Líder comunitário relata situação no Complexo do Alemão: 'Crianças estão vendo os 60 corpos'

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O líder comunitário Raull Santiago relatou um cenário de caos no Complexo do Alemão nesta terça-feira, 28, com moradores feridos, casas alvejadas e inúmeros pedidos de ajuda. Favelas da zona norte do Rio de Janeiro foram alvo de megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV), a mais fatal da história do Estado, que deixou ao menos 64 mortos, sendo quatro policiais.

"Talvez para quem esteja fora da favela seja difícil entender um pouco da seriedade, da gravidade de como as coisas estão acontecendo. Mas, a quantidade de pessoas, fora pessoas feridas, dentro das suas casas, casas destruídas, casas alvejadas, todo tipo de situação, a gente está falando da quantidade de crianças que estão tendo ataques de nervo, tremedeira, sabe?", disse.

Ele contou estar recebendo muitas mensagens e ligações de moradores. "O nível de pedido de socorro eu ainda não consegui absorver. Da vasta quantidade de casos diferentes, que vai desde 'meu vizinho tomou um tiro dentro de casa' até 'a minha criança está tendo um ataque epilético, e eu não sei o que fazer porque o tiroteio é aqui, na porta'", relatou.

Morador do Complexo do Alemão há 36 anos, Santiago é conhecido pelo coletivo Papo Reto e já compartilhou sobre a vivência nas favelas cariocas em um painel da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque. Em suas redes sociais, relatou nunca ter visto nada semelhante: "A gente está tentando entender isso tudo. E, também, sobreviver, porque somos moradores."

Na operação desta terça, cerca de 2,5 mil policiais civis e militares participaram da ofensiva. No Alemão e na Penha, pelo menos 87 escolas tiveram as atividades afetadas - 48 nem chegaram a abrir. O total de alunos impactados foi de 29 mil. O Comando Vermelho reagiu e lançou bombas por meio de drones, o que transformou a região em um cenário de guerra, com reflexos em importantes vias da cidade, como a Avenida Brasil e a Linha Amarela.

Além de atingir o CV e o narcotráfico, a operação também visou a apreensão de armamento usado pela facção criminosa e, até a última atualização anunciada pelo governador Cláudio Castro (PL), 93 fuzis haviam sido apreendidos pelas forças policiais.

Enquanto relatava a situação no Complexo do Alemão, o líder comunitário Raull Santiago contou ouvir diversas trocas de tiros e ver caveirões pela rua. "Quem está na ponta está vendo os 60 corpos, as crianças estão vendo os 60 corpos", disse. "Fora a quantidade de pessoas baleadas, fora a quantidade de áreas destruídas, fora saber que você não está tendo aula, que não conseguiu trabalhar, que não conseguiu dar um passo digno de direito por conta de todo esse processo que está rolando", completou.

Mais de 110 mil pessoas moram nas regiões dos complexos do Alemão e da Penha, alvos da megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV) na zona norte do Rio nesta terça-feira, 28, que deixou 64 mortos, sendo quatro policiais. Foi a ação mais letal da história do Estado.

De acordo com dados da Prefeitura, com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54 mil pessoas vivem no conjunto de favelas que formam o Complexo do Alemão. Já na Penha, são 58.516 moradores (esse número é referente a todo o bairro, e não apenas ao complexo de favelas).

A geografia acidentada do Complexo do Alemão facilitou a concentração de criminosos do Comando Vermelho no local e, ao longo das últimas décadas, a polícia já fez várias incursões na área. Em 2002, por exemplo, a morte do jornalista Tim Lopes levou à prisão e à caça do traficante Elias Maluco. Em 2007, o Alemão recebeu uma operação policial que mobilizou 1.350 agentes e deixou 19 mortos.

Três anos depois, 2,6 mil agentes, entre policiais militares, civis, federais e homens das Forças Armadas, participaram da invasão ao Alemão após uma onda de violência no Rio em uma reação às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

Vias interditadas

A ação desta terça-feira repetiu cenas de guerras e expôs o poder crescente do crime organizado no País e as dificuldades do poder público de reprimir o narcotráfico, com efeitos violentos para os moradores das comunidades pobres.

A Prefeitura do Rio anunciou que a cidade entrou em Estágio 2, devido a ocorrências policiais que interditam de forma intermitente ruas da zona norte, oeste e sudoeste da capital fluminense.

Esse estágio de risco é acionado, dentro dos estágios operacionais da cidade, quando há ocorrências "de alto impacto" por conta "de um evento previsto ou a partir da análise de dados provenientes de especialistas"; são ocorrências descritas com "elevado potencial de agravamento".

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A ex-namorada de Dado Dolabella Marcela Tomaszewski não seguirá com a denúncia e agressão contra o cantor, após sua amiga compartilhar imagens de machucados neste fim de semana. A informação foi confirmada ao Estadão pelo advogado, Diego Candido, nesta terça-feira, 28. Inicialmente, o profissional afirmou que seria encaminhada uma medida protetiva contra Dado, além de um processo judicial.

O comunicado explica que a decisão foi de foro íntimo, ou seja, por motivos pessoais: "Diego Candido informa que, após decisão de Marcela Tomaszewski em não prosseguir com a denúncia, mesmo cientificada de seus direitos, resolve sair do caso, por questões de foro íntimo."

"Marcela foi devidamente cientificada da decisão e manifestou concordância, alegando estar tudo bem e que pretende esquecer o assunto visando à preservação da imagem das partes envolvidas. O advogado Diego Candido repudia qualquer forma de violência, preconceito e discriminação e luta diuturnamente no combate a esses crimes buscando a punição dos responsáveis", completa a nota.

O que aconteceu entre Dado Dolabella e a namorada?

O cantor Dado Dolabella estaria envolvido em um novo caso de agressão contra mulher. A acusação foi feita por Rafaela Clemente, amiga pessoal de Marcela Tomaszewski, que mostrou machucados na miss depois de uma suposta briga do casal.

Rafaela também compartilhou, em postagens já apagadas, que Marcela teria tentado bloqueá-la por denunciar o caso. A publicação foi repostada por Luana Piovani, com quem Dado já teve um relacionamento, que acabou em medida protetiva após uma agressão dele.

A repercussão do caso foi contida após uma nota conjunta em que Dado e sua agora ex-namorada afirmam que o vídeo foi tirado de contexto".

O cantor, compositor e guitarrista canadense Bryan Adams anunciou que fará quatro apresentações pelo Brasil em março de 2026.

Após seis anos, o artista retorna ao País trazendo na bagagem grandes sucessos como (Everything I Do) I Do It For You, Heaven e Summer of '69, entre outros.

Com a etapa sul-americana da turnê Roll With Punches, ele passa por Rio de Janeiro (Qualistage em 6/3), São Paulo (Vibra São Paulo em 7/3), Curitiba (Live em 9/3) e Porto Alegre (Auditório Araújo Vianna em 11/3).

As vendas de ingressos começarão em 4 de novembro, às 10h, por meio do site da Eventim para as datas de São Paulo e Rio. Os preços vão de R$ 225 a R$ 1.000. Em breve serão divulgadas as informações de Curitiba e Porto Alegre.

A principal categoria do Prêmio Jabuti 2025, a de Livro do Ano, foi para O Ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim, livro do jornalista, biógrafo e imortal da Academia Brasileira de Letras Ruy Castro.

Como recompensa, o autor levou R$ 70 mil e uma viagem completa à Feira do Livro de Londres, em 2026. O anúncio foi feito em uma cerimônia de premiação na noite de segunda-feira, 27, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Publicado pela Companhia das Letras, o livro também levou a categoria Crônica. Conforme indica o título, a obra busca contar, em 99 crônicas, a complexidade da figura de Tom Jobim (1927-1994), um dos maiores compositores da história da música brasileira.

O livro nasceu da admiração de Castro pela bossa nova e pelo trabalho de Tom Jobim, responsável por grandes clássicos do gênero. Como disse o jornalista e crítico musical João Marcos Coelho em resenha do livro publicada no Estadão, basta ler "uma frase, um parágrafo, para comungarmos deste amor desmedido (mas muito, muito justificado) pelo autor de Águas de Março, Sinfonia da Alvorada e Matita Perê."

Os 99 textos são curtos, entre quatro e cinco parágrafos, mas constroem de forma sucinta um retrato completo de Tom Jobim. As crônicas apresentam lados menos conhecidos do compositor e apresentam bastidores, fatos inéditos e histórias que unem personagens importantes da música brasileiras nas década de 1950 e 1960.

A 67ª edição do Jabuti premiou livros publicados em 2024, ano em que a morte do compositor completou 30 anos. Além de Ruy Castro, nomes como Tony Bellotto e Daniela Arbex foram premiados. Veja a lista completa.

Leia trechos de 'O Ouvidor do Brasil'

"Tom não se queixava do Brasil. 'É o único país do mundo com nome de árvore. E não tem mais esta árvore'. Queixava-se do brasileiro 'que acorda todo dia para destruir o Brasil' (...) 'De que adianta eu sentir saudade do Brasil se ninguém mais sente?'"

"Tom tinha horror a avião (...) Ao compor o 'Samba do Avião', em meados de 1962, queria apenas celebrar uma chegada ao Rio por esse meio, voltando de São Paulo - ele que, na época, só fazia esse trajeto de trem."

"Quando Vinicius de Moraes morreu em 1980 e deram o nome dele à tradicional rua Montenegro, Tom foi contra. Disse: 'Os carros agora passam por cima do Vinicius e os cachorros mijam nele'."

"Pelo fato de os cantores e compositores da bossa-nova gravarem-se uns aos outros, suas canções se espalharam e se eternizaram na memória das pessoas. E faziam isso porque os talentos eram mútuos e as admirações mútuas. A música não era um espelho, mas um caleidoscópio."

"Não parecia se interessar por música, só falava de palavras (...) Sabia nomear cada planta, bicho, acidente geográfico, tipo de vento e de estrela no céu. Certa vez, num avião, descobriu que a aeronave estava voltando porque as estrelas não estavam onde deveriam estar."

O Ouvidor do Brasil: 99 Vezes Tom Jobim

Autor: Ruy Castro

Editora: Companhia das Letras (232 págs.; R$ 79,90 / E-book: R$39,90)