons cortes para suas redes sociais, uma plataforma que o ex-coach descreveu, em entrevista ao Roda Viva na última segunda-feira, 2, como a "única coisa" que ele sabe fazer. No entanto, participar de um ato que pede o impeachment de Moraes pode trazer um desgaste desnecessário para o candidato que, junto ao seu partido, o PRTB, tem enfrentado questionamentos na Justiça. Recentemente, em sabatina ao site Uol e ao jornal Folha de S.Paulo, o ex-coach afirmou que entrar numa guerra com o STF iria "destruir" a sua candidatura.

Na sabatina da TV Cultura, Marçal evitou defender o afastamento do ministro da Corte, restringindo-se a comentar que existe um "desequilíbrio dentro da República". Na mesma noite, ainda declarou: "Já estou arrumando problema com governador de Estado, com prefeito da cidade, com o presidente da República. Vou arrumar com o STF?". O Estadão apurou que, internamente, sua campanha também entende que comprar uma briga jurídica pode ser um movimento perigoso para a manutenção de sua candidatura.

O empresário possui diversas ações contra ele no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) que podem cassar seu registro de candidatura. Os motivos dos processos são o uso indevido dos meios de comunicação, além de ações por abuso de poder econômico. Além disso, Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, é alvo de acusações de manter relações com integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). O Estadão mostrou que aliados de Avalanche na sigla participaram de um esquema de troca de carros de luxo por cocaína para a organização criminosa. E ainda, em um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, Avalanche aparece afirmando que mantém vínculo com a facção. O presidente do partido nega qualquer vinculação com a organização criminosa.

O pastor Silas Malafaia, que coordena o ato, disse que todos os candidatos serão bem-vindos e poderão subir ao palco, mas nenhum terá permissão para discursar. De acordo com Malafaia, a sequência dos discursos será a seguinte: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), os deputados federais Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Julia Zanatta (PL-SC), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), o senador Magno Malta (PL-ES), o próprio Malafaia e, para encerrar, Jair Bolsonaro. O religioso deve ficar responsável pelo discurso "mais duro" contra Moraes, a quem chama de "ditador".

Em um vídeo do ex-presidente publicado no perfil de Eduardo, o antigo mandatário diz que as manifestações organizadas para o 7 de Setembro são parte de um movimento "suprapartidário". Contudo, na lista de oradores oficiais do evento, apenas membros de um único partido, o Partido Liberal (PL), terão tempo disponível para falar ao microfone com os manifestantes.

Nesta quinta-feira, 5, durante coletiva de imprensa, Bolsonaro afirmou que, depois de saber que Nunes iria à manifestação, ligou para Malafaia e disse que todos os outros candidatos poderão ir, se desejarem. "Obviamente, não vão usar o microfone, porque seria um comício. Não será o caso. Se o Pablo Marçal for, será muito bem recebido, assim como qualquer outro candidato", declarou. Ele também ressaltou que não pode desejar "boa sorte" ao ex-coach por ter um acordo para apoiar o atual prefeito em São Paulo.

Malafaia também confirmou que cerca de 50 pessoas, entre senadores e deputados, devem ficar no alto do trio elétrico principal, o 'Demolidor', que será instalado no cruzamento entre a Avenida Paulista e a Rua Peixoto Gomide. O local do posicionamento do carro já é tradição entre os movimentos bolsonaristas que acontecem na região.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."