Além de alagamentos em estações de metrô, desabamentos e quedas de energia, o temporal que atingiu a capital paulista na última sexta-feira, 24, deixou um rastro de destruição em diversas regiões. Na Vila Madalena, um dos bairros mais afetados, a água chegou a atingir 3 metros de altura, invadindo residências. A correnteza também arrastou veículos, deixando carros empilhados em diferentes pontos do bairro ainda neste sábado, 25.
Com ventos fortes, granizo e 82 milímetros de precipitação concentrados em apenas uma hora, entre 15h e 16h, o fenômeno foi o terceiro maior volume de chuvas registrado na capital em 64 anos, de acordo com a Defesa Civil. Além da Vila Madalena, o bairro de Santana e Pinheiros foram os outros bairros mais afetados.
Na Rua Romeu Perrotti, a força da água derrubou o muro de um estacionamento, arrastando os veículos em direção às casas vizinhas. "A água ficou tão alta e tão forte que teve um carro que atravessou o muro e entrou em uma das residências. Os moradores perderam tudo e precisaram sair às pressas", contou a aposentada Tania Lisa, de 67 anos.
O empreendedor de saúde e estética, Claus Pita, 33, também foi uma das pessoas impactadas pela chuva. Ele relata que estava em casa quando as chuvas começaram e, em poucos minutos, o volume de água aumentou o suficiente para invadir sua residência, deixando móveis e eletrodomésticos submersos. "Perdi tudo. Vou ter que recomeçar do zero. Só consegui me salvar porque subi no telhado", conta.
Ele descreve ainda o impacto da força da correnteza. Durante a limpeza da casa, encontrou peixes mortos trazidos pela enxurrada. Um dos momentos mais tensos, de acordo com ele, foi quando uma vizinha, que não sabia nadar, precisou ser resgatada com a ajuda de moradores de um condomínio próximo, que jogaram uma corda para salvá-la. "Foi um cenário de apocalipse. A gente vê essas coisas na televisão, mas não dá para imaginar o como é horrível vivenciar isso".
Os moradores da Rua Isabel de Castela, na Vila Madalena, também enfrentaram consequências da tempestade. O cenário na região incluiu supermercados alagados, casas invadidas pelas águas e veículos empilhados pela força da correnteza. Segundo o morador Eduardo Passeri, 54 anos, a rua já é frequentemente afetada por enchentes, mas o impacto desta vez foi muito maior.
"Por isso mesmo, meu portão foi construído como uma espécie de comporta, para conter a chuva", explica. "Quando a chuva começou, mesmo vendo os carros submersos, eu estava tranquilo, porque o portão sempre segurava. Mas dessa vez foi diferente. Quando vi a água atravessando o portão, pensei: algo muito ruim vai acontecer. E aconteceu", relata.
O Estadão entrou em contato com a Prefeitura de São Paulo para obter esclarecimentos sobre o número de solicitações de limpeza urbana e remoção de veículos feitas pelos moradores entre sexta-feria, 24 e sábado, 25, além do status dessas demandas. Até o momento, porém, não houve retorno.
Alerta de risco severo
Pela primeira vez, a Defesa Civil Estadual emitiu um alerta de risco severo para todos os moradores da capital paulista. Na noite de sexta-feira, a Prefeitura informou ter mobilizado 345 veículos e 2,4 mil funcionários para reduzir os impactos do temporal.
Durante a chuva, a cidade foi atingida por 13.190 raios, dos quais 6.292 atingiram o solo. O volume de precipitação registrado na capital foi equivalente a quase metade do esperado para todo o mês de janeiro.
Especialistas alertam que, com as mudanças climáticas, serão cada vez mais comuns eventos extremos como tempestades, ondas de calor, queimadas e estiagens severas. O Brasil pode ser um dos países mais afetados. E os dados dos registros meteorológicos já confirmam uma mudança no padrão meteorológico da cidade.
Nos próximos dias, a previsão é de temporais entre o fim da tarde e o início da noite, ainda com sensação de tempo abafado. A chegada de uma frente fria ao litoral de São Paulo no domingo, 26, deve reforçar os temporais, principalmente a partir da tarde. As simulações atmosféricas mais recentes indicam que o forte calor, com temperaturas bem acima da média, deve diminuir a partir da segunda-feira, 27.
Neste sábado, o ar quente e úmido mantém a sensação de tempo abafado no decorrer do dia, com Sol entre nuvens. Os termômetros das estações meteorológicas automáticas do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura devem registrar temperatura mínima de 21°C e a máxima por volta dos 32°C.