Jurado do Jabuti diz que não sabia que livro foi ilustrado por IA e não indicaria se soubesse

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O Prêmio Jabuti, uma das mais importantes premiações da literatura brasileira, indicou um livro feito a partir de inteligência artificial para a categoria de melhor ilustração do ano. Os semifinalistas de 2023 foram anunciados nesta quinta-feira, 9.

A obra em questão é uma edição do clássico Frankenstein, de Mary Shelley, lançado pela editora Clube de Literatura Clássica em 2022. Ao Estadão, o designer responsável pela criação, Vicente Pessôa, defendeu o uso da tecnologia e esclareceu que não informou o uso da IA na inscrição, pois "não perguntavam".

Após a divulgação de que o livro estava entre os indicados do Jabuti, o assunto teve grande repercussão nas redes sociais, inclusive com críticas ao prêmio. "Estou achando legal demais. Gosto de polêmica, gosto de gente chorando, esperneando, rasgando as vestes. Divulga meu nome e o Clube. Eu só acho que os ilustradores que estão achando realmente ruim vão ficar para trás. O IA está aí e veio para ficar", diz Pessôa.

"A gente não falou, mas havíamos falado longamente na nossa divulgação no ano passado que esse era o primeiro livro da história do universo que foi inteiramente ilustrado por IA", explica o designer sobre a inscrição.

No lançamento da obra, a editora promoveu uma live do designer com Zé Lima, o gerente editorial do Clube. A transmissão ao vivo explicou o processo de desenvolvimento da capa e das ilustrações do livro.

Pessôa não vê necessidade em informar o Jabuti sobre a criação com IA. "Seria a mesma coisa que informar que utilizei uma câmera fotográfica, utilizei photoshop, illustrator ou xilogravura. É um negocio meio estranho".

A escolha dos indicados e dos vencedores da categoria ilustração é feita por três jurados especialistas na área: André Dahmer, Eduardo Baptistão e Lucia Mindlin Loeb. O Estadão entrou contato com eles para esclarecer se sabiam que a obra foi feita por IA. Dahmer e Lucia não retornaram, mas Baptistão afirmou não saber que o livro havia usado a tecnologia.

"Quem atua como jurado sabe que isso iria acontecer em algum momento. Infelizmente, aconteceu cedo. Falo por mim, não sei o voto dos outros jurados. Evidente que eu não teria selecionado o livro se tivesse essa informação. As ilustrações me impressionaram pela qualidade, e havia uma unidade estética entre elas. Eu não tinha como saber que foram feitas por IA", declarou.

O jurado ainda explicou que "o regulamento diz que o autor responde pela originalidade, autenticidade e/ou autoria do material inscrito". "Na minha opinião, a IA não se enquadra nesses critérios. Mas quem vai determinar o que fazer neste caso é a CBL [Câmara Brasileira do Livro, que organiza o Prêmio Jabuti], baseada no parecer da sua assessoria jurídica", completou.

Segundo Pessôa, as ilustrações do livro foram realizadas com o software Midjourney através de "prompts" - comandos dados por escrito à inteligência artificial. "Foram feitas mais de 1.200 imagens, das quais a gente aproveitou 50. Talvez fosse menos trabalhoso ilustrar na mão", explica.

Frankenstein concorre com outras nove obras. Veja quais são:

A notável história do homem-listrado | Ilustrador(a): Fayga Ostrower | Editora(s): EDUFRN

Castelos de areia | Ilustrador(a): Odilon Moraes | Editora(s): ÔZé Editora

Feira feroz | Ilustrador(a): Daniel Kondo | Editora(s): VR Editora

Frankenstein | Ilustrador(a): Vicente Pessôa | Editora(s): Clube de Literatura Clássica

Lá fora | Ilustrador(a): André Neves | Editora(s): Companhia das Letrinhas

Minúscula | Ilustrador(a): Fran Matsumoto | Editora(s): Brinque-Book

Moby Dick, ou A baleia | Ilustrador(a): Letícia Lopes | Editora(s): Antofágica

O dedão do pé do gigante | Ilustrador(a): Bruna Ximenes | Editora(s): Editora do Brasil

O povo Kambeba e a gota d'água | Ilustrador(a): Cris Eich | Editora(s): Edebe Brasil

Sou mais eu | Ilustrador(a): Rogério Coelho | Editora(s): DarkSide

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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O Ministério da Saúde quer direcionar recursos financeiros para vagas de pós-graduação médica em áreas com poucos médicos no Sistema Único de Saúde (SUS), como patologia clínica e oncologia. A proposta foi anunciada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a divulgação do estudo Demografia Médica da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) nesta quarta-feira, 30.

"Queremos fazer uma parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) para que essas pós-graduações aconteçam nas vagas prioritárias que o SUS mais precisa e onde precisa. O Ministério da Saúde está disposto, inclusive, a ter um acordo financeiro, colocar recursos para direcionar essas vagas", disse o ministro.

Essas pós-graduações em Medicina têm características bastante heterogêneas, conforme mostra o estudo Demografia Médica. Podem ser presenciais ou EAD, com ou sem prática, com pelo menos 360 horas e não possuem uma fiscalização ou regulamentação. Por outro lado, as residências médicas, consideradas o padrão-ouro para especialização na Medicina, têm uma carga horária de cerca de 3.000 horas anuais, são majoritariamente práticas e realizadas com supervisão médica em hospitais ou unidades de saúde.

As pós-graduações latu sensu em Medicina têm crescido exponencialmente no Brasil, ocupando uma lacuna deixada pelo déficit de vagas em residências médicas no País em comparação com a alta de médicos graduados. A expectativa é de que neste ano quase 35 mil médicos recém-formados saiam das faculdades, concorrendo a menos de 20 mil vagas de acesso direto ao primeiro ano de residência.

Para obter o título de especialista, o médico pode fazer a residência (que confere o título automaticamente) ou então prestar a prova da sociedade que representa cada especialidade (o que pode ser feito após uma pós-graduação, mas não há essa obrigação). Nem todas as especialidades médicas, porém, têm provas de título - o que, na prática, faz com que só seja possível se tornar especialista por meio da residência.

'Mais Médicos' para residências

Padilha falou sobre a criação de um grupo de instituições de excelência para apoiar a formação de residentes em áreas remotas, onde há uma baixa relação de médicos por habitante. Disse ainda que está estudando um conjunto de ações voltadas para as residências médicas que ainda será anunciado.

"O principal desafio é como a residência vai chegar nessas regiões com menor número de médicos", disse o ministro. "O estudo (Demografia Médica) dá todos os elementos de onde nós precisamos jogar esforços para expandir com qualidade programas de residência médica", completou.

A criação de especializações médicas nesses locais é uma estratégia pensada pelo Ministério da Saúde, pois os estudos mostram que as residências são as principais responsáveis pela fixação futura de profissionais nas cidades (muito mais do que as graduações).

"Seria uma espécie de Mais Médicos para as especialidades que precisam em determinadas regiões do País e faz um condutor financeiro para que o especialista vá para essa região e permaneça no SUS depois", explicou o ministro.

Para cumprir esse objetivo de incentivar a formação de especialistas em áreas e regiões prioritárias para o SUS, o Ministério da Saúde criou, em 2009, o programa federal Pró-Residências, que financia bolsas de residência médica em instituições públicas e privadas sem fins lucrativos. Em 2019, o programa foi interrompido e foi retomado em 2023.

Exame de progressão

Outra medida que o Ministério da Saúde estuda voltada aos cursos de Medicina é a criação de uma avaliação de progressão dos estudantes, com provas feitas ao longo de toda a graduação para medir a evolução dos alunos e corrigir possíveis deficiências durante o percurso da graduação. O objetivo é impedir que os alunos cheguem ao final da graduação com lacunas de conhecimento, além de também avaliar os cursos de forma contínua.

O primeiro passo desse projeto foi dado na última semana, quando, junto com o Ministério da Educação (MEC), a pasta anunciou o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), para avaliar o desempenho de estudantes e os cursos de formação médica, em substituição ao Enade, servindo também como via de acesso a residências médicas.

O Enamed deve começar a ser aplicado em outubro deste ano. Já as provas de progresso ainda não foram instituídas e não têm data prevista.

Esse formato de avaliação aplicada ao longo da formação é "o que existe de melhor no mundo hoje", segundo Padilha, usado mesmo em países como os Estados onde há também um exame obrigatório que habilita os médicos a exercerem a profissão (como propõe um projeto de lei e já ocorre com os advogados no Brasil).

Alguns especialistas defendem, inclusive, que as avaliações de ensino tenham consequências para os cursos - aqueles que tiverem uma média geral ruim seriam impedidos de abrir novas turmas.

Junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), o Ministério da Saúde também está estudando uma atualização das diretrizes curriculares de Medicina, que definem regras gerais do que os cursos de todo o País devem ensinar.