Bolsonaro: Vamos atacar o vírus, não o governo

Política
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Diante da pressão para o combate à pandemia da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro pediu nesta segunda-feira, 22, que o novo coronavírus seja o foco do "ataques" e não o seu governo. O chefe do Executivo reforçou ser contra uma política de lockdown e pediu para que a covid-19 não seja politizada.

O apelo ocorre após pesquisas de opinião mostrarem queda na avaliação do governo quanto à atuação durante a crise sanitária. "Vamos destruir o vírus, e não atacar o governo. Não pode essa questão continuar sendo politizada em nosso Brasil", disse em evento do Palácio do Planalto nesta tarde.

Com ironia, o presidente chegou a dizer que adotaria a política de lockdown por 30 dias, caso esta de fato funcionasse. "Se ficar em lockdown 30 dias e acabar com o vírus eu topo, mas sabemos que não vai acabar", declarou. "Pesquisas sérias dos Estados Unidos mostram que a maior parte da população contraiu o vírus em casa", disse sem citar fontes.

Em seguida, o chefe do Executivo afirmou que só mudaria o seu discurso contra políticas de isolamento e de restrição de circulação caso fosse convencido da eficácia dessas ações. "Eu devo mudar meu discurso? Eu devo me tornar mais maleável? Eu devo ceder? Fazer igual a grande maioria está fazendo? Se me convenceram do contrário, faço, mas não me convenceram ainda. Devemos lutar é contra o vírus, e não contra o presidente", acrescentou.

A política de isolamento é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a avalia como a melhor alternativa para conter a propagação do vírus. No seu discurso, contudo, Bolsonaro usou a instituição para embasar a sua defesa pessoal contra o isolamento.

Ele citou fala de David Nabarro, enviado especial da OMS, durante uma entrevista para a revista britânica The Spectator. Na entrevista original, Nabarro diz que é preciso encontrar uma forma de retomar a vida social e a atividade econômica sem que isso signifique aumento no número de casos e mortes pela covid-19.

O enviado cita que uma consequência dos fechamentos é "tornar pobres mais pobres", mas, em nenhum momento, diz para governantes não confiaram nas políticas de fechamento. "Diz então a OMS que a única consequência do lockdown é transformar as pessoas pobres em mais pobres. E alguns no Brasil querem que eu decrete lockdown, me chamam de negacionista, ou de ter um discurso agressivo", comentou Bolsonaro depois de citar a entrevista.

Apesar de o País passar pelo momento mais grave da pandemia e avançar de forma lenta na vacinação, Bolsonaro elogiou o trabalho desempenhado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. "Orgulho em ter o ministro Pazuello, o trabalho que fez no tocante à vacina", disse. O chefe do Executivo citou que Marcelo Queiroga, indicado para suceder Pazuello, é um "médico experiente" e dará continuidade ao trabalho desempenhado até então na pasta agora "muito mais voltada para a questão da medicina".

O presidente ressaltou ainda as negociações do governo para a compra de imunizantes e justificou que outros países no mundo também enfrentam problemas quanto à vacinação. "Está faltando vacina? Queríamos mais, mas dentro da disponibilidade do mundo, somos realmente algo excepcional. Qual país do mundo não tem problema com vacina? Contratamos até o final do corrente ano 500 milhões de doses de vacina", disse. Ele prometeu que "daqui poucos meses" o País irá fabricar e exportar imunizantes, uma vez que tenha condições de produzir o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) das imunizações.

Na tarde de hoje, Bolsonaro assinou decreto que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). O presidente também sancionou projeto de lei em prol de portadores de visão monocular (cegueira de um dos olhos). A cerimônia para as assinaturas de projeto considerado positivos para a imagem do governo foi fechada à imprensa, mas transmitida ao vivo - fato que desagradou Bolsonaro.

Com a popularidade abalada por conta das críticas quanto ao enfrentamento da crise sanitária, o presidente deu "uma bronca pública" direcionado a sua assessoria. "Num momento como esse não pode minha assessora deixar a imprensa lá fora. É inadmissível isso daí, é uma bronca, uma bronca pública. Isso é inadmissível", disse.

Militares

Bolsonaro também disse nesta segunda que recorrerá ao Ministério da Defesa para tentar reforçar a campanha de vacinação no País. Porém, o presidente não entrou em detalhes se a demanda foi solicitada pelo Ministério da Saúde. A ideia faz parte de uma recente mudança no tom do presidente em favor dos imunizantes.

"Vou levar hoje à Defesa a possibilidade dos batalhões nossos ajudarem na vacinação", disse Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada. O chefe do Executivo citou ainda que o Brasil poderá "daqui alguns meses" vender vacinas. A proposta já havia sido mencionada pelo mandatário antes. "Hoje, só lá embaixo na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), são 5 milhões (de doses da vacina produzidas) por semana. Já começamos a produção", afirmou.

Em outra categoria

taques israelenses no sul da Faixa de Gaza mataram pelo menos 19 palestinos durante a noite deste domingo, 23, incluindo um importante líder político do Hamas, segundo autoridades do grupo.

Salah Bardawil, membro do bureau político e do parlamento palestino, foi morto em um ataque perto de Khan Younis que também matou sua mulher. Bardawil era um membro bem conhecido da ala política do grupo que deu entrevistas à mídia ao longo dos anos.

Dois hospitais no sul de Gaza informaram ter recebido 17 corpos vítimas de ataques durante a noite, incluindo mulheres e crianças. O membro do Hamas e a esposa não foram incluídos nos números relatados pelos hospitais.

Enquanto isso, rebeldes Houthi apoiados pelo Irã no Iêmen, aliados do Hamas, lançaram outro míssil contra Israel, disparando sirenes de ataque aéreo. O exército israelense disse que o projétil foi interceptado, e não houve relatos de vítimas ou danos.

Israel encerrou seu cessar-fogo com o Hamas na semana passada quando lançou uma onda surpresa de ataques aéreos que mataram centenas de palestinos em todo o território. Os Houthis retomaram seus ataques a Israel, retratando-os como um ato de solidariedade aos palestinos, apesar dos recentes ataques dos EUA visando os rebeldes iemenitas.

O cessar-fogo que entrou em vigor em janeiro interrompeu 15 meses de intensos combates iniciados pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel.

Israel realizou uma série de ataques aéreos em vários pontos do Líbano neste sábado, 22, em retaliação a uma ofensiva com foguetes, matando seis pessoas na maior troca de fogo desde que a trégua com o grupo militante Hezbollah, que começou há quase quatro meses.

A iniciativa causou preocupações sobre a manutenção do cessar-fogo, dias após Israel reiniciar sua guerra contra o Hamas, em Gaza. Em um comunicado, o Hezbollah negou ser responsável pelo ataque no norte israelense, que teria motivado a ofensiva israelense, dizendo estar comprometido com a trégua.

O primeiro-ministro do Líbano, Nawaf Salam, pediu às forças militares do país para tomarem todas as medidas necessárias no sul, onde os ataques israelenses se concentraram, mas disse que o país não quer voltar à guerra.

O governo do Reino Unido ordenou neste sábado, 22, uma investigação sobre a "resiliência energética" da região, após o incêndio em uma subestação elétrica ter forçado o fechamento do aeroporto de Heathrow na sexta-feira.

O Secretário de Energia britânico, Ed Miliband, pediu ao National Energy System Operator (NESO), que supervisiona as redes de gás e eletricidade do Reino Unido, para "investigar urgentemente" o incêndio, "para entender quaisquer lições mais amplas a serem aprendidas sobre resiliência energética para infraestrutura nacional crítica", e informou que o governo está determinado a fazer de tudo para evitar que a situação se repita.

Espera-se que descobertas iniciais sejam relatadas dentro de seis semanas.

O líder da Comissão Nacional de Preparação - grupo que faz campanha para melhorar a resiliência -, Toby Harris, afirmou que o fechamento do aeroporto foi "um grande constrangimento". "É um grande constrangimento para o país que um incêndio em uma subestação elétrica possa ter um efeito tão devastador", disse.