Rotas e horário de alta médica sugerem que Daniel Silveira retardou volta para casa

Política
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O ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) foi novamente preso nesta terça-feira, 24, sob a alegação de ter descumprido termos de sua liberdade condicional. No domingo, 22, ele chegou em casa às 2h10 da manhã, contrariando a determinação de se recolher até as 22h e só sair após as 6h. A defesa justificou o atraso com uma ida ao hospital, mas o horário da alta médica e o tempo médio de deslocamento até a residência indicam uma possível violação das regras.

O Estadão analisou os horários que constam na documentação do hospital apresentada pela própria defesa dele e os tempos de deslocamento por ruas e avenidas de Petrópolis (RJ) indicados em aplicativos de trânsito. Questionado sobre a contradição, o advogado do ex-deputado afirma que, após liberado pelos médicos, Daniel Silveira ainda ficou em observação por cerca de uma hora (leia mais abaixo). Um dos exames feitos pelo ex-deputado registrou uma taxa acima do normal o que levou o médico a sugerir acompanhamento com especialista em rim.

"Declaro para os devidos fins que o paciente Daniel Lucio da Silveira esteve em atendimento no período de 22:59 do dia 21/12/2024 [sábado] a 00:34 do dia 22/12/2024 [domingo]", diz o atestado de comparecimento assinado pelo médico Gabriel Moreira do Nascimento Costa. O documento está anexado ao processo pelos advogados de Daniel Silveira.

O trajeto de 16,4 quilômetros entre o Hospital Santa Teresa e a casa de Daniel Silveira, em Petrópolis (RJ), pode ser feito de 22 a 30 minutos, segundo o Google Maps. Apesar da conclusão do atendimento pouco depois da meia-noite e meia, ele só chegou em casa às 2h10, levando cerca de três vezes mais que o previsto. O horário foi apontado pelo sistema que monitora a tornozeleira eletrônica.

Conforme a documentação médica, Silveira começou a ser atendido no Hospital Santa Teresa com "dor lombar irradiando para o flanco (laterais do abdômen) e histórico de insuficiência renal". Ele realizou exames de sangue e urina, com amostras coletadas às 23h42.

O ex-deputado foi orientado a consultar um especialista sob o CID N18, referente à insuficiência renal crônica, e liberado com a recomendação de aumentar o consumo de água. Os documentos foram apresentados pela defesa do político para comprovar a busca por atendimento médico no sábado.

O Estadão questionou a defesa do ex-deputado sobre o intervalo entre a saída do hospital e a chegada em casa. Por telefone, o advogado Michael Robert Silva Pinheiro, um dos quatro responsáveis pela defesa, explicou que Silveira permaneceu no hospital por cerca de uma hora após o horário de alta registrado. Segundo ele, a permanência foi necessária para observação devido à medicação administrada.

Pinheiro informou que já solicitou as imagens das câmeras de segurança do hospital para comprovar que a saída ocorreu após 1h da manhã. O advogado também afirmou que os médicos que atenderam o ex-deputado irão confirmar sua versão e que foram convocados a depor pelo ministro Alexandre de Moraes.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou em sua decisão que Silveira deveria ter solicitado previamente autorização para ir ao hospital durante o horário de recolhimento, o que não ocorreu. Além disso, Moraes concluiu que não foi comprovada, nem depois do atendimento, a urgência que justificasse a saída para o hospital depois das 22h.

Com isso, o ministro considerou que o ex-deputado violou as condições de sua liberdade condicional. O magistrado revogou o benefício concedido a Silveira na sexta-feira, 20, e determinou sua prisão imediata. O ex-parlamentar foi levado para o presídio de Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio. Na decisão, Moraes destacou que a infração ocorreu no primeiro dia em que Silveira usufruía do benefício, obtido após cumprir um terço da pena de oito anos e nove meses.

Em nota, a defesa de Daniel Silveira afirmou ter recebido com surpresa a notícia da revogação da liberdade condicional. Os advogados declararam ainda que, até o momento, não tiveram acesso às alegações de descumprimento das medidas cautelares por parte do ex-deputado. "As medidas cautelares impostas pelo ministro não foram descumpridas" diz o texto. Após sua saída da colônia agrícola, o Sr. Daniel foi direto para sua casa em Petrópolis, apenas saiu para ir ao hospital, pois o mesmo estava com fortes dores nas costas que, após exames, comprovaram um problema de saúde nos rins".

A defesa aguarda a audiência de custódia, prevista, segundo os advogados, para ocorrer até o dia 26.

Relembre a prisão de Daniel Silveira

Em abril de 2022, o Supremo condenou Daniel Silveira a oito anos e nove meses de prisão por ameaças ao Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo. A maioria dos ministros considerou que suas declarações ultrapassaram a imunidade parlamentar e a liberdade de expressão, configurando crimes graves.

Relator da ação, o ministro Alexandre de Moraes destacou que as ameaças incluíram incitação à violência contra ministros do STF e defesa de um novo AI-5, amplamente divulgadas em redes sociais. Além da prisão, a sentença determinou a suspensão dos direitos políticos, perda do mandato e multa de R$ 212 mil.

A maioria do Plenário seguiu o relator, enquanto o ministro Nunes Marques divergiu, defendendo que as falas, embora ofensivas, não constituíam crime e estavam protegidas pela imunidade parlamentar. O placar foi de dez votos a um pela condenação.

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Ataques israelenses na Faixa de Gaza mataram pelo menos 32 pessoas, incluindo mais de uma dúzia de mulheres e crianças, disseram autoridades de saúde locais neste domingo, 6. As ações ocorreram enquanto o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se dirigia aos Estados Unidos para se reunir com o presidente Donald Trump para tratar da guerra.

No mês passado, Israel encerrou seu cessar-fogo com o Hamas e renovou sua ofensiva aérea e terrestre, realizando ondas de ataques e tomando territórios para pressionar o grupo terrorista a aceitar um novo acordo de trégua e a libertação dos reféns restantes. O governo também bloqueou a importação de alimentos, combustível e ajuda humanitária por mais de um mês para o território litorâneo, que depende muito de assistência externa.

"Os estoques estão ficando baixos e a situação está se tornando desesperadora", disse a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos nas redes sociais. Os últimos ataques israelenses durante a noite de domingo atingiram uma tenda e uma casa na cidade de Khan Younis, no sul do país, matando cinco homens, cinco mulheres e cinco crianças, segundo o Hospital Nasser, que recebeu os corpos.

Uma jornalista estava entre os mortos. "Minha filha é inocente. Ela não tinha nenhum envolvimento, amava o jornalismo", disse sua mãe, Amal Kaskeen. O corpo de uma criança, com menos de 2 anos, ocupava apenas uma extremidade de uma maca de emergência. "Trump quer acabar com a questão de Gaza. Ele está com pressa, e isso está claro desde esta manhã", disse Mohammad Abdel-Hadi, primo de uma mulher morta.

Os bombardeios israelenses mataram pelo menos quatro pessoas no campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Os corpos de sete pessoas, incluindo uma criança e três mulheres, chegaram ao Hospital Al-Aqsa Martyrs em Deir al-Balah, na região central de Gaza, de acordo com um jornalista da Associated Press. E um ataque na Cidade de Gaza atingiu pessoas que esperavam do lado de fora de uma padaria e matou pelo menos seis, incluindo três crianças, segundo a defesa civil, que opera sob o governo do Hamas.

Os militares de Israel disseram que cerca de 10 projéteis foram disparados de Gaza e a maioria foi interceptada, na maior barragem do território desde que Israel retomou a guerra. O braço militar do Hamas assumiu a responsabilidade. A polícia israelense disse que alguns fragmentos caíram na cidade de Ashkelon. Não houve relatos de feridos.

Netanyahu visita Trump em meio a protestos

Dezenas de palestinos foram às ruas em Jabaliya para uma nova rodada de protestos contra a guerra. Imagens que circularam nas redes sociais mostraram pessoas marchando e cantando contra o Hamas. Esses protestos, embora raros, ocorreram nas últimas semanas.

Também há raiva dentro de Israel em relação à retomada da guerra e seus efeitos sobre os reféns remanescentes em Gaza. As famílias dos reféns, juntamente com alguns dos que foram libertados recentemente de Gaza e seus apoiadores no sábado, pediram a Trump que ajudasse a garantir o fim dos combates. Na segunda-feira, 7, Netanyahu se reunirá com Trump pela segunda vez desde que ele iniciou seu mandato em janeiro.

O primeiro-ministro disse que eles discutirão a guerra e a nova tarifa de 17% imposta a Israel, parte de uma decisão global abrangente do novo governo dos EUA. "Há uma fila muito grande de líderes que querem fazer isso com relação às suas economias. Acho que isso reflete a conexão pessoal especial e a conexão especial entre os Estados Unidos e Israel, que é tão vital neste momento", disse Netanyahu ao encerrar uma visita à Hungria. Os EUA, um mediador nos esforços de cessar-fogo junto de Egito e Qatar, expressaram apoio à retomada da guerra por Israel no mês passado.

O preço da guerra

Desde então, centenas de palestinos foram mortos, entre eles 15 médicos cujos corpos foram recuperados somente uma semana depois. As forças armadas de Israel, neste fim de semana, retrocederam em seu relato sobre o que aconteceu no incidente, capturado em parte em vídeo, o que causou a ira da Cruz Vermelha, do Crescente Vermelho e das autoridades da ONU.

A guerra começou quando terroristas liderados pelo Hamas atacaram Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns. Cinquenta e nove reféns continuam presos em Gaza - acredita-se que 24 estejam vivos - depois que a maioria dos demais foi libertada em cessar-fogo ou outros acordos.

A ofensiva de Israel matou pelo menos 50.695 palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, que não informa quantos eram civis ou combatentes, mas diz que mais da metade eram mulheres e crianças. Ele afirma que outras 115.338 pessoas ficaram feridas. Israel afirma ter matado cerca de 20 mil terroristas, sem fornecer provas.

A revelação de que as autoridades mais altas de segurança nacional dos Estados Unidos publicaram detalhes de um ataque militar no Iêmen em um grupo de bate-papo no aplicativo Signal com a presença de um jornalista, horas antes do ataque ocorrer, levantou questões sobre leis violadas, vazamento de informações confidenciais e possíveis consequências.

O 'Signalgate', como o caso ficou conhecido, expôs que a cúpula da Casa Branca discutia planos de guerra americanos no aplicativo Signal, que não possui autorização do governo americano para discutir assuntos secretos pelo risco de ser hackeado.

Entenda o caso

Neste domingo, 6, o jornal britânico The Guardian mostrou que o assessor de segurança nacional de Donald Trump, Mike Waltz, incluiu o jornalista Jeffrey Goldberg, da revista americana The Atlantic, no bate-papo em grupo do Signal sobre os planos de ataques dos EUA no Iêmen depois de ter salvado por engano seu número meses antes sob o contato de outra pessoa que ele pretendia adicionar, de acordo com três pessoas informadas sobre o assunto.

"O erro foi uma das várias falhas que vieram à tona na investigação interna da Casa Branca, que mostrou uma série de deslizes iniciados durante a campanha de 2024 e passaram despercebidos até que Waltz criou o bate-papo em grupo no mês passado", diz a reportagem do The Guardian.

Desde a revelação da revista Atlantic, em março, uma série de "análises forenses" foram iniciadas pelo escritório de tecnologia da informação da Casa Branca. Segundo o Guardian, essas análises descobriram que Waltz salvou o número de Goldberg depois de o jornalista enviar um e-mail à campanha de Trump em outubro passado.

"De acordo com três pessoas informadas sobre a investigação interna, Goldberg havia enviado um e-mail à campanha sobre uma matéria que criticava Trump por sua atitude em relação aos membros feridos do serviço militar. Para rebater a história, a campanha contou com a ajuda de Waltz, seu representante de segurança nacional", diz o The Guardian.

"O e-mail de Goldberg foi encaminhado ao então porta-voz de Trump, Brian Hughes, que copiou e colou o conteúdo do e-mail - incluindo o bloco de assinatura com o número de telefone de Goldberg - em uma mensagem de texto que enviou a Waltz, para que ele pudesse ser informado sobre a história que estava por vir. Waltz não chegou a ligar para Goldberg, disseram as pessoas, mas, acabou salvando inadvertidamente o número de Goldberg em seu iPhone - sob o cartão de contato de Hughes, agora porta-voz do conselho de segurança nacional".

Na ocasião, Waltz apareceu na CNN para defender Trump do episódio. Mas o telefone do jornalista estava erroneamente salvo durante uma "atualização de sugestão de contato" pelo iPhone de Waltz. Essa função é gerada por um algoritmo do iPhone que adiciona um número previamente desconhecido a um contato existente que ele detecta que pode estar relacionado.

"O erro passou despercebido até o mês passado, quando Waltz tentou adicionar Hughes ao bate-papo em grupo do Signal - mas acabou adicionando o número de Goldberg à cadeia de mensagens de 13 de março denominada "Houthi PC small group", na qual várias autoridades importantes dos EUA discutiram planos de ataques contra os Houthis", relata o The Guardian.

Waltz disse, logo após o incidente, que nunca havia se encontrado ou se comunicado com Goldberg. Ele também sugeriu na Fox News que o número de Goldberg havia sido "sugado" para seu telefone, aparentemente em referência à forma como seu iPhone havia salvo o número de Goldberg.

A Casa Branca não comentou a reportagem do The Guardian. Contatado por telefone no sábado, Goldberg disse: "Não vou comentar sobre meu relacionamento com Mike Waltz além de dizer que o conheço e falei com ele".

Trump foi informado sobre as conclusões da análise forense na semana passada. O presidente dos EUA teria cogitado demitir Waltz por causa do episódio, mas desistiu por não querer que "a Atlantic e a mídia tradicional tivessem a satisfação de forçar a demissão de um alto funcionário do gabinete semanas após o início de seu segundo mandato", segundo o jornal britânico.

"Trump aceitou o mea culpa de Waltz e o defendeu publicamente nas últimas semanas, desde que a situação do bate-papo em grupo se tornou pública. Waltz também parece ter gerado alguma simpatia dentro da órbita de Trump por causa do bate-papo em grupo, pois a Casa Branca autorizou o uso do Signal, principalmente porque não existe uma plataforma alternativa para enviar mensagens de texto em tempo real para diferentes agências, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto".

Governos anteriores dos EUA usaram o Signal para trocar mensagens de conteúdo secreto ou altamente confidencial, incluindo a Casa Branca de Biden, e não desenvolveram uma plataforma alternativa ao Signal.

Supostos ataques aéreos dos Estados Unidos mataram pelo menos duas pessoas durante a noite em um reduto dos rebeldes houthis do Iêmen, informou o grupo neste domingo, 6. Mas um vídeo de bombardeio postado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugere que o número de vítimas na campanha geral pode ser maior do que os rebeldes admitem.

Os ataques em Saada mataram duas pessoas e feriram outras nove. Imagens transmitidas pelo canal de notícias por satélite dos houthis, Al-Masirah, mostraram um ataque que destruiu o que parecia ser um prédio de dois andares. Os houthis, apoiados pelo Irã, não divulgaram imagens do interior do edifício, que descreveram como uma loja de itens de energia solar.

A intensa campanha de ataques aéreos no Iêmen sob Trump, visando os rebeldes por seus ataques à navegação em águas do Oriente Médio devido à guerra entre Israel e Hamas, já matou pelo menos 69 pessoas, segundo números divulgados pelos houthis.

No entanto, os houthis não reconheceram nenhuma vítima entre sua liderança de segurança e militar - algo questionado após a publicação de um vídeo online por Trump.

Vídeo de Trump

No início do sábado, 5, Trump publicou um vídeo em preto e branco que parece ser de um drone, mostrando mais de 70 pessoas reunidas em círculo. Uma explosão ocorre durante o vídeo de 25 segundos, deixando uma enorme cratera.

"Esses houthis estavam reunidos para receber instruções sobre um ataque," afirmou Trump, sem informar o local do ataque ou outros detalhes. "Ops, não haverá ataque desses houthis! Eles nunca mais afundarão nossos navios!"

O Comando Central das Forças Armadas dos EUA, que supervisiona as operações militares americanas no Oriente Médio, não publicou o vídeo nem ofereceu detalhes específicos sobre os ataques realizados desde 15 de março. A Casa Branca disse que já foram realizados mais de 200 ataques contra os houthis.