Pedido de urgência conta com 56% de assinaturas de deputados alinhados a Lula

Política
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O Partido Liberal (PL) protocolou na Câmara dos Deputados nesta segunda-feira, 14, um requerimento de urgência para o projeto de anistia aos implicados pelo 8 de Janeiro. O documento tinha 262 assinaturas, sendo 146 de deputados federais de partidos que compõem a base do governo Lula. O número representa mais da metade (56%) das assinaturas coletadas pela liderança do PL. O União Brasil é responsável por 40 delas, seguido por Progressistas (35), Republicanos (28), PSD (23) e MDB (20).

 

Todos esses partidos têm quadros chefiando ministérios no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A relação de apoio ambíguo - tanto ao Executivo quanto ao projeto da oposição - fez o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL, acelerar a formalização do requerimento de urgência.

 

"Amigos, acabo de dar entrada ao requerimento de urgência do PL da Anistia, com 264 assinaturas, devido às notícias recebidas que o governo está pressionando os deputados a retirar assinaturas, mudei a estratégia e agora está protocolado o documento e público todos que assinaram. O governo não vai nos pegar de surpresa mais", informou, em nota, o líder do PL.

 

Depois, ele disse que duas das assinaturas haviam sido invalidadas pela Câmara, totalizando um total de 262 - ainda assim mais que o mínimo necessário para garantir sua eventual aprovação, 257 votos.

 

'Perfis'

 

A ideia anterior de Sóstenes era esperar até a semana que vem para tentar coletar ainda mais assinaturas, aproveitando que o feriado da Sexta-feira Santa e da Páscoa costuma esvaziar Brasília. Antes de protocolar o requerimento, ele havia dito ao Estadão que pretendia passar os próximos dias ouvindo líderes para "analisar os perfis dos deputados e de suas votações".

 

A anistia a todos os envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro, quando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram os prédios dos três Poderes, na capital federal, é prioridade do ex-presidente e seu entorno. O Placar da Anistia do Estadão registrava 204 deputados a favor da proposta.

 

Na semana passada, Bolsonaro afirmou, num almoço fechado com advogados, que nem a modulação, nem a redução das penas dos acusados e condenados no episódio interessam a ele, mas sim uma "anistia ampla, geral e irrestrita". Ele disse ter havido um "ponto de inflexão" na articulação pela anistia com o voto do ministro Luiz Fux no julgamento que o tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Na sessão, Fux falou da possibilidade de as penas serem reduzidas.

 

A articulação avançava enquanto o ex-presidente permanecia internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do hospital DF Star, em Brasília. Ele teve de se submeter a uma cirurgia para desobstrução do intestino após sentir fortes dores na região abdominal durante uma viagem ao Rio Grande do Norte. Segundo os médicos, sua recuperação deverá ser demorada e não há previsão de alta para os próximos dias.

 

Parlamentares que foram ao hospital na manhã de ontem disseram ao Estadão que o estado de saúde de Bolsonaro não afeta em nada os planos dos congressistas que atuam a favor do projeto de anistia. Os aliados dizem acreditar que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pautaria o requerimento tão logo ele fosse apresentado com as assinaturas necessárias.

 

Um requerimento de urgência, se aprovado, acelera a tramitação de uma proposta legislativa, levando a votação diretamente para o plenário.

 

Para isso, é necessária a maioria simples na votação. O sistema da Câmara invalidou duas assinaturas. Segundo Sóstenes, houve uma mudança procedimental no processo da coleta de assinaturas que envolveu o caso dele mesmo e do líder da oposição na Casa, Zucco (PL-RS).

 

Atos

 

Neste ano, a oposição mobilizou duas manifestações pedindo que a matéria seja votada na Câmara. A primeira, em março, reuniu 18,3 mil pessoas no Rio, segundo dados do Monitor do Debate da Universidade de São Paulo (USP); a segunda, na Avenida Paulista, neste mês, reuniu 44,9 mil, de acordo com números do mesmo monitor.

 

A proposta está emperrada desde o ano passado. Quando estava prestes a ser votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida à época pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC), o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou uma comissão especial para debater o texto - o que freou o trâmite da matéria.

 

A solução encontrada neste ano é a votação da urgência, que esbarrou na resistência do agora presidente da Casa, Hugo Motta. Na campanha, Motta prometeu a líderes que deixaria de votar corriqueiramente requerimentos de urgência, como fazia seu antecessor, de modo a valorizar o trabalho das comissões.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O Departamento de Energia dos EUA (DoE, na sigla em inglês) está preparando cortes drásticos que podem interromper quase US$ 10 bilhões em financiamento federal para projetos de energia limpa - e algumas de suas parcerias mais importantes com a Exxon Mobil e a Occidental Petroleum estão em jogo.

Os cortes propostos acabariam com os contratos do governo com empresas de energia que trabalham com hidrogênio, captura de carbono, armazenamento de energia de longa duração e outras tecnologias, de acordo com memorandos do departamento analisados pelo The Wall Street Journal. Espera-se que milhares de empregos no DoE sejam eliminados.

Os cortes fazem parte de uma ampla campanha do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) para reduzir a escala do governo e seus gastos. Os esforços do Doge, liderados pelo conselheiro de Donald Trump, Elon Musk, reduziram contratos e resultaram em milhares de cortes de empregos em toda a força de trabalho federal até o momento.

A soma de US$ 10 bilhões reflete os possíveis cortes de verbas em dois escritórios do DoE e, provavelmente, uma parte dos cancelamentos conduzidos pelo Doge que estão sendo considerados em todo o departamento, de acordo com funcionários atuais e antigos.

Jigar Shah, que dirigiu o escritório durante o governo de Joe Biden, disse que o risco é que as empresas levem suas tecnologias, fábricas e projetos para outros países. "Os EUA têm um longo histórico de avanços importantes - incluindo energia solar, armazenamento de baterias e veículos elétricos - mas deixam a China dominar seu desenvolvimento e comercialização", completou.

O retrato de uma criança palestina que perdeu os dois braços em um ataque de Israel na Faixa de Gaza ganhou nesta quinta-feira, 17, o prêmio World Press Photo do ano.

A foto, tirada pela fotógrafa palestina Samar Abu Elouf, pelo jornal The New York Times mostra Mahmoud Ajjour, de 9 anos, com o olhar fixo na câmera e sem os braços. "Uma das coisas mais difíceis que a mãe de Mahmoud me explicou foi que, quando Mahmoud percebeu que seus braços estavam amputados, a primeira frase que ele disse a ela foi: 'Como poderei te abraçar'?", disse Abu Elouf.

Mahmoud Ajjour foi ferido enquanto tentava fugir de um ataque israelense, em março de 2024, segundo a organização. Ele teria sido atingido por uma explosão, que cortou um de seus braços e mutilou o outro.

"Esta é uma foto silenciosa que fala alto. Ela conta a história de um menino, mas também de uma guerra mais ampla que impactará gerações", disse Joumana El Zein Khoury, diretora executiva da World Press Photo.

A fotógrafa vencedora Abu Elouf foi forçada a sair de Gaza em dezembro de 2023 e hoje mora no mesmo complexo de apartamentos que Ajjour, na capital do Catar, Doha. Agora, ela tira fotos de palestinos gravemente feridos em Doha.

O júri elogiou a "forte composição e atenção à luz" da foto e o tema, especialmente as questões levantadas sobre o futuro de Mahmoud.

Segundo o júri, o palestino agora está aprendendo a jogar no celular, escrever e abrir portas com os pés, mas ainda precisa de assistência especial para a maioria das atividades diárias, como comer e se vestir.

"O sonho de Mahmoud é simples: ele quer usar próteses e viver sua vida como qualquer outra criança", disseram os organizadores do World Press Photo em um comunicado.

A declaração cita uma estimativa recente da Agência das Nações Unidas de Obras e Recursos Assistenciais (UNRWA) de que, até dezembro do ano passado, Gaza tinha mais crianças amputadas per capita do que em qualquer outro lugar do mundo.

"As crianças são desproporcionalmente impactadas pela guerra", declarou o júri.

O World Press Photo também selecionou duas fotos para o prêmio de segundo lugar.

A primeira, intitulada "Secas na Amazônia", de Musuk Nolte para a Panos Pictures e a Fundação Bertha, mostra um homem no leito seco do rio Solimões, na Amazônia, carregando comida para Manacapuru, uma cidade na Amazônia antes acessível por barco.

A segunda, "Night Crossing", de John Moore, fotografado para a Getty Images, retrata migrantes chineses amontoados perto de uma fogueira durante uma chuva fria, após cruzarem a fronteira entre os EUA e o México.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, bloqueou um plano de Israel para atacar instalações nucleares no Irã, segundo informações do jornal americano The New York Times, em meio às negociações entre Washington e Teerã.

Os dois países, sem relações diplomáticas há mais de 40 anos, buscam um novo acordo sobre o programa nuclear do Irã depois que Trump retirou os Estados Unidos, durante seu primeiro mandato, de um pacto anterior sobre o tema.

Depois de uma primeira reunião em Omã na semana passada, o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, e o ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, participarão de uma segunda rodada de negociações em Roma no sábado.

Ataque

Neste contexto, fontes do governo Trump explicaram ao jornal que Israel havia solicitado ajuda de Washington para efetuar um ataque em maio contra as instalações nucleares do Irã.

Segundo o NYT, o plano e sua possível execução foram avaliados pelo governo dos Estados Unidos por meses.

Porém, durante uma visita à Casa Branca do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na semana passada, Trump disse ao israelense que não apoiaria um ataque.

Ao mesmo tempo, o presidente republicano anunciou de maneira surpreendente as negociações com o Irã sobre seu programa nuclear.

Desde sua posse em janeiro, Trump intensificou a pressão contra Teerã, com mais sanções e ameaças de uma ação militar caso os países não alcancem um acordo sobre a questão.

Estados Unidos, Israel e outros países ocidentais consideram que o programa nuclear do Irã busca o desenvolvimento da bomba atômica, o que Teerã nega.

Inspeção

Em meio as negociações entre Washington e Teerã, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Grossi, advertiu nesta quinta-feira que os países têm "pouco tempo" para alcançar um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

"Estamos em uma fase crucial destas negociações importantes. Sabemos que temos pouco tempo, por isso quero facilitar este processo", disse Grossi em uma entrevista coletiva em Teerã ao lado do chefe da agência iraniana de energia atômica, Mohamad Eslami.

Segundo a AIEA, o Irã manteve o compromisso até o rompimento do acordo por Trump. Em seu relatório mais recente, a agência afirma que Teerã dispõe de urânio enriquecido a 60%, próximo dos 90% necessários para produzir uma arma atômica.

O diplomata argentino teve uma reunião na quarta-feira, 16, com Araqchi, que também lidera a delegação iraniana nas negociações com Washington. O chanceler de Teerã celebrou nesta quinta-feira uma "discussão útil" com Grossi.

"Nos próximos meses, a agência pode desempenhar um papel crucial na resolução pacífica da questão nuclear iraniana", afirmou. Mas em sua mensagem, o chanceler também alertou que "alguns criadores de problemas estão se reunindo para provocar o descarrilamento das negociações".

A acusação pareceu direcionada às mudanças de posição da administração de Donald Trump.

O enviado do governo Trump, Steve Witkoff, defendeu na segunda-feira, 14, limitar as capacidades de enriquecimento de urânio do Irã, mas um dia depois pediu o desmantelamento total do programa, o que representa uma linha vermelha para Teerã. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)