Netflix é multada em R$ 11 milhões pelo Procon

Variedades
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O Procon de Minas Gerais multou administrativamente a Netflix em R$ 11 milhões na quinta-feira, 11, por cláusulas abusivas no contrato de prestação de serviços e nos termos de privacidade, em especial pela cobrança de taxa extra ao usuário em domicílios diferentes. Segundo o órgão, a empresa pratica "publicidade enganosa, falta de informação adequada e exige do consumidor vantagem excessiva". Procurada pelo Estadão, a Netflix ainda não se pronunciou.

 

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) realizou em 2023 uma audiência com a empresa sobre as cláusulas contratuais e os termos de privacidade relacionados ao usuário, tendo proposto um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A Netflix não aceitou o acordo. A empresa alegou ao Procon-MG que "seus serviços são de uso pessoal e intransferível", ao ser acionada em maio de 2023 sobre a cobrança de taxa por ponto adicional inferida aos assinantes.

 

Já o MPMG explica que a multa administrativa foi aplicada pois "uma pessoa pode ter múltiplas residências, e seu domicílio pode ser considerado em qualquer uma delas, nos termos do Código Civil", o que infere que a Netflix viola o Código do Consumidor. "Se um serviço de streaming de música, por exemplo, utilizasse o mesmo modelo adotado pela Netflix, não se poderia sequer escutar música enquanto dirige. Logo, o novo sistema de cobrança utilizado contraria a própria publicidade dela, que preconiza: 'Assista onde quiser'", finaliza o MPMG.

 

Além da cobrança de taxas extras por residência, a empresa ainda responde por violações relacionadas à privacidade do usuário, visto que a Netflix prevê a divulgação ilimitada dos dados do consumidor sem a anuência do consumidor. "Ao fazer isso, o fornecedor incorre em infração, pois condiciona a contratação do serviço à cessão do direito de utilização de dados", afirma o promotor de Justiça Fernando Abreu ao Procon-MG.

Em outra categoria

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) registrou nesta sexta-feira, 17, um novo caso humano de febre amarela. É o segundo confirmado nesta semana.

O paciente é um jovem de 21 anos, morador de Santo André, que viajou recentemente para Joanópolis, na região de Campinas. A pasta não informou o estado de saúde do rapaz.

Na segunda-feira, 13, a secretaria reportou o primeiro caso de 2025. Na ocasião, a SES informou que o paciente era um homem de 27 anos, morador da capital paulista, com passagem por uma área rural no município de Socorro, também na região de Campinas.

Nos dois casos os homens não tomaram a vacina, principal medida de proteção contra complicações da doença.

Até então, os últimos casos no estado haviam sido registrados no primeiro semestre de 2024. Em março, um homem de 50 anos que morava em Águas de Lindóia e costumava se deslocar pela região de Monte Sião, em Minas Gerais, morreu em decorrência da doença. Pouco depois, um rapaz de 28 anos foi diagnosticado na zona rural de Serra Negra. Ele estava vacinado e se recuperou completamente.

Mortes de macacos

Quatro macacos bugio foram encontrados mortos na mata do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, na semana entre o Natal e o Ano Novo. Testes confirmaram que os animais foram vítimas de febre amarela.

Além disso, exames confirmaram outros cinco casos em primatas não humanos: um em Pinhalzinho, na região de Campinas; três em Ribeirão e um em Socorro.

Diante das confirmações, a SES ampliou ações de capacitação de equipes nos municípios com foco na vacinação, controle de vetor e atendimento de casos suspeitos da doença. Segundo a pasta, foram encaminhadas 55 mil doses da vacina para Ribeirão Preto e 75 mil para a região de Campinas.

Como ocorre a transmissão?

Há dois diferentes ciclos de transmissão da febre amarela, o silvestre e o urbano. No ciclo silvestre, os macacos são os principais hospedeiros e os vetores são mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nesse ciclo, o homem participa como um hospedeiro acidental ao frequentar áreas de mata. Já no ciclo urbano, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica e a transmissão ocorre a partir de mosquitos Aedes aegypti infectados.

A febre amarela pode ser transmitida por macacos?

Não. Apesar de os macacos serem hospedeiros da doença no seu ciclo silvestre, ela é transmitida apenas por mosquitos infectados.

Qual a melhor forma de se proteger?

A principal medida de proteção contra a febre amarela é a vacinação. Atualmente, o calendário vacinal prevê uma dose do imunizante aos 9 meses de idade e outra aos 4 anos. Em pessoas com mais de 5 anos não vacinadas previamente, utiliza-se o esquema de dose única. O imunizante é oferecido gratuitamente em postos de saúde de todo o País.

Quais os sintomas da febre amarela?

De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas iniciais da doença são: febre de início súbito, calafrios, dores na cabeça, nas costas e no corpo em geral, além de enjoo, vômito e fraqueza.

Via de regra, as pessoas melhoram após esses sintomas, mas 15% ficam cerca de um dia sem sintomas e, depois, evoluem para quadros mais graves. Por isso, é importante ter um acompanhamento médico.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, assinou nesta sexta-feira, 17, três portarias para tentar reduzir e monitorar a letalidade policial e combater a criminalidade.

Uma das portarias regulamenta o uso da força por policiais, numa atualização do decreto publicado no mês passado pela pasta. O texto define as diretrizes para abordagens e para o uso de instrumentos com menor potencial ofensivo, deixando as armas de fogo como último recurso.

Entre as principais orientações, está a que prevê que armas de fogo só devem ser usadas como último recurso pelos policiais. O decreto também diz que "não é legítimo" o uso delas contra pessoas desarmadas em fuga ou veículos que desrespeitem bloqueios policiais em via pública, com exceção de casos em que haja risco ao profissional de segurança ou a terceiros.

A norma também orienta sobre o uso da força policial e como ela deve ser empregada: de forma diferenciada, com a "seleção apropriada do nível" a ser aplicado e minimizando o uso de meios que possam causar "ofensas, ferimentos ou mortes".

Outra portaria institui o Comitê Nacional de Monitoramento do Uso da Força (CNMUDF), para monitorar e avaliar a implementação das políticas relativas ao uso da força por profissionais de segurança pública.

O órgão vai produzir relatórios com análises e orientações para reduzir a letalidade policial, estimular estatísticas, elaborar orientações para programas visando o controle da força policial e articular com entidades da sociedade civil.

A última portaria cria o Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado. O objetivo, entre outros, é mapear a atuação, os vínculos e as atividades econômicas de organizações criminosas, agilizar os processos de identificação e retomada de bens desses grupos e definir um plano anual de operações visando combater esses criminosos.

A instituição do núcleo antecipa a centralização que o governo federal pretende fortalecer no combate à criminalidade com a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública.

"Para que não se diga que é algo contra os policiais. É a favor dos policiais. Porque dá firmeza e segurança ao profissional nas diversas situações em que ele se encontra no desempenho de suas atividades", declarou Lewandowski em coletiva de imprensa após a assinatura dos documentos.

O ministério também pretende oferecer cursos de capacitação em 110 edições para 4,5 mil profissionais de segurança, que atuariam como "multiplicadores" desse treinamento em seus respectivos Estados.

"O que pretendemos é estimular a edição, pelos mais distintos órgãos de segurança pública, de atos normativos disciplinando o uso da força policial, sempre nas respectivas competências", afirmou o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comentou nesta sexta-feira, 17, o pedido feito pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para a gestão municipal explicar em até 24 horas a construção de um muro na região da Cracolândia, no centro da capital paulista. Segundo ele, a Prefeitura ainda não foi notificada formalmente pela Corte.

"Nós estamos falando do Supremo Tribunal Federal, de um ministro", disse, em coletiva de imprensa. "Estamos aguardando e, ele questionando, a gente vai responder."

Nunes aproveitou também para rebater críticas de entidades da sociedade civil sobre a construção do muro, levantado no ano passado no encontro entre as ruas dos Protestantes e General Couto de Magalhões. "As pessoas estão muito desocupadas, ficam criando coisas", disse. "Eu gostaria muito que eles pudessem fazer o que a gente tem feito, a nossa equipe de saúde, assistência social."

Como mostrou o Estadão, a construção do muro, concluída em maio do ano passado, potencializou as críticas com relação à forma como a gestão do prefeito trata os problemas da dependência química e do crescimento da violência na região central. Segundo consta no Portal da Transparência, a prefeitura pagou quase R$ 96 mil pelo serviço.

Diante das críticas direcionadas à medida, a Defensoria Pública do Estado recomendou nesta quarta-feira, 15, à gestão municipal a retirada de gradis e demais barreiras físicas colocados na Cracolândia. Em relatório de junho do ano passado, logo após a repercussão da instalação de gradis, o órgão chegou a comparar o local a um "curral humano".

Na noite desta quinta-feira, 16, após pedido pela retirada do muro feito por parlamentares do PSOL, foi a vez de o ministro Alexandre de Moraes pedir explicações sobre a construção do muro. O pedido foi apresentado em ação relatada por Moraes sobre a Política Nacional para a População em Situação de Rua. Antes de emitir decisão, o ministro quer ouvir a Prefeitura.

"Não tem decisão do ministro Alexandre (de Moraes) e não existe nenhum fundamento legal para qualquer decisão. Que decisão ele tomaria? Volta o tapume?", questionou Nunes. "Fazer um ofício hoje, para fazer um ministro do STF perder tempo por um negócio que aconteceu em maio do ano passado, é amplamente sem nexo. Eu particularmente fico sem entender qual é o objetivo disso."

A Prefeitura de São Paulo tem reforçado que, antes de o muro ser instalado junto ao fluxo de usuários, já havia tapumes exatamente no mesmo local. "A troca dele (tapume) foi realizada para proteger as pessoas em situação de vulnerabilidade, além de moradores e pedestres, e não para 'confinamento'", disse a gestão municipal, em nota enviada à reportagem ao longo da semana.

Nesta sexta, Nunes afirmou que um dos motivos da troca foi que algumas pessoas chegaram a se machucar por conta de "saliências" desses tapumes." Teve até um caso de uma pessoa que teve um corte profundo na mão um tempo atrás e, até por isso, foi decidido fazer a substituição daquele material de ferro por um material de cimento", disse.

Outra justificativa é que a instalação facilitaria a prestação de tratamentos a usuários, além da entrada de ambulâncias e carros das equipes de assistência social para atuar junto ao fluxo - um dos pedidos da Defensoria foi justamente por dados que comprovassem isso.

"É uma pena que a gente tenha de ficar perdendo tanto tempo, em vez de ficar ali cuidando das pessoas, convencendo a ir para tratamento", disse Nunes. O prefeito afirmou que cinco usuários foram direcionados para tratamento nesta quinta-feira, 16. "Hoje temos mais de 2,5 mil pessoas em tratamento", disse. "A única coisa de boa que tem dessa história fantasiosa do muro é que a demonstração dessa região mostra número muito menor de usuários de drogas do que se tinha."

Dados da Prefeitura apontam que, em média, tem havido 139 integrantes do fluxo durante o período vespertino em janeiro. À noite, são cerca de 240 pessoas. No mesmo recorte do ano passado, eram 524 pessoas no período diurno e 544, no noturno.

O Estadão percorreu o entorno do fluxo na manhã de quarta e encontrou o local, de fato, mais esvaziado do que em outras ocasiões, mas comerciantes relatam que houve espalhamento para outras ruas próximas. De um lado da Cracolândia, na Rua dos Protestantes, havia gradis instalados pela Prefeitura. Do outro, na General Couto de Magalhães, estava o muro de concreto, com 40 metros de comprimento por 2,5 metros de altura.

Entidades criticam construção de muro na Cracolândia

Entidades que atuam no local alegam que a obra teve como objetivo isolar os usuários e dificultar os trabalhos de assistência. O padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, descreve a construção como o "muro da vergonha". "Em vez criar portas para sair, portas para entrar, pontes para mudar, criam-se muros para segregar. Isso não é solução", disse, nas redes sociais.

A ONG Craco Resiste também criticou. "O espaço que foi delimitado para que as pessoas fiquem concentradas não conta com nenhum banheiro ou ponto de água potável próximo. Durante as revistas coletivas são tomados diversos objetos pessoais dessa população, sem nenhum critério objetivo claro, enquanto os guardas proferem xingamentos contra as pessoas", afirma, em nota.

Segundo o psiquiatra Flavio Falcone, o efeito da construção do muro foi espalhar ainda mais os usuários. "Sou morador do centro, moro na (Avenida) Duque de Caxias, e o que estou vendo, principalmente de dezembro para cá, é que o fluxo está completamente espalhado pela região", disse.

Falcone afirma que a nova configuração tem dificultado inclusive o tratamento dos usuários. "Não consigo entender a relação do muro com dar mais segurança às equipes e melhorar o atendimento. As equipes dos consultórios de rua não entram no fluxo", disse ele, que trabalha com pessoas em situação de rua desde 2007 e atua há mais de uma década na Cracolândia. /COLABORARAM LÍVIA MACHADO e JOSÉ MARIA TOMAZELA