Hamas deixaria armas de lado se fosse estabelecido Estado palestino, diz oficial do grupo

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Em entrevista à Associated Press, uma importante autoridade política do Hamas disse que o grupo terrorista islâmico está disposto a concordar com uma trégua de cinco anos ou mais com Israel e que deixaria de lado suas armas e se converteria em um partido político, se um Estado palestino independente fosse estabelecido ao longo das fronteiras anteriores a 1967.

 

Os comentários de Khalil al-Hayya, membro do comitê central de decisão do grupo terrorista, em uma entrevista na quarta-feira, 24, ocorreram em meio a um impasse de meses nas negociações de cessar-fogo.

 

A sugestão de que o Hamas se desarmaria com a criação de um Estado Palestino já foi feita outras vezes.

 

Mas é improvável que Israel considere tal cenário. O país prometeu esmagar o Hamas após os ataques terroristas de 7 de outubro que desencadearam a guerra, e sua liderança atual se opõe à criação de um Estado palestino.

 

Al-Hayya, uma autoridade de alto escalão do Hamas que representou os terroristas do Hamas em negociações para um cessar-fogo e troca de reféns, disse que o grupo terrorista quer se unir à Organização para a Libertação da Palestina, liderada pela facção rival Fatah, para formar um governo unificado para Gaza e a Cisjordânia.

 

Ele disse que o Hamas aceitaria "um Estado palestino totalmente soberano na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e o retorno dos refugiados palestinos conforme as resoluções internacionais", ao longo das fronteiras de Israel anteriores a 1967, à Guerra dos Seis Dias, quando Israel ocupou mais territórios no Oriente Médio.

 

Se isso acontecer, disse ele, a ala militar do grupo se dissolverá. "Todas as experiências de pessoas que lutaram contra os ocupantes, quando se tornaram independentes e obtiveram seus direitos e seu Estado, o que essas forças fizeram? Elas se transformaram em partidos políticos e suas forças de Defesa se transformaram no exército nacional", disse ele.

 

Ao longo dos anos, o Hamas às vezes moderou sua posição pública com relação à possibilidade de um Estado palestino ao lado de Israel. Mas seu programa político ainda oficialmente "rejeita qualquer alternativa à libertação total da Palestina, do rio ao mar" - referindo-se à área que vai do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, que inclui as terras que hoje constituem Israel. O grupo defende abertamente o extermínio do Estado judeu.

 

Al-Hayya não disse se sua solução de dois Estados significaria o fim do conflito palestino com Israel ou um passo provisório em direção ao objetivo declarado do grupo de destruir Israel.

 

Não houve reação imediata de Israel ou da Autoridade Palestina, o governo autônomo reconhecido internacionalmente que o Hamas expulsou da Faixa da Gaza quando ganhou as eleições no enclave em 2007. Após a tomada de Gaza pelo Hamas, a Autoridade Palestina ficou com a administração de bolsões na Cisjordânia ocupada por Israel.

 

A Autoridade Palestina espera estabelecer um Estado independente na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza. Embora a comunidade internacional apoie amplamente essa solução de dois Estados, há um impasse de mais de duas décadas nas negociações, e o governo do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu a rejeita.

 

A guerra em Gaza se arrasta há quase sete meses e as negociações para o cessar-fogo estão paralisadas. A guerra começou com o ataque terrorista de 7 de outubro ao sul de Israel, em que o Hamas matou cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis.

 

Os terroristas arrastaram cerca de 250 reféns para o enclave. O bombardeio israelense e a ofensiva terrestre que se seguiram em Gaza mataram mais de 34 mil palestinos, e deslocaram cerca de 80% da população de Gaza, de 2,3 milhões de habitantes.

 

Israel agora está se preparando para uma ofensiva na cidade de Rafah, no sul do país, para onde mais de 1 milhão de palestinos fugiram. Israel diz que desmantelou a maioria dos mais de 20 batalhões iniciais do Hamas desde o início da guerra, mas que os quatro restantes estão escondidos em Rafah. Israel argumenta que uma ofensiva na cidade é necessária para alcançar a vitória sobre o Hamas.

 

Al-Hayya disse que tal ofensiva não teria sucesso na destruição do Hamas. Ele disse que os contatos entre a liderança política externa e a liderança militar dentro de Gaza são "ininterruptos" devido à guerra e que "contatos, decisões e orientações são feitos em consulta" entre os dois grupos.

 

As forças israelenses "não destruíram mais de 20% das capacidades (do Hamas), nem humanas, nem em campo", afirmou. "Se eles não conseguem acabar com o Hamas, qual é a solução? A solução é chegar a um consenso".

 

Tentativas de cessar-fogo prolongado

 

Em novembro, um cessar-fogo de uma semana resultou na libertação de mais de 100 reféns em troca de milhares de prisioneiros palestinos mantidos em Israel. Mas as negociações para uma trégua de longo prazo e a libertação dos reféns restantes estão congeladas, com cada lado acusando o outro de intransigência. O principal interlocutor, o Catar, disse nos últimos dias que está fazendo uma "reavaliação" de seu papel como mediador.

 

A maioria das principais autoridades políticas do Hamas, anteriormente sediadas no Catar, deixou o país do Golfo na semana passada e viajou para a Turquia, onde o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, se reuniu com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan no sábado.

 

Al-Hayya negou que uma mudança permanente do principal escritório político do grupo esteja em andamento e disse que o Hamas deseja que o Catar continue em sua capacidade de mediador nas negociações.

 

Autoridades israelenses e norte-americanas acusaram o Hamas de não levar a sério um acordo. Al-Hayya negou, dizendo que o Hamas fez concessões em relação ao número de prisioneiros palestinos que deseja libertar em troca dos reféns israelenses restantes. Ele disse que o grupo não sabe exatamente quantos reféns permanecem em Gaza e continuam vivos.

 

Mas ele também afirmou que o Hamas não vai recuar em suas exigências de um cessar-fogo permanente e da retirada total das tropas israelenses, duas exigências que Israel tem recusado. Israel afirma que continuará com as operações militares até que o Hamas seja definitivamente derrotado e manterá uma presença de segurança em Gaza depois disso.

"Se não tivermos certeza de que a guerra terminará, por que eu entregaria os prisioneiros?", disse o líder do Hamas sobre os reféns restantes.

 

Al-Hayya também ameaçou um ataque às forças israelenses ou outras forças que pudessem estar posicionadas em torno de um píer flutuante que os EUA estão se esforçando para construir ao longo da costa de Gaza para entregar ajuda por mar.

 

"Rejeitamos categoricamente qualquer presença não palestina em Gaza, seja no mar ou em terra, e lidaremos com qualquer força militar presente nesses locais, israelense ou não, como uma potência ocupante", disse ele.

 

Al-Hayya afirmoou que o Hamas não se arrepende dos ataques de 7 de outubro, apesar da destruição que eles causaram em Gaza. Ele negou que os terroristas do Hamas tenham atacado civis durante os ataques - apesar das provas contundentes em contrário - e disse que a operação foi bem-sucedida em seu objetivo de trazer a questão palestina de volta à atenção do mundo.

 

E, segundo ele, as tentativas israelenses de erradicar o Hamas acabariam por não impedir futuros levantes armados palestinos. "Digamos que eles tenham destruído o Hamas. O povo palestino terá desaparecido?", perguntou. /AP

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O governo federal anunciou nesta sexta-feira, 2, a escolha de Wolney Queiroz para o comando do Ministério da Previdência Social. A nomeação foi oficializada em edição extra do Diário Oficial da União. Em um longo histórico político, Wolney tem alinhamento com pautas caras ao PT, mas teve desgaste recente quando se aproximou do PL nas eleições municipais de seu reduto eleitoral.

Wolney ocupava o cargo de secretário-executivo da Previdência desde o início do atual governo, posição considerada o segundo posto mais importante dentro de um ministério. A mudança ocorre após a saída de Carlos Lupi, que pediu demissão em meio à crise gerada por investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre descontos irregulares em benefícios pagos pelo INSS em montante que pode chegar a R$ 8 bilhões.

Segundo informações da GloboNews, Wolney Queiroz estava presente quando o então ministro Carlos Lupi foi informado sobre o aumento de denúncias de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões. Apesar da gravidade do problema, Lupi não tomou providências imediatas, conforme as atas das reuniões. A informação foi revelada pelo "Jornal Nacional" e confirmada pelo Estadão.

Trajetória

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Durante sua atuação no Congresso Nacional, foi vice-líder do PDT em diferentes períodos entre 1995 e 2013, liderou a bancada do partido entre 2020 e 2022 e chefiou o bloco de oposição ao governo Jair Bolsonaro em 2022. Também presidiu a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, além de participar de comissões como Constituição e Justiça, Defesa do Consumidor e Desenvolvimento Urbano.

Em votações de grande repercussão, votou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi contrário à PEC do Teto de Gastos e à Reforma Trabalhista no governo Michel Temer, e apoiou a abertura de investigação contra o então presidente Temer em 2017.

Ainda entre as posições sobre projetos, Queiroz votou contra a reforma da Previdência em 2019, posicionando-se de forma crítica à proposta. Mas também esteve envolvido em episódios que geraram críticas. Em 2021, foi criticado por parte do PDT por votar a favor da PEC dos Precatórios no primeiro turno de votação. Mas votou contra a medida no segundo turno. A PEC permitiu ao governo adiar o pagamento de dívidas judiciais para abrir espaço no orçamento público para a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Filho do ex-prefeito José Queiroz (PDT), mantém influência na política local de Caruaru. Em 2023, confirmou que o partido lançaria seu pai como candidato à prefeitura de Caruaru. Por outro lado, a aproximação com o PL, em articulações políticas em Jaboatão dos Guararapes, provocou desconforto em setores do governo e dentro do próprio PDT, colocando em debate sua permanência em cargos na administração federal.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou Carlos Lupi do cargo de ministro da Previdência. Como novo titular da Pasta, foi nomeado Wolney Queiroz, que era secretário-executivo do ministério.

Os atos foram publicados em edição extra do Diário Oficial da União desta sexta-feira, 2 de maio. A exoneração de Lupi foi feita a pedido.

Mais cedo, o pedetista publicou em suas redes sociais que havia entregado o cargo depois de se reunir com o presidente Lula no Palácio do Planalto. O pedido de demissão ocorreu após o ministro ter sido pressionado pela repercussão da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal em 23 de abril.

A investigação apura um esquema de deduções indevidas em contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. Segundo os investigadores, o total de descontos sem autorização chega a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Considerando dados desde 2016, o montante pode chegar a quase R$ 8 bilhões.

A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional afirma ter conseguido coletar o número mínimo de assinaturas na Câmara dos Deputados (171) e no Senado Federal (27) para protocolar o requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A deputada federal Coronel Fernanda (PL-MT) diz que o número foi alcançado no final da tarde desta sexta-feira, 2, pouco tempo depois de o ministro da Previdência, Carlos Lupi, pedir demissão do cargo. A ideia do grupo é protocolar o documento na segunda-feira, 5.

"A crise é tão grande que Lupi acabou de pedir exoneração. Acreditamos que ninguém vai ser contra os aposentados. O roubo aconteceu e vamos garantir que os aposentados tenham seus valores devolvidos com juros e correção monetária", afirmou Fernanda. O número mínimo já tinha sido alcançado no Senado nesta quarta-feira, 30. Damares Alves (Republicanos-DF) foi quem fez a coleta nessa Casa legislativa.

A CPMI é um recurso visto pelo grupo como uma forma de contornar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), caso ele decida não dar abertura ao processo. Deputados já haviam colhido e protocolaram uma CPI do INSS na Câmara nesta quarta-feira, 30.

Neste momento, Motta sinalizou ao líder do PL na Casa, Sóstenes Cavalcante (RJ), que há outros 12 requerimentos que aguardam análise dele e que daria uma resposta no futuro sobre o que faria.

Uma pode ser aberta em sessão do Congresso Nacional, após leitura do presidente Davi Alcolumbre (União-AP). Isso aconteceu, em 2023, com a CPMI do 8 de Janeiro, mobilizada pela oposição.

Lupi pediu demissão nesta sexta-feira, 2, em razão da crescente pressão que envolve o escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS. Para o lugar de Lupi, Lula convidou o atual secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, que também é um quadro do PDT de Carlos Lupi.

A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram, em 23 de abril, a Operação Sem Desconto, fruto de uma investigação que aponta um esquema fraudulento de deduções indevidas em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS.

Associações e sindicatos faziam descontos em folha dos benefícios a partir de acordos de cooperação técnica firmados com o INSS. Em muitos casos, as retiradas mensais ocorriam sem qualquer aval ou ciência do beneficiário.

O valor estimado em cobranças irregulares soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF. Se retroagir a data até 2016, esse valor sobe para quase R$ 8 bilhões referentes a descontos sem autorização. Apesar de o esquema não ter sido instituído neste governo, a investigação aponta um salto no volume descontado a partir de 2023.

A investigação da PF não aponta responsabilidade de Carlos Lupi no êxito das fraudes. No entanto, ele tem sido cobrado por uma suposta omissão diante de alertas recebidos desde 2023 de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU), do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), de auditores do próprio INSS e da imprensa. O inquérito da PF foi aberto a partir de reportagens do site Metrópoles.

Lupi rechaça as acusações de omissão e alega que uma auditoria realizada pelo órgão seria a "prova cabal" de que ele agiu para evitar desvios indevidos no pagamento de aposentadorias. A auditoria foi realizada depois do surgimento das denúncias.