'Só trabalho naquilo que me liberta', diz Beyoncé em rara entrevista para revista

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Capa da revista GQ do mês de outubro, a cantora Beyoncé concedeu por e-mail uma entrevista exclusiva para a revista, que foi divulgada nesta terça-feira, 10. A artista, de 43 anos, disse estar aproveitando o verão do Hemisfério Norte na Costa Leste dos Estados Unidos. Cercada por amigos e familiares, Beyoncé tem tentado acordar às 6h, antes dos filhos despertarem, e se esforçado para "reunir forças para malhar".

Confira os principais pontos da entrevista com a cantora, que lançou no ano passado o seu oitavo álbum,Cowboy Carter, e está à frente de empreendimentos como a linha de produtos capilares Cécred e a marca de uísque SirDavis.

Trilogia de álbuns iniciada por 'Renaissance'

Beyoncé explicou o que despertou a ideia de lançar a trilogia de discos que exploram gêneros diferentes, ressaltando que misturar os gêneros musicais sempre foi algo presente em sua carreira - que teve influências de R&B, dance, country, rap, zydeco, blues, ópera e gospel, para citar alguns. No centro da decisão, está a intenção de homenagear artistas que vieram antes dela.

"Acredito que os gêneros são armadilhas que nos prendem e nos separam. Eu experimentei isso por 25 anos na indústria musical. Artistas negros e outros artistas racializados vêm criando e dominando diversos gêneros, desde sempre", disse. "Alguns dos artistas mais talentosos nunca alcançam os elogios que merecem, especialmente quando desafiam a norma", completou.

Pausa nos videoclipes

Beyoncé foi pioneira dos álbuns visuais, mas Renaissance e Cowboy Carter foram lançados sem material audiovisual para acompanhá-los. A cantora afirmou querer deixar a música no centro, já que o vídeo pode ser uma distração da qualidade da voz e dos arranjos sonoros.

"Achei importante que, em uma época em que tudo o que vemos são visuais, o mundo possa se concentrar na voz. A música é tão rica em história e instrumentação", explicou. "Os fãs de todo o mundo se tornaram o visual, todos tivemos o visual na turnê", exemplificou a senhora Carter.

Perfeccionista?

A artista declarou que, apesar da fama de perfeccionista, as expectativas sobre seu trabalho não a aprisionam. "Eu crio no meu próprio ritmo, sobre coisas que espero que toquem outras pessoas. Espero que meu trabalho incentive as pessoas a olharem para dentro de si mesmas e a aceitarem sua própria criatividade, força e resiliência. Não estou focada no perfeccionismo", disse.

A fama, no entanto, pode ser diferente: "Só trabalho naquilo que me liberta. É a fama que às vezes pode parecer uma prisão. Então, quando você não me vê nos tapetes vermelhos, e quando eu desapareço até ter arte para compartilhar, é por isso".

Maternidade e carreira

A ex-Destiny's Child também falou sobre como concilia ser uma das maiores estrelas da música com a maternidade, a vida pessoal e o esforço físico necessário para a carreira e as turnês.

"Uma coisa em que trabalhei arduamente foi garantir que meus filhos pudessem ter o máximo de normalidade e privacidade possível, garantindo que minha vida pessoal não se transformasse em uma marca", afirmou.

Ela ressalta que seus horários de trabalho são planejados em torno da rotina da prole. "Tento fazer turnê apenas quando meus filhos estão fora da escola. Eles vão comigo aonde quer que eu vá, vêm ao meu escritório depois da escola e estão no estúdio comigo".

Perguntada sobre o fim de sua carreira, ela, que já comparou o que faz com ser um atleta, não revelou nenhum plano, mas ressaltou que tem levado seu corpo ao extremo de suas capacidades por muitas décadas. "Eu me aposentei da fórmula da estrela pop há muito tempo. Parei de me concentrar no que é popular e comecei a focar nas qualidades que melhoram com o tempo e a experiência. Boa música e mensagens fortes nunca se aposentam", deixou claro.

O que Beyoncé tem escutado

Apesar de passar a maior parte de seu tempo ouvindo clássicos como Stevie Wonder, Marvin Gaye e músicas de artistas do selo Stax, a criadora de Sasha Fierce diz "amar e respeitar" muitos compositores atuais. Veja um pouco do que ela tem ouvido:

- Raye;

- Victoria Monét;

- Sasha Keable;

- Chloe x Halle;

- Reneé Rapp;

- Doechii;

- GloRilla;

- That Mexican OT;

- Sabrina Carpenter;

- Thee Sacred Souls;

- Chappell Roan;

- Miley Cyrus.

Fora do mundo da música, a cantora tem assistido A Casa do Dragão e The Chi, um drama coming of age sobre um grupo de jovens negros que mora na região sul de Chicago. Ela também contou que Divertida Mente 2 foi o melhor filme que assistiu este ano.

SirDavis Whiskey e ancestralidade

Beyoncé é dona da linha de produtos para cuidados capilares Cécred e da marca de uísque SirDavis Whisky. Segundo ela, os empreendimentos não têm relação com sua persona artista, que "sempre foi prioridade".

No entanto, a criação da SirDavis abriu um portal para a sua própria história familiar, que a cantora tem buscado trazer mais para suas obras musicais desde Lemonade. Ela descobriu que o bisavô, Davis Hogue, havia sido um fabricante de uísque clandestino no Alabama há mais de 200 anos - o que teria reforçado sua crença de que o passado, o presente e o futuro estão ligados.

"Sinto-me conectada aos meus ancestrais e acredito que eles estão guiando a mim e a minha família. Tento manter meu coração aberto à orientação deles. Sou uma extensão do meu tio Johnny, do meu bisavô, da minha avó Agnéz Deréon. Amo as coisas que eles amavam, antes mesmo de saber que elas eram amadas por eles", contou.

Ela também disse que sente que seus sonhos, paixões, habilidades, medos e traumas estão conectados aos de seus antepassados. "Me sinto honrada em compartilhar o legado da minha família", declarou.

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A Justiça de São Paulo negou o pedido de prisão preventiva do policial militar Guilherme Augusto Macedo, responsável pelo disparo que resultou na morte do estudante de Medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos. O jovem foi alvejado na barriga na madrugada do dia 20 de novembro na porta de um hotel em Vila Mariana, zona sul de São Paulo.

A decisão da juíza Luciana Menezes Scorza, da 4ª Vara Criminal do Júri da capital, foi assinada na segunda-feira, 13, e divulgada na tarde desta terça-feira, 14. Embora tenha negado a prisão preventiva, ela aceitou a denúncia do Ministério Público contra os dois policiais que participaram da ação e impôs medidas cautelares a serem cumpridas por Macedo.

Segundo a juíza, os elementos da investigação "não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade, a ensejar a medida extrema neste momento processual". O policial "encontra-se designado para funções administrativas, exercendo outras atividades diferentes da operacional, fiscalizado por seu comando, de modo que a garantia da ordem pública se encontra preservada e a possibilidade de reiteração criminosa, afastada", considerou Luciana.

"O denunciado possui residência fixa, é primário e portador de bons antecedentes, sem qualquer anotação também de cunho disciplinar perante a Justiça Militar", escreveu a juíza na decisão. "Em nenhum momento tentou prejudicar ou retardar as investigações, comparecendo a todos os atos da investigação desde a data do fato, de forma que ausentes fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida extrema", continuou. "As medidas cautelares diversas da prisão se mostram suficientes e adequadas ao menos por ora", decidiu a magistrada.

Ela determinou que ele cumpra cinco medidas cautelares - o policial está proibido de manter contato com familiares da vítima, deve se apresentar mensalmente em juízo, precisa manter seu endereço atualizado perante a Justiça, não pode se ausentar por mais de oito dias da comarca onde mora e está proibido de frequentar bares e festas.

A prisão preventiva havia sido pedida pela Polícia Civil após a conclusão do inquérito sobre o caso, encerrado em 3 de janeiro. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) indiciou por homicídio doloso (intencional) Macedo e o outro policial que participou da abordagem, Bruno Carvalho do Prado. O Ministério Público denunciou ambos e, na decisão agora divulgada, a juíza aceitou a denúncia - o processo começará a tramitar, portanto.

Os dois estavam fazendo ronda de rotina pela Vila Mariana (zona sul da capital), na madrugada do dia 20, quando Acosta passou caminhando sem camisa e deu um tapa no retrovisor da viatura. Os dois policiais saíram em perseguição a ele, que tentou entrar em um hotel onde estava hospedado com uma mulher. Mas, àquela hora, a porta do estabelecimento estava fechada e o estudante, desarmado, foi encurralado pelos policiais. Macedo atirou à queima-roupa, e Acosta morreu.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer nesta terça-feira, 14, que programas sociais como o Pé-de-Meia não são gasto e que não se deve pagar "uma merreca" para professores. Ele deu as declarações no lançamento do programa Mais Professores para o Brasil, que incentivará pessoas a entrarem nessa carreira.

"Muita gente entendeu o Pé-de-Meia como gasto. Muita gente entendeu como gasto. Esse Lula só sabe gastar dinheiro com pobre. Não é gastar dinheiro com pobre, eu gostaria que ninguém fosse pobre, ninguém precisasse dessa ajuda. Mas como é que pode um presidente da República e um ministro da Educação ficarem passivos quando a gente vê que 500 mil crianças, meninos e meninos, são obrigadas a deixar a escola para ajudar no orçamento da família?", disse o presidente da República.

"A gente não quer que os professores sejam as pessoas mais desqualificadas na prova do Enem. A gente quer que sejam os melhores, e por isso é que temos que pensar muito nos salários dos professores. Porque a gente não pode elogiar professor e na época de pagar salário, pagar uma merreca", declarou Lula.

O presidente afirmou que as escolas têm de ser atrativas e que o governo está dando incentivos para qualificar melhor os professores. Lula também criticou quem diz que a população se conforma em receber benefícios como o Bolsa Família. Além disso, ele elogiou o ministro da Educação, Camilo Santana, e afirmou que o governo precisa enfrentar "outra revolução da mentira", por isso a restrição ao uso de celulares nas escolas.

Operação deflagrada nesta terça-feira, 14, pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil indicou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) tem uma espécie de plano de saúde informal para prestar atendimento a integrantes da alta cúpula da organização criminosa presos em diferentes unidades, como a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.

A investigação aponta que médicos e dentistas são contratados pela "Sintonia dos Gravatas", que reúne advogados ligados ao PCC, para realizar diferentes tipos de procedimentos em faccionados presos. Os serviços incluem até procedimentos estéticos, como clareamento dental e botox. Entre os pacientes, estão nomes como Marco William Herbas Camacho, o Marcola.

Ao todo, oito pessoas que estavam nas ruas foram presas na operação desta terça. Entre elas, estão três advogados investigados por elo com o PCC, além de integrantes de uma organização não governamental (ONG) que seria usada para fazer denúncias falsas de abusos no sistema prisional. Os outros quatro alvos de mandados de prisão são detentos do sistema carcerário.

"O que a investigação aponta é que esse plano de saúde, entre aspas, que nós identificamos, embora funcione no âmbito da organização criminosa, não está disponível para todos", afirmou o delegado Edmar Caparroz, do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) 8, de Presidente Prudente. "Ele somente é acessível a uma fatia privilegiada da organização criminosa", acrescentou.

A apuração indicou que os médicos e dentistas seriam contratados por advogados que representam o PCC. Os profissionais de saúde, porém, não estariam diretamente envolvidos com a facção.

"Não digo que os médicos e dentistas foram cooptados, porque estão prestando um serviço e são remunerados por isso", disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-SP. Segundo ele, se houver indícios de que houve envolvimento direto, os profissionais também serão implicados na investigações.

Entre os que já foram beneficiados nessa espécie de "tratamento vip", estão nomes como Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Paulinho Neblina; Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho; e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, assassinado em 2018.

Marcola também figura na lista dos que já foram contemplados pelo esquema, embora uma reivindicação feita por ele há um tempo tenha sido indeferida.

Como mostrou o Estadão anteriormente, investigações do MP e da Polícia Civil descobriram que o número 1 da facção criminosa pediu autorização duas vezes para colocar botox, no segundo semestre de 2015, para cuidar de sua aparência, mas teve as solicitações negadas pela Justiça. A reportagem indica ainda que Marcola tinha um dermatologista particular que o atendia na Penitenciária de Presidente Venceslau 2 antes de ele ser transferido para o sistema federal.

Como funciona esquema

A contratação dos médicos e dentistas é feita por advogados que integram a "Sintonia dos Gravatas", em esquema que dura há pelo menos uma década e oferece aos profissionais da saúde valores bem acima do mercado. A Polícia Civil indicou ainda que os pagamentos eram feitos por meio de depósitos em nome de pessoas não identificadas previamente e até mesmo fracionados.

"Não é um setor (dos gravatas) que atende a todos os integrantes do PCC. Ele atende alguns integrantes que foram elencados pela Sintonia Final", disse Gakiya. "Via de regra, aqueles que são atendidos foram presos em missão do PCC, seja por tráfico de drogas e armas, seja por envolvimento em atentados contra agentes públicos. Esses indivíduos têm direito, vamos dizer, ao atendimento VIP."

Gakiya salienta que, conforma os termos da Lei de Execução Penal, se o preso tem direito a algum atendimento que o Estado não pode prover, é direito dele reivindicar atendimento médico. "É possível que ele (preso) use um atendimento médico específico para que faça isso, desde que tenha um pedido que é feito ao juiz corregedor para determinar intervenção médica", disse o promotor de Justiça. "Mas evidentemente não seria o caso de um atendimento estético."

Como investigação começou

Como mostrou o Estadão, as investigações da Operação Scream Fake (Falso Grito, em tradução) começaram em 2021, quando um visitante da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau tentou entrar na unidade com um pacote com drogas K (maconha sintética) e cartões de memória escondidos nas roupas. Ela foi presa em flagrante na época.

"Nos cartões, havia diversos arquivos contendo pastas dos setores de saúde da facção, rol de médicos e dentistas, advogados com codinomes, além de um material da ONG, em que ela prestava conta à cúpula da facção", disse o delegado Edmar Caparroz.

Conforme o delegado, a análise dos cartões de memória foi central para o avanço inicial das investigações. Os dados coletadas ganharam ainda mais sentido com a apreensão de novos manuscritos em unidades prisionais nos anos seguintes, incluindo em 2023.

"Ali (no ano passado) foi onde nos causou bastante preocupação: neste novo manuscrito, o contexto trazia um orquestramento de manifestações, que deveriam ocorrer em todo o País, e, no âmbito dessas manifestações, esse manuscrito sugeria que os presos simulassem tortura no ambiente prisional e inclusive sugeria a morte de três agentes públicos", afirmou Caparroz. As autoridades disseram que não foram identificados quais agentes seriam esses.

Foram cumpridos 12 mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão contra advogados e integrantes de uma ONG nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau e Ribeirão Preto, além de Londrina, no Paraná.

A Ong Pacto Social & Carcerário São Paulo, alvo da operação, teria sido criada sob demanda do PCC, passando a promover protestos e falsas denúncias a mando da facção, aponta a investigação. O esquema seria comandado por advogados ligados à facção.

"Eles (gravatas) não só coordenavam a contratação desses profissionais de saúde, para atender determinados presos, como também (faziam) a coordenação dessa ONG, que teoricamente era ligada aos direitos humanos e direitos dos presos", disse Gakiya. "Ela absolutamente foi mantida e gerida pelo PCC para criar factoides, para criar denúncias falsas."

Procurada, a seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disse acompanhar a investigação e ressaltou "seu compromisso com a ética e a legalidade". Já os responsáveis pela ONG, que tem sede em São Bernardo do Campo, foram contatados pelas redes sociais e não deram retorno até a última atualização desta reportagem.