'Wicked' emociona, mas afasta com duração exageradamente longa e vai dividir opiniões

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A exibição de Wicked para a imprensa foi diferente. Dentre os jornalistas e influenciadores convidados, havia uma boa quantidade de pessoas com camisetas com os personagens do filme - alguns, inclusive, até fantasiados. No início do longa, gritos abafados de alegria e, no final, aplausos, choro e muita comemoração. Algo parecido com o que acontecia com os filmes da Marvel e, também, semelhante com o que aconteceu em 2023 com Barbie. Mas Wicked?

O longa-metragem, que estreou nesta quinta-feira, 21, é uma daquelas produções com vida para além das telonas. As pessoas chegavam na sessão de imprensa já animadas, empolgadas, emocionadas - nem precisavam ver o filme para saber que já o amavam. São, afinal, fãs do musical de sucesso da Broadway, que roda (e lota!) teatros ao redor do mundo há anos, conquistando prêmios importantes. O espetáculo ainda está em cartaz em Nova York, e sua montagem brasileira ganhará nova temporada em 2025.

O sucesso disso tudo está, talvez, na simplicidade da história e pela nostalgia da coisa. A trama fala sobre a origem das bruxas da Terra de Oz - sim, o filme de 1939 ainda reverbera nos cinemas. De um lado, a Bruxa Má do Oeste, Elphaba (Cynthia Erivo). Do outro, a Bruxa Boa do Sul, Glinda (Ariana Grande). Elas estão numa espécie de universidade em Oz, mas com um diferencial importante: enquanto Glinda é popular, Elphaba sofre racismo por seu tom de pele.

Uma história naturalmente emocionante

Não é preciso chegar longe nas quase três horas de duração de Wicked para entender que o filme é engajante por não se complicar. Fala sobre racismo de maneira quase didática, mostrando como a violência racial (neste caso, contra uma pessoa verde) pode atrapalhar, separar, machucar.

Glinda e Elphaba são como água e óleo, trazendo o sabor de uma amizade complicada, que surge aos poucos. Tudo isso com uma música que trabalha em prol do sentimentalismo, explodindo na tela com as emoções de cada uma das bruxas.

Quando Cynthia Erivo canta, de maneira brilhante, Defying Gravity, o público acessa com ela outras emoções - a lembrança de assistir ao musical, a força da música contra o preconceito, a superação e, claro, o caminho que vai ser trilhado a seguir pela Bruxa Má.

São emoções quase primárias que surgem ali, sem muita complicação, dando espaço àqueles sentimentos de impotência e de injustiça, complicados de lidar. Você torce por Elphaba, sofre por ela, entende sua dor. Ri com a personagem de Ariana Grande e tenta entender, também, as emoções da Bruxa Boa. Como ela se tornou inimiga de Elphaba? Como esse laço se transformou tanto em tão pouco tempo? O que vai acontecer dali pra frente?

Vale ressaltar, também, as boas atuações da dupla de protagonistas: Erivo canta com força, com emoção sincera, fazendo com que as músicas conversem com os sentimentos de sua personagem. Enquanto isso, Ariana Grande se sai bem como protagonista de um filme com o tamanho de Wicked. Lembra um pouco o trabalho de Ryan Gosling em Barbie, com um humor gracioso, quase ingênuo, que vai fazer o público dar algumas sinceras gargalhadas.

Mas 'Wicked' é tudo isso?

A comparação com Barbie não para em Ryan Gosling. Assim como o filme dirigido por Greta Gerwig acessou algo muito importante no sentimento do público em geral, que tomou o longa-metragem como uma bandeira, Wicked também parece seguir por esse caminho.

Há a sensação de que é um filme para fãs do musical - e só. As pessoas que choravam na saída da sessão para a imprensa teciam comparações inevitáveis com a peça da Broadway, falavam como Erivo e Grande chegaram perto das principais vozes do musical e como o diretor do filme, Jon M. Chu (Podres de Ricos), soube replicar o clima dos palcos de teatro.

Mas cinema, vale lembrar, é outra arte. Não dá para pensar em Wicked como uma grande produção apenas por replicar o que foi feito na Broadway. É preciso refletir: há algo de novo? Ele se sustenta sozinho? Vai funcionar com quem não conhece (ou até não gosta) da Broadway? A resposta para isso tudo, infelizmente, se aproxima mais de uma negativa.

Chu, um bom diretor, parece ter medo de criar alguma coisa própria. O filme fica refém do material original. É o maior pecado em adaptações: cinema é cinema, teatro é teatro, livro é livro.

Mais do que isso, porém, o principal pecado de Wicked fica na conta do estúdio e dos produtores. Houve uma insistência desnecessária em fazer dois filmes inspirados no musical - a parte um chega agora, enquanto a segunda parte estreia em 2025. Só este primeiro capítulo já tem mais de 160 minutos. É tempo demais. Enquanto se segura apenas no texto da peça original, de apenas três horas, o filme não tem história para contar.

Fora que a história se encerra sem um final propriamente dito. É como se longa fosse pouco além do primeiro ato de um longa-metragem completo. É um filme interrompido.

Fica dando voltas e voltas sem fim. Aí acontece a divisão do público: uma parte, que já é fã, continua engajada, ansiosa pelos próximos passos das personagens; já os que não conhecem a trama e não sentem nada quando Defying Gravity toca na tela, vão sentir um tédio impossível de segurar. Não há tanta história assim, mesmo com a metáfora de fascismo envolvendo animais ou a aparição de Oz (Jeff Goldblum). O vazio não se justifica e é preenchido apenas por aqueles que vão trajados como as personagens para o cinema.

Por isso, já é possível cravar: a recepção de Wicked vai ser oito ou oitenta. Alguns vão amar, outros vão odiar. Não há meio do caminho no horizonte. E tudo bem: os fãs possuem motivos para tal, assim como os detratores. É um filme que trabalha no vazio, dando espaço para que as emoções surjam - amor, ódio, tédio, alegria, empolgação, decepção. Os comentários devem virar zona de guerra e, olhando de fora, é preciso questionar: até que ponto vai a ganância dos estúdios? Precisamos estender histórias e aumentar tramas só para fazer render?

Sinceramente, há potencial para mais.

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O Ministério da Saúde notificou a empresa GlobalX, fornecedora de canetas reutilizáveis de aplicação de insulina usadas no cuidado de pacientes com diabetes no Sistema Único de Saúde (SUS), após constatar defeitos em milhares de unidades.

As falhas foram comunicadas ao ministério em uma carta com dados de secretarias de Saúde de Estados e municípios de todo o País, conforme informou a Coluna do Estadão em setembro.

De acordo com o documento, 23 secretarias estaduais relataram "quebras ou falhas" das canetas reutilizáveis e sete Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde disseram usar seringas para aplicar insulina como alternativa à "indisponibilidade ou falha dos aplicadores".

Também em setembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou o ministério sobre uma falha de transparência na licitação de R$ 570 milhões para a compra das canetas. Os ministros consideraram que a falha não foi da empresa, mas de um servidor do governo, na decisão de assinar o contrato em dólar. O TCU decidiu alertar o ministério para que o episódio não se repita e não haverá punições.

Falhas

O ministério afirma que "notificou a fornecedora sobre dispositivos que apresentaram defeitos e a empresa prontamente encaminhou uma remessa de 42 mil unidades para reposição nos estoques". Segundo a pasta, o montante representa 1,41% das canetas distribuídas em todo o País.

Em nota, a Globalx afirma que substituiu todas as unidades com defeitos. "A empresa ainda doou, sem custo extra aos cofres públicos, mais 1,4 milhão de canetas além do originalmente previsto em edital", diz.

"Para contemplar as necessidades do mercado brasileiro e sensível às notificações feitas pelo Ministério da Saúde, a GlobalX mantém contato permanente com a pasta para promover adequações no dispositivo - algo que já está em curso", acrescenta a empresa.

Desabastecimento

Na carta ao ministério, as secretarias de Saúde apontaram também o risco de desabastecimento das canetas de insulina.

"O quantitativo de canetas reutilizáveis enviado pelo Ministério da Saúde é considerado insuficiente pela maioria das SES (Secretarias Estaduais de Saúde) e Cosems (Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde)", afirma o documento, acrescentando: "Algumas Secretarias Estaduais de Saúde não conseguem atender sequer 30% dos usuários".

Segundo o ministério, até o mês de setembro, mais de 2,9 milhões de canetas reutilizáveis foram entregues aos Estados e uma nova remessa com 494 mil unidades está prevista para ser entregue ainda em outubro.

O número de casos confirmados de intoxicação por metanol no Brasil subiu de 32 na última segunda-feira, 13, para 41 nesta quarta-feira, 15, de acordo com o boletim do Ministério da Saúde.

As mortes por intoxicação pela substância no País subiram de cinco para oito, informou o boletim. Duas novas mortes foram registradas em Pernambuco e uma em São Paulo. Com isso, o Estado paulista chegou a seis óbitos por intoxicação por metanol.

Outras 10 mortes continuam em investigação, sendo quatro em São Paulo, três em Pernambuco, uma em Mato Grosso do Sul, uma na Paraíba e uma no Paraná.

Em relação aos casos, o ministério informou que ainda existem 107 em investigação. Outras 489 notificações foram descartadas.

São Paulo concentra 60,81% das notificações, com 33 casos confirmados e 57 sendo investigados.

Até o boletim anterior, havia confirmações da intoxicação por metanol em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul. No boletim divulgado nesta quarta-feira, foi incluso o estado de Pernambuco - além das duas mortes já citadas, o Estado tem 3 casos de intoxicação confirmados e 31 em investigação.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) anunciou na tarde desta quarta-feira, 15, que "adotará as medidas jurídicas cabíveis" contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de anular a condenação de Francisco Mairlon Barros Aguiar, sentenciado a 47 anos de prisão por homicídio qualificado e furto qualificado no caso conhecido como Crime da 113 Sul.

O MPDFT questiona os argumentos dos ministros da Corte de que Mairlon teria sido coagido em depoimento a assumir participação no crime na fase de investigação do caso. De acordo com o ministério público, "não foi constatada qualquer violação à integridade física ou psicológica do investigado pelos agentes públicos responsáveis pela condução do procedimento".

"A confissão extrajudicial do acusado Francisco Mairlon foi integralmente registrada em áudio e vídeo, com acompanhamento de profissional regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), garantindo o pleno exercício do direito à ampla defesa", diz o MPDFT.

O MPDFT diz que aguardará a publicação do acórdão referente à decisão para adotar as medidas cabíveis. De acordo com o órgão, a decisão do STJ não trata do mérito da acusação e a análise meritória, "de fato, ocorreu em um julgamento solene em que acusação e defesa tiveram igualdade de oportunidades para apresentar suas razões".

"Ao final desse rito legal e após aprofundada análise das provas, a decisão soberana dos jurados, em todas as oportunidades, foi pela condenação dos réus, em plena conformidade com a Constituição Federal", diz.

Entenda o caso

Francisco Mairlon Barros Aguiar deixou o presídio da Papuda na madrugada desta quarta-feira, após ficar 15 anos preso. Em 2013, ele foi condenado pelo Tribunal do Júri a 55 anos de prisão por participação no crime que ficou conhecido como 113 da Sul. A pena foi reduzida para 47 anos na segunda instância. A soltura ocorreu por determinação do STJ, que na terça-feira, 14, anulou a condenação por conta de irregularidades no processo.

O STJ classificou a condenação de Mairlon como um "erro judiciário gravíssimo". Para o relator do recurso, ministro Sebastião Reis Júnior, a decisão que levou Mairlon a ser julgado pelo Tribunal do Júri em 2013 revela que o acusado foi julgado apenas com base na confissão apresentada pela polícia e no relato dos corréus, sem que o juízo tenha aliado a esses elementos qualquer outro decorrente da ampla investigação instaurada para apurar os crimes.

Na avaliação de Reis Junior, houve violação dos princípios da presunção de inocência e do devido processo legal, o que justifica a aplicação de entendimento firmado pelo STJ em 2022, segundo o qual não é possível submeter o acusado a julgamento pelo júri com base apenas em elementos de convicção da fase extrajudicial.