Filme documentou o cotidiano de Marina Colasanti

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Pouco mais de dois meses atrás, em novembro, a escritora Marina Colasanti, que morreu nesta terça-feira, 28, ganhou um documentário feito por sua filha, Alessandra Colasanti.

Intitulado Marina Colasanti: Entre a Sístole e a Diástole, o documentário traz fotos e vídeos familiares de Marina que são cobertos por trechos de entrevistas dadas em vida, revelando um pouco do cotidiano da autora, do seu processo criativo e da intimidade da sua casa.

Nas imagens, pode-se ver Marina brincando com o neto, trabalhando, ao lado do marido, o poeta Affonso Romano de Sant'Anna, cozinhando ou servindo refeições em casa. Nos áudios, Marina fala da sua obra, relembra as referências que a inspiraram a escrever e ilustrar seus livros e lê trechos da sua obra.

O título do vídeo faz uma referência ao poema No Exato Momento, que a autora lê no documentário.

O filme de pouco mais de oito minutos foi exibido em primeira mão na cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti, em 19 de novembro do ano passado. Na ocasião, a Câmara Brasileira do Livro (CBL), responsável pela premiação, deu a Marina o título de Personalidade Literária do Ano. O reconhecimento se juntou a nove estatuetas do Jabuti que Marina colecionou ao longo da vida.

Confira aqui

Em nota, a CBL lamentou o falecimento da escritora. "Marina Colasanti dedicou sua vida a criar obras que emocionaram e inspiraram leitores de todas as idades. Seu talento foi reconhecido por inúmeras premiações, entre elas nove estatuetas do Prêmio Jabuti, que evidenciam sua grande contribuição para a cultura e a literatura nacional", diz a nota.

Leia o poema 'No Exato Momento':

Tão passageira a vida,

e é só o que temos.

E a tudo o que nela cabe

damos importância,

quando o que conta é o trânsito

de ar e sangue

que sístole e diástole garantem.

Haverá adiante

um ponto de mudez

e o último esforço das válvulas

uma e outra

arremessando o sol na escuridão

e entornando as estrelas

da Via Láctea.

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A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu nesta quarta-feira, 6, 40 kg de ouro escondidos dentro de uma caminhonete, em Altamira, no Pará. A carga foi avaliada em R$ 20 milhões, e é considerada a segunda maior da história das rodovias federais.

A apreensão aconteceu na BR-230 (Transamazônica). O minério estava sendo transportado em uma caminhonete com quatro ocupantes - dois adultos, que foram encaminhados à Polícia Federal, além de um adolescente e uma criança. Os menores foram levados para as autoridades competentes, informou a PRF, em nota.

A apreensão acontece dois dias depois da corporação confiscar 103 quilos de ouro, também escondidos em uma caminhonete, em uma rodovia em Boa Vista, em Roraima. O valor desta carga apreendida foi avaliada em R$ 62 milhões.

Na somatória das duas apreensões, realizadas em menos de 48 horas, foram mais de 140 quilos do mineral avaliados em mais de R$ 80 milhões.

"Os dois estados onde ocorreram as apreensões fazem parte da Amazônia Legal e sofrem com a degradação do garimpo ilegal, principalmente em territórios indígenas", informou a PRF, em nota.

O motorista, identificado como Bruno Mendes de Jesus, foi detido e encaminhado junto com o material apreendido. No momento da abordagem, sua esposa também estava a bordo da caminhonete.

O ouro apreendido em Boa Vista foi localizado em locais ocultos da caminhonete, como fundos falsos de consoles e painel. O advogado de Bruno afirmou que o suspeito tem relações com a atividade de mineração, mas afirma que o minério não pertencia a ele. "Ele só era o motorista".

A morte do reconhecido arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, aos 100 anos, foi confirmada nesta quarta-feira, 6. Com trajetória marcante na academia, prática profissional e gestão pública, ficou conhecido especialmente como o "homem de confiança" de Oscar Niemeyer em São Paulo, como coautor de projetos icônicos, como dos Edifícios Copan e Eiffel, no centro, e da Oca, do Parque do Ibirapuera.

Nascido em São Paulo, em 1925, Lemos é uma referência intelectual sobre história da arquitetura brasileira e de São Paulo, autor de diversos livros, alguns clássicos do tema. Dentre eles, estão Dicionário da Arquitetura Brasileira, Como nasceram as cidades brasileiras, O que é patrimônio histórico e Casa Paulista.

Com frequência, é lembrado pela trajetória prolífica e como um pesquisador meticuloso e observador. O sepultamento é previsto para a tarde de quinta-feira, 6, no Cemitério Gethsemâni, na Vila Sônia.

Também é reconhecido pela trajetória acadêmica de quase seis décadas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), que lhe concedeu o título de professor emérito em 2022. Foi referência na formação de diferentes gerações de arquitetos e urbanistas, os quais não raro mencionam lições do antigo mestre.

Formou-se na primeira turma de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1950, e, quatro anos depois, já começou a lecionar na USP. Como arquiteto e urbanista, é autor de dezenas de projetos, principalmente residenciais, na capital e no interior de São Paulo, incluindo o prédio do Bradesco localizado junto ao Copan.

Além disso, foi artista plástico, com obras expostas em diferentes mostras desde os anos 1940. Dentre elas, destaca-se uma exposição de 50 anos de carreira realizada na Pinacoteca, em 1995. Também participou da criação de museus importantes de São Paulo, como o Museu de Arte Sacra e o Museu da Casa Brasileira.

'Um dos maiores arquitetos brasileiros': as homenagens a Lemos

Organizações variadas prestaram homenagens a Carlos Lemos nas redes sociais. A FAU/USP lembrou a dedicação ao ensino. "Professor titular aposentado de nossa faculdade, Carlos Lemos dedicou-se por quase 60 anos à história da arquitetura brasileira e à preservação do patrimônio cultural", destacou.

Já a seccional paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/SP) chamou Lemos de "um dos maiores arquitetos brasileiros". "Formador de gerações inteiras de profissionais. Com seu conhecimento e erudição vastos e generosos, construiu no Brasil todo um campo", disse.

"Abriu espaço para pesquisas na área de arquitetura e urbanismo e para a produção editorial, contribuiu para a construção de nossas instituições de patrimônio cultural e deixou uma obra escrita marcada pela reflexão crítica e a abordagem técnica, sempre em diálogo com um público amplo", apontou. "Sua atuação plural, no ensino, no poder público e no escritório de projetos é uma das nossas mais importantes referências. Seu legado permanece como um presente."

Nas redes sociais, o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Prefeitura de São Paulo, salientou a contribuição intelectual do arquiteto para o "reconhecimento do patrimônio cultural e para a história da arquitetura e do urbanismo brasileiros". "Dedicou sua trajetória à valorização da arquitetura brasileira, à preservação e difusão da nossa memória urbana, e à formação qualificada de profissionais e pesquisadores."

Além disso, ressaltou que Lemos coordenou, nos anos 1970, em conjunto com o arquiteto Benedito Lima de Toledo, os primeiros inventários para a identificação e proteção de bens arquitetônicos paulistanos. "Sua vasta obra bibliográfica segue como referência fundamental para pesquisadores, e seu conhecimento e rigor intelectual prosseguirão na atuação dos inúmeros profissionais que formou e nas instituições em que colaborou, como o DPH."

A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) também lamentou a morte do arquiteto. "Sua contribuição ultrapassou o projeto arquitetônico: foi também um importante agente na construção de instituições dedicadas ao patrimônio cultural. Além disso, abriu caminhos para a pesquisa acadêmica e para a produção editorial na área", destacou.

Lemos sobre a parceria com Niemeyer

Nos anos 1950, foi diretor do escritório de Niemeyer em São Paulo. Ao Estadão, contou como funcionava a parceria: o modernista fazia os croquis, enquanto o então jovem arquiteto paulistano fazia o projeto de execução, com base nos cálculos de concreto. Relatou também que se encontrava com o antigo parceiro quando visitava o Rio.

Em 2019, também ao Estadão, falou sobre o projeto diferenciado do Copan. "Foi uma exceção na sua época, década de 1950, devido tanto ao seu programa de necessidades, quanto ao seu tamanho e a sua forma de 's', que resultou da sinuosidade das divisas posteriores do terreno", descreveu.

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) negou o novo recurso da Tools For Humanity, empresa de Sam Altman, de remunerar financeiramente clientes brasileiros - com criptomoedas - pela coleta de dados biométricos sensíveis, como o registro de íris, no projeto World ID. Desta maneira, a prática que ficou conhecida como "venda de íris" continua proibida no País. A decisão de 18 de julho foi divulgada nesta terça, 5.

Em janeiro deste ano, a empresa já havia sido proibida de oferecer tokens digitais, conhecidos como Worldcoin (WLD) - que podem valer de R$ 300 a R$ 700 - em troca da coleta de dados biométricos para o projeto World. Desde então, as atividades foram suspensas no Brasil. Para a ANPD, o modelo de incentivo financeiro afetava o poder de decisão e consentimento dos usuários em uma prática que desequilibrava a relação entre companhia e cidadãos.

Para voltar a operar, a empresa propôs um sistema de indicação. Ao realizar a coleta de dados biométricos, o cliente poderia indicar outra pessoa para o cadastro. Quanto mais pessoas indicadas realizassem a biometria, mais tokens o cliente poderia ganhar.

"No contexto atual, e após cessar sua operação no Brasil, a empresa informa que alterou seu processo de verificação de World ID para que o titular não receba, diretamente, o incentivo ao verificar sua World ID. No novo modelo de negócio apresentado, segundo a regulada, não haverá incentivo financeiro direto ao titular que consentir com o tratamento da sua íris, podendo este ser recompensado caso os seus indicados também realizem o processo de verificação de seu World ID", disse a empresa no processo.

No entanto, a proposta foi considerada compensação financeira indireta pela ANPD.

"Ainda que se observe, na nova proposta, um aparente distanciamento entre a coleta de dados pessoais e a concessão da contraprestação, tal separação aparentemente não se revela suficiente para afastar os riscos previamente identificados. Isso porque, mesmo com o distanciamento formal, aquele que indica terceiros permanece sendo beneficiado economicamente com base exclusiva na coleta de dados biométricos de novos titulares", diz a decisão do diretor Arthur Pereira Sabbat.

Em nota ao Estadão, a World disse que "discorda da interpretação da ANPD e pretende buscar medidas legais adicionais para esclarecer a questão". Veja abaixo:

"A World respeitosamente discorda da interpretação da ANPD e pretende buscar medidas legais adicionais para esclarecer a questão. Programas de indicação são uma prática comum no Brasil e amplamente usados em setores aéreo, financeiro, telecomunicações e de pagamentos - inclusive por instituições públicas. Acreditamos que a implementação de um programa de indicação atende à decisão técnica preliminar da Autoridade e cumpre com os requisitos da LGPD.A World continuará trabalhando junto à ANPD e seguirá o processo legal conforme estabelecido, enquanto permanece comprometida em expandir o acesso à tecnologia de prova de humanidade no Brasil. Essa importante tecnologia continuará disponível para os brasileiros em locais selecionados, de forma limitada".

Em seu argumento, a ANPD afirma que a prática da Tools for Humanity é diferente dos programas de indicação vistos em outras empresas. "Diferentemente dos programas tradicionais de indicação, em que o usuário acessa um serviço ou produto como beneficiário final, o modelo proposto transforma o dado biométrico - e não um serviço concreto, utilizável ou de valor direto ao titular - no próprio objeto da operação. A biometria passa a ser tratada como elemento central, coletada em troca de um benefício indireto concedido a terceiros, o que acentua os riscos associados ao consentimento", diz a decisão.

Reação

Em publicação, o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) apoiou a decisão da ANPD. "Proposta da empresa de recompensar usuários por indicações de terceiros não alterava modelo de negócios baseado na exploração de dados biométricos". Veja abaixo:

"O novo modelo de negócios sugerido pela empresa, baseado em recompensas por indicação de terceiros que escaneiem a íris, ainda compromete a autonomia dos titulares, especialmente em contextos de vulnerabilidade socioeconômica. Trata-se do mesmo problema que levou à adoção da medida preventiva em janeiro de 2025", diz a nota.

Como funcionava o cadastro e pagamento da coleta de íris?

Para realizar o cadastro pessoal no sistema da Tools for Humanity, chamado de World ID, os usuários precisavam realizar reconhecimento facial e escaneamento de íris, que são dados biométricos sensíveis. Em troca, a startup oferecia algumas dezenas de "moedas digitais" (chamadas worldcoins) que podiam ser vendidas dentro do próprio aplicativo por "dinheiro de verdade". Na prática, a pessoa fazia uma imagem de alta resolução da íris e recebia tokens de criptoativos, como o bitcoin, que podiam ser trocados por reais - dependendo da cotação dessa moeda era possível receber entre R$ 300 e R$ 700.

O serviço vinha ganhando muitos adeptos em São Paulo, primeira cidade no Brasil a participar do projeto. Como mostrou o Estadão, muitos dos participantes apresentavam algum tipo de vulnerabilidade social e topavam o registro da íris apenas pelo dinheiro "rápido" e "fácil". Desde 2024, a ANPD, por meio da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), vem fiscalizando o uso de dados biométricos para a nova rede social. Segundo a Tools for Humanity, o World ID permitiria a comprovação de que o titular é um ser humano único vivo e promoveria maior segurança digital em contexto de ampliação das ferramentas de inteligência artificial (IA).