Jabuti 2024: Rosa Freire D'Aguiar fala sobre o prêmio de Livro do Ano por 'Sempre Paris'

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A jornalista, tradutora e editora Rosa Freire D'Aguiar foi a vencedora do Livro do Ano na 66ª edição do Prêmio Jabuti, por Sempre Paris: crônica de uma cidade, seus escritores e artistas (Companhia das Letras). Os ganhadores das 22 categorias foram revelados em cerimônia realizada na noite de terça-feira, 19, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Em seu breve discurso de agradecimento, a autora de 76 anos transpareceu na voz a surpresa - estava "com taquicardia", brincou. "Não imaginava ganhar nem o prêmio de Crônica. E agora o Livro do Ano? Oh là là!", exclamou Rosa.

Ela então homenageou o economista Celso Furtado (1920-2004), com quem foi casada. "Amanhã, 20 de novembro, fará 20 anos que meu marido morreu. Conheci ele na França, nos casamos na França. Ele era exilado do golpe de 1964, nós moramos muitos anos lá", disse.

O prêmio de Livro do Ano é concedido à obra melhor classificada entre as categorias dos Eixos Literatura e Não Ficção. O vencedor recebe R$ 70 mil, além de passagens e estadia para participar da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha.

Minutos depois de receber o Jabuti, Rosa ainda estava eufórica quando conversou com a reportagem. "É inacreditável. Livro do Ano? É impressionante. Eu fico muito feliz [em vencer] com um livro 'de jornalista', de crônica", disse ao Estadão. Em Sempre Paris, ao resgatar memórias e entrevistas do tempo em que viveu na capital francesa como profissional da notícia, a autora constrói um rico retrato sobre um período de efervescência.

Nascida no Rio de Janeiro, Rosa foi para a França aos 23 anos de idade. Lá, atuou como correspondente internacional de jornais e revistas brasileiros - e revela a preferência pela cobertura de cultura e de política internacional, tendo, inclusive, testemunhado guerras. Foi ao retornar ao Brasil que passou a se dedicar ao mercado editorial.

Ela rememora o apoio do ex-marido, com quem dividiu a vida em Paris: "Celso já estava lá quando eu cheguei, desde os anos 1960, mas eu nem sonhava em conhecê-lo. Demorou alguns anos. Ele sempre me deu muita força, incentivo. A única vez que ficou um pouco assustado foi quando eu fui cobrir a Guerra Civil do Líbano. Até eu fiquei também", diz.

Em Sempre Paris, Rosa reúne entrevistas realizadas com grandes escritores, artistas e intelectuais, durante uma janela de cerca de 20 anos, entre o final dos anos 1970, anos 1980 e um pouco da década de 1990. A partir delas, vêm as memórias, e a autora disseca o cenário parisiense que conheceu e chamou de casa, em sua longa estadia.

"As entrevistas [que entraram para o livro] estavam guardadas em uma caixa, na França. Quando comecei a ler, percebi que aquilo era bacana. Digitei tudo, com a ajuda de um sobrinho, e enviei para a editora avaliar", contou sobre o processo. Ela também tinha retratos feitos na época, capturados em filme, que puderam ser aproveitados.

Está no livro, por exemplo, uma entrevista inédita com o escritor e intelectual argentino Julio Cortázar. "Quando fiz a entrevista, em 1978, ele não era tão conhecido no Brasil. Depois de sua morte, em 1984, ele estourou por aqui. Tenho ali algumas entrevistas que cresceram em perspectiva histórica, com a distância no tempo", analisa.

Outros personagens do século 20 que aparecem no livro em diálogo com Rosa são Alain Finkielkraut, Alberto Cavalcanti, Conrad Detrez, Élisabeth Badinter, Ernesto Sabato, Eugène Ionesco, Fernand Braudel, François Perroux, Françoise Giroud, Georges Simenon, Jorge Semprún, Michel Serres, Norma Bengell, Peter Brook, Raymond Aron, Roger Peyrefitte, Roland Barthes, Romain Gary, Simone Veil e Suzy Solidor.

Sempre Paris é publicado pela Companhia das Letras, casa editorial em que Rosa trabalhou sobretudo como tradutora de Muriel Barbery, Marcel Proust e Roberto Bolaño, e como editora de livros de Furtado. Em 2009, ela venceu um Jabuti pela tradução de A Elegância do Ouriço, de Barbery.

Rosa também traduziu para o português autores como Michel de Montaigne, Pierre Bourdieu e Honoré de Balzac.

Na categoria Crônica, os outros finalistas eram Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras (Civilização Brasileira), de Luiz Antonio Simas; Gelo & gim: crônicas sobre drinques, suas receitas, cinema, música, literatura e outras misturas (Quelônio), de Daniel de Mesquita Benevides; O discreto charme da magistocracia: vícios e disfarces do Judiciário brasileiro (Todavia), de Conrado Hübner Mendes; e Os rostos que tenho (Record), de Nélida Piñon.

Dá para especular que o gênero experimenta uma sutil revalorização. O Jabuti não entregava o prêmio principal para um livro de crônicas há mais de uma década: o último foi Diálogos Impossíveis, de Luis Fernando Verissimo, na edição de 2013.

O reconhecimento vem na esteira da escolha da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), importante evento do mercado editorial, de homenagear o escritor e jornalista João do Rio, pseudônimo mais famoso de Paulo Barreto (1881-1921), muito conhecido pelas crônicas sobre o cotidiano do Rio de Janeiro.

Como repórter, João do Rio foi um dos pioneiros do jornalismo literário no Brasil, misturando reportagem, literatura, ficção e fato. A organização da Flip, ao justificar a escolha, destacou o autor como o fundador da crônica moderna.

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Um incêndio deixou dois idosos feridos na madrugada desta quarta-feira, 20, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Pela manhã, o incidente ainda estava em fase de rescaldo.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, a ocorrência foi registrada às 4h30 na Rua Luzia Francelina Cimas, número 77. Quatro viaturas foram encaminhadas para atendimento no local.

Uma mulher, de 70 anos, com queimaduras no rosto e tórax, foi encaminhada para hospital da região. O idoso, de 80, também foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Não há informações sobre o estado de saúde deles.

As causas do incêndio ainda estão sendo investigadas.

Uma delegada aposentada, de 70 anos, foi encontrada morta na terça-feira, 19, no município de Barbacena, região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. No mesmo dia, o filho de Suely Márcia Giron de Paula foi preso em flagrante sob suspeita de ter agredido e matado a própria mãe.

De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais, durante a manhã de terça-feira, uma testemunha compareceu ao 13° Departamento de Polícia para relatar ter visto o suspeito agredindo a mãe. Ainda segundo a testemunha, foi possível observar que havia sangue no local.

Filho é o principal suspeito do crime

Diante da denúncia, equipes das polícias Civil e Militar se deslocaram até a casa da vítima, localizada no bairro Jardim. Na residência, os policiais encontraram a mulher ferida, caída no chão. "O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, no entanto, a mulher não resistiu aos ferimentos e morreu no local", afirmou a polícia.

O filho da vítima foi detido em flagrante pelo crime e conduzido para a Delegacia de Plantão em Barbacena. O caso permanece sob investigação para entender qual teria sido a motivação do crime.

Por meio das redes sociais, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais lamentou a morte da colega. "O Sindepominas lamenta essa perda irreparável e manifesta as mais sinceras condolências aos familiares", publicou.

A Polícia Civil de Alagoas prendeu nesta terça-feira, 19, Albino Santos de Lima, de 42 anos, acusado de ser o autor de 10 assassinatos, todos cometidos em Maceió e dentro de um raio de 800 metros da sua residência. Essa alta quantidade de crimes o faz ser considerado o maior serial killer (assassino em série) da história do Estado, de acordo com as autoridades de segurança local.

Segundo as investigações realizadas pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), os assassinatos aconteceram em um espaço de, aproximadamente, 10 meses. O primeiro foi registrado em 29 de outubro de 2023, e o último, em agosto deste ano. Das 10 vítimas, sete são mulheres e três, homens.

Lima chegou a confessar a autoria de oito homicídios em um depoimento dado à polícia na semana passada. Ao lado do seu advogado, ele declarou que matou as vítimas porque elas supostamente estariam envolvidas com organizações criminosas, o que é negado pela polícia. Preso, Albino foi indiciado em três inquéritos por crimes de homicídio qualificado.

Em entrevista à TV Globo, o advogado de defesa de Albino, Geoberto Luna, o chamou de "sociopata". "A cabeça dele é uma cabeça de uma pessoa doente, um sociopata, e esse vai ser o caminhar da minha defesa, visto que, mesmo sendo um serial killer, ficando-se confirmado, ele tem direito a defesa", disse.

Quem são as vítimas e quando elas morreram

As dez vítimas identificadas e as datas de suas mortes são:

1. Mikaele Leite da Silva (19 de outubro de 2023);

2. Louise Gybson Vieira de Melo (11 de dezembro de 2023);

3. Beatriz Henrique da Silva (15 de dezembro de 2023);

4. Débora Vitória Silva dos Santos (18 de dezembro de 2023);

5. John Lennon Santos Ferreira (18 de dezembro de 2023);

6. Joseldo Siqueira (8 de janeiro de 2024);

7. Tamara Vanessa da Silva Santos (8 de junho de 2024);

8. Emerson Wagner da Silva (21 de junho de 2024);

9. Ana Clara Santos Lima (3 de agosto de 2024);

10. Anna Beatriz Santos Tavares (26 de agosto de 2024).

*As idades não foram informadas

Acusado apresentava padrão nos crimes

Albino Santos de Lima foi identificado por imagens de câmeras de monitoramento divulgadas pela imprensa local, e foi preso depois de ter o mandado de prisão expedido pela Justiça. Durante uma operação, em 17 de setembro, a polícia apreendeu uma pistola calibre 380, que pertencia ao pai dele, e um celular.

As investigações descobriram que a arma apreendida foi a mesma usada nos outros crimes. Além de cometer os assassinatos perto de sua residência, a polícia apontou outros traços do modus operandi de Lima, como agir à noite e usar roupas pretas e boné para esconder o rosto.

Além disso, de acordo com a delegada Tacyane Ribeiro, em nota divulgada pela polícia, o criminoso teria alguma obsessão por jovens com características físicas semelhantes, e teria pesquisado as vítimas na internet.

Hábito de guardar as notícias dos crimes e tirar fotos nas lápides das vítimas

O celular do acusado também foi importante para o avanço das investigações.

O trabalho da perícia encontrou vestígios relacionados a vários homicídios, como o da jovem Ana Beatriz, menor de idade. No aparelho, também foram achadas duas pastas, com fotos e nomes das vítimas, marcados com a data dos homicídios

"Ele também tirava prints de matérias de sites relacionadas aos crimes e chegou a tirar fotos dentro do cemitério e da lápide, provavelmente de uma das vítimas", informou a Polícia Civil de Alagoas, em nota.

Conforme o perito criminal José de Farias, responsável pelo exame, havia também registros de homicídios ocorridos entre 2019 e 2020, e que devem ser alvos de investigação.

A polícia entende que o suspeito pretendia fazer novas vítimas. Segundo o chefe do Instituto de Criminalística de Maceió, Charles Mariano, a perícia no celular identificou também pastas com imagens de sobreviventes e de possíveis futuras vítimas de Albino Lima.

"(Este) é, até agora, o mais grave caso de homicídios em série na história recente de Maceió", afirmou Charles Mariano.