Veja como foi o primeiro dia de julgamento do 'núcleo da desinformação' da trama golpista

Política
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A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou nesta terça-feira, 14, o julgamento do "núcleo 4" da tentativa de golpe de Estado para tentar reverter o resultado das eleições de 2022. Foram concluídas as sustentações orais da Procuradoria-Geral da República (PGR), que pediu a condenação do grupo, e das defesas dos sete réus do "núcleo da desinformação".

A análise da ação penal será retomada na próxima terça-feira, 21, e a previsão é que seja concluída no mesmo dia. O colegiado cancelou a sessão marcada para a quarta, 22.

Já que questões preliminares levantadas pelas defesas e até argumentos processuais, como debates sobre a tipificação dos crimes, já foram solucionados no julgamento do núcleo crucial do plano de golpe, o primeiro a ser julgado, a tendência é que as próximas votações sejam mais curtas.

Em seu relatório, resumo do processo até o momento, o ministro Alexandre de Moraes disse que "a organização criminosa foi composta em sua maioria por integrantes do governo federal da época e por militares das Forças Armadas, com o claro objetivo de depor o governo legitimamente eleito" em 2022.

Acusação

O procurador-geral da República Paulo Gonet, representante da acusação, falou por cerca de uma hora. Ele pediu a condenação de todos os sete réus, que, segundo a PGR, fizeram "manejo estratégico de informações sabidamente falsas como instrumento de desestabilização social", atuando em "operações estratégicas de desinformação" e ataques ao sistema eleitoral e a instituições e autoridades.

Segundo ele, os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 estão conectados à campanha de fake news engendrada pelo grupo. "A revolta popular verificada ao final do iter criminis (caminho do crime) tem relação causal com a trama gerada e insuflada pela ação deste núcleo de acusados", defendeu.

Integram o "núcleo 4":

Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército;

Ângelo Denicoli, major da reserva do Exército;

Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, ex-presidente do Instituto Voto Legal;

Giancarlo Rodrigues, subtenente do Exército;

Guilherme Almeida, tenente-coronel do Exército;

Marcelo Bormevet, agente da Polícia Federal;

Reginaldo Abreu, coronel do Exército.

Defesas

As defesas dos réus buscaram minimizar as acusações contra seus clientes e afastá-los da cadeia de comando da trama golpista. Ao julgar o núcleo crucial, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o STF já reconheceu a existência dos crimes contidos na denúncia, o que torna o contexto desfavorável para os demais grupos de acusados.

O defensor público Gustavo Zorteia da Silva, que representa o ex-major Ailton Gonçalves Moraes Barros, afirmou que a situação contra ele é de "penumbra probatória". "Não se tem uma comprovação de que o réu Ailton coordenasse campanhas ofensivas contra comandantes militares ou outras autoridades que estivessem a resistir ao golpe", argumentou.

O major da reserva Ângelo Martins Denicoli é defendido pelo advogado Zoser Hardman, que considerou a denúncia "genérica" e disse que a PGR não aponta informações falsas ou documentos que Ângelo teria produzido.

O engenheiro eletrônico Carlos César Moretzsohn Rocha é o único civil do núcleo de desinformação. Seu advogado, Melillo Dinis do Nascimento procurou apresentar o trabalho dele no Instituto Voto Legal como técnico e descolar a auditoria feita pelo IVL de iniciativas políticas para desacreditar as urnas. "Auditar não é atacar", disse.

O subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, ex-servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é acusado de usar o órgão para gerar notícias falsas, atacar instituições e monitorar autoridades. A advogada Juliana Rodrigues Malafaia buscou separá-lo dos outros réus, já que ele foi cedido à Abin no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).

"Giancarlo não conhecia Jair Bolsonaro. Giancarlo não conhecia ou tinha qualquer relação com Ramagem. E, entre todos os acusados de outros núcleos, o Giancarlo somente conhecia o corréu Marcelo Bormevet, que era seu chefe à época", destacou.

O tenente-coronel do Exército Guilherme Marques de Almeida foi acusado de compartilhar publicações falsas sobre fraudes nas urnas "com o intuito de perpetuar o sentimento de desconfiança popular". Segundo seu advogado, Leonardo Coelho Avelar, as publicações foram compartilhadas em listas de transmissão esporádicas e Guilherme "não possuía meios, capacidade técnica ou posição hierárquica para praticar os atos imputados na denúncia."

O advogado Hassan Magid Souki, que defende o policial federal Marcelo Araújo Bormevet, argumentou que a participação dele não teve "relevância" na trama golpista. "Se eliminarmos a conduta dele, os fatos aconteceriam da mesma forma".

Já o advogado Diego Ricardo Marques nega que o coronel Reginaldo Vieira de Abreu tenha participado da redação de minuta que previa a criação de um gabinete de crise após o golpe. Ele considerou que mensagens em que ele sugere reunião sem o "pessoal acima da linha da ética", para "debater o que vai ser feito" foram infelizes e "ditas em um momento inoportuno".

Próximas sessões

O julgamento será retomado na próxima terça-feira, 21, com o voto do relator Alexandre de Moraes. Em seguida, votam os ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino.

No caso de condenação, eles definem então a dosimetria, o tamanho das penas. A expectativa é que isso seja feito no mesmo dia. Há duas sessões marcadas: das 9h às 12h, e das 14h às 18h.

Em outra categoria

A Universidade de Harvard abrirá uma investigação sobre as ligações do ex-presidente da instituição e ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Lawrence Summers, com o empresário Jeffrey Epstein, condenado por exploração sexual, após a divulgação de documentos que revelam que os dois mantiveram uma relação próxima por anos. A informação foi publicada nesta quarta-feira, 19, pelo The Harvard Crimson, jornal estudantil da universidade.

Em um comunicado enviado ao jornal, o porta-voz de Harvard, Jonathan Swain, disse que "a Universidade está conduzindo uma revisão das informações referentes a indivíduos em Harvard incluídas nos documentos recentemente divulgados sobre Jeffrey Epstein, a fim de avaliar quais medidas podem ser cabíveis".

A investigação abrangerá todas as novas informações reveladas nas mais de 20 mil páginas de e-mail divulgadas pelo Comitê de Fiscalização da Câmara dos Representantes dos EUA na última quarta-feira, 12.

Summers foi secretário do Tesouro durante o governo do presidente Bill Clinton (1993 - 2001) e presidente da Universidade de Harvard entre 2001 e 2006.

Outras pessoas que já tiveram ou têm relação com Harvard e que apareceram nas mensagens também serão investigadas - o que corresponde a quase uma dúzia de funcionários, entre atuais e antigos, de acordo com o Harvard Crimson. Entre eles estão a professora emérita de Inglês e esposa de Summers, Elisa New, e o professor emérito de Direito Alan Dershowitz.

Epstein começou a ser investigado em 2005, após os pais de uma menina de 14 anos denunciarem que o empresário havia abusado sexualmente da jovem em sua casa em Palm Beach, na Flórida. A denúncia abriu caminho para outras investigações e Epstein foi condenado em 2008 por exploração sexual e facilitação à prostituição de menores.

Na época, ele se declarou culpado e fechou um acordo de 13 meses de prisão e inclusão de seu nome na lista federal de criminosos sexuais. Em 2019, no entanto, um juiz da Flórida considerou o acordo ilegal e o empresário foi novamente preso em julho daquele ano, em Nova York. Um mês depois, Epstein foi encontrado morto na sua cela. A autópsia concluiu que ele tirou a própria vida.

Conversas duraram até a véspera da prisão de Epstein

O Harvard Crimson analisou mensagens trocadas entre Summers e Epstein de novembro de 2018 a julho de 2019. Segundo o jornal, algumas conversas faziam referência a uma mulher que os dois chamavam de "perigo".

"Acho que, por enquanto, não vou a lugar nenhum com ela, exceto como mentor de economia", escreveu Summers em novembro de 2018. "Acho que, neste momento, estou na categoria de pessoas vistas com muito carinho pelo retrovisor."

Meses depois, ele enviou outra mensagem sobre a mulher: "Ela deve estar muito confusa ou talvez queira se afastar de mim, mas também preza muito o contato profissional e, por isso, se apega a ele."

Os dois nunca mencionaram o nome da mulher. Um porta-voz de Summers disse ao Harvard Crimson que ela jamais foi sua aluna.

Em outro mensagem, Summers encaminhou a Epstein um e-mail que recebeu da economista Keyu Jin, onde ela pede um feedback sobre um artigo. Summers comentou que "provavelmente seria apropriado" adiar a resposta. "Ela já está começando a parecer carente :) legal", respondeu Epstein. Procurada pelo Harvard Crimson, Keyu não quis comentar o assunto.

Epstein também afirmou em uma das mensagens que era "parceiro" de Summers. Além de conselhos sobre mulheres, o ex-secretário pediu doações do empresário à Harvard.

Em 2020, a universidade divulgou um relatório, no qual confirmou que recebeu cerca de US$ 9,1 milhões de Epstein entre 1998 e 2008 e anunciou novas diretrizes para doadores.

A última troca de mensagens entre os dois ocorreu no dia 5 de julho de 2019. Summers disse que estava em Cape Cod, no Massachusetts, com sua família. "Um pouco como uma peça de [Henrik] Ibsen", brincou. Eles continuaram trocando piadas literárias até as 13h27. No dia seguinte, Epstein foi preso.

Summers se afasta da vida pública

Após a repercussão das mensagens, Summers anunciou na segunda-feira, 18, que se afastaria da vida pública. "Assumo total responsabilidade pela decisão equivocada de continuar me comunicando com o Sr. Epstein", disse em um comunicado.

Ele ainda atuará no âmbito acadêmico, mas deixará compromissos públicos "como parte de um esforço mais amplo para reconstruir a confiança e reparar os relacionamentos com as pessoas mais próximas".

No dia seguinte, Summers deixou cargos em organizações como a empresa de dados financeiros Bloomberg, o jornal The New York Times e o think tank Center for American Progress, de acordo com o Harvard Crimson.

Já nesta quarta, o jornal Axios revelou que o ex-secretário renunciou ao Conselho de Administração da OpenAI, dona do ChatGPT. "Agradecemos suas inúmeras contribuições e a perspectiva que ele trouxe ao Conselho", afirmou a empresa em um comunicado.

Em outra nota enviada ao Axios, Summers disse que a renúncia está alinhada à decisão de se afastar da vida pública. "Sou grato pela oportunidade de ter servido, estou entusiasmado com o potencial da empresa e ansioso para acompanhar seu progresso", afirmou.

Neste semestre, Summers ministra duas disciplinas para duas turmas de graduação e uma de pós-graduação em Harvard. O Harvard Crimson questionou se ele será impedido de lecionar durante as investigações, mas o porta-voz da universidade não respondeu.

Logo depois de anunciar que os investimentos sauditas nos Estados Unidos, hoje na casa de US$ 600 bilhões, "podem se tornar US$ 1 trilhão", o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que Washington e Riad firmaram um acordo que facilitará transferências de armamentos e ampliará a cooperação militar. Segundo ele, a Arábia Saudita será designada "aliado importante fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)", status que aprofunda a relação de defesa, mas "não inclui uma garantia de segurança".

Trump afirmou que "um aliado mais forte e mais capaz promoverá os interesses de ambos os países e servirá ao mais alto interesse da paz", durante jantar de gala na Casa Branca ao lado do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, líder de fato do reino.

A categoria de aliado importante fora da Otan (MNNA, na sigla em inglês) concede benefícios em comércio de defesa, pesquisa conjunta, uso de estoques militares americanos e prioridade no recebimento de equipamentos excedentes, entre outras prerrogativas. Contudo, o próprio governo dos EUA destaca que o status é simbólico e não implica compromissos automáticos de proteção.

Com a decisão, a Arábia Saudita se somará a outros 19 países que já integram essa lista: Argentina, Austrália, Bahrein, Brasil, Colômbia, Egito, Israel, Japão, Jordânia, Quênia, Kuwait, Marrocos, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, Catar, Coreia do Sul, Tailândia e Tunísia. Além deles, Taiwan é tratado como MNNA sob legislação específica.

O movimento ocorre após a sinalização de aprofundamento da parceria econômica e tecnológica. Na terça-feira, Trump também disse estar trabalhando para "aprovar envio de chips avançados para a Arábia Saudita".

A chefe do Museu do Louvre disse na quarta-feira, 19, que novas câmeras de vigilância e sistemas anti-intrusão serão instalados em breve após o roubo das joias da coroa no mês passado.

Segundo Laurence des Cars, as 100 câmeras estarão operacionais até o final de 2026 enquanto os sistemas anti-intrusão começarão a ser instalados em duas semanas.

Ela descreveu os sistemas como equipamentos que impedirão intrusos de se aproximarem dos edifícios do museu, mas não ofereceu detalhes específicos. As novas câmeras de vigilância tentarão garantir "proteção completa dos arredores do museu", disse des Cars.

"Após o choque, após a emoção, após a avaliação, é hora de agir", afirmou ao Comitê de Assuntos Culturais da Assembleia Nacional.

Ela disse que as instalações fazem parte de mais de 20 medidas emergenciais que serão implementadas. Também será criado o cargo de "coordenador de segurança" no museu, vaga que foi anunciada este mês.

No dia do roubo, ladrões levaram menos de 8 minutos para forçar a entrada através de uma janela na Galeria Apollo com a ajuda de um elevador de carga e roubar o tesouro de 88 milhões de euros.

Difícil para os ladrões?

Des Cars revelou alguns novos detalhes sobre a violação de segurança que permitiu o roubo de 19 de outubro, dizendo que as ferramentas elétricas usadas pelos ladrões para cortar as vitrines eram cortadores de disco destinados ao concreto.

"É um método que não havia sido imaginado de forma alguma" quando as vitrines na Galeria Apollo foram substituídas em 2019, disse ela. Na época, elas haviam sido projetadas principalmente para combater um ataque de dentro do museu com armas, acrescentou.

As imagens das câmeras do museu mostram que durante o roubo, as vitrines "se mantiveram notavelmente bem e não se despedaçaram", disse ela. "Os vídeos mostram o quanto foi difícil para os ladrões."

Des Cars enfatizou que a melhoria da segurança é uma prioridade do plano decenal "Louvre Nova Renascença", lançado no início deste ano, com um custo estimado de até 800 milhões de euros, para modernizar a infraestrutura, aliviar a superlotação e dar ao quadro da Mona Lisa uma galeria dedicada até 2031.

Com o Louvre sucumbindo sob o peso do turismo de massa, des Cars limitou o número diário de visitantes a 30.000 nos últimos anos.

A famosa pirâmide de vidro inaugurada em 1989 foi planejada para receber cerca de 4 milhões de visitantes por ano, ela lembrou. Este ano, mais de 8 milhões de pessoas visitaram o Louvre.

"A extensa modernização pela qual o Louvre passou na década de 1980 está agora tecnicamente obsoleta, com equipamentos que têm sido super utilizados por 40 anos", disse des Cars.

Na segunda-feira, o Louvre anunciou que estava fechando temporariamente alguns escritórios de funcionários e uma galeria pública porque eram estruturalmente frágeis.