Enquanto grandes centros culturais recebem holofotes, um movimento silencioso — mas poderoso — tem ganhado corpo nas periferias das cidades brasileiras. São projetos culturais que nascem de dentro das comunidades, feitos por e para moradores, e que estão mudando realidades por meio da arte, da música, da poesia e do teatro.
Espaços como o Sarau do Binho, na zona sul de São Paulo, a Batalha do Tanque, no Rio de Janeiro, e a Casa de Cultura da Quebrada, em Recife, se tornaram referências no incentivo à expressão artística e no fortalecimento da identidade cultural local.
Cultura como resistência
“O que a gente faz é muito mais do que entretenimento. É sobre dar voz a quem sempre foi silenciado”, diz Marina Souza, idealizadora do projeto Verso Livre, que promove oficinas de poesia falada para jovens em Salvador.
Esses espaços muitas vezes surgem da iniciativa de moradores comuns, sem apoio governamental ou grandes patrocínios. Com criatividade e força comunitária, eles organizam eventos, promovem oficinas, estimulam a leitura e criam redes de apoio social — tudo isso enquanto combatem o preconceito e a invisibilidade.
Hip hop, teatro e literatura nas ruas
A cultura periférica vai muito além do rap. Ela abrange dança, grafite, literatura, cinema e até gastronomia. Mas é na linguagem do hip hop que muitos jovens encontram pertencimento e voz.
“Rimar salvou minha vida. Antes, eu estava perdido. Hoje, escrevo minhas letras, faço show na escola, e tenho planos”, conta João Victor, 17 anos, morador da zona leste de São Paulo, participante de uma batalha de rima local.
Além do impacto pessoal, esses movimentos influenciam a política, a educação e a economia da periferia, criando oportunidades de emprego, formação e visibilidade.
Cultura é investimento
Mesmo diante de dificuldades financeiras, a produção cultural das periferias brasileiras mostra uma força criativa que resiste à falta de recursos. Ainda assim, especialistas defendem que é necessário investimento contínuo e descentralizado.
“A democratização do acesso à cultura é um dos maiores desafios do país. Enquanto a maior parte dos recursos vai para os grandes centros, quem está na ponta faz milagre com pouco”, explica o sociólogo Felipe Rocha, da UFRJ.
O novo edital da Lei Paulo Gustavo, lançado em 2024, tem tentado corrigir essa desigualdade ao destinar parte dos recursos especificamente para iniciativas culturais de territórios periféricos e quilombolas.
De saraus a batalhas de rima, iniciativas culturais crescem nas periferias brasileiras e mostram que a arte é também instrumento de resistência e transformação social
Tipografia
- Pequenina Pequena Media Grande Gigante
- Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
- Modo de leitura