'Cadeia não diminui a violência urbana. Temos que distribuir renda', diz Drauzio Varella

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Drauzio Varella está lançando seu 20º livro, O Sentido das Águas, registro de viagens que fez pela bacia do Rio Negro. Em entrevista ao Estadão, publicada nesta segunda-feira, 31, além de falar sobre o novo trabalho, o médico e escritor relembrou sua atuação no extinto presídio do Carandiru, na zona norte de São Paulo, que resultou no best-seller Estação Carandiru, vencedor do Prêmio Jabuti e adaptado para os cinemas por Hector Babenco.

Perguntado sobre o que a sociedade brasileira precisa aprender que não aprendeu com aquele massacre que causou a morte de 111 detentos, ele disse: "Em primeiro lugar, a reconhecer que a cadeia não reduz a violência urbana. Claro que se tem um cara assaltando na esquina da minha casa, eu quero que ele vá preso. Mas eu não posso ter a ilusão que dessa forma eu estou reduzindo a violência."

Varella afirmou que, quando começou a trabalhar no sistema prisional, em 1989, o Brasil tinha 90 mil presos. Hoje, tem cerca de 800 mil presidiários.

"Nesse período, nós aumentamos nove vezes a população prisional. Diminuiu a violência? Claro que não. Não é assim que vamos diminuir a violência. O que faz diminuir a violência? Educação e oportunidade. Se você tem uma sociedade que privilegia as diferenças sociais, em que a pobreza não é combatida, vai ter violência", opinou o doutor.

Ele ainda comparou a situação nos Estados Unidos e criticou a concentração de riquezas ao relembrar a posse do presidente Donald Trump. "Os três caras que estavam lá, [Mark] Zuckerberg, [Elon] Musk e [Jeff] Bezos? A fortuna dessas três pessoas é igual à da metade inferior da sociedade americana, que são 170 milhões [de pessoas]. Conclusão: você sai daquela parte mais civilizada das cidades americanas e você cai num nível de violência absurda", falou.

"Enquanto isso, na China tiraram 800 milhões de pessoas da pobreza extrema. É um país muito menos violento do que os EUA. Então, enquanto não nos convencermos de que nós temos que distribuir renda e que não dá para viver com essa concentração que temos hoje, querer andar em paz pelas ruas sem que aconteça nada será apenas um sonho", alertou o oncologista de 81 anos.

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Um engavetamento na Rodovia Raposo Tavares, no sentido de São Paulo, deixou ao menos doze pessoas feridas na manhã desta segunda-feira, 17. A Ecovias Raposo Castello disse que o acidente aconteceu no km 17 da marginal da rodovia às 7h40.

"O incidente envolveu 16 veículos - sendo um ônibus, que apresentou falha no sistema de frenagem, duas motocicletas e os demais automóveis. Até o momento, foram registradas 2 vítimas graves, 2 moderadas, 8 leves. Outros usuários saíram ilesos", disse a concessionária.

Não há interdição ou registro de congestionamento na rodovia em razão da ocorrência. Apenas a alça de acesso ao Carrefour está fechada, mas com desvio em andamento.

O comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), tenente-coronel Marcelo Corbage, desmentiu a afirmação do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), de que a estratégia "muro do Bope" teria sido planejado para encurralar traficantes e evitar confrontos em áreas com moradores.

O que disse Corbage

Em depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), "não é verdade que os policiais do Bope tenham se posicionado previamente na Serra os Misericórdia para fazer o que é conhecido como 'troia'" - um tipo de emboscada ilegal em que policiais ficam escondidos para atacar suspeitos.

O que disse o governador

A declaração do comandante contradiz o principal argumento do governador do Rio e seus aliados para explicar o fato de os confrontos terem ocorrido na área de mata, onde posteriormente foram encontrados dezenas de corpos. "Os confrontos estão acontecendo, e não vou dizer 100% porque pode ter acontecido um ou outro, mas majoritariamente em área de mata. Foi pensado para encurralá-los lá para que a população sentisse o mínimo possível", disse Castro.

O secretário da Polícia Militar do Rio, Marcelo de Menezes, afirmou em entrevista que houve "incursão de tropas do Bope na área mais alta da montanha da Serra da Misericórdia, que divide esses dois complexos (Penha e Alemão), operando o que a gente chamou de 'Muro do Bope'".

O que falta esclarecer?

Não está claro se policiais se posicionaram previamente no alto da mata ou se foram induzidos pelos criminosos para o confronto na região. Corbage afirmou que os "criminosos" teriam ido para a mata com o objetivo de se antecipar aos policiais civis e pegá-los desprevenidos.

"Imagens de drone mostram criminosos se deslocando ordenadamente para a Vacaria, claramente com a intenção de preparar uma emboscada para as forças de segurança. Em razão de relativa falta de resistência, os policiais civis foram progredindo, sendo atraídos para uma armadilha", afirmou.

O que é o "Muro do Bope"?

O "Muro do Bope" foi, na prática, uma linha de contenção formada por agentes de segurança para empurrar os suspeitos para o topo do morro. Ainda de acordo com o secretário da PM, a operação teve 60 dias de planejamento. O Estado diz que a estratégia foi necessária para avançar sobre um território dominado pelo crime organizado.

A investigação do caso em que um homem morreu na última quinta-feira, 13, após a explosão de uma casa utilizada como depósito clandestino de fogos de artifício no Tatuapé, zona leste de São Paulo, indica que ele fabricava pólvora no local. O comandante Vitor Capello Haddad, do Esquadrão de Bombas do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Estado de São Paulo, disse em entrevista à TV Globo que os indícios apontam que Adir Mariano não apenas montava artefatos explosivos, mas também produzia pólvora.

Segundo Haddad, foram encontradas diversas ferramentas no local, como prensa, peneira e balança. Ele afirmou ainda que foram apreendidos mais de 1,2 mil foguetes, que estavam no interior de um veículo e não foram acionados. Entre os itens localizados pelos policiais, havia também uma bomba com quase um quilo de pólvora.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que o caso é investigado pela 5ª Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), que "trabalha para identificar todos os envolvidos, incluindo eventuais fornecedores do material apreendido."

Mariano era baloeiro e respondia a dois processos pelo crime, de acordo com o delegado Filipe Soares, da 5ª Cerco. "Ele tem passagem pela polícia em 2011 e 2012 por soltar balões. Foi capturado [à época] pela Polícia Civil e estava respondendo ao processo. Em um deles, foi absolvido", afirmou Soares.

A explosão que matou o suspeito ocorreu na Rua Francisco Bueno, altura do número 73, por volta das 19h50 de quinta-feira. As rajadas de fogos artifício cruzaram a Avenida Salim Farah Maluf, que fica a poucos metros do imóvel. Imagens que circularam nas redes sociais flagraram uma área em chamas e uma grande coluna de fumaça nos arredores de prédios. Câmeras de monitoramento registraram o momento da explosão, com várias rajadas de fogos de artifício.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, além da morte de Mariano - encontrado carbonizado -, a explosão deixou 10 feridos. Uma mulher com traumatismo craniano e um homem com escoriações foram encaminhados ao Hospital Nipo-Brasileiro; um homem com otorragia (sangramento do ouvido) foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a um pronto-socorro no Tatuapé; outro homem, com ferimento na mão, foi atendido pelo convênio; e outras seis pessoas, com ferimentos leves, foram avaliadas no local e liberadas. Ao todo, 23 casas foram interditadas, mas, até o fim de sexta-feira, 14, apenas 11 permaneciam bloqueadas.

Mariano morava no local com a mulher havia 40 dias. Ela disse à polícia que não sabia que os materiais eram guardados no fundo da residência. O celular dela foi apreendido e passará por perícia. Os itens apreendidos pelo GATE também serão periciados. A Polícia Civil investiga se o suspeito atuava sozinho e quem fornecia os materiais.

Segundo Soares, a principal hipótese, até o momento, é de que Adir manuseava os artefatos na hora da explosão. "Ele não tinha nenhuma autorização da prefeitura e de outro órgão público para armazenar equipamentos explosivos em uma área residencial", disse o delegado.

O caso foi registrado como explosão, crime ambiental e lesão corporal. "O armazenamento ilegal de materiais explosivos representa grave risco à vida e à integridade da população. Todas as medidas cabíveis estão sendo adotadas para esclarecer os fatos e responsabilizar eventuais envolvidos", disse a SSP.